Como deveriam viver os cristãos, supondo que Jesus poderia voltar a qualquer momento?

A realidade do arrebatamento muda positivamente a nossa vida de muitas maneiras, se bem que não sem um certo grau de tensão. Se, portanto, Jesus pudesse mesmo retornar ainda hoje, será que deveríamos conduzir a nossa vida como sempre fizemos? Ou deveríamos nos concentrar bem mais nas “questões espirituais”?

Consta que o reformador protestante Martinho Lutero teria escrito certa vez: “Pregue [e viva] como se Jesus tivesse sido crucificado ontem, ressuscitado hoje e como se ele voltasse amanhã”.

É um bom conselho. Mas como podemos aplicá-lo em nossa vida diária? Como tornar visível esse espírito de expectativa enquanto continuamos ao mesmo tempo a viver normalmente? Aguardar o retorno de Cristo não significa vender todas as nossas posses, subir a montanha mais próxima e a partir de então concentrarmo-nos apenas em nós mesmos. Nada no Novo Testamento sugere algo assim.

Ao meditarmos na certeza da vinda de Jesus, isso não deveria nos levar a nos assentar em cinzas, vestidos de pano de saco, ou correr pelas ruas falando do juízo e do fim do mundo. O fato de o retorno de Jesus estar próximo não significa que devamos nos tornar pregadores de rua provocadores (o que, aliás, é uma das estratégias evangelísticas menos eficazes para atingir a nossa sociedade). Mas como então deveríamos reagir a essa verdade profética?

Uma abordagem claramente melhor será verificar o que a Bíblia realmente requer de nós. Todos os autores neotestamentários estavam conscientes disso e criam que Jesus poderia voltar a qualquer momento para buscar sua noiva. Mesmo assim, não se nota nenhum sinal de pânico ou o início de algum ministério de pregação do fim do mundo pelas ruas. O que se observa é que Jesus, Paulo, João e Pedro insistem conosco a permanecermos fiéis ao Senhor, a rompermos as trevas com a luz e a vivermos uma vida de fé convincente.

Se mantivermos isso na memória, os seguintes princípios poderão ajudar-nos na busca desse objetivo.

Perspectiva: Não esquecer que este mundo não é o meu lar

Como seguidores de Jesus, vivemos numa aparente contradição, pois a nossa cidadania está no céu apesar de ainda nos encontrarmos nesta terra (Fp 3.20). Nosso lar é junto ao Senhor. Conforme Paulo escreveu, Cristo é nossa vida e a morte é lucro (Gl 2.20; Fp 1.21). Para o cristão, essa é uma situação em que não há como sair perdendo.

E, embora a nossa permanência na terra seja limitada, isso não significa que não tenha importância. O modo pelo qual vivemos hoje determina o nosso futuro prêmio no céu (1Co 3.10-15; 2Co 5.10-11). Assim temos uma perspectiva tanto terrena como eterna. Nosso futuro influencia o nosso presente. O conhecimento de para onde estamos indo e quem seremos deveria influenciar o modo como vivemos aqui e agora. Essa perspectiva nos dá esperança e ânimo.

Inserção: fazer a luz de Cristo brilhar num mundo tenebroso

Não é segredo que vivemos tempos maus (Ef 5.16). Como para a geração de Jesus a situação era a mesma, ele disse aos seus discípulos:

“Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada no alto de um monte. Nem se acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto, mas num lugar adequado onde ilumina bem todos os que estão na casa. Assim brilhe também a luz de vocês diante dos outros, para que vejam as boas obras que vocês fazem e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos céus” (Mt 5.14-16).

Se Jesus quisesse ter agora sua noiva no céu, ela estaria lá. E ainda que nos encontremos nos últimos dias, não sabemos por quanto tempo ainda estaremos aqui. Talvez tenhamos uma vida bem normal e longa, ou já seremos chamados amanhã para a pátria celeste. Enquanto isso, não importa o tempo que ainda permaneceremos na terra – devemos irradiar a luz do Senhor.

Muitos cristãos tendem a pensar que somente coisas como estudo bíblico, oração e frequência na igreja sejam verdadeiramente espirituais. Na verdade, a atitude mais espiritual que podemos assumir é sermos obedientes e fiéis nas tarefas da vida diária de que ele nos encarrega. Ou seja, devemos conduzir nossa vida com fidelidade, seja como estudante, empregado, chefe, marido, esposa, mãe, pai, filho, filha ou em qualquer função na qual ele nos tenha colocado. Jesus nunca pedirá que você se subtraia da sua responsabilidade diária para se concentrar exclusivamente no retorno dele.

Preparo: Preparar-se para o encontro com o Senhor

João escreveu: “Amados, agora somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é. E todo o que tem essa esperança nele purifica a si mesmo, assim como ele é puro” (1Jo 3.2-3). Uma noiva não tem maior desejo do que estar preparada para suas bodas e seu marido.

Sobre o retorno de Jesus e a definitiva destruição da terra, o apóstolo Pedro escreveu:

“Uma vez que tudo será assim desfeito, vocês devem ser pessoas que vivem de maneira santa e piedosa, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus. Por causa desse dia, os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos se derreterão pelo calor. Nós, porém, segundo a promessa de Deus, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça” (2Pe 3.11-13).

Nesses versículos, Pedro nos apresenta um saudável balanço entre uma vida pura e a espera pelo Dia do Senhor. Saber que Cristo poderia voltar a qualquer momento não só nos motiva a um estilo de vida santo, como também nos enche de esperançosa expectativa!

Quando minha (Jeff) esposa estava grávida do nosso primeiro filho, ficamos quase nove meses numa feliz expectativa do dia em que ele finalmente nasceria. Contudo, durante todo esse longo período continuei trabalhando, cuidando da nossa casa e passando tempo com minha esposa e com amigos. Ao mesmo tempo, porém, eu me lembrava todos os dias de que logo eu seria pai. Diante dessa realidade futura, eu tinha o desejo de dar o meu melhor como pastor, marido e pai.

O prometido retorno de Jesus tem o mesmo efeito em nós como crentes. Ele confere sentido e alvo à nossa vida diária e motiva-nos a nos prepararmos para o encontro com ele.

Prioridades: Deus precisa continuar sendo o número um em nossa vida

Talvez você já tenha alguma vez orado assim em particular: “Jesus, desejo que tu voltes, mas será que poderias adiar o teu retorno até depois do meu casamento? ... até depois da minha formatura? ... até eu ter filhos? ... até eu ver meus filhos crescerem?”. Esses são desejos naturais e não deveríamos considerá-los egoístas em essência. Eles fazem parte da nossa vida na terra. Tais desejos só se tornarão problemáticos quando se tornarem mais importantes para nós do que o próprio Deus. Jesus deixou claro que o nosso amor por ele deveria superar em muito nosso amor por outras pessoas e coisas, inclusive por nós mesmos (Lc 14.25-35). Se amarmos o mundo e as coisas do mundo mais que as coisas de Deus, deslizaremos para uma mediocridade espiritual e nos tornaremos mornos (Tg 4.4; 1Jo 2.15-17; Ap 3.14-16). Enquanto, porém, Deus permanecer nossa prioridade número um, poderemos dedicar-nos adequadamente a todas essas coisas.

Se nos alegrarmos no Senhor, ele colocará em nosso coração os desejos que ele quer ver ali (Sl 37.4). Sem culpa. Só com gratidão por estarmos livres para amá-lo. Podemos levar plenamente a nossa vida e ao mesmo tempo ansiar pelo retorno do nosso Redentor.

Jeff Kinley e Todd Hampson

Jeff Kinley é mestre em teologia e atua como escritor independente. Também é apresentador dos podcasts Vintage Truth e Prophecy Pros.
Todd Hampson é autor, ilustrador e produtor de animações. Ele também é o fundador da Timbuktoons, uma premiada companhia de animação cristã.

sumário Revista Chamada Agosto 2022

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