Seria o moderno Estado de Israel realmente parte da profecia bíblica?
O profeta Isaías anunciou: “Levantará um estandarte para as nações, ajuntará os desterrados de Israel e recolherá os dispersos de Judá desde os quatro cantos da terra” (Is 11.12). Existe apenas um único período na história mundial em que podemos falar de um retorno de Israel com alcance global a partir de todos os quatro pontos cardeais. Quando os judeus retornavam à sua terra antes dos tempos de Cristo, aquilo sempre vinha de uma só direção (Babel) e com alcance relativamente pequeno. Todavia, desde o fim do século XIX e o súbito advento do sionismo, iniciou-se um retorno mundial dos judeus – exatamente o que a Bíblia previra. Inicialmente, esse fluxo ainda era relativamente pequeno, mas depois das terríveis ocorrências do nazismo ele aumentou rapidamente.
Era o dia 5 de janeiro de 1895, na praça de desfiles da academia de guerra em Paris. Arrancaram-se publicamente os distintivos de general de um oficial francês, e seu sabre foi quebrado numa drástica encenação. Tudo acompanhado dos gritos de uma multidão aglomerada e furiosa: “Morte ao judeu!”. O que acontecera? Material secreto altamente comprometedor do generalato fora tirado da contraespionagem francesa e entregue aos alemães. O chefe da contraespionagem francesa, coronel Sandherr, era um antissemita convicto e, ao se deparar na revisão da lista de nomes do seu departamento com o nome judeu Dreyfus, ficou claro para ele: “Só judeus podem ter cometido tamanha traição!”.
Alfred Dreyfus foi condenado em um escandaloso processo sem provas autênticas e deportado para a Ilha do Diabo (Guiana Francesa), onde passou a sofrer com o clima tropical e as más condições prisionais. Mais tarde, o novo chefe da contraespionagem francesa, Picquart, detectou o verdadeiro criminoso. Embora provasse a inocência de Dreyfus, não quiseram ouvi-lo. Era indispensável que o judeu permanecesse na Ilha do Diabo. Picquart não desistiu e finalmente teve sucesso em 1906. Em lugar da sua degradação, Dreyfus foi nomeado cavaleiro da Legião de Honra e reabilitado.
Entre os observadores do falso processo contra Dreyfus estava também o correspondente de um jornal vienense, ele próprio também judeu. A escandalosa sentença despertou muitas perguntas nele. Ele começou a pensar no seu povo disperso pelo mundo inteiro. Nenhum lar, nenhum estado que representasse e defendesse os interesses dos seus cidadãos. Assim, então, o correspondente vienense Theodor Herzl escreveu sua brochura O Estado judeu, o que o tornou o pai do sionismo e, do ponto de vista humano, pai intelectual do renascimento nacional de Israel.
Com a destruição de Jerusalém por Tito, a estrutura de Israel pareceu ter-se dissolvido em nada. Desde então não existiu mais nenhum estado judeu, ainda que sob ocupação estrangeira. Mesmo assim, com Theodor Herzl começou a configurar-se o que Ezequiel 37 previra. Os ossos secos começaram a se mover. Deus usou Herzl para iniciar aquilo que, segundo o testemunho profético, deveria introduzir a vinda do Messias: a reunião de Israel!
O sionismo de Theodor Herzl sinalizou o nascimento intelectual de um lar nacional judeu. Com isso, porém, nada se dizia ainda sobre a localização desse lar. Chegou-se a realizar um congresso sionista em Basileia. Fritz Grünzweig cita o relato de um visitante: “Nesse congresso reuniram-se judeus de toda a Europa (comerciantes, banqueiros...). Eles discutiram várias possibilidades de um lar judeu (Madagascar, África etc.). Em meio à discussão, um velho rabino bradou a passagem dos salmos que diz: ‘Se eu me esquecer de você, ó Jerusalém, que a minha mão direita se resseque’. Aí aqueles homens cheios de experiência se levantaram abraçaram-se entre lágrimas e disseram: ‘Venham, vamos à terra dos nossos pais!’. Com isso nasceu não só a fundação de um lar nacional judeu, mas o ressurgimento do Estado de Israel em sua terra original”.
Em 1895, a polícia secreta czarista também produziu em Paris os chamados Protocolos dos Sábios de Sião. Eram falsificações que atribuíam aos judeus uma secreta conspiração global, preparando o estabelecimento de um governo mundial. Esses protocolos alegadamente secretos serviram de pretexto para desencadear ondas de perseguição (pogroms) contra os judeus da Europa oriental. Trata-se de uma “obra-padrão” antissemita que desempenharia um importante papel no Terceiro Reich. Até hoje os protocolos são lidos nos países árabes.
Em 1905, então, os judeus foram culpados da derrota na guerra russo-japonesa e, mais tarde, também se tornaram o bode expiatório da irrupção da revolução. Entre 1917 e 1920, foram trucidados na Ucrânia no mínimo 75 000 judeus. Data daquela época uma onda imigratória judia vinda da Rússia e da Europa para a região de Israel. Surgiu a cidade de Tel Aviv e instalaram-se os primeiros kibutzim. Além disso, irrompeu a Primeira Guerra Mundial. O Império Otomano, ou melhor, o que restava dele, sucumbiu. Por quatrocentos anos, a terra de Israel permanecera sob domínio otomano, e então foi parar na Liga das Nações como uma espécie de terra de ninguém. Em 1920, a Palestina foi atribuída à Inglaterra como mandato. Com isso criou-se a premissa para a fundação do Estado de Israel.
Com a Declaração Balfour, de 1917, os judeus ganharam o direito a um lar nacional na região denominada de “Palestina”. Como resultado, iniciou-se uma nova onda imigratória entre 1919 e 1932. Com o crescente retorno dos judeus à sua terra surgiu o conflito entre judeus e árabes. No breve período entre as duas guerras mundiais, os ingleses dividiram a região da Palestina por motivos de política de poder. Da maior dessas duas partes surgiu em 1922 a Transjordânia.
Em seguida, o regime nazista na Alemanha lançou o mundo numa catástrofe que excedeu em muito a crueldade e as vítimas da Primeira Guerra Mundial. Foi o momento em que o antijudaísmo atingiu o ápice. O pavoroso holocausto de Hitler pretendia a aniquilação total dos judeus. De modo terrível, ele fez assassinar seis milhões de judeus em campos de concentração, incluindo um milhão de crianças. Theophil Wurm, bispo luterano de Württemberg, foi um dos poucos a assumir uma clara posição contra o regime nazista. Quando começaram os terríveis bombardeios cobrindo cidades alemãs, ele disse: “Por que vem esse fogo do céu? É o castigo por aquilo que estamos fazendo aos judeus”.
O resultado da Segunda Guerra Mundial foi o exato oposto daquilo que Hitler queria. Ao invés da completa aniquilação dos judeus, três anos depois ressurgiria o Estado de Israel como nação. Ezequiel 37 tornou-se realidade: do vale dos ossos secos (Auschwitz, Dachau, Bergen-Belsen etc.) saíram sobreviventes. Foi como uma abertura de túmulos (v. 11-12). Seiscentos mil judeus fundaram o Estado de Israel – a décima parte das vítimas judias assassinadas sob o regime de Hitler.
A fundação do Estado de Israel permite-nos reconhecer como o Deus vivo usou o que se voltara contra ele para atingir os seus objetivos em sua soberania. O homem que queria aniquilar por completo os judeus teve de contribuir para o ressurgimento de Israel. E quando, em 1948, os povos árabes vizinhos atacaram o ainda jovem estado judeu na guerra da independência, os primeiros aviões de combate da força aérea israelense eram caças modificados do tipo 109, de produção tcheca. Com isso, o avião de caça padrão da força aérea de Hitler teve participação decisiva na defesa da existência de Israel. É uma bela confirmação do que diz o salmo 2: “Por que se enfurecem as nações e os povos imaginam coisas vãs? Os reis da terra se levantam, e as autoridades conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido, dizendo: ‘Vamos romper os seus laços e sacudir de nós as suas algemas’. Aquele que habita nos céus dá risada; o Senhor zomba deles” (v. 1-4).
A fundação do Estado de Israel permite-nos reconhecer como o Deus vivo usou o que se voltara contra ele para atingir os seus objetivos em sua soberania.
O ressurgimento do Estado e do povo de Israel oferecem-nos um marcante sinal do cumprimento da profecia bíblica. A primeira fase de Ezequiel 37 realizou-se. Os esqueletos mortos se reuniram e cresceu carne e pele neles. Com isso, aguardamos o cumprimento da segunda fase: a salvação de Israel e, com ela, a conversão e renovação espiritual por meio do Senhor em seu retorno. Nosso Senhor também cumprirá esta sua palavra, e isso poderá acontecer brevemente. “Vocês saberão que eu sou o Senhor, quando eu abrir as sepulturas de vocês e os fizer sair delas, ó povo meu. Porei em vocês o meu Espírito, e vocês viverão. Eu os estabelecerei na sua própria terra, e vocês saberão que eu sou o Senhor. Eu falei e eu o cumprirei, diz o Senhor” (Ez 37.13-14)