Mundo em Pânico e a Atitude do Cristão

A crescente perplexidade dos povos diante das atuais crises já foi profetizada por Cristo. Ela vai aumentando à medida que seu retorno se aproxima.

O Senhor Jesus anunciou com relação ao seu retorno: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar. Os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo; e os poderes celestes serão abalados. Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem com poder e grande glória” (Lc 21.25-27).

Não se trata nesta passagem da questão de o cumprimento dessas palavras ocorrer antes ou depois do arrebatamento. Muito mais importante é reconhecermos os aspectos fundamentais dos últimos tempos. Ocorre que esses aspectos de perplexidade e medo generalizados estão se cristalizando e se tornando cada vez mais nítidos à medida que o fim se aproxima. Há duas possibilidades: por um lado, esse medo pode ser gerado consciente ou inconscientemente pelas pessoas e, por outro, refletir sua impotência.

A velocidade com que o Covid-19 se disseminou também só se tornou possível num mundo globalizado, com suas intensas interligações aéreas.

Em Mateus 24.8, nosso Senhor fala do início das dores. Trata-se de eventos que precedem seu retorno e o anunciam. Nesse contexto fala-se em guerras, rumores de guerras, transtornos e rebeliões, fomes, epidemias e terremotos. Antes de tudo, Mateus 24.5 fala da sedução. Pelo que entendo, essas dores começam já antes da grande tribulação. Na tribulação elas chegarão ao ápice.

Diante do relato de todos esses eventos, o nosso Senhor diz: “Não tenham medo” (ou “Não se assustem”, Mt 24.6). Susto, temor e medo se correlacionam, e este é um aspecto fundamental e mundial dos tempos do fim. Afinal, o medo também acompanha as dores do parto para uma grávida.

Em Lucas 21, o Senhor Jesus fala em “angústia” ou “medo” (synochē) para descrever a sensação com que as pessoas convivem. Ele fala de “perplexidade” ou “desamparo” (aporia). A NTLH fala em “nações... desesperadas”. De fato, os homens desmaiarão de temor (v. 26, apopsycho). A NVT utiliza a palavra “aterrorizadas”. Trata-se de um terrível medo existencial diante daquilo que virá.

Hoje, essas coisas – reforçadas ainda mais pelo coronavírus – se estendem das minúcias à amplidão. Sobre as minúcias, publicam-se constantemente novos artigos sobre tudo o que faz mal à saúde e é prejudicial, e quais os sinais de infarto cardíaco ou câncer a que se deve atentar. (Nada contra uma prevenção razoável, mas em alguns sites tais notícias aparecem quase diariamente.) Muita coisa passa a girar apenas em torno de alimentação e saúde, e isso apesar de aqui na Europa Central os controles de alimentos serem mais rigorosos do que nunca e de dispormos de uma excelente pesquisa científica e médica. Apesar disso, esse medo também vem crescendo continuamente – inclusive na vida pessoal. Se quiséssemos levar em conta todas as dicas, nosso dia seria preenchido com autodiagnósticos e a elaboração de uma complexa lista de compras saudáveis.

Quanto ao sentido amplo, basta pensar no volume de espaço e recursos que a questão ambiental tomou antes da crise do coronavírus. Múltiplos prognósticos e artigos sobre um futuro sombrio e o prazo supostamente curtíssimo que ainda resta para corrigir o rumo circulam sobre a questão ecológica e climática. Nesse meio-tempo, a questão climática também vem ressurgindo apesar do coronavírus. A isso se acrescenta o medo de catástrofes naturais e guerras, além do receio de atentados terroristas que no passado não ocorriam nessa ordem de grandeza. Vale lembrar também as ondas de medo dos últimos 20 anos no contexto da BSE (síndrome da vaca louca), SARS, ebola, gripe aviária, gripe suína e agora o coronavírus. Meu propósito não é negar a seriedade de nada disso, mas de mostrar como o medo e o desespero estão se espalhando. Tudo se correlaciona. A pandemia causou reações de pânico nas bolsas de valores logo no início e, desde então, o sistema financeiro e econômico mundial encontra-se com dificuldades. Mesmo novos lucros cambiais não têm como ocultar isso.

A Bíblia nos informa que nesta terra ainda sobrevirão coisas bem mais graves, mas observamos como o medo e o desespero vêm sendo incitados, bem como a histeria e o pânico relacionados com isso. Será que ainda nos lembramos da síndrome da vaca louca (BSE)? Ainda tenho presente como esse tema e o perigo relacionado a ele frequentava constantemente a imprensa aqui na Europa. No entanto, o tema BSE acabou de uma vez porque subitamente um outro problema, uma ameaça bem diferente, se apresentou: o 11/09 e suas consequências, bem como a ameaça terrorista mundial relacionada. Seria possível que também a questão do coronavírus vá para o segundo plano diante de novos acontecimentos e os medos relacionados com eles? Ou lembremos do tsunami que em março de 2011 atingiu uma nação industrializada altamente desenvolvida. As providências de proteção no litoral japonês atingido revelaram-se insuficientes, e o medo de alguma catástrofe nuclear de amplo alcance prendeu o fôlego da humanidade.

Alguns dias depois daquele tsunami, minha esposa e eu voltávamos de trem de uma viagem a trabalho. Como tivemos de sair logo cedo de manhã, cada um leu sua Bíblia em particular. De repente fomos abordados por um passageiro que nos observara lendo. Ele perguntou se aquilo ocorrido em Fukushima poderia ser o apocalipse anunciado. Disso resultou uma boa conversa sobre fé e aquilo que virá no fim – mesmo que o tsunami ainda não fosse aquilo a que se refere o livro de Apocalipse.

Com a interligação mundial das mídias digitais, o volume de informações não só aumenta, como também o medo e a perplexidade gerada por essa enxurrada informativa. A velocidade com que o Covid-19 se disseminou também só se tornou possível num mundo globalizado, com suas intensas interligações aéreas.

Quanto mais densas e intensas se tornarem as dores, tanto mais se disseminarão o medo, a perplexidade, o terror, o temor e a angústia... até que finalmente os eventos de Lucas 21 atinjam a humanidade e de fato as forças cósmicas se abalem.

Mesmo nós, cristãos crentes na Bíblia, podemos nos amedrontar. O próprio Senhor Jesus teve medo no jardim do Getsêmani. O apóstolo Paulo relata como esteve “atribulado”, com lutas por fora e temores por dentro (2Co 7.5). São palavras do mesmo homem que na carta aos Filipenses nos incentiva a não estarmos ansiosos. E o nosso Senhor confirmou aos seus discípulos que neste mundo sofreriam angústia e pressão (Jo 16.33). No entanto, em meio a todo medo, sempre podemos voltar a buscar refúgio em nosso Senhor, conforme diz o salmista:

Em meio a todo medo, sempre podemos voltar a buscar refúgio em nosso Senhor.

“Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. Por isso não temeremos, ainda que a terra trema e os montes afundem no coração do mar, ainda que estrondem as suas águas turbulentas e os montes sejam sacudidos pela sua fúria” (Sl 46.1-3).

Por outro lado, o medo e o terror, o desamparo e a angústia a que Lucas 21 se refere são sinais da impiedade humana. Não se trata aqui de falta de religião ou de um vácuo espiritual, mas da distância e do alheamento diante do Deus vivo. É claro que um cristão que lê a Bíblia também pode ser assaltado e abalado de medo diante de certos desdobramentos. Catástrofes e pandemias podem nos atingir do mesmo modo como qualquer outra pessoa. Mesmo assim, porém, a certeza fundamentada em Deus nos dá uma profunda paz de não estarmos desamparados, à mercê de quaisquer circunstâncias e desdobramentos, mas de nos encontrarmos nas mãos daquele que dirige e sempre tem tudo sob controle: Deus, que por meio de Cristo se uniu inseparavelmente aos seus filhos e que ao final tudo levará ao seu objetivo.

Esse medo que o nosso Senhor fala no evangelho de Lucas é o medo do ímpio que pensa ter o controle e agora percebe como tudo lhe escapa. Ele fica à mercê de desdobramentos e eventos que não consegue mais controlar. É compreensível que muitos se apavorem nessa hora. Todavia, é precisar considerar que o Deus que age ativamente está sendo excluído do contexto dessas discussões sobre o clima e o coronavírus. O homem pensa poder resolver todos os problemas, mas, de forma completamente independente das atuais providências sobre o clima ou a crise do coronavírus serem corretas ou erradas, no fim tudo lhe escapará das mãos, e o medo disso também é a causa de comportamentos irracionais e de pânico.

Em alemão existe a expressão popular do “medo pagão” (Heiden- angst). Essa expressão acerta bem no alvo. Trata-se de uma humanidade e sociedade que cada vez mais se despede do Deus vivo. Nas catástrofes não se enxerga mais a atuação de Deus e não há mais submissão a ele. Gerhard Maier escreve o seguinte sobre isso em seu comentário:

“Jesus parece enxergar ‘as nações’ dos tempos finais como unidas. Mesmo em conjunto, elas não conseguem prover soluções. Pelo contrário: ‘Estarão em angústia e perplexidade com o bramido e a agitação do mar’. O original contém um substantivo para a expressão ‘estar em angústia e perplexidade’ – a palavra ‘aporia’. Haverá aporia como prenúncio do retorno! Já em nossos dias enxergam-se aporias (ou dilemas) internacionalmente insolúveis: reciclagem de lixo, poluição ambiental, crescimento urbano, esgotamento das matérias-primas, carência de água e ar.”

Gerhard Maier escreveu isso há mais de 30 anos. Sabemos que desde então os problemas não diminuíram, só aumentaram. Isso também se aplica à área política. O desmoronamento do bloco comunista não trouxe o fim da história, como afirmou o cientista político norte-americano Fukuyama. Ele supunha que as grandes controvérsias ideológicas, econômicas e políticas fossem coisa do passado e que a humanidade experimentaria uma renovação. Pouco depois ele já teve de se corrigir. Cerca de 30 anos depois, tudo se apresenta bem diferente. Basta pensar nas novas tensões entre as grandes potências, na guerra e no caos no Oriente Médio, no norte da África e em outras regiões, bem como no recente impulso do islamismo radical, com o terrorismo em sua esteira. O total endividamento das nações industrializadas também torna-se um problema cada vez maior, que se torna ainda mais agudo com a crise do corona e as medidas correlatas.

A certeza fundamentada em Deus nos dá uma profunda paz de não estarmos desamparados, à mercê de quaisquer circunstâncias e desdobramentos, mas de nos encontrarmos nas mãos daquele que dirige e sempre tem tudo sob controle.

É este medo, desespero e perplexidade que no fim lançará a humanidade nos braços do Anticristo, que se proporá a resolver os problemas. Como cristãos, precisamos ficar atentos para não nos contagiarmos pelo pânico nem pelas falsas promessas de solução ligadas a isso. É como diz o apóstolo Paulo:

“Nós, porém, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo a couraça da fé e do amor e o capacete da esperança da salvação. Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele morreu por nós para que, quer estejamos acordados quer dormindo, vivamos unidos a ele. Por isso, exortem-se e edifiquem-se uns aos outros, como de fato vocês estão fazendo” (1Ts 5.8-11).

Johannes Pflaum integra a diretoria da Sociedade Bíblica Suíça e atua como conferencista e docente na área de ensino bíblico.

sumário Revista Chamada Março 2021

Confira