O verdadeiro conflito do Oriente Médio
O conflito israelo-palestiniano normalmente é chamado de conflito do Oriente Médio. A região convive constantemente com conflitos, muitos dos quais nada tem a ver com Israel. Na verdade, há séculos a região do Oriente Médio é panorama de conflitos que, em sua grande maioria, não teve envolvimento com Israel nem com judeus.
Nos últimos 14 séculos, o verdadeiro conflito do Oriente Médio ocorreu entre as diferentes correntes do islã. Até hoje a região vive sob influência da divisão entre sunitas e xiitas. Para estabelecer calma, estabilidade e paz no Oriente Médio, é necessário primeiramente compreender as origens do conflito. Todas as grandes religiões já tiveram lutas sangrentas internas em sua comunidade de fé. No entanto, nenhum litígio desempenha um papel político tão importante, ainda hoje, como o que há entre os muçulmanos.
Seu conflito iniciou com o assassinato do califa ibn Affan, conhecido como Otomão, o terceiro califa. Os muçulmanos que haviam seguido os três califas responsabilizaram o primo e genro de Maomé, Ali ibn Abi Talib, pela morte de Otomão. Um conflito iniciou-se entre o primo de Otomão – Muawiyah ibn Abi Sufyan – e os seguidores de Ali ibn Abi Talib. O mundo islâmico dividiu-se em dois partidos, que até hoje estão em guerra entre si.
As origens desse conflito não são de natureza ideológica. Os xiitas acreditam até hoje que Maomé designou Ali como seu sucessor. Assim, seus seguidores seriam os califas legais. Os sunitas, ao contrário, acreditam que o califado foi concedido legalmente ao acompanhante de Maomé – Abu Bakr, posteriormente a Omar ibn al-Khattab e então a Otomão. Eles argumentam que isso esteja baseado no princípio da Shura, que é mencionada no Alcorão, de acordo com o qual a autoridade sobre os muçulmanos é determinada por competência e experiência, não por herança.
Dito em outras palavras, trata-se de uma briga por herança. Três pontos devem ser observados:
Primeiro, no mundo muçulmano há a confluência de um fator religioso imutável com um fator político variável. A religião e seus pilares básicos deveriam permanecer relativamente constantes, enquanto que a política se orienta pela situação do dia a dia de cada geração. No Oriente Médio árabe não houve nem há separação entre Estado e religião.
“No mundo muçulmano há a confluência de um fator religioso imutável com um fator político variável.”
Segundo, os povos árabes sempre foram levados pelas emoções. Quase nunca avaliavam os fatos antes de se lançarem em uma batalha. A palavra de um líder carismático (diga-se, manipulador) muitas vezes é suficiente para que a espada seja empunhada.
Terceiro, o Oriente Médio árabe segue a orientação tribal. As tribos sempre alimentavam desconfiança entre si. Desconfiança, medo e paranoia muitas vezes provocam intolerância. Nesse caso não importa se a desconfiança é justificada; basta despertar as emoções para guerrear contra um vizinho. O nervosismo da cultura tribal permanece sendo um aspecto importante e perigoso da política do mundo árabe.
O atual Iraque hoje é um exemplo-modelo para esse conflito. Ali existe uma sociedade heterogênea formada por sunitas, xiitas e outras comunidades menores que vivem em conflito permanente entre si. Soma-se a isso a situação do Iraque diante das forças poderosas dos sunitas e dos xiitas, que por outro lado lutam pela supremacia da região, isto é, na Turquia e no Irã. Poderíamos mencionar vários exemplos de conflitos confessionais na região – todos com origem na história islâmica.
Se o mundo árabe desejasse romper esse ciclo de conflitos, ele deveria deixar de apontar o dedo para Israel. Ao invés de utilizar Israel como desculpa cômoda, deveria começar a tratar da origem das causas. Para início de conversa, deveria abandonar a mentalidade de rebanho, a qual é acompanhada de uma herança destruidora.
Publicado com autorização
de israeltoday.co.il