Aproximação árabe
Não são apenas os políticos israelenses que se manifestam. No mundo inteiro, a mídia vêm repetidamente noticiando que as relações entre Israel e as nações árabes moderadas estão melhorando.
Os relatos sobre um deslocamento das alianças geopolíticas no Oriente Médio são frequentes. Há muitos sinais de mudança que podem ser interpretados de diversas maneiras. No início de outubro do ano passado, as declarações de Israel Katz, ministro das Relações Exteriores de Israel, sobre um “pacto histórico entre o Estado de Israel e os países árabes do Golfo” renderam manchetes. Desde então, nada mais se ouviu a respeito – o que, não obstante, não significa necessariamente que nada mais esteja acontecendo nos bastidores.
Dificilmente se poderá chamar a Arábia Saudita de um país em que reine a liberdade de opinião. A internet e as redes sociais proporcionaram às pessoas um novo recurso para se expressar, mas, no caso de declarações críticas, os problemas estão pré-programados. Raif Badawi foi alguém que assumiu esse risco ao criar em 2008 o fórum online “Liberais sauditas”. No início ele ficou sujeito a represálias do regime; em 2012 foi preso e, um ano depois, condenado por “ofensa ao islã” a dez anos de reclusão e mil açoites. Por isso, um proeminente jornalista saudita preferiu permanecer anônimo no contexto de uma viagem a Israel.
Sabe-se que Israel repetidamente organiza viagens oficiais para jornalistas do mundo árabe. A respeito disso, Hassan Ka’abia, que trabalha no Ministério das Relações Exteriores israelense como porta-voz da mídia de língua árabe e organiza essas viagens em grupo, diz: “Dedico-me ao objetivo de levar gente a Israel para que conheçam o verdadeiro Israel, obtenham uma impressão de primeira mão e não recolham apenas aquilo que ficam sabendo de outros sobre o país de forma filtrada”. No caso, cabe destacar especialmente que se trata de delegações de países com os quais Israel não mantêm relações diplomáticas. Por isso, Ka’abia dá grande importância a uma recente viagem de uma delegação de jornalistas do Kuwait e do Iraque a Israel.
Isso se torna ainda mais significativo quando esses visitantes manifestam-se depois publicamente a respeito das suas experiências. Foi o que o mencionado jornalista saudita fez até mesmo na rádio do exército israelense e, além de tudo, em hebraico, mesmo que com alguma dificuldade – e, como já dissemos, mantendo sua anonimidade. Ainda assim, ele declarou abertamente: “Amo o povo judeu e todos os cidadãos de Israel”.
Na entrevista, perguntou-se a esse homem, conhecido na Arábia Saudita não só por sua atividade jornalística, mas também por atuar como pesquisador cultural e, além disso, ocupar-se com textos religiosos judeus, qual foi sua impressão ao caminhar pelas ruas de cidades israelenses como Jerusalém, Tel Aviv e Haifa, e se ele se deu a conhecer como cidadão saudita, porque afinal ele é cidadão de um país que sempre exibe um discurso hostil contra Israel. “Quando as pessoas descobriam que eu vinha da Arábia Saudita, ficavam totalmente surpresas. De modo nenhum foram hostis, mas me deram cordiais boas-vindas como hóspede.” De acordo com o que esse homem disse, os israelenses reagiram apenas com surpresa.
Esse jornalista saudita condenou o cultivo generalizado de ódio pelos países árabes e disse que estes “continuam se ocupando com uma pequena minoria (com os palestinos) que em 1947 teve a chance de fundar um Estado próprio, mas preferiu rejeitar essa possibilidade para se dedicar exclusivamente a questionar por que os judeus possuem um Estado independente”. Diante disso, ele opinou que não está apenas na hora de haver “relações normalizadas”, mas que seu país e outros países árabes deveriam finalmente celebrar “uma paz verdadeira” de uma natureza completamente diferente dos acordos com o Egito e a Jordânia, que constituem acordos entre governos, não permitindo uma aproximação maior entre as pessoas. Na sua entrevista depois de deixar Israel, ele até opinou que seu país de modo nenhum “poderá escapar de uma normalização das suas relações com Israel”.
Pode ser somente uma voz isolada, mas é cada vez mais frequente ouvir-se de países como a Arábia Saudita, o Líbano e o Iraque que se deveria finalmente reconhecer a existência de Israel e trilhar novos caminhos. Haverá necessidade de mais do que isso até que algo mude de fato entre as lideranças, mas, em comparação com a situação de alguns anos atrás, tais alterações já são enormes, especialmente se considerarmos que um homem que vive sob um regime totalitário se anime a emitir tais declarações.
Antje Naujoks