Sebastian Steiger
Amadurecimento espiritual. Essa temática acaba sempre nos levando a refletir sobre nossa própria caminhada com Cristo e “em que ponto” dela nos encontramos. Agimos melhor do que no passado? Sabemos mais sobre a Palavra? Deixamos de lado algum pecado antigo ou difícil? Perdemos o medo de compartilhar o evangelho? Uma autoavaliação regular faz parte da vida como membro da igreja, uma vez que ela se torna necessária, no mínimo, a cada participação na ceia do Senhor (1Co 11.28).
O primeiro artigo desta edição aborda a “transformação contínua” dos cristãos nas igrejas locais, bem como a responsabilidade da liderança nesse sentido (leia aqui). Um termo utilizado na teologia é ecclesia semper reformanda, isto é, faz parte do ser igreja estar em contínuo processo de reforma. É digno de nota observar que duas das principais imagens para a igreja que o Novo Testamento utiliza – o “corpo” e o “edifício” – trazem a ideia nítida de transformação e desenvolvimento (veja, p. ex., 1Co 12.13; Ef 2.21; 3.6; 4.12-16). Paulo escreve que “nele [em Jesus Cristo], todo o edifício, bem-ajustado, cresce para ser um santuário dedicado ao Senhor” (Ef 2.21), e que devemos crescer “em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem-ajustado e consolidado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio crescimento para a edificação de si mesmo em amor” (Ef 4.15-16).
O crescimento da igreja como um todo e o crescimento dos seus membros individualmente estão diretamente conectados. Não é possível um sem o outro. É por isso que a nossa transformação contínua como membros da igreja é uma das marcas centrais de uma igreja cristocêntrica, sendo abordada por Daniel Lima em sua minissérie.
Por que abordar o assunto nessa edição? Lima escreve que, por mais simples e óbvio que a necessidade de transformação contínua seja, “a realidade é que muitas de nossas igrejas (mesmo conservadoras e ortodoxas) estão repletas de cristãos que simplesmente pararam de crescer, que não apresentam uma vida de contínuo crescimento”. As consequências são devastadoras, uma vez que, “se um membro [do corpo] sofre, todos sofrem com ele” (1Co 12.26).
A carta aos Hebreus lida bastante com o assunto da estagnação espiritual por parte dos cristãos – naquele contexto específico, judeus. J. Dwight Pentecost escreve a respeito em seu comentário: “O projeto de Deus é que houvesse crescimento constante e ininterrupto da imaturidade à maturidade. É possível, no entanto, que essa jornada seja interrompida...”.[1]
Ao mesmo tempo, “essa transformação não é fruto de esforço pessoal ou de programas muito bem elaborados, ainda que ambos os elementos tenham que estar presentes. A transformação contínua é tanto individual, ainda que no contexto da comunidade, quanto realizada pelo Espírito Santo”, como nos lembra Lima. Deus deseja que “cresçam[os] na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18), mas ele não fará isso contra a nossa vontade ou preguiça.
Minha oração é que esta revista o motive a buscar tanto o seu crescimento espiritual quanto a apoiar o crescimento dos seus irmãos e irmãs em Cristo – até que Jesus volte. Maranata!
Nota
- J. Dwight Pentecost, Hebreus (Porto Alegre: Chamada, 2021), p. 152.