A Mensagem de Jonas

Parte 3 - Caminhar junto com Deus

O Ursinho Pooh disse uma vez: “Quão sortudo eu sou de ter algo que torna tão difícil dizer adeus”. Dizer adeus nunca é fácil, especialmente quando você desenvolveu uma preocupação e um amor pelas pessoas de quem está se despedindo.

O apóstolo Paulo lamentou ter de separar-se da igreja que amava. Ele sentia o peso da realidade de que essa comunidade de cristãos nunca mais veria o seu rosto (At 20.25).

Dizer adeus é essencial para alcançar a maturidade cristã, e é necessário no relacionamento com outros.

Enquanto Paulo falava aos presbíteros da igreja em Éfeso, ele ficou convencido de que Deus o estava afastando de seus amigos pelo restante de seus dias aqui na terra. O apóstolo sabia, pela sua experiência na estrada de Damasco, que Deus determina de forma soberana a direção da vida de seu povo. Dizer adeus é essencial para alcançar a maturidade cristã, e é necessário no relacionamento com outros.

Todas as pessoas precisam dizer adeus, de várias maneiras e em várias circunstâncias. A formatura da faculdade, o casamento, o nascimento de um filho ou filha, a morte de um ente querido, a perda do emprego ou aposentadoria são eventos que resultam no fim de um aspecto da vida e começo de outro. Despedir-se é reconhecer que algo valioso – algo essencial no presente – está terminando.

Jonas precisou dizer adeus a muitas coisas. A primeira e mais óbvia – o peixe – seria fácil, mas isso resultaria em outras mudanças. Ele era um profeta de Deus no reino do norte de Israel (2Rs 14.25), mas agora ministraria para o Senhor em Nínive. Jonas também precisava dizer adeus à sua atitude de raiva, ódio e preconceito.

Uma segunda chance (Jn 3.1-10)

Os últimos dois capítulos de Jonas registram a obediência do profeta ao Senhor, depois de sua desobediência inicial (caps. 1-2). No entanto, Jonas foi obediente em suas ações, mas sua atitude ainda era de desafio. No capítulo 2, Jonas orou dizendo que ofereceria sacrifícios ao Senhor em Jerusalém, como gratidão por Deus ter poupado sua vida. Deus não queria sacrifícios da parte de Jonas. Ele queria obediência, e lembrou o profeta de que ainda restava uma tarefa incompleta para ele cumprir.

"Obedecer à vontade de Deus é, frequentemente, contrariar os próprios desejos"

A lição que Jonas precisava aprender é importante, pois, frequentemente, obedecer à vontade de Deus é contrariar os próprios desejos. A maturidade espiritual nunca pode ser alcançada negligenciando a vontade revelada do Senhor. Muitos cristãos querem ser usados por Deus, mas ainda não estão dispostos a cumprir as tarefas simples e claras que Deus revelou em sua Palavra. Deus lembrou Jonas de que ele não faria progresso algum até que fizesse o que Deus lhe tinha pedido.

Segunda vez – estas são as palavras cruciais que iniciam Jonas 3. Seria dada uma segunda chance a Jonas, o que não é algo que todos na Bíblia recebem. A esposa de Ló não teve (Gn 19.26). O rei Saul foi permanentemente removido do seu cargo por causa de sua rebelião pecaminosa (1Sm 13.9,13-14). Deus julgou Ananias e Safira imediatamente pelo seu engano (At 5.1-11).

Deus não é obrigado a dar uma segunda chance; assim, nunca presuma a graça do Senhor. Ainda assim, Deus acolhe os pródigos (Lc 15.11-32) e ele perdoou e restaurou Pedro (Jo 21.15-25). A verdade encorajadora em Jonas 3 é de que a desobediência inicial do profeta não anulou o chamado do Senhor em sua vida. Isso provavelmente prova que Deus se importa mais com o trabalhador do que com o trabalho a ser feito. Se o Senhor estivesse preocupado somente com Nínive, seria possível enviar outro profeta. Deus queria que Jonas confrontasse a sua atitude pecaminosa, e desse modo aprendesse algo sobre o grande amor que o Senhor tem pelo mundo.

Assim como ele enviou de forma soberana “uma tempestade... violenta” (1.4) e “fez com que um grande peixe engolisse Jonas” (1.17), Deus também escolheu Jonas soberanamente para a sua missão. Outra indicação da soberania de Deus é a ordem para que Jonas proclamasse a palavra precisa do Senhor. Ainda hoje, os embaixadores de Deus devem transmitir as palavras do Senhor, não as suas próprias ideias. A graça divina sempre é suficiente – onde quer que a vontade do Senhor possa levar –, pois Deus capacitará o seu servo.

Como uma das cidades principais de uma das nações mais poderosas do mundo naquele tempo, Nínive era de fato “grande” (3.2-3; 4.11), tendo sido estabelecida por Ninrode na época dos patriarcas (Gn 10.10-12). Nínive era a cidade mais antiga e mais populosa do Império Assírio, o rival de Israel. Localizada a leste do rio Tigre, Nínive era a residência real dos reis assírios. A história nacional da Assíria foi preservada com inscrições e imagens de batalhas e campanhas militares. Nínive era lendária por sua selvageria ao saquear cidades.

A história é horripilante e sangrenta. Os assírios eram especialistas em torturar as nações conquistadas. Os cativos eram muitas vezes esfolados vivos. Eles arrancavam os olhos de muitos soldados. Eles então queimavam os cativos, passavam a espada em partes do corpo e eram até mesmo conhecidos por queimar meninos e meninas adolescentes. Os métodos que os assírios usavam para punir seus cativos assustavam muitos e os levavam a não resistir.

Nínive não era somente feroz, mas também uma cidade excessivamente religiosa. Eles tinham um panteão inteiro de deuses, a maioria dos quais tinham sido incorporados da Babilônia. Os sacerdotes de Nínive não se opunham à guerra, e eram até mesmo considerados fomentadores incansáveis dela. A maior parte do seu sustento vinha dos espólios da conquista, e eles se deleitavam com a visão dos exércitos partindo e retornando com seu saque. Nínive era uma cidade extremamente má, e por isso Deus queria que Jonas pregasse a eles.

"Deus se importa com as grandes cidades do mundo, e seu povo também deveria."

Normalmente, o profeta teria ficado encantado de declarar a mensagem de Deus a uma cidade perversa, uma vez que o Senhor já tinha demonstrado que uma nação seria destruída por sua maldade. Os assírios ainda não tinham conquistado Israel, mas tinham chegado perto. A expansão das fronteiras de Israel, que tinha sido o cumprimento de uma profecia de Jonas, tinha sido possível porque os assírios já tinham capturado ou matado os povos ao redor. Jonas teria temido os assírios e não queria ter nada a ver com aquela cidade sangrenta e cruel. Deus, contudo, estava preocupado com a cidade, o que significa que era algo definitivamente importante para ele. Deus se importa com as grandes cidades do mundo, e seu povo também deveria.

Jonas percebeu que devia cumprir a comissão do Senhor, então se levantou e viajou para leste, em direção a Nínive (3.3; cf. 1.3). O caráter de Deus é imutável, então a mensagem permaneceu a mesma (3.2; cf. 1.2). Jonas, no entanto, experimentou uma transformação, e dessa vez ele foi obediente à palavra do Senhor.

A mensagem de Jonas para os ninivitas era bem simples: “Daqui a quarenta dias Nínive será destruída” (3.4). A mensagem era um anúncio de destruição iminente, contudo o período de graça de 40 dias tinha o objetivo de provocar arrependimento, e foi o que aconteceu. “Os ninivitas creram em Deus” (3.5a). Nínive tinha muitos deuses e era conhecida como uma cidade religiosa com templos a esses ídolos. Todavia, o povo renunciou aos seus deuses nacionais e pessoais e voltou-se para o Deus que criou os céus e a terra. Eles reconheceram o poder de Deus e creram que ele poderia e faria exatamente o que Jonas tinha proclamado.

Os cidadãos de Nínive demonstraram sua fé com ações tangíveis (cf. 2Sm 3.31,35; 1Rs 21.27; Ne 9.1-2; Is 15.3; 58.5; Dn 9.3; Jl 1.13-14). “Proclamaram um jejum, e todos eles, do maior ao menor, vestiram-se de pano de saco” (v. 5b). Ambas as ações envolveram aflição autoinfligida como uma demonstração de humildade. “Quando as notícias chegaram ao rei de Nínive, ele se levantou do trono [um gesto de intenção séria], tirou o manto real [um ato de humildade], vestiu-se de pano de saco [um indicativo de luto] e sentou-se sobre cinza [uma demonstração de arrependimento]” (3.6). O rei então “fez uma proclamação”, decretando um tempo de jejum e oração (3.7-8). Em suas palavras: “Talvez Deus se arrependa e abandone a sua ira, e não sejamos destruídos” (3.9; cf. Is 55.6-7). Obviamente, os ninivitas entenderam que a destruição que pairava sobre eles era resultado de sua própria conduta. O povo acreditou corretamente que Deus poderia ser misericordioso se eles abandonassem a sua maldade.

Um indicativo de maturidade espiritual é responder a Deus em humildade, ao invés de com arrogância e orgulho. Em 1Pedro 5.5b-6, lemos: “Sejam todos humildes uns para com os outros, porque ‘Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos humildes’. Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido”. Jonas foi arrogante e orgulhoso quanto aos ninivitas porque ele os odiava. Mesmo assim, o rei da Assíria respondeu com humildade e salvou não apenas a si mesmo, mas também o seu povo.

A humildade se estende, além da pessoa, para a sua esfera de influência. A salvação é pela graça de Deus através da fé, “não por obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.9). Ser um recipiente da graça de Deus significa ser gracioso com os outros. O dom da graça de Deus não é para se gabar; pelo contrário, é para o benefício dos outros (cf. Rm 12.6; Ef 3.2,7; 4.7; 1Pe 4.10).

Deus viu a autenticidade do arrependimento dos ninivitas em suas ações (3.10). Eles deram fruto que mostra o arrependimento (Mt 3.8; cf. 2Co 7.10). Em resposta, Deus reteve o julgamento que teria administrado se eles não tivessem abandonado “os seus maus caminhos” (3.10). É maravilhoso como uma cidade inteira foi levada ao arrependimento e à fé por meio da pregação de um homem que não amava aqueles a quem ele ministrou.

“Deus se arrependeu”, o que significa que ele tem a liberdade para mudar. Deus declarou suas intenções quanto a um povo culpado e determinou a punição que eles receberiam por causa de sua culpabilidade. Ainda assim, ele sempre teve a intenção de demonstrar misericórdia quando o povo abandonasse “os seus maus caminhos”. Deus ameaçou com o juízo, que aquelas pessoas certamente mereciam, mas os perdoaria assim que se voltassem a ele.

O fato mais importante é que ninguém além de Deus antecipava tal oração e arrependimento. Deus estava trabalhando na cidade perversa antes da pregação de Jonas. Ele preparou Nínive para esse momento, e o povo daquela geração respondeu. Talvez a nossa nação esteja sob juízo neste momento e não o percebemos; ou, talvez estejamos mais próximos de um avivamento maior do que qualquer um que pudéssemos imaginar.

Ron J. Bigalke é o diretor e fundador da missão Eternal Ministries. Foi professor de teologia durante duas décadas e contribui frequentemente para diversas publicações cristãs.

sumário Revista Chamada Julho 2021

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