Quem detém o resultado de toda a história em suas mãos?

1ª Carta a Timóteo | Parte 24 | 1Timóteo 6.15-16

Uma interpretação da primeira carta de Paulo a Timóteo, por Norbert Lieth.

15A qual Deus fará se cumprir no devido tempo. Ele é o bendito e único Soberano, o Rei dos reis e Senhor dos senhores, 16o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém.

A explicação do apóstolo Paulo em 1Timóteo 6.15-16 descreve aquele que tem em suas mãos o poder para o encaminhamento definitivo do plano de salvação e da história e conduz o seu curso até o fim. Esse é o alvo maior que buscamos alcançar, ao qual devemos estar totalmente voltados com nossa vida, nosso serviço e nossa atitude. Precisamos manter nosso olhar fixo nesse alvo final. Por isso, não é de admirar que essas afirmações coincidam com as exortações de Apocalipse.

“A qual Deus fará se cumprir no devido tempo.” Trata-se da ocasião em que o Senhor Jesus voltará, cuja data é conhecida unicamente por Deus Pai e sobre a qual Jesus falou: “Fiquem atentos! Vigiem! Vocês não sabem quando virá esse tempo” (Mc 13.33). “Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade” (At 1.7).

Também será nessa ocasião que haverá o início do que está registrado em Apocalipse: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João, que dá testemunho de tudo o que viu, isto é, a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo. Feliz aquele que lê as palavras desta profecia e felizes aqueles que ouvem e guardam o que nela está escrito, porque o tempo está próximo” (Ap 1.1-3). “Então me disse: ‘Não sele as palavras da profecia deste livro, pois o tempo está próximo’” (Ap 22.10).

Esses textos nos esclarecem simultaneamente que o cronograma da vinda de Jesus é determinado por Deus e que os acontecimentos registrados no mundo não acontecem ao acaso, não estão à própria sorte, mas encontram-se sob o firme controle do Deus Onipotente: “Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At 17.31).

Deus não precisava de nós. Ainda assim, ele nos ama e quer nos conquistar por meio do evangelho.

O que significa “o bendito” (1Tm 6.15)? Deus é perfeitamente bem-aventurado em si mesmo. Ele realmente não precisa de ninguém nem de nada, ele tem tudo perfeitamente em si mesmo. A expressão significa “tendo plena satisfação”, “completa independência”. Então ele não precisava de nós. Ainda assim, ele nos ama e quer nos conquistar por meio do evangelho. Deus não fica mais alegre se estivermos com ele, mas somos levados para a sua bem-aventurança! Todos os que creem nele serão atraídos para a paz divina e serão bem-aventurados. Nesse contexto, a seguinte declaração de Wolfgang Schuler é muito interessante: “O significado exato do nome Yeshua, em hebraico, tem sete características, assemelhando-se a um candeeiro de sete braços. Ele se compõe de ‘Ye’ e ‘shua’. ‘Ye’ deriva de YHWH, o nome santíssimo de Deus que foi revelado a Moisés junto à sarça ardente (Êx 3.14-15). A sílaba ‘shua’ significa ‘ajuda, cura, salva, redime, livra, torna feliz, torna bem-aventurado (isto é, eternamente feliz)’. Assim, o nome Jesus significa, literalmente: ‘YHWH [Deus] ajuda, cura, salva, redime, livra, torna feliz e torna bem-aventurado, ou eternamente feliz. Essas sete ações (o número da plenitude santa) estão contidas em um só nome e é isso que Jesus, o Filho de Deus, faz’”.[1] “... único Soberano.” Deus continua no trono e tem todos os dominadores e reinos do mundo sob sua autoridade. Tudo precisa necessariamente passar por ele e aquilo que acontece ocorre apenas porque ele o permitiu. De algum modo, tudo precisa contribuir para a volta de Jesus e para a restauração de todas as coisas. “É necessário que ele permaneça no céu até que chegue o tempo em que Deus restaurará todas as coisas, como falou há muito tempo, por meio dos seus santos profetas” (At 3.21).

A frase seguinte é impressionante nesse sentido: “... o Rei dos reis e Senhor dos senhores” (1Tm 6.15). Ela significa que Deus é Rei sobre todos os reis, o Senhor de todos os governantes. Isso nos proporciona uma inimaginável e plena segurança, tranquilidade e paz. O poder eterno pertence a Deus e, assim, toda a glória e honra igualmente pertencem somente a ele.

O mesmo título de divindade também é atribuído a Jesus: “E de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito dentre os mortos e o soberano dos reis da terra. Ele nos ama e nos libertou dos nossos pecados por meio do seu sangue” (Ap 1.5; cf. 17.14; 19.16).

Essa concordância é uma alusão clara à divindade do Senhor Jesus, complementada na continuação do versículo: “O único que é imortal, e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém” (1Tm 6.16). Essas palavras de honra à divindade referem-se simultaneamente ao Filho (isto é, ao Cordeiro) como ao Pai. Deus Pai e Filho, no entanto, são um (ver Jo 1.18; 17.11,21-22).

Matthias Claudius: “Se pessoas como nós sentem um desejo por imortalidade, fica claro que, em nossa situação atual, não estamos onde deveríamos estar. Ficamos agitados em terra seca, sendo que deve haver um oceano para nós em algum lugar”.

“E cantavam em alta voz: ‘Digno é o Cordeiro que foi morto de receber poder, riqueza, sabedoria, força, honra, glória e louvor!’ Depois ouvi todas as criaturas existentes no céu, na terra, debaixo da terra e no mar, e tudo o que neles há, que diziam: ‘Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre!’” (Ap 5.12-13).

Somente Deus YHWH – em si e por si – é imortal. Todas as demais “divindades” morrem. Deus é a fonte inesgotável de vida e concede a imortalidade a todo aquele que crê nele. Portanto, somente nele podemos ter satisfação e vida plena. O pastor luterano Matthias Claudius escreveu: “Se pessoas como nós sentem um desejo por imortalidade, fica claro que, em nossa situação atual, não estamos onde deveríamos estar. Ficamos agitados em terra seca, sendo que deve haver um oceano para nós em algum lugar”.

Do mesmo modo, Deus vive em uma luz inacessível e, mesmo assim, aqueles que são salvos por Jesus verão a Deus e viverão em comunhão com ele, na sua luz. Através da luz dele (Jesus) veremos a Luz: “Eles verão a sua face, e o seu nome estará na testa deles. Não haverá mais noite. Eles não precisarão de luz de candeia nem da luz do sol, pois o Senhor Deus os iluminará; e eles reinarão para todo o sempre” (Ap 22.4-5; ver Sl 36.9).

Somos lembrados da luz que envolveu Paulo por ocasião de sua conversão (At 9.1-19), da luz que envolveu Jesus no monte da Transfiguração (Mt 17.1-13) ou em outras passagens, como João 1.4-9 e 1João 1.5.

De fato, não conseguimos nos aproximar de Deus, pois ele “habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver” (1Tm 6.16). Vemos, assim, o tremendo poder de penetração outorgado através da salvação que Jesus conquistou por nós.

“Mas agora, em Cristo Jesus, vocês, que antes estavam longe, foram aproximados mediante o sangue de Cristo” (Ef 2.13).

“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3.2).

Porque Jesus voltará, é onipotente, é o Rei dos reis, é o Senhor dos senhores, é imortal e detém o poder eterno, vale a pena andar com ele, crer nele, não se desesperar, manter-se fiel aos seus mandamentos e firmar com coragem nossa confissão.

Nota

  1. Wolfgang Schuler, Factum 2/2010, p. 46-47.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Março 2021

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