Extremistas no Parlamento

Israel elegeu um novo Parlamento (Knesset). No entanto, a situação entre os blocos não apresenta a clara formação de uma coalizão capaz de governar. Apesar de um aparente equilíbrio, há entre os novos deputados do Knesset também alguns extremistas – e mais do que antes.

O Knesset eleito em 23 de março de 2021 passou a abrigar pelo partido trabalhista o rabino reformista Gilad Kariv, votado pela primeira vez. Trata-se da primeira vez que se criou um equilíbrio com os ultraortodoxos e, assim, possibilitando assim finalmente que uma outra parte da população seja representada no parlamento do país. Ele é um representante do povo que possui pontos de vista moderados e ao mesmo tempo está aberto aos judeus que praticam sua fé de forma diferente. Essa estreia torna-se ainda mais importante porque o Estado de Israel no exterior não tem que reconhecer as conversões realizadas segundo o rito ultraortodoxo.

Ao mesmo tempo, porém, o Knesset também revela uma certa radicalização. O país inteiro comenta hoje um certo partido, cuja presença se registrou inclusive no exterior: o partido Ra‘am, conhecido também como Lista Árabe Unida (ou Lista Conjunta). Ele já estava representado no Knesset antes, de modo que a presença de cidadãos árabes de Israel e simultaneamente pertencentes ao movimento islâmico, com o qual esse partido precisa ser identificado, não é novidade. A novidade é que esses parlamentares não se apresentam mais unidos a outros partidos árabes. Mais interessante ainda é que, apesar de sua ideologia, próxima à Irmandade Muçulmana (hostil a Israel), praticam atualmente uma espécie de realpolitik – eles não insistem em ideologias, mas postulam a busca pela resolução dos problemas da sociedade árabe por meio de uma participação no processo de decisões políticas. Mansour Abbas, líder do Ra’am, até mesmo havia anunciado que tanto como árabe quanto como fiel muçulmano não teria problemas em aliar-se a um governo de direita conservadora a favor da solução desses problemas, o que de fato ocorreu na coalização liderada pelo atual primeiro-ministro, Naftali Bennett. Mesmo assim, a maior parte da sociedade judia está receosa porque esse partido também conserva uma preocupante proximidade com o Hamas.

Mansour Abbas, árabe e fiel muçulmano, não teve problemas em aliar-se a um governo conservador de direita. Mansour Abbas, árabe e fiel muçulmano, não teve problemas em aliar-se a um governo conservador de direita.

Outros que têm dado muito a falar a respeito de si mesmos são os chamados sionistas religiosos, posicionados na beirada da extrema-direita da política israelense. Trata-se de uma coalizão de três movimentos políticos que, graças a um acordo com Benjamin Netanyahu, conquistou um número de cadeiras além do usual. Seus seis deputados incluem pessoas como Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir, conhecidos como extremistas ativos não só quando o assunto é o relacionamento entre judeus e árabes, mas para todos os grupos populacionais que não se enquadram em sua estreita cosmovisão. Alguns desses deputados já passaram a exigir que Israel denunciasse a declaração da ONU sobre os direitos da mulher, a fim de lançar na retaguarda a segurança assegurada às mulheres em caso de violência.

Quem mais se destaca nisso parece ser o deputado Ben-Gvir, um ardente partidário das teorias racistas do rabino Meir Kahane. Ele não só se destaca diariamente com ataques a árabes, como até há pouco ainda ostentava na parede da sua sala de visitas em Kiryat Arba um retrato de Baruch Goldstein, que promoveu em 1994, junto aos túmulos dos patriarcas, um massacre entre devotos muçulmanos. Muitos classificaram como vergonha para a democracia israelense que tal homem esteja agora entre os representantes do povo. Não é sem motivo que o movimento de Kahane, que Ben-Gvir declara abertamente apoiar, está proibido em Israel e foi expulso dos EUA por se tratar de uma associação terrorista.

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Setembro 2021

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