As alianças e a profecia bíblica
Muitos estudiosos supõem que o Anticristo se sentará no templo espiritual da igreja. No entanto, no século 4 houve um líder eclesiástico em Israel (então chamada “Palestina”) que transmitiu uma explicação da palavra profética que contradiz essa suposição e é bastante semelhante ao que dizemos hoje sobre a profecia bíblica.
O que é uma aliança? Uma aliança é um acordo realizado entre dois partidos. Na Antiguidade, as alianças tinham o formato de acordos ou pactos entre nações (1Sm 11.1), acordos entre pessoas individualmente (Gn 21.27), acordos de amizade (1Sm 18.3-4) e combinações entre Deus e seu povo.
Na Bíblia Deus concedeu promessas concretas de alianças com uma série de pessoas. Entre elas temos Noé (Gn 9.8-17), Abraão (Gn 15.12-21; 17.1-14), os israelitas no monte Sinai (Êx 19.5-6), Davi (2Sm 7.8-16; 23.5) e o povo de Deus na nova aliança (Hb 8.6-13).
O que a Bíblia diz sobre o cumprimento das promessas de Deus? Números 23.19 nos garante: “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?”. O já idoso Josué declarou, antes de sua morte: “Agora estou prestes a ir pelo caminho de toda a terra. Vocês sabem, lá no fundo do coração e da alma, que nenhuma das boas promessas que o Senhor, o seu Deus, lhes fez deixou de cumprir-se. Todas se cumpriram; nenhuma delas falhou” (Js 23.14).
Posteriormente Salomão também falou algo semelhante: “Bendito seja o Senhor, que deu descanso a Israel, o seu povo, como havia prometido. Não ficou sem cumprimento nem uma de todas as boas promessas que ele fez por meio do seu servo Moisés” (1Rs 8.56; ver tb. Js 21.45). Deus é verdadeiramente fiel!
O que é a aliança abraâmica e qual é o seu significado para a profecia bíblica? Deus firmou uma aliança com Abraão que é muito conhecida (Gn 12.1-3; 15.18-21) e que posteriormente ele confirmou com Isaque (17.21) e Jacó (35.10-12). Nessa aliança Deus fez a promessa de escolher os descendentes de Abraão como seu povo especial. Dito mais detalhadamente, Deus fez as promessas para Abraão:
- eu farei de ti uma grande nação;
- eu te abençoarei;
- eu tornarei grande o teu nome;
- tu serás uma bênção;
- eu abençoarei os que te abençoarem;
- eu amaldiçoarei os que te amal-
diçoarem; - em ti serão abençoados todos os povos da terra; e
- eu te darei a terra de Canaã.
As promessas de Deus na aliança abraâmica eram incondicionais? Sim. Diga-se de passagem, nos tempos bíblicos havia dois tipos de alianças – umas estavam vinculadas a certas condições e outras não. Em uma aliança condicional era acrescentado um “se”. Esse tipo de aliança exigia que o povo atendesse determinadas obrigações ou condições antes que Deus tivesse que cumprir sua promessa. Caso o povo não correspondesse às condições, de maneira alguma Deus estaria obrigado a cumprir sua promessa.
Uma aliança incondicional não exigia tais condicionantes para que fosse cumprida. Não havia nenhum “se” vinculado a ela. O que Deus havia prometido, ele concedia soberanamente ao beneficiário da aliança, mesmo sem méritos (ou diante da falha destes). Alguns estudiosos chamam esse tipo de aliança de “aliança unilateral”. A aliança de Deus com Abraão era incondicional. Era caracterizada pelo “Eu quero” de Deus, o que permite reconhecer que Deus estava decidido a fazer aquilo que ele havia prometido.
De acordo com antigos costumes, após firmarem um acordo, os dois partidos repartiam um animal em duas partes iguais e passavam caminhando entre elas. Isso significava que ambos os lados eram responsáveis por cumprir as obrigações do acordo (cf. Jr 34.18-19). No caso da aliança abraâmica, somente Deus passou entre as metades do animal depois que Abraão havia caído num profundo sono. Isso demonstra que nessa aliança Deus havia feito promessas incondicionais a Abraão (Gn 15.17).
E qual é o significado da aliança davídica para a profecia bíblica? Deus firmou uma aliança com Davi, no qual ele fez a promessa de que um de seus descendentes reinaria para sempre (2Sm 7.12-13; 22.51). Este é mais um exemplo de aliança incondicional. Seu cumprimento não depende em nada de Davi. Davi reconheceu isso quando recebeu a promessa de Deus e reagiu humildemente reconhecendo a soberania de Deus sobre todos os aspectos da vida humana.
As três palavras-chave dessa aliança são “reino”, “casa” e “trono”. Essas palavras se referem ao futuro político de Israel. A palavra “casa” contém a ideia de uma “dinastia real”. Essa aliança encontra seu cumprimento definitivo em Jesus Cristo, que é da descendência de Davi (Mt 1.1) e que um dia reinará no trono de Davi em Jerusalém, no futuro reino milenar (Ez 36.1-12; Mq 4.1-5; Sf 3.14-20; Zc 14.3-11).
Antes do nascimento de Jesus, o anjo Gabriel apareceu diante de Maria e lhe falou: “Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo. Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim” (Lc 1.32-33, NAA). Gabriel usou três palavras importantes para descrever o futuro reinado de Cristo: “trono”, “casa” e “reino”. Cada uma delas é novamente encontrada na aliança que Deus celebrou com Davi, quando Deus fez a promessa que alguém da linhagem de Davi reinaria eternamente (2Sm 7.16). Provavelmente Maria, uma jovem judia piedosa, lembrou-se imediatamente dessa promessa do Antigo Testamento ao ouvir as palavras de Gabriel.
O que é a nova aliança? A nova aliança é um acordo incondicional que Deus celebrou com a humanidade, no qual ele promete perdoar seus pecados com base no sacrifício e na ressurreição de Jesus Cristo (Jr 31.31-34). Os adoradores nunca conseguiram sentir o pleno perdão sob a antiga aliança. No entanto, sob a nova aliança, Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, cumpriu a condição para tal perdão. Quando Jesus estava na sala superior, celebrando a ceia da Páscoa com seus discípulos, ele falou: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue...” (Lc 22.20; cf. 1Co 11.25). Por meio do seu sacrifício definitivo na cruz, Jesus fez tudo para proporcionar o perdão dos pecados. Essa nova aliança é a base para o nosso relacionamento com Deus no Novo Testamento.
Ron Rhodes