O maior “erro” dos judeus

Qual é o maior “erro” dos judeus? Seria o seu estilo inteligente de fazer negócios? Sua obstinação em negociações? Seu estilo de vida ultraortodoxo de um lado ou ateu do outro? Seria sua forma dura de combate aos terroristas? Seria a cerca de isolamento? Ou os territórios ocupados? Não, o maior “erro” dos judeus é serem judeus.

O antissemitismo é um ódio sem fundamento à raça judia como tal, não ao seu modo de agir ou de pensar. O judeu é odiado por ser judeu e seu “crime” é ser judeu – e isso já desde muito tempo antes de Israel receber de volta o seu Estado.

Há anos circulava uma piada que focaliza de forma sarcástica a seriedade desse fato: Bin Laden procura Arafat e diz: “Amigo Yasser, você é terrorista e eu sou terrorista, você é genocida e eu também, você comanda um grupo terrorista e eu também. Mas diga-me por que o mundo todo me persegue, me condena unanimemente e me caça, enquanto a você entregam o Prêmio Nobel da Paz?”. “Bem”, diz Arafat, “você comete um erro essencial. Eu só mato judeus, mas você também mata gente de outras nações – essa é a diferença.”

Antissemitismo como rejeição genérica

O antissemitismo é um preconceito contra os judeus que pode manifestar-se de todas as formas, desde simples antipatia até ódio desenfreado. O antissemitismo é uma rejeição genérica dos judeus e do judaísmo. Nesse sentido, Hamã, o inimigo dos judeus de que relata o livro de Ester, era antissemita. Ele era dominado por um ódio racial desenfreado e sem fundamento contra os judeus: “... sabendo quem era o povo de Mardoqueu, achou que não bastava matá-lo. Em vez disso, Hamã procurou uma forma de exterminar todos os judeus, o povo de Mardoqueu, em todo o império de Xerxes” (Et 3.6).

Tal como Hamã, Hitler também estava possesso de um profundo preconceito contra a raça judia. Embora a liderança do chamado Terceiro Reich pretextasse falsas razões para sua hostilidade aos judeus (assim como Hamã), seu procedimento não passava de mero e puro antissemitismo.

Deus não é antissemita

O fato de Deus não ser antissemita se depreende inclusive do último livro da Bíblia: “Então olhei, e diante de mim estava o Cordeiro, em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil que traziam escritos na testa o nome dele e o nome de seu Pai” (Ap 14.1). O Senhor Jesus retornará como o Messias judeu para o monte Sião em Jerusalém para salvar o remanescente dos judeus. Os 144 mil das 12 tribos de Israel (Ap 7) são chamados em Apocalipse 14.4 de “primícias”. Isso significa que eles serão o primeiro grupo de redimidos judeus após o arrebatamento da igreja, aos quais muitos mais ainda seguirão.

Não nos cansamos de sempre voltar a apontar para Romanos 11: “E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: ‘Virá de Sião o redentor que desviará de Jacó a impiedade’” (v. 26).

Se Deus não é antissemita, torna-se claro que todos os movimentos antissemitas são ímpios porque jamais poderão provir de Deus. Forçosamente, toda inimizade aos judeus é inimizade contra Deus e todas as declarações antissemitas são inimizade contra a Palavra de Deus. Quem diz ou pensa que os judeus deveriam ser deportados, ou até aniquilados, volta-se em seu ódio cego contra aquele que diz a Israel: “Viva!” (Ez 16.6). Justamente por Deus não ser antissemita é que a hostilidade aos judeus está condenada ao fracasso.

Zeres, a esposa de Hamã, parece ter sido uma mulher inteligente que reagiu corretamente, porque, quando Hamã foi humilhado diante do judeu Mardoqueu e se aborreceu com aquilo, ela e seus sábios lhe disseram: “Visto que Mardoqueu, diante de quem começou a sua queda, é de origem judaica, você não terá condições de enfrentá-lo. Sem dúvida, você ficará arruinado!” (Et 6.13).

Deus é semita

Não se trata apenas de Deus não ser antissemita, mas ele próprio é semita, já que Jesus Cristo é o Filho de Deus encarnado: “No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus e era Deus. Ele estava com Deus no princípio. Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito... Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.1-3,14).

Sem era um dos três filhos de Noé, e Deus se declarou expressamente como Deus de Sem: “Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem...” (Gn 9.26). Dessa genealogia de Sem provieram Abraão, Isaque, Jacó e por fim o povo de Israel (Gn 11.10-26). Portanto, não é de admirar que mais tarde o Onipotente também se identificasse como Deus de Israel (Êx 3.6,18; 5.1).

O Deus encarnado, Jesus Cristo, descendia da linhagem de Sem (Lc 3.23-36). Por isso compreende-se que Noé diga, sob direção do Espírito Santo: “Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem”, porque Deus queria revelar-se ao mundo por meio de Sem e tornar-se seu Redentor.

Sem significa pura e simplesmente “nome”, mas justamente essa interpretação do nome contém um sentido mais profundo. O nome de Jesus é o nome sobre todos os nomes. Ele é aquele de quem Pedro diz: “Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). Deus tornou-se semita no Messias de Israel, de onde se conclui que todo antissemita é, no fundo, também anticristão.

Hostilidade aos judeus ou crítica a Israel?

A hostilidade aos judeus (antissemitismo) não é comparável a alguma crítica sóbria a Israel. Esta última sem dúvida é necessária. A própria Bíblia critica o povo judeu, assim como Jesus e os apóstolos. O Estado de Israel comete erros e não há como aprovar a rejeição do evangelho pelos judeus. O terrorismo de judeus ortodoxos contra os crentes no Messias é inimizade contra Deus. Os pecados de Israel são pecados do mesmo modo como são os de outros países e povos. Ainda assim, nós, como cristãos, deveríamos ser solidários com Israel, porque se Deus mantém de pé sua aliança com os antepassados, quem seríamos nós para achar que podemos rejeitá-lo? Por amor ao maior semita judeu – Jesus Cristo – colocamo-nos ao lado de Israel. “Em favor da casa do Senhor, nosso Deus, buscarei o seu bem” (Sl 122.9).

O arqueólogo Carsten Peter Thiede disse: “Jesus e as origens do cristianismo são judaicas – será que deveríamos mesmo negar este fato histórico?”.

Norbert Lieth

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Agosto 2020

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