A Dádiva da Riqueza Insondável

Vamos dar uma breve olhada na insondável riqueza de Cristo na carta aos Efésios, a coroa das cartas de Paulo. Nela encontramos maravilhas que transcendem toda imaginação.

Um filho está sentado junto ao leito do pai agonizante e lhe pergunta: “Pai, você ainda tem algum desejo que eu possa satisfazer?”. E o pai responde: “Por favor, filho, leia para mim mais uma vez a carta aos Efésios”. Eles chegam até o segundo capítulo quando o pai morre, mas esses dois capítulos dizem o essencial sobre o estado eterno do cristão.

Na Bíblia GPS, o Dr. Ulrich Wendel escreve o seguinte sobre a carta aos Efésios: “A carta aos Efésios empolga-se com a abundância e a riqueza que os cristãos têm em Jesus [...] Os cristãos têm um maravilhoso futuro diante de si, para o qual o Espírito Santo neles é, por assim dizer, uma antecipação de pagamento”. – “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef 1.13-14).

Poderíamos chamar a carta aos Efésios de “coroa” de todas as cartas apostólicas porque nela todas as bênçãos em Jesus Cristo são expostas em sua forma mais elevada. Junto com as cartas aos Filipenses e Colossenses, a carta aos Efésios também é chamada de “coração” da literatura neotestamentária. Outros também chamam essas cartas de “cartas da perfeição”, porque “completam” o que as cartas precedentes de Paulo expuseram como verdade fundamental.

O professor Arno C. Gaebelein observa: “Deus, o Pai do nosso Senhor Jesus Cristo, agradou-se em oferecer-nos sua maior e mais maravilhosa revelação por meio do apóstolo Paulo. As duas cartas da prisão – aos Efésios e aos Colossenses – constituem essa complementação da Palavra de Deus. Entre elas, a carta aos Efésios tem preponderância. A revelação apresentada nessa carta sobre pecadores crentes que Deus redimiu por meio do sangue do seu Filho e nele colocou na mais alta posição é de longe a maior revelação. Deus revela seu próprio e amoroso coração e proclama por meio do seu Espírito o quanto nos amou, tendo pensado em nós antes da fundação do mundo. Ela demonstra a riqueza da sua graça, e então ele revela um mistério que havia ocultado desde antes das eras (cap. 3.9). Que grande riqueza é tudo isso! Assim como o próprio Deus, essa revelação que provém do seu coração amoroso também é inesgotável. Podemos falar da carta aos Efésios como da rica carta de Deus que misericordiosamente nos fala das exuberantes riquezas da sua graça e bondade para nós em Cristo Jesus (cap. 2.7). Entretanto, mesmo essa declaração não esgota nem metade da glória que essa maravilhosa carta encerra. A carta aos Efésios é o mais elevado e melhor documento de Deus. Mesmo Deus não pode dizer mais do que aquilo que disse na complementação da sua Palavra”.

E Henry Alford, que Gaebelin também cita, opina: “Quem estuda a carta aos Efésios ou também a Bíblia, a revelação de Deus, não deve pensar que é possível passar rapidamente por cima desses versículos. Não deve decepcionar-se caso no fim da semana ainda estiver ocupado com a mesma passagem ou até com o mesmo versículo. Ele aprenderá a estimar e julgar as matérias, se aprofundará aos poucos pelo poder do Espírito de Deus através de uma superfície externa até captar um ou outro filete que se ramifica até finalmente alcançar a linha principal da qual todos de ramificam e em que todos se reúnem. Então ele se alegrará com sua recompensa, ficará mais profundamente arraigado na fé e terá captado ainda melhor a verdade que se encontra em Cristo. E como em nenhuma parte da Escritura o maravilhoso efeito do Espírito da inspiração está mais evidente do que nesta carta, mais do que em qualquer outra parte se requer aqui a mentalidade espiritual que reconhece as coisas do Espírito”.

O versículo-chave é Efésios 3.8: “Embora eu seja o menor dos menores de todos os santos, foi-me concedida esta graça de anunciar aos gentios as insondáveis riquezas de Cristo”.

Poderíamos chamar a carta aos Efésios de “coroa” de todas as cartas apostólicas.

Redigida por Paulo na prisão entre os anos 60 e 62, era provavelmente uma carta circular a ser divulgada para além de Éfeso, entre as igrejas da província da Ásia. Por isso ela não contém nenhuma saudação pessoal ou saudações particulares a irmãos na fé, como se dá nas outras cartas do apóstolo Paulo. Alguns importantes manuscritos antigos também omitem na linha de saudação o endereçamento “em Éfeso” (Ef 1.1). Por outro lado, todos os manuscritos gregos contêm o título “Aos Efésios”. Junto com as cartas aos Filipenses e Colossenses, a carta aos Efésios faz parte das cartas paulinas da prisão, que ele escreveu de Roma (Ef 3.1; 4.1; 6.20). É verdade que a carta a Filemom também foi escrita da prisão, mas ela tem um outro objetivo e é muito pessoal.

A carta aos Efésios não parece ter nenhuma motivação negativa. Não é corretiva (como a carta aos Gálatas), não responde a problemas ou perguntas (como as cartas aos Coríntios ou Tessalonicenses), não se refere a alguma situação específica numa igreja nem alerta contra perigos em particular (como a carta aos Colossenses) e também não é uma carta pessoal (como as cartas a Timóteo, Tito ou Filemom). A carta aos Efésios é genérica e adequada para qualquer situação ou circunstância. Ela anuncia a verdade máxima sobre a igreja composta de judeus e gentios como corpo de Cristo, com Cristo como cabeça (Ef 1.23; 2.16; 3.6; 4.4,12,15; 5.23,29-30).

Arno C. Gaebelein: "Deus revela seu próprio e amoroso coração e proclama por meio do seu Espírito o quanto nos amou, tendo pensado em nós antes da fundação do mundo."

Na carta aos Efésios, Paulo focaliza dois pontos: primeiramente ele quer lembrar os cristãos das bênçãos espirituais sem medida em Cristo Jesus: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1.3). Enquanto, por exemplo, na carta aos Colossenses a ênfase está na grandeza e glória de Cristo, Efésios enfatiza a grandeza e glória daqueles que nele creem. Em segundo lugar, Paulo quer estimular com isso os crentes a aplicar fielmente na prática a sua vida de fé: “Como prisioneiro no Senhor, rogo-lhes que vivam de maneira digna da vocação que receberam” (Ef 4.1). – Enquanto os primeiros três capítulos tratam da vontade e do projeto de Deus para a salvação, os últimos três capítulos tratam da vontade do homem em obedecer.

Um tema-chave é “em” ou “por meio” de Cristo e a eleição nele (1.3-13,20). Trata-se das bênçãos celestes para a igreja, dos projetos eternos de Deus para a igreja, de seus mistérios relativos à igreja e da posição celestial da igreja. Nesse contexto, Paulo revela cinco verdades especiais sobre as regiões celestiais: elas são uma região de bênção (1.3), de força (1.19-20), de repouso (2.6), de proclamação (3.10) e de vitória (6.12).

Na carta aos Efésios importa menos a igreja local (como p.ex. nas epístolas pastorais), mas muito mais a igreja universal como corpo de Cristo. Por isso, Paulo quase não aborda a organização eclesiástica.

Justamente no período em que estava preso, Paulo escreveu as cartas mais “maravilhosas”, com as mais profundas verdades e revelações, aos efésios, filipenses e colossenses. Embora fisicamente preso, Paulo vivia a absoluta liberdade do espírito (6.20: “em correntes”, mas “com coragem”). Esta é uma mensagem por si mesma. Certa vez, Paulo escreveu: “Pelo qual sofro e até estou preso como criminoso; contudo a palavra de Deus não está presa” (2Tm 2.9). Tudo precisa contribuir para a glorificação de Deus. Assim, Jesus diz que Deus é glorificado por meio de tudo o que acontece (Jo 13.31). Para Pedro ele até disse que a morte dele glorificaria a Deus (Jo 21.19).

Paulo recebeu a maior luz a respeito de verdades celestiais na escuridão de uma prisão. Deus lhe deu o mais amplo espaço de conhecimento na estreiteza dos seus limites pessoais de atuação.

Paulo recebeu a maior luz a respeito de verdades celestiais na escuridão de uma prisão. Deus lhe deu o mais amplo espaço de conhecimento na estreiteza dos seus limites pessoais de atuação. Na prisão, o Senhor lhe revela a maior liberdade dos filhos de Deus. – Isto certamente também é uma condição desejada e usada pelo Espírito Santo para nos indicar que os cristãos não detêm promessas terrenas (em contraste com a antiga aliança e com Israel), mas espirituais e celestiais. Nas cartas doutrinárias lê-se extremamente pouco a respeito de que haveríamos de passar bem, mas muito sobre sofrimento, perseguição, fome e nudez, carência e morte, hostilização e provação. O objetivo das promessas não é o nosso bem-estar terreno, mas elas tratam principalmente dos bens espirituais e das bênçãos nas regiões celestiais e na eternidade. Alguém disse certa vez com muito acerto: “O cristianismo não pertence a esta criação. Ele pertence à eternidade”.

O que Deus faz, ele faz por amor e graça. E por meio dessas revelações na carta aos Efésios ele quer nos encorajar para nossa vida aqui na terra. A intenção é que desde já tenhamos um antegosto da eternidade, como uma entrada antes da refeição principal. E para a glória vindoura já recebemos o Espírito Santo como penhor e garantia. “Quando vocês ouviram e creram na palavra da verdade, o evangelho que os salvou, vocês foram selados em Cristo com o Espírito Santo da promessa, que é a garantia da nossa herança até a redenção daqueles que pertencem a Deus, para o louvor da sua glória” (Ef 1.13-14).

Paulo em Éfeso

Paulo chegou em Éfeso na sua segunda viagem missionária, mas ficou durante pouco tempo (At 18.19-21). Como sempre, buscou em primeiro lugar os judeus daquele local. Essa era claramente uma estratégia missionária, pois os judeus conheciam o Antigo Testamento e, com base nisso, Paulo era capaz de proclamar Jesus como o Messias prometido. Com os judeus que eram convertidos, ele tinha um bom fundamento para uma evangelização maior. Durante a sua terceira viagem missionária, Paulo ficou três anos inteiros na cidade, nos quais lecionou diariamente por dois anos (At 19.1–20.31). Coisas notáveis aconteceram durante esse tempo: os discípulos de João Batista foram convertidos (At 19.2-7); milagres extraordinários ocorreram (v. 11-12); os demônios reconheceram a autoridade do apóstolo – em contraste com os cristãos nominais (v. 13-16); um reavivamento eclodiu e ocultistas queimaram publicamente seus livros de feitiçaria (v. 17-20).

Contudo, imediatamente depois disso veio a reação do Diabo: Demétrio, o ourives que fazia miniaturas de prata para o templo da deusa Ártemis, causou uma revolta contra Paulo e seus colaboradores (v. 23-32). Depois disso, Paulo deixou Éfeso e viajou para a Macedônia (20.1). De Mileto, Paulo convocou os presbíteros de Éfeso e deu-lhes um emocionante discurso de despedida (20.17-38). Ele os lembrou mais uma vez de seu exemplo, de sua luta e devoção (v. 17-21,33) e de todo os ensinamentos de Deus que ele havia lhes transmitido (v. 20,27). Ele declarou que eles não o veriam novamente (v. 25,37-38), falou da responsabilidade dos presbíteros perante a igreja e advertiu que Satanás não estava dormindo (v. 28-31). Paulo distribuiu responsabilidades, introduziu coisas práticas e entregou tudo a Deus (v. 32). Por fim, os homens se reuniram para uma emocionante cena de despedida e uma oração de joelhos (v. 36-38).

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Janeiro 2020

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