A Partícula de Deus

“Assim diz o Senhor: ‘Se os céus em cima puderem ser medidos, e os alicerces da terra embaixo puderem ser sondados, então eu rejeitarei os descendentes de Israel, por tudo o que eles têm feito’, diz o Senhor” (Jr 31.37).

Há algum tempo uma “mensagem de alegria” foi noticiada pelo mundo: depois de décadas de pesquisas, os cientistas do Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla original), em Genebra, conseguiram encontrar a última partícula ainda em falta no modelo cosmológico padrão. É verdade que para o leigo isso não significa muito. A física foi destrinchando os componentes da matéria em partículas cada vez menores, o que permite atribuir uma determinada partícula a cada propriedade da matéria. Para o mortal comum, isso tudo é totalmente misterioso e, em última análise, também os físicos não sabem como imaginar uma partícula tão abstrata, reconhecível apenas por meio dos seus efeitos. Para o leigo, o que talvez pode interessar seriam comparações de ordem de grandeza:

Se um átomo tivesse o tamanho de uma maçã, a maçã teria em comparação com isso o tamanho da esfera terrestre. E se um átomo tivesse o tamanho da esfera terrestre, um Quark[1] teria o tamanho de uma árvore. Supreendentemente, a matéria aparentemente tão sólida consiste em 99,9% de espaço vazio, pois as partículas são tão inimaginavelmente pequenas e finamente distribuídas, enquanto que o distanciamento entre as partículas elementares é muito grande.

É claro que a designação de “partícula de Deus” é totalmente imaginária, sendo sua relação com Deus no máximo aquela que deixa novamente claro a que ponto as coisas são enigmáticas e inexploráveis. Jeremias 31.37 é interessante no contexto da “partícula de Deus” pelo seguinte motivo: Deus prometeu ao povo de Israel sua eterna fidelidade. Deus compara sua imutável fidelidade com a possibilidade de explorar o cosmo e a terra. Deus diz: assim como é impossível ao homem medir a amplidão do espaço cósmico e o interior da terra, também é impossível que Deus rejeite seu povo de Israel. É uma comparação portentosa, com a qual o cosmo inteiro é convocado a servir de testemunha. Inversamente, Deus diz com isso que existem coisas que nunca poderemos perscrutar – e a prática mostra que é isso mesmo.

Tão pouco como podemos cavar um túnel até o centro da terra, jamais conseguiremos decifrar o sentido do cosmo e o princípio subjacente a ele. Aí influem elementos que para nós soam irracionais porque transcendem ao infinito nossa capacidade de compreensão.

Como tem sido até agora, todos os modelos cósmicos que os homens ainda desenvolverão no decorrer do tempo jamais poderão transmitir uma imagem correta e exata do cosmo e, com isso, cedo ou tarde se tornarão obsoletos para então darem lugar a um novo conceito cósmico. Certamente sempre se descobrirão mais novidades, mas para nós não é possível organizar as coisas na forma de um modelo cósmico definitivo, integral e livre de contradições, uma vez que nossos modelos mentais são insuficientes para o entendimento do universo. É mais provável que ocorra o contrário: quanto mais dados se encontrarem e coletarem, tanto mais contraditório e com isso inexplorável se tornará o todo. Trata-se aqui de dimensões que escapam totalmente às limitações da nossa mente. Conviria levar isso em conta ao anunciar de forma triunfalista resultados de pesquisas capazes de despertar a impressão de que a humanidade teria se aproximado mais um passo para desvendar o enigma da criação, tornando assim Deus mais um tanto “supérfluo”.

Às vezes se ouve a declaração de que “isso ainda não sabemos”, que implica ser apenas uma questão de tempo até que se saiba tudo. Todavia, a crença de que seja apenas uma questão de tempo até que se saiba tudo é ilusória. O cosmo, a criação, da qual nós também somos parte, é e permanece em princípio inexplorável, o que, porém, não torna supérflua a pesquisa, uma vez que por meio dela descobrimos a grandeza de Deus e o quanto nós mesmos somos pequenos.

Nota

  1. Na física, os quarks estão entre os menores blocos de construção fundamentais (partículas elementares) a partir dos quais toda a matéria é construída.

Jörgen Bauer é economista, membro dos Gideões Internacionais e evangelista na internet.

sumário Revista Chamada Fevereiro 2021

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