O dia do Homem, O dia de Cristo, O dia do Senhor e O dia de Deus

Quem lê atentamente a Bíblia perceberá que ela menciona determinados dias. Assim, por exemplo, há o “dia de Cristo Jesus”. Várias vezes também consta o “dia do Senhor”, e uma vez aparece o “dia de Deus”. A distinção entre esses diferentes dias é importante para entender melhor a Palavra de Deus e reconhecer a seriedade do tempo em que vivemos, a fim de podermos ir com alegria ao encontro do Senhor, que em breve retornará.

1. Dia do Homem

Paulo refere-se a esse dia quando diz: “Pouco me importa ser julgado por vocês ou por qualquer tribunal [dia] humano” (1Co 4.3a). No texto grego original, o termo hēmeras significa literalmente “um dia, o período do nascer ao pôr do sol”.

Em um dia de julgamento humano avaliam-se atos, proferem-se sentenças e tomam-se decisões. Além disso, “dia humano” também expressa o significado da duração da vida humana. Trata-se do período da nossa existência terrena, da possibilidade de atuar, realizar algo e ser. É o período entre o nascimento e o falecimento: “O homem nascido de mulher vive pouco tempo e passa por muitas dificuldades. Brota como a flor e murcha. Vai-se como a sombra passageira; não dura muito” (Jó 14.1-2). Moisés marca esse período quando diz: “Os anos de nossa vida chegam a setenta, ou a oitenta para os que têm mais vigor; entretanto, são anos difíceis e cheios de sofrimento, pois a vida passa depressa, e nós voamos!” (Sl 90.10).

Ao mesmo tempo, esse dia também é o período de decisão, porque “hoje”, durante este nosso período, decidimos onde passaremos a eternidade, seja no céu com Jesus Cristo, seja no inferno. Porque só o homem que “hoje”, agora, durante o período de vida que Deus lhe põe à disposição, toma uma decisão a favor de Jesus Cristo também estará com Jesus Cristo na eternidade. A Bíblia diz isso clara e inequivocamente: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; já quem rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele” (Jo 3.36). Esse período, que Deus concedeu individualmente ao homem, a Bíblia chama de “dia humano”. Com isso, acerta na mosca o poeta que disse: “Ó homem, considera o tempo, considera / A eternidade vem e é vera!”.

2. Dia de Cristo Jesus

Paulo escreve a respeito desse dia: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6). Paulo tem esse dia em vista. Ele tem esse dia como meta e sabe que também esses outros crentes têm esse dia como foco. O “dia de Cristo Jesus” não é outro senão aquele em que sua igreja será levada ao lar. É o dia da união com Jesus Cristo, o dia do arrebatamento. É o dia do qual se diz: “Eis que eu digo um mistério: Nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos transformados” (1Co 15.51-52).

Ao mesmo tempo, esse dia também será o dia da recompensa e da coroação. Paulo diz sobre isso: “Agora me está reservada a coroa da justiça, que o Senhor, justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amam a sua vinda” (2Tm 4.8). Será o dia do júbilo, conforme diz Apocalipse 19.7-9: “‘Regozijemo-nos! Vamos alegrar-nos e dar-lhe glória! Pois chegou a hora do casamento do Cordeiro, e a sua noiva já se aprontou. Para vestir-se, foi-lhe dado linho fino, brilhante e puro’. O linho fino são os atos justos dos santos. E o anjo me disse: ‘Escreva: Felizes os convidados para o banquete do casamento do Cordeiro!’”. No total, o Novo Testamento se refere sete vezes a esse “dia de Cristo Jesus”. Assim, este não é outra coisa senão o ingresso e a posse da moradia prometida por Jesus Cristo (Jo 14.2-3).

3. Dia do Senhor

A Bíblia também chama esse dia de “grande e temível”, o “tempo de angústia para Jacó” e, especialmente, de “grande tribulação”. No Antigo Testamento, oito diferentes autores mencionam ao todo 19 vezes o “dia do Senhor”. Esse dia é sempre um tempo de ira e julgamento do Onipotente. O profeta Joel abordou esse tema como nenhum outro. Quando descreveu o futuro “dia do Senhor”, ele se baseou nos ataques dos inimigos que cercavam Israel, em uma catastrófica estiagem e em bandos de gafanhotos destruidores. Olhando para além dos eventos locais da época, ele escreve: “Ah! Aquele dia! Sim, o dia do Senhor está próximo; como destruição poderosa da parte do Todo-Poderoso, ele virá. Toquem a trombeta em Sião; deem o alarme no meu santo monte. Tremam todos os habitantes do país, pois o dia do Senhor está chegando. Está próximo! O Senhor levanta a sua voz à frente do seu exército. Como é grande o seu exército! Como são poderosos os que obedecem à sua ordem! Como é grande o dia do Senhor! Como será terrível! Quem poderá suportá-lo? O sol se tornará em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e temível dia do Senhor” (Jl 1.15; 2.1,11,31).

Esse dia é na verdade um período de tempo e revelará a natureza santa, pura e poderosa de Deus. Deus intervirá no destino dos homens de modo direto e visível para todos, fazendo isso de várias maneiras, como por meio de eventos da natureza (Ez 13.13), nuvens e escuridão (Sf 1.14-15), por meio de mudanças e distúrbios cósmicos (Jl 3.14-16). Trata-se do tempo sobre o qual Jesus disse: “Porque haverá então grande tribulação, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá. Se aqueles dias não fossem abreviados, ninguém sobreviveria; mas, por causa dos eleitos, aqueles dias serão abreviados” (Mt 24.21-22). A descrição mais marcante desse período é a de Apocalipse 4–19. Um exemplo: “Então os reis da terra, os príncipes, os generais, os ricos, os poderosos – todos, escravos e livres, se esconderam em cavernas e entre as rochas das montanhas. Eles gritavam às montanhas e às rochas: ‘Caiam sobre nós e escondam-nos da face daquele que está assentado no trono e da ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia da ira deles; e quem poderá suportar?’” (Ap 6.15-17).

Esse dia da ira é a ira do Cordeiro! É o Cordeiro que foi pregado na cruz do Gólgota e que ainda ali disse: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo”. É a ira do Cordeiro esmurrado, cuspido na face, a quem se arrancaram as vestes e que mesmo assim olhou cheio de amor para os seus torturadores. É a ira do Cordeiro de quem a cruz tirou o que ele mais amava – a comunhão com seu Pai – e que ainda assim se preocupou com o bem-estar da sua mãe e dos seus amigos. É a ira do Cordeiro cujos amigos o negaram e que ainda assim orou por eles. Quando esse Cordeiro é rejeitado de tal forma, ele não tem outra escolha. Diariamente é esbofeteado com a atrevida afirmação de que provavelmente Deus não existe. Cospe-se nele ao pisotear sua ética e sua moral. É tratado cheio de desprezo: “Ora, para que serve essa Bíblia, esse livro cheio de histórias fictícias, de mitos e contos!”. Ele é agredido com socos quando seus discípulos e seguidores são perseguidos, torturados e mortos por causa da fé. E esse Cordeiro simplesmente se calaria? Esse Cordeiro, que criou todas as coisas e as chamou à existência (Pv 8)! Esse Cordeiro que mantém o universo e o sustenta por sua palavra (Hb 1.3)!

Bem, se esse Cordeiro se calasse, então desculpe, mas ele não seria Deus. Não seria o Único, Santo, Puro! Não seria aquele que habita em luz inacessível. Se ele se calar, não será aquele que derramou seu sagrado sangue por nossos pecados. Se ele se calar, não será aquele que suportou o inferno para nos justificar perante o seu Pai. Se ele se calar, então tudo foi em vão e não haverá justiça. Se, porém, ele for o Cordeiro que subiu na cruz do Calvário em nosso favor, então é justo que o Cordeiro Jesus Cristo esteja irado.

Essa ira é santa e justa e atinge todos os homens que rejeitam e pisoteiam sua graça. Não é sem motivo que a Bíblia se refere à “ira do Cordeiro! Pois chegou o grande dia de sua ira, e quem poderá sobreviver?” (Ap 6.16-17, NVT).

Mesmo em sua grande, justa e santa ira, Deus ainda estende sua mão para a reconciliação. Mesmo no pior julgamento existe a possibilidade de se arrepender.

Todavia, com tudo isso ainda resta a possibilidade do arrependimento. Mesmo em sua grande, justa e santa ira, Deus ainda estende sua mão para a reconciliação. Mesmo no pior julgamento existe a possibilidade de se arrepender (cf. Ap 16.9). “Pois não me agrada a morte de ninguém. Palavra do Soberano, o Senhor. Arrependam-se vivam!” (Ez 18.32). Portanto, dobremos ainda hoje os nossos joelhos e rendamos-lhe honras: “Então olhei e ouvi a voz de muitos anjos, milhares de milhares e milhões de milhões. Eles rodeavam o trono, bem como os seres viventes e os anciãos, e cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!’ Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: ‘Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!’” (Ap 5.11-13).

4. Dia de Deus

O “dia de Deus” é a condição eterna. Antes de esse dia irromper, a atual criação terá passado por estar sob a maldição de Deus (Gn 3.17). Ela está marcada pelo pecado, impregnada de sangue e deformada pela morte. Por causa desse “passivo”, ela passará (2Pe 3.12). Depois disso, Deus criará um novo céu e uma nova terra nos quais habitará a justiça (2Pe 3.13). Apocalipse descreve assim esse novo céu e essa nova terra: “Então vi novos céus e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: ‘Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão os seus povos; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou’. Aquele que estava assentado no trono disse: ‘Estou fazendo novas todas as coisas!’ E acrescentou: ‘Escreva isto, pois estas palavras são verdadeiras e dignas de confiança’” (Ap 21.1-5). O “dia de Deus” é essa novidade total. A eternidade começou.

Samuel Rindlisbacher é ancião da igreja da Chamada na Suíça e foi fundamental no desenvolvimento do grande ministério de jovens dela.

sumário Revista Chamada Julho 2021

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