Como Herodes chegou ao poder

Herodes reinou provavelmente na época mais movimentada da história do mundo ocidental. Roma tinha acabado de tornar-se uma potência mundial sob o imperador Augusto. Mas o que realmente tornou Herodes inesquecível foi o nascimento do Senhor, quatro anos antes de ele morrer.

Todos os anos, quando se lê no Natal a história do nascimento de Jesus Cristo, Herodes também é mencionado como aquele que queria matar o recém-nascido.

Do ponto de vista político e estratégico, Herodes foi um excelente soberano, com grandes realizações. Basta lembrar seus grandiosos projetos de construção, dos quais até hoje se veem restos impressionantes – principalmente o colossal muro que cercava o templo em Jerusalém, do qual o Muro das Lamentações é apenas uma pequena parte.

O Novo Testamento menciona Herodes, o Grande só à margem, mas, graças ao historiador judeu Flávio Josefo, estamos bem informados sobre aquela época. Foi um período extremamente turbulento e revolucionário no Império Romano, que também exerceu grande influência sobre a terra de Israel e o povo judeu.

Os reis anteriores a Herodes

A ascensão de Herodes ao ápice do poder não seria imaginável sem a dinastia dos macabeus, que governaram o país por cerca de 120 anos. Além do seu carisma pessoal e do seu dinamismo, Herodes simplesmente esteve no momento certo no lugar certo.

Os macabeus ou asmoneus, como também são chamados, realizaram grandes feitos e conduziram o país à independência do domínio estrangeiro selêucida, mas posteriormente levaram o país sucessivamente à esfera de influência romana.

A verdade do ditado segundo o qual “o poder corrompe” também se confirmou na dinastia dos macabeus, que, embora tivesse começado bem, terminou mal. Foi particularmente a circunstância de que os macabeus eram simultaneamente reis e sumos sacerdotes, ou seja, líderes tanto políticos como religiosos na mesma pessoa, que levou à desconfiança e reprovação entre o povo fiel à Lei.

O último rei macabeu foi Hircano II. No momento em que ele deveria ter assumido o reinado, seu irmão mais jovem Aristóbulo usurpou o poder. Com isso, Hircano foi pedir socorro aos romanos. Estes enviaram o general Pompeu com suas legiões, que derrotaram Aristóbulo e seus partidários, instituindo Hircano como rei em 63 a.C. A partir de então, o país passou a depender dos romanos. Tornou-se protetorado romano e a estrela dos macabeus começou a declinar.

Hircano era o primogênito e, portanto, o herdeiro do trono, mas na verdade não tinha efetiva competência para governar. Por isso ele nomeou como regente um amigo pessoal – Antípatro. Antípatro era de descendência edomita, que o rei macabeu João Hircano havia forçado e se converter ao judaísmo. Antípatro, o pai de Herodes, soube arranjar cargos influentes para seus filhos. Nessa manobra, Herodes em particular revelou-se como competente estrategista.

Em 44 a.C. César foi assassinado e o mundo romano entrou em alvoroço. Os adversários de Hircano aproveitaram essa ocasião para tentar um golpe. Antígono, sobrinho de Hircano e filho de Aristóbulo, o rival anterior ao trono, invadiu o país com ajuda dos partos.

Em meio a essa situação ameaçadora, Herodes foi o salvador do rei Hircano. Em gratidão e reconhecimento, este deu a Herodes sua bela neta Mariana como esposa. Com isso, Herodes ascendeu ao círculo da família real e sua fama cresceu significativamente.

Quando Aristóbulo invadiu novamente o país com ajuda dos partos e se apoderou de Jerusalém e do templo, Herodes reconheceu o perigo e fugiu. Pôs em segurança sua família e seus leais seguidores levando-os para Massada, e ele mesmo prosseguiu até Alexandria e, de lá, para Roma, a fim de pedir aos seus respectivos soberanos, Antônio e Otaviano (na ocasião os homens mais poderosos de Roma), que o ajudassem contra Antígono e os partos.

Antônio estava convicto de que Herodes seria o único capaz de derrotar os partos invasores e de governar a Judeia. Ele convenceu Otaviano e o senado a nomear Herodes rei sobre a Judeia, o que ocorreu oficialmente em 40 a.C.

Herodes, rei dos judeus

Embora agora Herodes fosse rei, seu reino continuava nas mãos de Aristóbulo e dos partos. Ele partiu então imediatamente para lutar por seu direito ao governo. Desembarcou em Acre, reuniu um exército e dirigiu-se ao sul para conquistar Jope. De lá conseguiu avançar até Massada, a fim de libertar sua família da insegurança.

Por falta de tropas, Herodes não conseguiu uma rápida vitória para conquistar Jerusalém. Por isso ele foi primeiro para a Galileia a fim de romper a resistência local. Enquanto isso, seus aliados romanos subjugaram os partos em uma batalha decisiva no verão de 38 a.C. na Síria.

Antônio, que enviou duas legiões em apoio a Herodes, chegou pouco depois. Com elas, ele derrotou parte das tropas de Antígono a cerca de 30 quilômetros ao norte de Jerusalém, podendo iniciar, dessa forma, a conquista de Jerusalém. Os combates duraram cerca de três meses, porque os adversários de Herodes e dos romanos se defenderam renhidamente. No verão de 37 a.C., Herodes subiu àquele trono manchado de sangue.

Herodes consolida seu poder

Os adversários mais decididos de Herodes – e aliados de Antígono – eram os saduceus, que dominavam o sinédrio, o conselho dos 70. Herodes mandou executar 45 deles e confiscou os seus bens, algo bem útil para ele no momento.

A fim de consolidar sua conquista do poder, ele aperfeiçoou as fortalezas em parte já existentes e construiu outras novas. Herodes providenciou que doravante nenhum asmoneu (macabeu) pudesse atuar como sumo sacerdote e tornar-se eventualmente perigoso para ele. Por isso, convocou sumos sacerdotes da casa de Zadoque, que viviam no exílio.

Essa providência irritou seus familiares asmoneus provenientes do seu casamento com Mariana. A rivalidade e a desconfiança mútua entre as duas famílias foram o que envenenou a paz na família de Herodes e causou um bocado de males e tragédias.

Os combates duraram cerca de três meses, porque os adversários de Herodes e dos romanos se defenderam renhidamente. No verão de 37 a.C., Herodes subiu àquele trono manchado de sangue.

Otaviano torna-se regente único

Antônio, regente da parte oriental do Império, apaixonou-se perdidamente por Cleópatra, rainha do Egito. Quando então se divorciou de sua esposa Otávia, irmã do seu corregente Otaviano, as relações entre ambos foram piorando progressivamente até que, no inverno de 32-31 a.C., Roma e Otaviano declararam guerra, mas não a Antônio e sim a Cleópatra, inimiga do país.

Resultou disso a famosa batalha naval de Áccio, da qual Otaviano saiu como vencedor. Antônio e Cleópatra fugiram para o Egito, onde mais tarde ambos cometeram suicídio.

Herodes novamente se viu diante de mudanças no poder. Antônio, seu amigo e confidente em Roma, estava morto. No entanto, por meio de manobras inteligentes, Herodes conseguiu convencer Otaviano, que se tornara o imperador Augusto, da sua lealdade e, para provar sua confiança, Augusto o encarregou da administração de mais regiões.

O sucesso político de Herodes contrastava grosseiramente com seus problemas familiares. A rivalidade entre Mariana e os outros descendentes da antiga casa real asmoneia e a família de Herodes tornou-se cada vez mais grave. A mãe e a irmã de Herodes, em particular, sentiram-se ofendidas e rebaixadas por causa de sua origem humilde. As rivalidades, intrigas e acusações conduziram a uma piora progressiva das relações entre Herodes e sua esposa Mariana. Nada foi capaz de deter Salomé, a irmã de Herodes, e Cipros, sua mãe, que passaram a acusar Mariana de adultério, o que fizeram de forma tão astuta que Herodes acabou acreditando naquilo. Assim, Mariana foi condenada e executada.

Não demorou que a consciência de Herodes começasse a acusá-lo da morte dela. Em meio ao seu abatimento, Alexandra, mãe de Mariana, tentou derrubar Herodes por meio de um complô. Contudo, agora Herodes não precisava mais ter considerações com Mariana e mandou matar Alexandra e todos que poderiam representar algum perigo para ele. Com esses eventos, Herodes foi se brutalizando cada vez mais, de modo que seu reinado se tornou cada vez mais tirânico a partir daí.

O reinado de Herodes ficou marcado por prosperidade econômica e paz exterior, mas, por outro, também por falta de paz e tragédia pessoal e familiar.

Herodes, o construtor

Herodes casou-se com várias mulheres, mas o que realmente lhe trouxe satisfação foram seus imponentes projetos de construção. Cesareia com seu porto protegido por diques quebra-ondas, no mar Mediterrâneo, a renovação e ampliação do templo em Jerusalém e o castelo Heródio perto de Belém, para mencionar só os maiores dos seus projetos. O reino de Herodes presenciou um impulso inédito e atingiu dimensões que chegaram a impressionar os próprios romanos.

Herodes cuida da sua sucessão

Após um ano e meio de construção, o templo ficou pronto. A construção dos pavilhões externos, porém, demorou muito mais. Nestes ainda se trabalhou por muitos anos após a morte de Herodes.

Depois de inaugurar o templo renovado, Herodes viajou a Roma a fim de prestar homenagem ao imperador e para visitar seus filhos mais velhos, que viviam em Roma para receber uma educação digna do seu futuro. Augusto apreciava bastante os dois rapazes e permitiu que Herodes indicasse um deles como seu sucessor. Herodes trouxe-os de volta e providenciou que se casassem.

Por anos Herodes havia ficado a salvo das intrigas familiares. Salomé, porém, a irmã de Herodes, temia com razão que os dois filhos de Mariana pudessem querer vingar a morte da sua mãe assim que chegassem ao poder, e as intrigas da corte recomeçaram. Finalmente, Salomé e seu irmão Feroras conseguiram arruinar a reputação deles perante o pai. Só mediante a mediação pessoal do imperador é que a confiança pôde ser restabelecida.

Herodes instituiu então Alexandre e Aristóbulo, os dois filhos de Mariana, como seus herdeiros; contudo, para que os dois não se tornassem excessivamente autoconfiantes, nomeou também Antípatro, seu filho do primeiro casamento, como coerdeiro. No entanto, apesar de todas as tentativas de regularizar a sucessão, as intrigas continuaram. As acusações contra Alexandre e Aristóbulo tornaram-se tão maciças que Herodes mandou executá-los por alta traição, e deserdou Antípatro. A seguir, instituiu Antipas, seu filho mais novo, como herdeiro, mas pouco antes da sua morte ele mudou mais uma vez o seu testamento e determinou Arquelau e Filipe como coerdeiros. Nesses últimos anos de sua vida, nos quais procurou um herdeiro entre seus filhos, insere-se também a história da estrela do recém-nascido rei dos Judeus e a matança dos meninos com menos de dois anos em Belém (Mt 2.1-18).

Herodes reinou por muito tempo: 35 anos desde o retorno de Roma como soberano coroado, até seu fim e sua morte vil em 4 a.C. Por um lado, seu reinado ficou marcado por prosperidade econômica e paz exterior, mas, por outro, também por falta de paz e tragédia pessoal e familiar.

Fredi Winkler