Por que um futuro para Israel?

Para chegar a uma convicção sobre o futuro de Israel, é necessário examinar a natureza e o escopo dos compromissos passados de Deus com o povo judeu.

A origem de Israel

Deus criou Israel pessoalmente (Is 43.1). Por quê? Após a queda do homem (Gn 3), Deus anunciou que seu programa redentor será realizado através da vinda de alguém, a semente da mulher Eva, que infligiria uma ferida fatal na serpente, ou Satanás (Ap 12.9; 20.2), ao esmagar sua cabeça (Gn 3.15; Rm 16.20). Através de qual nação esse Messias viria?

Uma crise logo se desenvolveu, pois nenhuma das nações então existentes buscava Deus (Rm 3.11). Antes, todos tinham uma origem contaminada; cada um seguiu seu próprio caminho (Gn 11.1-9). Com o chamado de Abrão (Gn 5.1-32; 9.26; 11.10-26) de Ur dos caldeus, Deus começou a criar uma nova nação a partir dos descendentes físicos de Abrão. As promessas de um Messias vindouro foram posteriormente reduzidas não apenas à semente de Abrão (Gn 12.3), mas também aos descendentes de Isaque (Gn 17.18-19) e Jacó (Nm 24.17). Através desta linhagem, também conhecida como hebreus ou Israel, o escolhido por Deus viria para redimir o mundo.

As promessas de Israel

Por causa de sua importância, Deus articulou inúmeras promessas a Israel (Gn 12.1-3). As três promessas básicas são identificáveis: primeiro, uma estipulação de terra (Gn 12.7; 15.7) que se estende do Egito moderno ao Iraque (15.18-21). As promessas também incluíram sementes ou descendentes (15.2-6), bem como bênçãos pessoais a Abrão (15.1). Essas promessas divinas de terra, semente e bênção foram eventualmente ratificadas em forma de aliança (15.18) na aliança abraâmica. Antes de chegarmos a uma perspectiva adequada sobre o futuro de Israel, é essencial entender as principais características dessa aliança.

Primeira, os termos da aliança devem ser interpretados em seu sentido comum. Que essa aliança era de natureza terrena tornou-se evidente quando Deus disse a Abrão que andasse pela terra que seus descendentes viriam a possuir (Gn 13.17).

Segunda, os termos foram estabelecidos para um grupo específico de pessoas: os descendentes físicos de Abrão (15.4-5).

Terceira, uma vez que os termos emanam de Deus, eles são inteiramente confiáveis (Nm 23.19; Tt 1.2; Hb 6.18). Quarta, esses termos fornecem o fundamento das alianças posteriores de Deus com Israel. Ele fez alianças adicionais com a nação que esclareceram suas obrigações iniciais. Assim como a palavra hebraica berith, ou “aliança”, é usada para descrever os compromissos de Deus com Israel na aliança abraâmica (Gn 15.18), ela também é usada em cada uma das demais alianças (Dt 29.1; Sl 89.3-4; Jr 31.31). A provisão de terra é amplificada na aliança da terra (Dt 29–30). O aspecto da semente é esclarecido na aliança davídica (2Sm 7.12-16). O componente da bênção é elaborado na nova aliança (Jr 31.31-34).

Essas alianças devem ser cumpridas literalmente. Por exemplo, a aliança da terra inclui previsões de dispersão e reagrupamento de Israel. Deuteronômio 30.3 diz: “Deus... os reunirá... de todas as nações por onde os tiver espalhado”. Se a dispersão de Israel na diáspora a partir de 70 d.C. era literal, então a reunião prevista também precisa ser literal.

Quinta, até hoje, as promessas da aliança permanecem sem cumprimento. Embora alguns elementos tenham sido cumpridos, as próprias promessas permanecem em grande parte não realizadas. Por exemplo, a nação ganhou, histórica e atualmente, uma mera fração de tudo o que Deus inicialmente prometeu (Gn 15.18-21).1 Além disso, a aliança abraâmica prediz que a nação possuirá a terra como uma “propriedade perpétua” (Gn 17.8). Como Israel foi expulso três vezes de sua terra, essa posse eterna ainda não se materializou.

Sexta, as alianças de Deus com Israel são unilaterais ou incondicionais. Assim, elas dependem somente de Deus para o seu cumprimento final.2 De acordo com a cerimônia de ratificação de alianças no Antigo Oriente comumente praticada, ambas as partes de uma aliança deveriam passar entre duas fileiras de pedaços de animais cortados, significando assim que elas também seriam cortadas, caso deixassem de cumprir suas obrigações na aliança. Porém, neste caso, Deus colocou Abrão para dormir enquanto ele, sozinho, sendo representado pelo fogareiro e pela tocha, passava entre as partes dos animais (Gn 15.9-17). Isso significava que somente Deus seria responsável pelo cumprimento dos termos da aliança. Além disso, não há condições estabelecidas na aliança abraâmica para os descendentes de Abraão cumprirem. Certamente tais condições humanas seriam visíveis se Deus pretendesse que o pacto fosse bilateral, e não unilateral.

Além disso, a aliança abraâmica é chamada tanto de eterna (Gn 17.7,13,19; 1Cr 16.17; Sl 105.10) quanto de imutável (Hb 6.13-18), o que significa que seu cumprimento deve repousar sobre um Deus eterno (Sl 90.2; Rm 16.26) e imutável (Ml 3.6). Finalmente, o fato da aliança ser incondicional se torna evidente ao observar que ela era continuamente confirmada, independentemente da repetida desobediência de Israel. Por exemplo, a aliança foi reiterada a Abraão (Gn 15), apesar da mentira de que Sara era sua irmã (Gn 12.10-20); a Jacó (Gn 28.10-22) depois que ele enganou Esaú para obter seu direito de primogenitura (Gn 27); a Israel (Jr 31.35-37), apesar de sua desobediência que levou à disciplina divina do cativeiro babilônico (2Cr 36.15-16); e a Israel (Rm 11.25), apesar da rejeição nacional do seu próprio Messias (At 2.23).

Sétima, a aliança será cumprida em fases. Israel será trazido de volta à sua terra após uma dispersão mundial em descrença, em preparação para que a disciplina ocorra durante o período da tribulação. Então ele será restaurado em sua própria terra em preparação para as bênçãos do milênio (Is 11.11).3 Ezequiel previu que a nação seria reagrupada em sua terra, e então o Espírito seria derramado sobre ela (Ez 36.24-28). Da mesma forma, Ezequiel previu que a nação se formaria como um corpo humano sem respiração, e depois o fôlego (o Espírito Santo) entraria nela (37.1-11).

Quando consideramos o propósito e as promessas singulares de Israel, torna-se aparente que Deus tem um futuro para Israel.

Que Israel tem um programa profético para cumprir não apenas enquanto crê, mas também inicialmente em incredulidade, parece aparente através de previsões sobre o papel de Jerusalém na tribulação analogamente às forças espirituais de Sodoma e Egito (Ap 11.8). Além disso, Israel fará uma aliança com o Anticristo (Is 28.18; Dn 9.27) enquanto estiver na incredulidade. O cumprimento dessas profecias é impossível, a menos que Israel seja primeiro reunido em sua antiga terra natal em descrença, e esse processo está ocorrendo hoje. Em suma, quando consideramos o propósito e as promessas singulares de Israel, torna-se aparente que Deus tem um futuro para Israel.

A importância de Israel

Por que o compromisso de Deus com Israel é importante? Por que essas promessas não podem ser revogadas ou alteradas no futuro, especialmente se Israel se rebela contra Deus e viola as alianças?

Primeiro, Deus trabalha na história de acordo com suas obrigações anteriores da aliança. Por exemplo, o Êxodo, um dos maiores eventos redentores da história, aconteceu por causa da lembrança de Deus de suas promessas na aliança abraâmica (Êx 2.24).4 Se Deus de fato move sua mão na história com base em suas promessas da aliança e elas permanecem incondicionais e não cumpridas, então podemos esperar que Deus trabalhe mais uma vez para cumprir seu programa do tempo do fim com Israel (Ez 36.22). Essa compreensão da natureza das promessas de Deus no Antigo Testamento fornece a base para acreditar que Israel tem um lugar futuro nos planos de Deus.

Como Deus é apontado como um Deus que mantém suas alianças e cumpre suas promessas a Israel, é possível confiar nele para cumprir as promessas que fez aos crentes da era da igreja.

Segundo, dizer que Deus não tem planos futuros para Israel é questionar a confiabilidade de Deus para cumprir suas outras promessas. Se Deus pode quebrar as alianças que fez a Israel, como ele pode ser confiável para cumprir as promessas que fez aos crentes de hoje?

O apóstolo Paulo, quando escreveu Romanos, fez uma digressão bastante significativa em Romanos 9–11. Paulo terminou Romanos 8 em um crescendo ao proclamar as promessas invioláveis de Deus ao cristão (Rm 8.31-39). Podemos confiar nessas promessas? A resposta de Paulo foi um retumbante sim em Romanos 9–11, onde ele afirma que Deus não quebrou suas obrigações da aliança com Israel. De fato, Deus tem um plano por meio do qual cumprirá seus compromissos.

Paulo explicou que Israel foi eleito por Deus no passado (Rm 9), que o rejeitou no presente (Rm 10) e que o aceitará no futuro (Rm 11). Como Deus é apontado como um Deus que mantém suas alianças e cumpre suas promessas a Israel, é possível confiar nele para cumprir as promessas que fez aos crentes da era da igreja. Os crentes podem ser tão confiantes na confiabilidade de Deus que, em resposta de adoração, podem oferecer-lhe seu corpo como sacrifício vivo (Rm 12.1).

As promessas de Deus a Israel não apenas servem de base para a crença no futuro desta nação, mas também servem de base para acreditar que é possível confiar em Deus para executar fielmente todos os seus outros compromissos, especialmente quando se relacionam com o crente do Novo Testamento.

Deus cumprirá suas promessas

Na Bíblia, o mesmo Israel que tem um passado também tem um futuro. A expectativa de um futuro para Israel é confirmada pelos compromissos incondicionais e insatisfeitos de Deus com sua nação eleita, que são repetidos por toda a Escritura. Nenhum dos argumentos usados pelos teólogos supersessionistas mostra convincentemente qualquer cancelamento desses compromissos divinos. Que Israel ainda tem um lugar nos planos futuros de Deus é uma questão de preocupação prática, porque afirma que Deus guarda suas alianças. Ele pode ser confiável para cumprir suas promessas – tanto a Israel quanto aos crentes da era da igreja.

Andy Woods

Trecho extraído do livro O Que Devemos Pensar Sobre Israel?, organizado por J. Randall Price, disponível em loja.chamada.com.br

Notas

  1. Veja o útil mapa que mostra o que foi prometido à nação na aliança abraâmica em comparação com o que foi alcançado nas conquistas, em Thomas L. Constable, “Notes on Numbers”, p. 124. Disponível em: <http://www.soniclight.com>.
  2. John F. Walvoord, The Millennial Kingdom: A Basic Text in Premillennial Theology (Findlay, OH: Dunham, 1959), p. 149-152.
  3. J. Randall Price, Jerusalem in Bible Prophecy: God’s Stage for the Final Drama (Eugene, OR: Harvest House, 1998), p. 219-220; Arnold G. Fruchtenbaum, Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events, ed. rev. (Tustin, CA: Ariel, 2003), p. 102-103.
  4. Arnold G. Fruchtenbaum, Israelology: The Missing Link in Systematic Theology, ed. rev. (Tustin, CA: Ariel, 1994), p. 577.

Andy Woods é doutor em teologia pelo Dallas Theological Seminary e presidente do Chafer Semminary.

sumário Revista Chamada Junho 2020

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