O Messias como restaurador da dinastia caída de Davi

A citação de Amós 9.11-12 encontrada em Atos 15.13-18 possui diversas interpretações. Como entender essa questão teológica?

Comentando o texto de Atos 15.13-18 que cita Amós 9.11-12, a Bíblia de Estudo Scofield diz que “esta importante passagem mostra o plano de Deus para esta dispensação”. Ela prosseguiu no mesmo contexto para afirmar: “Os versículos seguintes em Amós descrevem o reajuntamento final de Israel, que os outros profetas invariavelmente ligam ao cumprimento da Aliança Davídica”.[1]

Por outro lado, O. T. Allis, o falecido decano titular dos professores do Antigo Testamento evangélico (se é que eu posso criar essa nomeação e título), na mesma geração do começo do século 20 em que a afirmação acima foi feita, anunciou uma conclusão um pouco diferente sobre essa passagem. Allis ensinou “que Tiago declara expressamente que a experiência de Pedro em Cesareia, da qual ele fala como sendo Deus voltando-se para os ‘gentios a fim de reunir dentre as nações um povo para o seu nome’, estava de acordo com o encargo profético como um todo e cita Amós livremente como prova disso”.[2]

Então, qual análise está correta? Esses dois intérpretes de Atos 15 estavam ambos declarando a interpretação correta sobre o significado dessa profecia, enquanto defendiam pontos de vista opostos, ou um deles ou mesmo os dois estavam errados em suas interpretações?

De acordo com as afirmações, uma interpretação parecia ressaltar um sentido nacionalista judaico exclusivo, encontrado na aliança davídica de um futuro governo e reinado de Israel com sua promessa de um reino, um trono e uma dinastia para Davi e a nação de Israel, enquanto o outro intérprete empregou um método interpretativo unicamente espiritual que focou na expansão dos gentios e na bênção que viria sobre a igreja do Novo Testamento.

Ambos não podem estar corretos, então qual sentido era o significado oficial pretendido pelo profeta Amós e pelo líder da igreja primitiva chamado Tiago? O Antigo e o Novo Testamentos concordavam no significado desse texto ou havia um duplo sentido que poderia ser aplicado à mesma passagem? Essas são as questões que esse trecho nos apresenta. Para melhor respondê-las, precisamos nos voltar para o texto em si!

A “tenda caída” de Davi (Am 9.11a)

A tenda caída de Davi

Previamente, Amós tinha recém completado a seção da sua profecia sobre as cinco visões que lhe tinham sido comunicadas, sendo que cada uma delas começou com uma fórmula introdutória parecida: “Foi isto que o Senhor, o Soberano, me mostrou...” (7.1,4,7; 8.1; 9.1), mas o parágrafo que inicia no 9.11, no entanto, não afirmou que também se tratava de uma visão. Certamente há itens em 9.11 e nos versículos seguintes que repetem alguns aspectos dos tópicos levantados nas cinco visões prévias a respeito do futuro de Israel e o futuro reino de Deus, mas, no geral, o profeta Amós tinha se concentrado, pelo menos até agora na profecia encontrada em seu livro, no tema do julgamento que recairia especialmente sobre Israel. Apesar de sua ênfase no julgamento sobre o povo de Deus, entremeados nessa temática estavam também conceitos de uma esperança futura para Israel e as nações do mundo. Por exemplo, Amós 5.14 exprimiu a promessa da presença do Senhor, assim como Amós 5.18-20, da mesma forma, focou no grande e final dia do Senhor no futuro. Na verdade, havia várias promessas que foram ligadas àquele “dia” vindouro em 3.14, 4.2 e 8.3,9,11,13 como sendo diferentes de algumas das ênfases prévias contemporâneas do profeta, as quais se concentravam na escuridão da noite e na certeza da morte e do julgamento divino pelo pecado das pessoas. Portanto, podemos afirmar que o tema da esperança futura não estava completamente ausente das palavras prévias de Amós, e então não deveríamos pensar que seja estranho esse conceito ser encontrado no texto de Amós 9.11-15 – como alguns concluíram erroneamente!

No caso do texto de Amós, ele começou focando na “tenda/tabernáculo caída/em colapso de Davi”, cuja condição atual como sukka de Davi, ou seja, sua “tenda” ou “tabernáculo”, era o foco e o assunto dessa profecia. O que tinha sido previamente chamado de “casa” (bayit) de Davi, agora estava sendo descrito como uma casa que fora reduzida a uma “tenda/tabernáculo caída/em colapso”. A “casa/dinastia” real de Davi (2Sm 7.5,11) tinha decaído e agora encontrava-se em uma condição dilapidada que podia ser vista como em um estado de ruína deplorável, degradado e necessitado – a “casa” de Davi tinha se tornado uma “tenda caída”.

Ainda assim, perceba que a profecia de Amós apontava para uma retificação divina dessa condição, pois, “naquele dia”, um cumprimento total da antiga promessa de Deus ocorreria ao tempo da segunda vinda do nosso Senhor (9.11a). Ela não continuaria em tal condição deplorável, mas o próprio Senhor reergueria aquela “tenda” mais uma vez, a fim de ser a “casa/dinastia” de Davi.

O próprio Deus declarou que realizaria o trabalho de levantar e reparar a “tenda” dilapidada de Davi.

O que se seguiu nesse contexto, como precisamos observar cuidadosamente, foram três verbos, cada um dos quais com um pronome em primeira pessoa anexado, que designavam o que um dia aconteceria com algumas das características que nosso Senhor já havia prometido muito tempo atrás. O próprio Deus declarou (pelos quatro verbos na primeira pessoa) que realizaria o trabalho de levantar e reparar a “tenda” dilapidada de Davi como a tarefa de restaurá-la ao seu status anterior de “casa” ou uma dinastia real como Deus desejava que fosse. De fato, seria nada menos do que a celebrada “dinastia” de Davi mais uma vez!

Essa referência à “tenda” ou “tabernáculo” de Davi é um substituto óbvio para o termo majestoso da era pré-salomônica: “casa” de Davi (2Sm 7.11, NAA). A “casa” de Davi (isto é, aquilo que pertence ao seu trono, dinastia e linhagem real de descendentes) agora tinha se tornado, no ínterim dos dias do profeta Amós, reduzida a pouco mais que uma “tenda” em pedaços, ou um “tabernáculo” caído que equivalia a um abrigo feito de galhos empilhados sobre uma estrutura simples, tais como os que eram utilizados por Israel durante seus dias de peregrinação no deserto ou durante a Festa das Cabanas. À luz desse triste e decrépito estado de colapso, o Senhor tinha intervindo e prometido que essa situação horrível agora cessaria, pois ele retificaria esse estado pelo trabalho de suas próprias mãos no dia do Senhor, que há de vir. O texto é lido assim:

“Naquele dia, levantarei a tenda caída de Davi.

“Consertarei o que estiver quebrado [plural feminino: “dela”],

“e restaurarei as suas ruínas [singular masculino: “dele”].

“Eu a reerguerei [singular feminino: “ela”], para que seja como era no passado” (Am 9.11).

 

O particípio em hebraico utilizado aqui (da tenda “caída”) enfatizou seu estado presente ou iminente de quase colapso, de ruína terrível. A “dinastia/casa de Davi”, conforme nosso Senhor ensinou, sofreria temporariamente vergonha e reprimenda, mas ele também prometeu que a ergueria de sua situação desprezível a uma situação completamente restaurada, uma vez que deu sua palavra de que terminaria de reerguê-la no grande e futuro dia do Senhor.

De tal reparo da “casa/tenda” de Davi dependem as próprias promessas que Deus havia feito em uma aliança anterior, do futuro governo e reinado de Davi no reino de Deus em 2Samuel 7 e 1Crônicas 17!

A obra restauradora de Deus na tenda desordenada de Davi (Am 9.11b-d)

A maioria dos intérpretes deixa de perceber os sufixos pronominais pessoais distintos nas palavras que seguem em Amós 9.11b, c e d, aos quais já nos referimos acima brevemente. A teologia dessa passagem será fortemente afetada pelo entendimento correto de cada um desses sufixos, como também pode ser visto pelo contexto favorável após os versículos 11-12!

Amós não estava sozinho ao pregar essa futura ação reunificadora do nosso Senhor.

C. F. Keil está seguro de que “o sufixo plural (‘suas brechas’, pirsehem) somente pode ser explicado pelo fato de que sukkah, ‘tenda’, na verdade se refere à condição atual do reino de Deus, que em Israel naquela época estava dividido em dois reinos (‘os reinos de vocês’, 6.2, NAA)”.[3] Em outras palavras, Deus repararia e acabaria com a ruptura ou separação que passara a existir entre as duas tribos do reino do sul, Judá e Benjamim, a qual as separara das dez tribos do norte de Israel, que tinham fugido da nação unificada israelita desde a data pós-salomônica de 931 a.C. sob a liderança rebelde de Jeroboão I. O Senhor repararia as “suas” brechas! Assim, essa observação a respeito de uma futura reunificação da nação dividida, de forma a se tornar uma nação unida, foi novamente feita no século 6 a.C., quando o profeta Ezequiel também previu claramente a união futura das dez tribos do norte de Israel com as duas tribos do sul, Judá e Benjamim, em Ezequiel 37.15-28. Mas Amós, no século 8 a.C., já havia antecipado essa reunificação por meio de sua predição, muito tempo antes da promessa de Ezequiel; assim, Amós não estava sozinho ao pregar essa futura ação reunificadora do nosso Senhor.

O plano de Deus para o reino vindouro

O segundo sufixo ligado a um substantivo, um sufixo masculino (“as... ruínas dele”, harisotayw), precisa estar se referindo a ninguém menos do que o próprio Davi, e não à “tenda”, o que iria requerer um pronome feminino para o antecedente correspondente. Mesmo que fosse anterior à palavra “brechas”, também exigiria, de igual forma, um pronome feminino plural. Consequentemente, sob a nova vinda de Davi (como Messias), a tenda davídica dilapidada seria erguida das cinzas da destruição e ruína, a fim de prover para o governo e reino soberanos de Deus sobre o mundo inteiro naquele dia do Senhor.

A restauração do povo judeu ao seu Messias era claramente parte do plano de Deus para o reino divino vindouro!

Desse modo, aquilo que afetara a nação israelita também tivera um impacto sobre a própria pessoa davídica. Portanto, quando essas duas ações de identificar corretamente os pronomes anexados foram observadas, uma terceira oração com um terceiro sufixo pronominal (“a restaurarei”, benitiha) aparece. Poderia ser identificado como referente ao templo, como C. F. Keil argumentou, pois banah nessa conexão significava “terminar de construir, prosseguir, aumentar e embelezar o edifício”.[4] No entanto, o sufixo pronominal singular feminino usado aqui poderia se referir melhor, é claro, à “tenda” caída. Também vale a pena observar, a importante frase que completa essa oração (“para que seja como era no passado”), pois é uma das chaves para essa passagem, uma vez que aponta de volta para a promessa contida em 2Samuel 7.11-12,16, em que Deus prometeu que levantaria a semente de Davi depois dele e lhe daria um trono, uma dinastia/casa e um reino, os quais durariam “para sempre”. A ressurreição da “tenda” dilapidada de Davi envolveria erguer um reino, uma semente e uma dinastia. De fato, o versículo 12 acrescentou: “Para que o meu povo conquiste o remanescente...”. Nesse caso, é claro que se tratava do povo de Deus em Israel. A restauração do povo judeu ao seu Messias era claramente parte do plano de Deus para o reino divino vindouro!

Portanto, o que é decididamente ensinado aqui é isto: “Davi” e a sua casa, isto é, sua dinastia e seu povo judeu, aqui chamado de remanescente, estão unidos de forma indissolúvel como parte do quadro total daquilo que Deus faria “naquele dia”, especialmente no que diz respeito ao seu reinado e governo.

O remanescente de Edom e todas as nações (Am 9.12)

A referência de Amós ao “remanescente de Edom” parecia a alguns intérpretes como uma inserção muito problemática nessa profecia. No entanto, essa alusão a Edom não deveria ser vista de forma negativa, retaliatória ou mesmo interruptiva, como se significasse que haveria uma punição a ser derramada sobre Edom, como um dos rivais de Israel. Pelo contrário, dessa vez a profecia sobre Edom em Amós tencionava mostrar que essa nação, juntamente com outras nações, seria submetida ao governo e reinado vindouros de Davi, que logo apareceria como o próprio rei Messias. Isso seria parte do remanescente maior dos gentios, que também participariam das promessas da aliança feitas ao rei Davi.

Foi ninguém menos que o falecido Gerhard Hasel que demonstrou que a palavra “remanescente” foi usada em Amós de três formas: (1) “para refutar a expectativa popular do remanescente que afirma que todo o Israel seria o remanescente [redimido]” (Am 3.12; 4.1-3; 5.3; 6.9-10; 9.1-4). Pelo contrário, ao invés de descrições sombrias de condenação, com pouca esperança para Israel, havia um núcleo dos redimidos; (2) “para mostrar que haverá de fato um remanescente de Israel” (Am 5.4-6,15) naquele grande e futuro dia localizado no tempo escatológico; e (3) “para também incluir o ‘remanescente de Edom’, juntamente com as nações vizinhas, que também receberiam as promessas excepcionais na tradição davídica” (Am 9.12).[5]

Amós escolheu a nação de Edom por causa de sua persistente hostilidade ao povo de Deus, semelhante ao papel que os amalequitas tinham desempenhado nos primeiros dias de Israel (Êx 17.8-16; Dt 25.17-19), os quais, da mesma forma, tinham se oposto ao reino de Deus de forma muito violenta.

Mas mesmo além dessas declarações de fundo, o papel representativo de Edom foi enfatizado na nota exegética extra que aparece no versículo 12 – “e todas as nações/gentios que me pertencem/são chamadas pelo meu nome”. Portanto, o ponto dessa passagem não é sobre Edom ser submetido à conquista e subjugação militar de Israel; em vez disso, é melhor entender como significando que a incorporação espiritual de Edom ao povo de Deus era possível, juntamente com os outros gentios, a fim de formar um reino aumentado de Davi, e essa era a visão que o profeta tinha em mente aqui!

Assim como Deus prometera a Abraão nos tempos antigos que o povo de Israel seria um canal para todas as famílias da terra serem abençoadas, por meio de Abraão e sua semente (Gn 12.3), essa passagem concorda e reafirma o mesmo ponto. Mas essa leitura do texto hebraico é a mais correta, ou os tradutores de Amós 9.11-12 falharam ao deixar de perceber algumas nuances importantes?

Qual tradução é a correta? (Am 9.12)

O resultado da restauração do reino de Israel e da tenda de Davi sendo reerguida pelo nosso Senhor seria que o poder político e militar de Israel se expandiria sobre o território que Deus originalmente lhes havia prometido, como algo que lhes seria devolvido. O texto hebraico do versículo 12 é uma continuação linguística do 11. Certamente, se o verbo “tome posse do” (NAA) (yirshu) era a leitura original em Amós 9.12, então ele teria sido escolhido pelo profeta por causa de uma afirmação anterior na profecia de Balaão (cf. Nm 24.17-18). Ali, Balaão havia predito que uma “estrela” e um “cetro” (ou seja, símbolos para o Messias) procederiam de Israel e “tomar[ão] posse [yerasha] de Edom... enquanto Israel [apesar disso] marcha adiante em triunfo” (NVT). Dessa forma, o Homem da Promessa, isto é, o Messias, se ergueria do meio de Israel e exerceria domínio sobre as nações – profetizou Balaão –, pois o seu reino se espalharia sobre todos os reinos terrenos, tais como Moabe, Sete, Edom, Amaleque e Assur. Deus tomaria dessas nações do Oriente Médio, e aqui particularmente da nação de Edom, um território pertencente à sua própria possessão, enquanto simultaneamente extrairia um “remanescente” crente de todas as nações do mundo, incluindo, como observamos novamente agora na passagem de Amós, alguns dentre a hostil Edom.

No entanto, se o texto alternativo de Amós 9.12 (4Q174), descoberto recentemente nos Manuscritos do Mar Morto (MMM), em Qumran, era o texto preferido, então, de acordo com essa leitura, Amós não se referiu nessa passagem ao Senhor “possuindo Edom”, mas, ao invés disso, aquele texto se refere à “busca do Senhor por um remanescente da humanidade”. Assim, o objeto de “possuir” no Texto Massorético agora se tornou o sujeito dessa frase. O “remanescente de Edom” se tornou o “remanescente da humanidade”, na qual ‘edom se lê como ´adam, o que, é claro, envolve as mesmas consonantes no hebraico.

A forma como essas duas leituras diferentes poderiam ter surgido é muito simples, quando se vê a forma antiga do texto hebraico. Pois, ao invés de ler o hebraico yod, que inicia a palavra hebraica para “possuindo”, e que transformava a raiz yrsh, “possuir”, lê-se uma inicial dalet, fornecendo a raiz drsh, “buscar”. A diferença na ortografia na escrita hebraica daquele tempo era de fato muito pequena, pois era apenas o comprimento de um risco da letra hebraica pré-massorética yod que fazia a diferença entre yod e dalet! Nesse caso, o versículo 12 agora seria lido assim: “Para que o remanescente da humanidade busque o Senhor, e todas as nações que são chamadas pelo meu nome”. Na verdade, essa é exatamente a maneira como Tiago citou esse versículo em Atos 15.16-17. Ambos os pontos sobre o trabalho futuro do Messias são vistos na Escritura, é claro, mas a leitura dos MMM parece ser a versão oficial de Amós, uma vez que a próxima frase, que segue a versão do “remanescente da humanidade”, é “e todas as nações que são chamadas pelo meu nome” (Am 9.12b, ARA). Ainda mais, é assim que a Septuaginta também entende esse texto de Amós. Da mesma forma, a leitura do Novo Testamento em Atos 15.16-17 concorda com a palavra utilizada nos MMM como “buscar”, ao invés da versão massoreta de “possuir”. Logo, temos uma versão hebraica de Amós que concorda com a versão neotestamentária do livro, ambos fazendo a mesma afirmação.

Sendo assim, havia uma esperança real em Amós pelo Messias que viria, além do desastre atual da queda de Samaria em 721 a.C. O profeta concluiu sua profecia em 9.11-15, prometendo que Deus reconstruiria a casa/dinastia de Davi, a qual, no momento em que Amós se encontrava, estava em uma condição arruinada, que só poderia ser comparada a uma “tenda caída” ou “tabernáculo caído de Davi” (sukkah Davi hannophelet). Portanto, o que normalmente, sob melhores circunstâncias, seria mencionado como “a casa [bet] de Davi” (2Sm 7.5,11; 1Rs 11.38; Is 7.2,13), isto é, a dinastia de Davi, estava, naquela época e até o tempo futuro, em um estado trágico de destruição, com “brechas” e “ruínas” ao redor. O particípio ativo no hebraico (hannophelet) enfatizava, ou seu estado presente de colapso, ou que já estava no processo de arruinar-se e a ponto de desmoronar.

Logo, a dinastia de Davi iria sofrer, mas – graças a Deus – ele a traria de volta de sua deterioração, pois ele mesmo havia prometido que essa casa de Davi era uma casa eterna.

Sob um novo mas vindouro Davi, o próprio Messias declarou que reconstruiria a dinastia davídica “como era no passado” (NAA), uma frase que claramente apontava para a teologia anterior de 2Samuel 7.11-12,16. Além disso, o pronunciamento de 2Samuel 7.19, em que Davi tinha certeza de que o que Deus lhe tinha dado na aliança davídica era nada menos do que a “instrução/lei/guia para toda a humanidade” (NAA) (torat ha´adam). Amós parece repetir a substância dessa mesma promessa em Amós 9.12, ao dizer: “Para que o remanescente da humanidade (she´erit ´adam) busque o Senhor, e todas as nações que são chamadas pelo meu nome”.[6]

O uso da frase “chamadas pelo meu nome” no Antigo Testamento sempre colocava cada objeto designado sob a posse divina. O que Deus nomeava, ele assim possuía e governava, fosse uma cidade (2Sm 12.28; Jr 25.29; Dn 9.18-19), ou um homem ou uma mulher (Is 4.1; Jr 14.9; 15.16; 2Cr 7.14). Assim, quando Israel caminhava pela fé, Moisés prometeu: “E todos os povos da terra verão que vocês são chamados pelo nome do Senhor...” (Dt 28.10, NAA). Mas, quando se recusavam a crer, eles eram “como os que nunca se chamaram pelo teu [do Senhor] nome” (Is 63.19, NAA). Essa frase é muito parecida com Joel 2.32 [Hb 3.5]: “E todo aquele que invocar o nome do Senhor...”.[7]

Futura benção agrícola, retorno e retomada da terra (Am 9.13-15)

Benção agrícola

Duas imagens de bênção agrícola são dadas em Amós 9.13: (1) o ceifador (qotser) seria substituído por aquele que ara (horesh) o solo; e (2) aquele que semeia (moshek hazara´) coincidirá com aquele que pisa as uvas. Essas hipérboles agrícolas mencionadas aqui enfatizam a enorme safra que a colheita antecipada produziria, de tal forma que os fazendeiros daqueles dias mal teriam terminado uma parte da colheita das plantações da estação anterior, quando o tempo de semear para a safra seguinte já teria começado. Dessa forma, a promessa era de que viriam dias em que a terra seria tão fértil e abundante em seus frutos que não haveria intervalo de tempo entre a colheita da safra superabundante de uma estação e o tempo de plantar as sementes para a próxima!

Portanto, a colheita das uvas seria tão farta que, usando de outra hipérbole, seria como se os montes e as colinas das vinhas estivessem gotejando e fluindo sobre as encostas com vinho novo (13b). Israel estaria, por assim dizer, com suco de uva e vinho até o pescoço!

Essa mensagem de Deus termina com o cumprimento da restauração prometida em Deuteronômio 30.3-5, quando Israel retornaria à terra de Canaã para possuir novamente suas terras antigas (14a). Naquele dia futuro, Israel reconstruirá suas cidades em ruínas em uma terra que, aparentemente, terá sido previamente arrasada pela guerra. Mesmo assim, Israel viverá em suas cidades novamente. Eles plantarão vinhas e beberão do seu vinho. Eles farão jardins e comerão do seu fruto. A bênção de Deus será derramada sobre eles de uma forma jamais vista!

Assim como Israel plantará jardins, Deus replantará o povo de Israel na sua própria terra mais uma vez, mas a diferença é que, dessa vez, Israel nunca mais será desarraigado e desapropriado da terra que lhes foi originalmente dada por Deus (15b-c). Não haverá mais exilados levados a países estrangeiros, nem cativos servindo a esse ou outro governo. Israel estará mais uma vez em casa, para nunca mais perder a posse do presente dado ao seu povo nessa terra.

Publicado com autorização de pre-trib.org.

Notas

  1. Bíblia de Estudo Scofield (São Paulo: Bompastor Editora, 2009), p. 1013-1014.
  2. O. T. Allis, Prophecy and the Church (Filadélfia: Presbyterian and Reformed, 1945), p. 147.
  3. C. F. Keil, Biblical Commentary on the Old Testament: Minor Prophets (Grand Rapids: Eerdmans, 1954), I:330.
  4. Ibid., p. 330.
  5. Gerhard Hasel, The Remnant (Berrien Springs, MI, Andrews University, 1972), p. 393-94.
  6. Para mais detalhes, ver Walter C. Kaiser Jr., “The Davidic Promise and the Inclusion of the Gentiles (Amos 9:11-15 and Acts 15:13-18): A Test Passage for Theological Systems”, JETS 20 (1977): 97-111.
  7. Para um estudo completo dessa frase e conceito, ver Walter C. Kaiser, Jr., “Name”, Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible, ed. M. C. Tenney (Grand Rapids: Zondervan, 1975), vol. 4:360-70.

Walter C. Kaiser Jr. é ex-presidente e professor de Antigo Testamento no Gordon-Conwell Theological Seminary, em South Hamilton (EUA).

sumário Revista Chamada Abril 2021

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