Quando Israel desmoronará? – Parte 2

Quatro restaurações e um mistério

O Estado de Israel celebrou seus 75 anos de existência, e apesar de todo o empenho dos seus inimigos, o “monstro sionista” não foi lançado ao mar. Todavia, nem o Irã nem o Hamas de modo algum renunciaram ao seu objetivo de aniquilar Israel. A Bíblia, porém, mostra de forma marcante por que a luta deles será vã a longo prazo.

A restauração espiritual

Antes, porém, que os judeus que viverem naquela ocasião tenham acesso ao reino milenar, eles precisarão passar por uma restauração fundamental. Essa restauração espiritual é realizada pela nova aliança: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no seu coração as inscreverei” (Jr 31.33). Deus não registra mais a sua lei em tábuas de pedra, mortas e externas (Êx 31.18), mas nas vivas tábuas íntimas de carne do coração. Essa é a obra do Espírito Santo no novo nascimento.

O profeta Ezequiel também descreveu esse processo: “Eu lhes darei um coração novo e porei dentro de vocês um espírito novo. Tirarei de vocês o coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei dentro de vocês o meu Espírito e farei com que andem nos meus estatutos, guardem e observem os meus juízos” (Ez 36.26-27).

Paulo enfatizou a mesma verdade em 2Coríntios 3.3: “Vocês manifestam que são carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações”. Em seguida, ele acrescenta: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17).

Que evento maravilhoso será esse quando se cumprir Romanos 11.26: “E, assim, todo o Israel será salvo”!

A restauração nacional

No versículo 33 de Jeremias 31, Deus anuncia: “Eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo”. É cada vez mais maravilhoso!

Conforme já citamos, Deus preservou a identidade de Israel apesar da sua secular dispersão. Johann Wolfgang von Goethe disse certa vez:

“O povo israelita nunca prestou para muita coisa, tal como seus líderes, juízes, autoridades e profetas acusaram mil vezes; ele possui poucas virtudes e a maioria dos defeitos dos outros povos: mas, em termos de autonomia, firmeza, coragem e, quando tudo isso não valer mais, em persistência, não há quem o iguale. Trata-se do povo mais persistente da terra. Ele é, foi e permanecerá para glorificar o nome de Jeová por todos os tempos”.

O versículo 34 confirma que essa restauração nacional só ocorrerá no início do reino milenar: “Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: ‘Conheça o Senhor!’ Porque todos me conhecerão, desde o menor até o maior deles, diz o Senhor”.

Por que não haverá mais necessidade de evangelização? Não será mais necessária porque Jesus Cristo governará à vista de todos em Jerusalém!

O profeta Ezequiel também apontou para a mesma verdade. Segundo Roger Liebi, o livro de Ezequiel repete, até o capítulo 39, um total de 77 vezes uma espécie de refrão que diz, aproximadamente: “Vocês reconhecerão que eu sou o Senhor!” (p. ex., Ez 11.10). Todavia, a partir do capítulo 40, esse refrão não aparece mais nenhuma vez. Por quê? Porque nos capítulos 40–48 se descreve o templo e o Israel restaurado que desfruta da presença do Senhor em Jerusalém, e ali todos conhecerão o Senhor. Que maravilhosa restauração nacional!

A restauração jurídica

A restauração jurídica inclui também a questão da culpa. Israel já incorreu muitas vezes em culpa perante Deus e, infelizmente, continua fazendo isso até hoje. Por isso Deus acusa o seu povo: “Por que você grita por causa da sua ferida? Essa sua dor é incurável. Por causa da grandeza da sua maldade e da multidão dos seus pecados é que eu fiz estas coisas” (Jr 30.15).

Por mais terrível que isso soe, não muda nada no fato de que o período de sete anos de tribulação, o tempo de angústia para Jacó, será, antes de tudo, o juízo de Deus sobre o Israel descrente. A questão da culpa precisa ser resolvida. Todavia, como poderá Israel alguma vez se apresentar em seu estado pecaminoso diante do Deus santo? 

“O período de sete anos de tribulação, o tempo de angústia para Jacó, será, antes de tudo, o juízo de Deus sobre o Israel descrente.”

Isso só se torna possível porque Jesus Cristo pagou na cruz do Gólgota toda a culpa de Israel – bem como a sua e a minha. Ele, que nunca pecou, “foi traspassado por causa das nossas transgressões e esmagado por causa das nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas feridas fomos sarados” (Is 53.5).

“A quem Deus apresentou como propiciação, no seu sangue, mediante a fé. Deus fez isso para manifestar a sua justiça, por ter ele, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos, tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, a fim de que o próprio Deus seja justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.25-26).

O próprio Deus se assentou no banco dos réus, assumiu a justa sentença e pagou a dívida impagável! É só nessa base que se pode entender Jeremias 31.34b: “Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei”! Deus não age segundo o lema: “Ora, tudo isso não é tão trágico. Ignore!”. Não, a culpa sempre precisa ser expiada.

A segurança da restauração

A nova aliança, a restauração pessoal, nacional, jurídica – tudo isso foram promessas maravilhosas e quase incríveis para Israel!

No entanto, diante da injustiça do povo e do iminente juízo de Deus, alguém poderá perguntar: “Como posso ter certeza de que tudo isso acontecerá e que Israel não acabará sucumbindo?”.

Exatamente este é o ponto de que tratam os versículos 35-37 de Jeremias 31. Neles se responde finalmente de modo bem concreto a questão de quando Israel sucumbirá:

“Assim diz o Senhor, que dá o sol para a luz do dia e as leis fixas à lua e às estrelas para a luz da noite, que agita o mar e faz bramir as suas ondas; Senhor dos Exércitos é o seu nome. ‘Se estas leis fixas falharem diante de mim’, diz o Senhor, ‘também a descendência de Israel deixará de ser uma nação diante de mim para sempre.’ Assim diz o Senhor: ‘Se puderem ser medidos os céus lá em cima e sondados os fundamentos da terra cá embaixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel, por tudo o que fizeram’, diz o Senhor”.

A mais fácil de todas essas impossibilidades seria provavelmente modificar a lua: nas seis missões Apolo, os astronautas da NASA recolheram ao todo 382 quilos de rochas lunares. Quanto tempo demoraria para desmanchar a lua inteira? Com sua massa de 73,49 sextilhões de quilogramas, seria quase infinito.

O único que teria condições de alterar as condições planetárias e galácticas seria o próprio Criador. Mas “os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.29). Portanto, o futuro de Israel está plenamente assegurado.

Para convencer plenamente qualquer um que duvide de que Israel jamais sucumbirá – e nem poderá sucumbir – Jeremias confirmou essa declaração nada menos que duas vezes ao final do seu livrinho de consolo (33.19-26). Não é comovente?

Baseado nessa maravilhosa certeza, Paulo constata: “Então eu pergunto: será que Deus rejeitou o seu povo? De modo nenhum!” (Rm 11.1). O professor de Bíblia americano John MacArthur escreveu a respeito disso que “‘de modo nenhum’ é a expressão idiomática grega mais forte para rejeitar uma afirmativa. Ela expressa o horror diante do fato de alguém sequer ter podido pensar em duvidar do que se afirmou”.

A restauração topográfica

Portanto, a nova aliança trará uma restauração pessoal, nacional e jurídica do povo de Israel. Mas como ficará a própria terra? O povo voltará a viver em Eretz Israel e a possuir Jerusalém?

“A nova aliança trará uma restauração pessoal, nacional e jurídica do povo de Israel.”

“Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que esta cidade será reedificada para o Senhor, desde a Torre de Hananel até o Portão da Esquina. O cordel de medir se estenderá em linha reta até a colina de Gerebe, e depois se virará na direção de Goa. Todo o vale dos cadáveres e da cinza e todos os campos até o ribeiro de Cedrom, até a esquina do Portão dos Cavalos para o leste, serão consagrados ao Senhor. Esta Jerusalém jamais será arrancada ou destruída” (Jr 31.38-40).

Esses dois versículos descrevem a topografia da nova Jerusalém, bem como sua função e seu futuro. As condições descritas aqui ainda não se cumpriram na história de Israel.

O historiador e arqueólogo americano Eric H. Cline disse que “por nenhuma outra cidade se lutou em sua história tão encarniçadamente como por Jerusalém”. Cline enumerou “pelo menos 118 diferentes conflitos em Jerusalém e em seu redor durante os últimos quatro milênios”. Ele calculou também que Jerusalém foi pelo menos duas vezes destruída integralmente, foi sitiada 23 vezes, conquistada 44 vezes e atacada 52 vezes.

À luz disso, talvez entendamos melhor o alcance da declaração final da passagem em exame aqui, de que “Jerusalém jamais será arrancada ou destruída” (v. 40).

Além disso, Jeremias profetizou que a “cidade será reedificada para o Senhor” e que será “consagrad[a] ao Senhor”. Israel verá o cumprimento literal dessa predição durante o reino milenar. Jerusalém passará por grandes alterações topográficas, provavelmente em razão de movimentos tectônicos. O profeta Zacarias descreveu como segue essas mudanças: “Toda a terra se tornará em planície, desde Geba até Rimom, ao sul de Jerusalém. Mas Jerusalém será exaltada e habitada no seu lugar, desde o Portão de Benjamim até o lugar do primeiro portão, até o Portão da Esquina e desde a Torre de Hananel até os lagares do rei” (Zc 14.10).

“[Sobre Jerusalém], Jeremias profetizou que a ‘cidade será reedificada para o Senhor’ e que será ‘consagrad[a] ao Senhor’.”

Com isso, também se deverá formar um novo platô para permitir ali a construção do templo do reino milenar, que ocupará uma área quadrada de um quilômetro e meio de lado.

A que se destinará o templo? Jesus Cristo, o Príncipe da Paz, habitará pessoalmente nele. Por isso, também, Jerusalém ganhará um novo nome: “E o nome da cidade desde aquele dia será: ‘O Senhor Está Ali’” (Ez 48.35).

O mistério do povo de Israel

Mark Twain (1835–1910), escritor e viajante mundial, escreveu em 1899:

“Se as estatísticas estiverem corretas, os judeus compõem apenas um por cento da humanidade – uma faísca insignificante no brilho da Via Láctea. Normalmente, mal se deveria ouvir algo a respeito do judeu, mas mesmo assim ouvimos constantemente alguma coisa a respeito dele. Sua fama compete com a de qualquer outro povo da terra, e sua importância na economia e no comércio é fora de qualquer proporção com sua população. Sua participação em literatura, ciências naturais, arte, música, finanças, medicina e profunda erudição também é admirável. Ele se impôs grandiosamente no mundo por todos estes séculos – e isso com as mãos amarradas às costas. Ele poderia com razão ser arrogante e orgulhoso de si mesmo. Os egípcios, babilônios e persas assumiram o poder, encheram a terra com seu brilho e seu sons e se acabaram. Os gregos e os romanos os seguiram, fizeram muito barulho e desapareceram. Outros povos se ergueram, sua tocha brilhou por algum tempo e depois se apagou. Hoje estão na penumbra ou desapareceram completamente. O judeu viu todos eles, venceu todos e é hoje o que ele sempre foi: não revela decadência, nenhum sinal de envelhecimento, nenhuma debilidade, nenhum declínio da energia e nenhum embotamento do seu espírito alerta e dinâmico. Todas as coisas são mortais, exceto o judeu; todas as outras forças passam, ele permanece. Qual será o segredo da sua imortalidade?”.

O segredo está na eleição e no chamado de Israel pelo único Deus verdadeiro, eterno e vivo! “Com amor eterno eu a amei; por isso, com bondade a atraí” (Jr 31.3).

Conclusão

Os dez versículos de Jeremias 31 que examinamos aqui estão entre os mais maravilhosos do Antigo Testamento. Eles demonstram com fortes argumentos que Israel está seguro nas mãos de Deus, mesmo nos períodos de maior desgraça e tribulação.

“Todas essas promessas [de Deus] se cumprirão com certeza. Israel não sucumbirá!”

Deus promete o seguinte ao seu povo:

  1. Uma nova aliança: “Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá”.
  2. Restauração espiritual: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no seu coração as inscreverei”.
  3. Restauração nacional: “Eu serei o Deus deles, e eles serão o meu povo”.
  4. Restauração jurídica: “Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei”.
  5. Certeza da restauração: “Se puderem ser medidos os céus lá em cima e sondados os fundamentos da terra cá embaixo, também eu rejeitarei toda a descendência de Israel”.
  6. Restauração topográfica: Jerusalém será “reedificada para o Senhor... jamais será arrancada ou destruída”.

Todas essas promessas se cumprirão com certeza. Israel não sucumbirá!

Assim também nós, filhos renascidos de Deus, podemos saber que Jesus Cristo certamente atingirá o alvo com a nossa vida (cf. Fp 1.6). Da mesma forma podemos ter certeza de que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28) e que nada “poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.39).

Se você ainda não for um filho de Deus, confie hoje a sua vida a Jesus Cristo. Ele perdoará também os seus malfeitos e não se lembrará mais do seu pecado.

Fredy Peter é responsável pelo trabalho de relações públicas e publicações da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Outubro 2023

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