Quão Segura É a Salvação?

Parte 5

É possível que alguém redimido abandone a fé? Nesta série, queremos examinar sistematicamente a questão da segurança da salvação. Leia aqui a quinta parte.

Quando se trata da certeza da salvação, uma frequente objeção é que “cristãos carnais” poderiam se acomodar numa falsa segurança. Por isso também convém tratarmos da questão da santificação no contexto da certeza da salvação. R. C. Sproul explica o termo “santo” desta forma: “O significado fundamental de santo é “estar separado”. Originariamente significava “cortar” ou “separar”; não simplesmente cortar e descartar, mas separar para algum fim especial”.[1]

Existem duas formas de santificação. A primeira é a santificação plena por Deus. Todo aquele que nasceu de novo já está plenamente justificado e santificado por Deus (1Co 6.11). Jesus Cristo santificou todo crente de uma vez por todas por meio de sua obra redentora – ou seja, separou-o para Deus (Jo 17.19; Hb 10.10,14). Em Cristo, a pessoa renascida está em posição plenamente santificada (cortada/separada da vida antiga). Por isso ela não pode se perder. Em Cristo, ela já está “sant[a] e irrepreensíve[l]” diante de Deus em amor (cf. Ef 1.4).

Isso leva forçosamente à segunda forma de santificação: quem foi santificado agora é chamado a perseguir a santificação por iniciativa própria (1Ts 4.3; Hb 12.14; 1Pe 1.15). Perseguir a santidade significa viver de acordo com a vontade de Deus e para ele (obedecer, permanecer em Cristo). Quem nasceu de novo pelo poder transformador de Deus foi por ele completamente separado (santificado) a fim de viver separado (santo) para Deus e para que Deus seja realizado por meio dele.

Em Romanos 6, Paulo argumenta que para nós, que somos justificados pela fé (Rm 5), “de maneira nenhuma” haveremos de permanecer “pecando”, pois já “morremos para o pecado” (Rm 6.1-11). Mesmo que o pecado ainda possa conquistar espaço em nosso corpo mortal, ele não tem mais poder sobre nós (Rm 6.12-14). O redimido está “justificado do pecado” (v. 7) e tem condições de considerar a si próprio morto para o pecado, mas “vivo para Deus em Cristo Jesus” (v. 11). Ele foi unificado com Cristo, que morreu e ressuscitou (v. 5-6). Graças a Cristo, o redimido já anda numa “vida nova” (v. 4).

Nos versículos 16-23, Paulo demonstra que não existe neutralidade. Não há uma zona cinzenta. Só existe ou/ou. Ou somos escravos do pecado ou escravos da obediência (v. 16). Ou “escravos da justiça” (v. 18) ou escravos da “impureza” e da “maldade que leva à maldade” (v 19). Ou somos “livres da justiça” (v. 20) ou “libertados do pecado” (v. 18). Ou “escravos do pecado” (v. 16,20) ou “escravos de Deus” (v. 22). Não há meio-termo.

S. Lewis Johnson: “Portanto, a designação de cristão carnal não é nem a categoria de um cristão aceitável para Deus, nem representa um estado permanente na vida cristã”.

Por essa razão, Paulo pressupõe em Romanos 6 que alguém que viva sob a graça (v. 14) tenha três características: 1) “obedecer de coração à forma de ensino [a Palavra de Deus]” (v. 17); 2) envergonhar-se daquilo que praticava como escravo do pecado (v. 20-21); 3) ter a santidade como fruto: “Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna” (v. 22).

O fim (resultado) de uma vida de santidade é a vida eterna. Sem santificação “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Isso não significa que aquele que nasceu de novo não seja capaz de pecar a qualquer momento, podendo perder o prêmio das suas obras (1Co 3.15). Entre os coríntios convertidos no tempo de Paulo havia uma promiscuidade “que não ocorr[ia] nem entre os [gentios]” (1Co 5.1). Paulo, porém, corrigiu-os, e mais tarde eles lhe deram ouvidos (cf. a reação dos coríntios descrita em 2Co 7.8-16). A carnalidade não é a condição normal do redimido. Deus castiga seus filhos para que cresçam em santidade (Hb 12.6-10). No pior dos casos, isso parece poder levar à morte física (cf. 1Co 5.5; 11.29-3). Em geral, porém, o crescimento em santidade é a marca normal da nova criatura a caminho do céu (Rm 6.22; cf. Ap 21.7).

“Portanto, a designação de cristão carnal não é nem a categoria de um cristão aceitável para Deus, nem representa um estado permanente na vida cristã” (S. Lewis Johnson).

Nota

  1. R. C. Sproul, Die Heiligkeit Gottes (Bielefeld: Christliche Literatur-Verbreitung, 2018), p. 44.

René Malgo é encarregado do trabalho editorial das revistas da Chamada em alemão. Também é autor e coautor de diversos livros.

sumário Revista Chamada Outubro 2021

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