Uma profecia mundial
“E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14). “Então vi outro anjo, que voava pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. Ele disse em alta voz: ‘Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas’” (Ap 14.6-7).
As duas passagens bíblicas acima não se cumpriram no passado nem na atualidade! Sabemos isso porque Mateus 24 relata acontecimentos que ocorrerão somente nos sete anos da tribulação. Está claro que tanto o discurso de Cristo em Mateus quanto o livro de Apocalipse (caps. 4-19) se referem à tribulação. Assim, essas duas passagens falam do mesmo período.
O que significa “mundo”?
A denominação “mundo” (oikoumenê) é usada no Novo Testamento para indicar “o Império Romano do primeiro século”, mas ela primeiro indica o “mundo habitado”. É significativo observar que o termo grego básico de Mateus 24.14 indica todo o mundo habitado e não apenas o Império Romano.1 A sílaba inicial dessa palavra composta é oikos (“casa”), ou seja, a parte “habitada” ou “viva” do mundo. Assim, se o significado principal de oikoumenê é “mundo habitado”, então a variedade de significados também tem diversas possibilidades, de acordo com o conteúdo e a referência. Quando o conteúdo trata de algo “romano”, então se refere ao Império Romano (como em Lc 2.[1]); quando se trata de algo “global”, então isso inclui o mundo inteiro (como em At 17.31). Aqui se trata do segundo caso, pois nenhuma pessoa escapará do juízo de Deus. Como essa passagem se cumprirá no futuro, ela se refere a todos os habitantes do mundo em algum momento futuro.
O livro de Apocalipse
Como Mateus 24.4-25 e Apocalipse 4–19 se referem ao mesmo período histórico (a tribulação), podemos observar uma expressão semelhante em Apocalipse e que permite obter uma explicação mais clara sobre Mateus 24.14. Ambos falam de uma evangelização mundial durante os sete anos da tribulação, que se estenderá até a segunda vinda de Cristo ao planeta terra. John MacArthur escreve: “Pouco antes de serem derramadas as taças do juízo, antes de iniciar o último grande holocausto e pouco antes das dores de parto cada vez mais intensas, Deus, de maneira sobrenatural, apresentará o evangelho a todas as pessoas do mundo. Ele enviará um anjo ‘que voava pelo céu e tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo. Ele disse em alta voz: ‘Temam a Deus e glorifiquem-no, pois chegou a hora do seu juízo. Adorem aquele que fez os céus, a terra, o mar e as fontes das águas’” (Ap 14.6-7).[2]
É importante saber que o testemunho do evangelho será dado a cada pessoa, para que tenha a oportunidade de confi ar em Cristo antes que ela aceite o número da besta.
É interessante observar que as duas passagens são mencionadas quase na metade do período da tribulação. O acontecimento descrito em Apocalipse 14.6-7 provavelmente acontecerá nessa época, pois na metade dos sete anos a besta exigirá o número 666 sobre a mão direita ou testa de cada pessoa, a fim de ser possível comprar ou vender (Ap 13.16-18). Por isso é importante saber que o testemunho do evangelho será dado a cada pessoa, para que tenha a oportunidade de confiar em Cristo antes que ela aceite o número. Em Apocalipse 14.6, João observou um anjo que “tinha na mão o evangelho eterno para proclamar aos que habitam na terra, a toda nação, tribo, língua e povo”. Essa passagem usa duas expressões para descrever aqueles a quem o anjo prega. A primeira é a expressão “aos que habitam na terra” (“habitantes da terra”, “residentes”). A segunda é “a toda nação, tribo, língua e povo”. “Aos que habitam na terra” sempre é uma referência aos indivíduos incrédulos persistentes que aparecem em todo o livro de Apocalipse (3.10; 6.10; 8.13; 11.10; 13.8,12,14; 14.6; 17.8). A expressão geral “a toda nação, tribo, língua e povo”[3] se refere à população mundial.[4]
Mesmo que oikoumenê, em Mateus 24, refere-se claramente a todo o mundo habitado, a expressão “toda nação, tribo, língua e povo” na passagem paralela de Apocalipse 14.6 deve se referir a todo o mundo. Por quê? É claro que na terra de Israel há uma só nação (Israel), uma língua (o hebraico) e um povo e uma nação (Israel novamente). Assim, uma vez que as três expressões (oikoumenê, “aos que habitam na terra” e “toda nação, tribo, língua e povo”) devem se referir aos mesmos fatos (e está claro que “toda nação, tribo, língua e povo” se refere ao mundo todo), por isso todas elas precisam ter o mesmo significado. Desse modo, deve se referir a toda a população mundial. Como oikoumenê significa “mundo habitado”, como consequência no futuro haverá uma maior população mundial do que havia no passado, e isso também no Império Romano.
Conclusão
Aqueles que defendem o cumprimento de Mateus 24.14 no primeiro século são pouco convincentes. Seu argumento de que ali o termo oikoumenê deve se referir ao Império Romano não tem força. Se Mateus 24.14 é um evento futuro, então o evangelho será proclamado no mundo inteiro, conforme está descrito em Apocalipse 14.6-7 – que eu creio, assim como muitos outros estudiosos da Bíblia, ser uma passagem paralela. As duas passagens estão incluídas em contextos que nos mostram que a evangelização global acontecerá pouco antes da metade dos sete anos da tribulação. A profecia de Mateus 24.14, assim como todas nesse contexto, aguarda pelo seu cumprimento futuro, principalmente durante a futura tribulação. Maranata!
Publicado com autorização
de bibel-center.de
Notas
- William F. Arndt, E. W. Gingrich e Walter Bauer, A Greek-English Lexikon of the New Testament and other Early Christian Literature, 3ª ed. (Chicago: University of Chicago Press, 2000), p. 700.
- John MacArthur, The New Testament Commentary: Matthew 24-28 (Chicago: Moody Publishers, 1989), p. 29.
- A expressão “toda nação, povo, língua e povo” ou leves derivações dela são utilizadas sete vezes em Apocalipse (5.9; 7.9; 10.11; 11.9; 13.7; 14.6; 17.15) e se referem a todos os habitantes da terra.
- Robert L. Thomas, Revelation 8-22: An Exegetical Commentary (Chicago: Moody Publishers, 1955), p. 203.