Cristianismo Machista

É comum ouvirmos, especialmente em círculos acadêmicos humanistas, que a cultura judaico-cristã é responsável pela opressão das mulheres. No entanto, essa acusação é verdadeira? Será que a teologia judaico-cristã realmente tem promovido a opressão das mulheres?

Em muitos períodos, é inegável que tanto o judaísmo quanto o cristianismo, seguindo os padrões da época, concordaram ou mesmo justificaram a opressão de mulheres. Contudo, para ser o responsável por esta história de opressão, teríamos então de verificar que as opiniões fora do cristianismo ou judaísmo defendiam a dignidade das mulheres.

No entanto, mesmo uma pesquisa superficial mostra justamente o contrário. Enquanto filósofos, pensadores e legisladores ao longo da história humana defendem a opressão das mulheres, é justamente na cultura judaico-cristã que vemos as mais veementes expressões de defesa e proteção às mulheres. Vejamos as afirmações de alguns pensadores famosos:

Zaratustra (628-551 a.C.) afirmou: “A mulher deve adorar o homem como a um deus. Toda manhã, por nove vezes consecutivas, deve ajoelhar-se aos pés do marido e, de braços cruzados, perguntar-lhe: Senhor, que desejais que eu faça?”. Confúcio (551-479 a.C.) escreveu: “A mulher é o que há de mais corrupto e corruptível no mundo”. Platão (428-347 a.C.) escreveu: “A natureza da mulher é inferior à do homem na sua capacidade para a virtude”. Aristóteles (385-322 a.C.) escreveu: “A natureza só faz mulheres quando não pode fazer homens. A mulher é, portanto, um homem inferior”.

Compare estes relatos à descrição da criação da mulher em Gênesis 1.27: “Criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou”. Rebeca, esposa de Isaque, pergunta a Deus sobre os filhos que estavam lutando em seu ventre (Gn 25.22-23), demonstrando que ela podia se comunicar diretamente com Deus. Miriã e Hulda são apresentadas como profetisas (Êx 15.20; 2Rs 22.14). Débora liderou a nação de Israel (Jz 4). Na lei mosaica, ambos deveriam ser mortos em casos de adultérios (Lv 20.10), enquanto que apenas a mulher deveria ser executada em praticamente todos os demais escritos da época.

O ensino bíblico era um contraste chocante com as ideologias da época.

No Novo Testamento, várias mulheres faziam parte do grupo de discípulos (Lc 8.1-3), o que seria um escândalo em quase qualquer outra cultura. O apóstolo Paulo é sempre apresentado como um exemplo de misógino, mas, mesmo que ele estabeleça limites para a liderança da mulher na família e na igreja, ele também escreveu uma passagem que seria absurda para todos os pensadores da época (como demonstrado acima): “Não há judeu nem grego; escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus” (Gl 3.28).

Fatos históricos demonstram que, numa época em que a vida da mulher estava constantemente em risco, o ensino bíblico era um contraste chocante com as ideologias da época. Interessa aos inimigos do cristianismo promover uma imagem distorcida dos propósitos de Deus, pois dessa forma afastam multidões das verdades do evangelho. Eu convido homens e mulheres a fazer um exame cuidadoso das verdades bíblicas e compará-las às ideologias da época e mesmo à ideologia vigente em muitos círculos hoje. A Bíblia e a fé judaico-cristã são, na verdade, as maiores defensoras da dignidade e integridade da mulher.

Daniel Lima é doutor em formação de líderes no Fuller Theological Seminary. Autor e preletor, exerce um ministério na formação e mentoreamento de pastores e líderes.

sumário Revista Chamada Dezembro 2020

Confira