A Parábola das Dez Virgens
“Então o Reino dos Céus será semelhante a dez virgens que, pegando as suas lamparinas, saíram a encontrar-se com o noivo. Cinco delas eram imprudentes, e cinco, prudentes. As imprudentes, ao pegar as suas lamparinas, não levaram óleo consigo, mas as prudentes, além das lamparinas, levaram óleo nas vasilhas. E, como o noivo estava demorando, todas ficaram sonolentas e adormeceram. Mas, à meia-noite, ouviu-se um grito: ‘Eis o noivo! Saiam ao encontro dele!’. Então todas aquelas virgens se levantaram e prepararam as suas lamparinas. E as imprudentes disseram às prudentes: ‘Deem a nós um pouco do óleo que vocês trouxeram, porque as nossas lamparinas estão se apagando’. Mas as prudentes responderam: ‘Não! Porque então vai faltar tanto para nós como para vocês! Vão aos que o vendem e comprem óleo para vocês’. E, saindo elas para comprar, chegou o noivo, e as que estavam preparadas entraram com ele para a festa do casamento. E fechou-se a porta. Mais tarde, chegaram as virgens imprudentes, dizendo: ‘Senhor, senhor, abra a porta para nós!’. Mas o noivo respondeu: ‘Em verdade lhes digo que não as conheço’. Portanto, vigiem, porque vocês não sabem o dia nem a hora” (Mt 25.1-13).
Há uma série de itens que precisam ser abordados quando estudamos Mateus 25, pois eles impactam como devemos entender a intenção de Cristo nessa passagem. Se estivermos errados sobre essas questões, certamente interpretaremos mal a passagem (a menos que sejamos ilógicos no processo).
Uma das primeiras questões que devem ser reconhecidas é que as parábolas e ensinamentos em Mateus 25 são uma continuação do fluxo do capítulo anterior. Jesus não mudou totalmente de rumo e começou a falar sobre algo completamente novo quando prosseguiu para essa seção. Isso significa que essas parábolas estão relacionadas a Israel (não à igreja), à rejeição de sua messianidade no primeiro século, e que a vinda de que ele trata aqui diz respeito à segunda vinda e ao julgamento que ocorrerá após a sua chegada. Stanley Toussaint explica:
“Essa parábola, assim como a próxima, trata dos judeus no período de tribulação. Isso é mostrado por vários fatos. O contexto favorece essa visão (Mt 24.3,8,14-15,30-31,33,42,44,47,51). O assunto que está sendo discutido é o tempo do fim, os últimos anos antes do reino ser estabelecido. Naquele momento, a igreja estará ausente da terra. Portanto, essa seção lida com um período de tempo judaico”.1
O capítulo 25 destaca que, como os judeus perderam a primeira vinda do Messias por causa da incredulidade e foram julgados temporariamente em 70 d.C., eles precisam estar preparados para o seu retorno, a fim de escapar do julgamento e participar da bênção (o reino do milênio). O dr. J. Dwight Pentecost diz:
O capítulo 25 de Mateus destaca que os judeus precisam estar preparados para o retorno de Cristo, a fim de escapar do julgamento e participar da bênção.
“Ele ensinou que, após seu retorno (Mt 24.30) e a restauração da nação de Israel em sua terra (Mt 24.31), ela seria levada a julgamento (Mt 25.1-30). Cristo usou duas parábolas para ensinar que a nação novamente reunida será julgada para determinar quem está salvo e quem não está salvo. O objetivo desse julgamento será excluir os não salvos e receber os salvos no reino que ele estabelecerá após seu segundo advento”.2
Jesus cumpre seu objetivo enquanto continua apresentando lições parabólicas e ensinamentos sobre o julgamento após seu retorno. Mateus 25 pode ser dividido em três seções: primeiro, a parábola das dez virgens (Mt 25.1-13); segundo, a parábola dos talentos (Mt 25.14-30), e terceiro, o julgamento dos gentios (Mt 25.31-46).
A parábola das dez virgens
De certa forma, Mateus 24.50-51 levanta a seguinte questão: “Em que base Israel será julgado?”. A resposta em Mateus 25.1-13 é: preparação. A parábola das dez virgens apresenta uma imagem do Israel vivo trazido de volta à terra no final dos dias para um julgamento, para ver quem está preparado e quem está despreparado pela segunda vez para a vinda do Messias. O foco está em Israel nos últimos dias (ou seja, o período da tribulação que acabou de ser descrito em Mateus 24.4-42). Os preparados entram no reino milenar enquanto os despreparados são excluídos.
As dez virgens representam a nação de Israel como um todo. A nação está dividida em dois grupos de cinco. Um grupo, o sábio, é descrito como preparado e esperando, uma vez que obteve óleo extra no caso de um atraso ocorrer na vinda do noivo. Esse primeiro grupo representa o Israel que crê e está preparado. O segundo grupo, o insensato, não se preparou e representa o Israel incrédulo. Ele não estava pronto para a vinda do Messias. O dr. Pentecost nos diz:
“Embora um forte testemunho seja dado à nação de Israel durante a tribulação (Mt 24.14), algumas pessoas ficarão despreparadas quando o Rei vier instituir seu reino milenar. Os preparados serão recebidos no reino para desfrutarem de sua recompensa, mas os despreparados serão excluídos. Assim, essa parábola ensina que haverá um julgamento de israelitas vivos para determinar quem está e quem não está preparado. Essa é uma expressão da declaração anterior de Cristo de que ‘estejam também vocês preparados’ (Mt 24.44)”.3
Algumas implicações quanto ao arrebatamento
Uma vez que essa parábola lida com a futura nação de Israel (provavelmente a nação de Israel que existe hoje), essa não é uma passagem que tem relação com o arrebatamento. Isso significa que a parábola das dez virgens não suporta a noção de um arrebatamento parcial, que tem sido defendido a partir dela, bem como de outras passagens (Mt 24.40-51; Mc 13.33-37; Lc 20.34-36; 21.36; Fp 3.10-12; 1Ts 5.6; 2Tm 4.8; Tt 2.13; Hb 9.24-28; Ap 3.3,10; 12.1-6). Essa visão ensina que o arrebatamento ocorre antes da tribulação, mas que apenas cristãos “espirituais” serão tomados, enquanto outros cristãos passarão pela tribulação. Seus defensores também acreditam que múltiplos arrebatamentos ocorrerão durante o período de tribulação de sete anos. Acredita-se que essa visão tenha sido desenvolvida por Robert Govett em meados do século XIX na Inglaterra, e mantida principalmente por defensores britânicos como J. A. Seiss, G. H. Lang e G. H. Pember.4
Uma vez que essa passagem, em geral, não é relacionada ao arrebatamento por pré-tribulacionistas porque se refere contextualmente a Israel, é ainda mais difícil usá-la como argumento para um arrebatamento parcial. Randolph Yeager observa:
“Nós evitamos a ideia de arrebatamento parcial porque outras passagens parecem sugerir claramente que todo membro do corpo de Cristo será arrebatado (1Ts 4.16-17; 1Co 15.51-58, etc.). Arrebatamento parcial implicaria em ruptura no corpo de Cristo”.5
Francamente, a mesma graça que salva cada crente é a graça que vai levá-lo no arrebatamento. Ninguém se qualifica através de suas próprias obras ou atinge um certo nível de santificação para ser levado no arrebatamento. A qualificação para ser arrebatado não é uma recompensa pela fidelidade, mas, como a salvação em si, é um dom gratuito. O nome de alguém é adicionado à “lista do arrebatamento” quando seu nome é acrescentado ao rol de salvos no momento em que confia em Cristo como seu Salvador. Mesmo que um crente não acredite no arrebatamento pré-tribulacional, ele será levado de qualquer maneira se realmente for crente. Tenho certeza de que alguns serão pegos de surpresa, e talvez alguns esperneiem e gritem, mas eles serão levados assim mesmo.
Defensores do arrebatamento parcial dizem que essa parábola apresenta a parte da igreja que está atenta e esperando o retorno do Senhor como as cinco virgens prudentes que tinham óleo e que a igreja carnal, que será deixada para trás, é apresentada como as cinco virgens imprudentes. Eles acreditam que ela apoia a teoria do arrebatamento parcial.
“Há grandes problemas com a tentativa de aplicar essa parábola à igreja, já que ela se refere a Israel.”
Para começar, há grandes problemas com a tentativa de aplicar essa parábola à igreja, já que ela se refere a Israel. Além disso, as ilustrações não combinam com o que deveriam ser se realmente estivessem ensinando uma doutrina de arrebatamento parcial. As imagens usadas na parábola das dez virgens não se comparam com as usadas para a igreja em outras passagens do Novo Testamento. “A passagem em si não usa nenhum dos termos característicos relacionados à igreja, tais como noiva, corpo ou a expressão em Cristo”, observa John Walvoord.6 Em vez disso, vemos que as dez virgens são apenas damas de honra presentes em um casamento e não as próprias noivas. Se de alguma forma representassem a igreja, essas virgens precisariam ser retratadas como noivas que estavam esperando por seu noivo, que seria Cristo. Não é o que encontramos na passagem. O dr. Walvoord explica, ainda:
“Se a vigilância é necessária para o merecimento, como os defensores do arrebatamento parcial argumentam caracteristicamente, então nenhuma das dez virgens se qualifica, pois ‘todas ficaram com sono e adormeceram’. A ordem de ‘vigiar’ em Mateus 25.13 tem, então, o significado específico de estar preparado com óleo — sendo genuinamente regenerado e habitado pelo Espírito em vez de ter espiritualidade incomum. O ensino claro é que ‘vigiar’ não é suficiente. Essa passagem servirá para refutar os defensores do arrebatamento parcial em vez de sustentar seu ponto de vista. Somente pelo poder e pela presença do Espírito Santo alguém pode se qualificar para a entrada na festa de casamento, mas todas as virgens prudentes entram na festa”.7
Notas
- Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew (Portland: Multnomah Press, 1980), p. 283.
- J. Dwight Pentecost, The Words and Works of Jesus Christ: A Study of the Life of Christ (Grand Rapids: Zondervan, 1981), p. 407.
- J. Dwight Pentecost, The Parables of Jesus (Grand Rapids: Zondervan, 1982), p. 154.
- Charles C. Ryrie, Basic Theology: A Popular Systematic Guide To Understanding Biblical Truth (Wheaton: Victor Books, 1986), p. 480.
- Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament (Bowling Green: Renaissance Press, 1978), Vol. 3, p. 345.
- John F. Walvoord, The Rapture Question, Revised and Enlarged Edition (Grand Rapids: Zondervan, 1979 [1957]), p. 104.
- Walvoord, The Rapture Question, p. 104.
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