Os Macabeus

Usos, costumes e tradições no judaísmo

Depois que os judeus retornaram do exílio babilônico no século V a.C., o povo enfrentou um período turbulento. Após o rei persa Ciro ter permitido aos judeus o retorno à sua terra, esta permaneceu por cerca de 120 anos sob domínio persa, até Alexandre Magno a conquistar. Sobre o período persa quase não há documentos históricos, razão pela qual o judaísmo o considerou erradamente como tendo durado menos do que 120 anos.

Quando então Alexandre Magno tirou a terra dos persas em 332 a.C., os judeus saudaram essa mudança alegremente. Contudo, ela lhes traria um dos seus tempos mais difíceis. Alexandre morreu apenas doze anos depois, e a imensa região que ele havia conquistado foi dividida entre quatro dos seus generais. Ptolomeu recebeu o Egito, de onde se originou a dinastia ptolemaica. Seleuco recebeu a Síria e o restante do Oriente Próximo, dando origem à dinastia selêucida. Não demorou a irromper uma luta encarniçada pelo predomínio entre essas duas dinastias.

A terra de Israel como teatro de guerra

A terra de Israel como teatro de guerra

O profeta Daniel previu essas conflagrações no capítulo 11, versículos 2 a 35. Para o povo de Israel, a tragédia consistiu em que sua terra era a única passagem entre as duas potências rivais, sendo assim atropelada por esse conflito.

Na profecia de Daniel, os ptolomeus são chamados de “reis do sul”, e os selêucidas, de “reis do norte”. Inicialmente, a terra de Israel esteve sob o domínio dos ptolomeus do sul, mas depois acabou dominada pelos selêucidas do norte. A guerra entre os rivais consumiu muito dinheiro, e o então soberano selêucida, Antíoco Epifânio, saqueou o tesouro do templo em Jerusalém para fazer caixa. No entanto, a rebelião contra o jugo estrangeiro começou só depois que os selêucidas começaram a oprimir a fé judaica e o culto no templo em Jerusalém, tentando impor aos judeus a cultura grega e o abandono da fé. Por dois anos, os selêucidas impediram o culto judeu no templo em Jerusalém. O profeta Daniel havia predito também essa situação: “Forças enviadas por ele profanarão o santuário e a fortaleza, acabarão com o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora” (Dn 11.31).

O templo permaneceu profanado por exatamente dois anos. No dia 25 de quisleu do ano de 165 a.C., os macabeus o reconsagraram, exatamente na data em que ele fora profanado dois anos antes.

O líder da rebelião contra os selêucidas foi um homem chamado Matatias, cognominado de Macabeu. Ele tinha cinco filhos, que depois dele lideraram em sequência a resistência e a luta pela liberdade, combatendo heroicamente até o amargo fim. A morte não conseguiu detê-los. Eles conseguiram libertar novamente o templo em Jerusalém e em seguida reconsagrá-lo. A memória disso se reflete na festa do Hanucá, celebrada no dia 25 de quisleu segundo o calendário judaico. Essa luta é descrita nos dois livros dos Macabeus, contidos como apócrifos nas Bíblias católicas e também em algumas edições da Bíblia de Lutero.

Os judeus celebram até hoje os macabeus como heróis nacionais, e o nome é apreciado para denominar clubes esportivos e outras instituições. Apesar disso, não se deve ignorar que eles não trouxeram apenas benefícios a Israel. A antiga máxima de que o poder corrompe aplica-se também nesse caso. Eles estabeleceram uma dinastia hereditária e aconteceu ocasionalmente de o rei ser ao mesmo tempo o sumo sacerdote – algo que os piedosos no povo não puderam aceitar, mas também não conseguiram impedir. Essa impotência impulsionou fortemente a expectativa pelo Messias. Por outro lado, os macabeus proporcionaram ao país cerca de oitenta anos de independência.

A história se repete

Esse é um ditado cuja pertinência se tem confirmado repetidamente ao longo do tempo. Em certo sentido, pode-se comparar a história dos macabeus com a do moderno Estado de Israel.

Os macabeus estavam conscientes de que, a longo prazo, não poderiam resistir às forças rivais em torno deles. Eles precisavam de fortes aliados. No Ocidente, Roma estava emergindo como potência mundial, começando a exercer sua influência também no Oriente. Os macabeus entenderam isso e firmaram alianças com Roma, mas também com Esparta. Essas alianças de fato intimidaram as potências vizinhas nas suas intenções de conquistar a terra de Israel.

No entanto, a aliança com Roma geraria mais tarde consequências trágicas, quando, por volta do ano 63, irrompeu uma guerra sucessória sob os macabeus.

O filho mais novo, Aristóbulo, queria ser rei e celebrou uma aliança com os persas, e em resposta Hircano, o mais velho, pediu ajuda aos romanos. Os romanos só estavam esperando uma oportunidade para ampliar sua influência no Oriente. Enviaram então Pompeu, seu general no Oriente, para ajudar o aliado. Aristóbulo sofreu uma derrota esmagadora, e Hircano foi proclamado rei. Daí em diante, porém, Israel não era mais independente, mas ficou sob tutela romana.

“Embora Israel tenha conseguido criar um Estado independente, alguns inimigos vizinhos ainda não desistiram do plano de aniquilar Israel.”

Hoje vemos um cenário semelhante no Oriente Próximo. Embora Israel tenha conseguido criar um Estado independente, alguns inimigos vizinhos ainda não desistiram do plano de aniquilar Israel. O mais tardar depois da guerra do Yom Kippur, Israel entendeu que precisaria de aliados fortes e confiáveis. A única potência do mundo em condições de oferecer isso são os EUA.

Desde o acordo de paz entre o Egito e Israel, patrocinado pelos EUA, Israel recebe dos americanos todo ano algo entre três e quatro bilhões de dólares. Por que os EUA fazem isso?

Pode-se dizer que Israel é o seu único aliado confiável no Oriente Próximo. A falta de confiabilidade dos outros ficou clara na recente crise no Afeganistão. Algo parecido também se observa no Iraque, onde os EUA investiram muitos bilhões.

Os israelenses, porém, não esperam que os EUA lutem por eles. Eles mesmos dispõem de um exército poderoso, conforme ficou demonstrado no passado. Mas o que trará o futuro? Embora Israel tenha vencido gloriosamente a Guerra dos Seis Dias, na guerra do Yom Kippur o cenário já foi diferente. As experiências daquela guerra mostraram a Israel a necessidade de um aliado forte.

Sabemos pela Bíblia que um grande assalto ainda virá. Será que então os EUA e seus aliados da OTAN lutarão ao lado de Israel? Este precisa sempre contar com uma invasão da sua terra. Daí também é compreensível a preocupação de Israel com o Irã e seu desenvolvimento da bomba atômica.

Cada vez que os EUA elegem um novo presidente, surge a grande questão da sua posição em relação a Israel e os judeus. A resposta a essa pergunta é decisiva. Diante de tudo isso, porém, podemos estar certos de que Deus não abandonará Israel, mas acabará por salvá-lo, não importa o que aconteça. Contudo, é compreensível que Israel se preocupe com tudo o que possa acontecer até então.

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Março 2022

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