Franjas: Uma investigação bíblica e histórica

Ao longo dos séculos e milênios, o judaísmo produziu numerosos usos, costumes e tradições que parecem estranhos a quem não é daquele meio. Muitas vezes trata-se de exterioridades que os distinguem de outras pessoas. É claro que o observador se perguntará de onde provém tudo isso. Teriam algum fundamento bíblico ou trata-se apenas de tradições judaicas acrescentadas no decorrer do tempo?

Muitos judeus religiosos exibem franjas (hebraico, tzitzit) no cós das suas calças. É claro que outras pessoas estranham o significado disso. Esse costume baseia-se em Números 15.38-40, que diz:

“Diga o seguinte aos israelitas: Façam borlas nas extremidades das suas roupas e ponham um cordão azul em cada uma delas; façam isso por todas as suas gerações. Quando virem essas borlas, vocês se lembrarão de todos os mandamentos do Senhor, para que lhes obedeçam e não se prostituam nem sigam as inclinações do seu coração e dos seus olhos. Assim vocês se lembrarão de obedecer a todos os meus mandamentos, e para o seu Deus vocês serão um povo consagrado”.

Antes de tudo, precisamos entender que as vestimentas tradicionais dos israelitas eram bem diferentes das atuais. Em Deuteronômio 22.12 essa instrução é repetida mais uma vez. Todavia, ao examinar melhor o texto hebraico, percebe-se que se trata de duas coisas diferentes, embora similares. Deuteronômio 22.12 diz: “Faça borlas nas quatro pontas do manto que você usa para cobrir-se”.

As vestimentas tradicionais dos israelitas eram bem diferentes das atuais.

Como era esse manto? Como os israelitas se vestiam? Só podemos fazer conjeturas. Talvez é possível entender a matéria um pouco melhor com base em desenhos murais egípcios. Seja como for, deduzimos dessa declaração que os israelitas usavam algo como um manto de cobertura, talvez em forma de um grande pano. Ainda hoje, judeus provenientes da Etiópia usam um manto que é simplesmente um grande pano, o que parece ser o mais próximo daquilo que os israelitas usavam antigamente.

Xale de oração também chamado de “tallit”.
Xale de oração também chamado de “tallit”.

Portanto, essa cobertura possuía quatro cantos – assim como é o caso de um pano retangular. Nesses quatro cantos eles deveriam afixar borlas ou franjas. O xale de oração ou tallité o que sobrou daquilo até hoje no judaísmo. Os quatro cantos do tallitexibem borlas ou franjas torcidas e trançadas de modo bem particular, de acordo com a tradição que se formou a respeito.

Jovem judeu ortodoxo usando tallit tradicional
Jovem judeu ortodoxo usando tallit tradicional.

No entanto, a instrução de Números 15.38-40 não fala de um manto, mas de vestimentas em cujas extremidades se deveriam afixar borlas. Naturalmente, a forma das vestimentas entre os judeus foi mudando ao longo dos séculos. Como obedecer a esse mandamento sob condições diferentes? Criou-se, então, no judaísmo o costume de usar uma espécie de camiseta sem mangas. Esta consiste em duas peças de tecido costuradas entre si no ombro e com uma costura apenas parcial ou nenhuma nos lados. Com isso, essa camiseta ganha quatro cantos na parte de baixo. Nesses quatro cantos instalam-se então as borlas ou franjas. Por isso, essa camiseta também é chamada de pequeno tallit.

Como, porém, ninguém enxergaria essas borlas se estivessem dentro das calças, elas foram transformadas em longos cordões que podem aparecer fora do cós da calça. Pode-se observar que certos judeus exibem franjas particularmente longas. Ao que parece, isso já ocorria nos tempos de Jesus, porque Jesus se refere a esse costume quando diz, a respeito dos fariseus e escribas: “Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens. Eles fazem seus filactérios bem largos e as franjas de suas vestes bem longas” (Mt 23.5).

No entanto, existem judeus que, embora também vistam aquele pequeno tallit, não fazem as franjas penderem para fora do cós da calça, pois não consideram o uso da tzitzitalgo destinado a outros, mas para eles mesmos, a fim de lembrá-los dos mandamentos de Deus.

Segundo a instrução que Deus deu aos israelitas por meio de Moisés, um dos fios das borlas deveria ser azul. Hoje não se faz mais isso, alegando de que não se sabe mais como essa tintura era elaborada e qual era o exato aspecto daquela cor azulada. Por isso, elas geralmente consistem em fios ao natural, sem tingimento. Entretanto, também existem aqueles que, apesar de tudo, entrelaçam um fio azul nas franjas.

Portanto, o sentido das borlas ou das franjas era que, ao vê-las, a pessoa seria continuamente lembrada dos mandamentos de Deus, a fim de proceder de acordo com eles.

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Abril 2021

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