Norbert Lieth

Norbert Lieth

O ano passado foi dominado por um vírus, que trouxe depressão sobre os povos. Ele gerou medo, insegurança, solidão e toda sorte de repressões. As preocupações materiais aumentaram, os índices de insolvência e de suicídios subiram. Fronteiras foram fechadas, e o tráfego aéreo quase parou.

Em meio a esses tempos deprimentes, uma canção caiu “como do céu”, atravessando todas as fronteiras, “voando” para os cantos mais isolados da terra e dominando o cenário mundial por muitos meses. Ela impregnou todas as camadas sociais e proporcionou bom humor. A canção não se deteve praticamente diante de ninguém. Policiais, equipes de hospitais e companhias aéreas, freiras piedosas, comunidades eclesiásticas, militares – todos dançavam com a melodia. Ao menos temporariamente, foi possível respirar e sentir alívio.

A canção chamava-se “Jerusalém” (Jerusalema no original). O compositor, Kgaogelo Moagi (também conhecido como Master KG), é um sul-africano que se declara cristão. Numa entrevista, disse que quis invocar a proteção e a direção de Deus com sua canção. O título homenageia Jerusalém como a cidade predileta de Deus.

Jerusalém é o local de revelação do Eterno. Em Jerusalém Jesus Cristo efetivou a redenção do mundo. Jerusalém representa a moradia de Deus entre os homens e sua presença. Em Jerusalém ficava a “casa de meu Pai”, conforme Jesus enfatizou (Jo 2.16). O Senhor também chamou Jerusalém de “cidade do grande Rei” (Mt 5.35). A Bíblia fala da vinda de uma nova Jerusalém, que um dia dominará o mundo. Em Apocalipse 21.10 ela é descrita como “Cidade Santa”. Jerusalém representa o passado, o presente e o futuro. Jerusalém aponta para a presença e a fidelidade de Deus e o cumprimento das suas promessas, e não é por acaso que seu nome significa “cidade de paz”. Ela é um retrato da eterna Jerusalém celestial, a habitação de Deus.

Por isso, a letra da música (em zulu no original) é um sinônimo do Eterno: “Jerusalém, meu lar / Salve-me / Acompanhe-me / Não me abandone aqui / Meu lugar não é aqui / Meu reino não é aqui / Salve-me / Venha comigo”.

Este não é o lugar para uma análise bíblica e dogmática, mas o fato de uma canção como essa fascinar o mundo inteiro (exceto o muçulmano), tornando-se um encorajamento para muitos, fala de certo modo por si. Jerusalém, aquela que é negada aos judeus, sobre cuja existência tantos se irritam; Jerusalém, alvo de política e discussões, julgada e dilacerada... Agora ela representa um sucesso mundial, cantado pelo mundo inteiro. A muitos foi um bálsamo para a alma e proporcionou alívio em tempos difíceis. Isso também é algo que Deus permite, e por meio de Jerusalém somos automaticamente lembrados dele.

Lembrei-me do relato em Atos, em que Paulo e Barnabé apelaram aos icônios que “se afastem dessas coisas vãs e se voltem para o Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há. No passado ele permitiu que todas as nações seguissem os seus próprios caminhos. Contudo, Deus não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura e um coração cheio de alegria” (At 14.15-17).

Jerusalém ainda terá tempos difíceis a suportar no futuro, mas virá o dia em que Jesus retornará em triunfo e Jerusalém será sua residência (Mt 25.31). Virá o dia de uma nova Jerusalém, quando os atuais inimigos de Jerusalém também festejarão.

“Quando me lembro dessas coisas, choro angustiado. Pois eu costumava ir com a multidão, conduzindo a procissão à casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças em meio à multidão que festejava” (Sl 42.4).

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Outubro 2021

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