Haifa, setembro de 2023
A revolta Wagner fez o mundo prender a respiração por um dia antes do seu término surpreendentemente súbito. Como terminaria um movimento assim diante de Moscou? Quais seriam as consequências? Surgiram as mais fantásticas especulações.
Também do ponto de vista bíblico existem algumas questões difíceis relacionadas com a Rússia. No Ocidente, predomina em geral uma postura antirrussa. Qual é a razão disso? Por um lado, o Ocidente sempre temeu que a Rússia se tornasse excessivamente poderosa, mas existe ainda um motivo mais profundo por trás dessa rejeição.
Já faz tempo que existe na interpretação da profecia bíblica a opinião de que o Gogue da terra de Magogue em Ezequiel 38 se refira à Rússia. O argumento é simples: consta ali que Gogue virá do extremo norte, e é fato que Moscou e a Rússia estão exatamente ao norte de Israel no mapa-múndi. Por isso essa mensagem profética também parece encaixar-se perfeitamente na Rússia.
No entanto, não se deveria interpretar a Bíblia com base em nossos conhecimentos modernos. Jeremias também fala da terra do norte e usa um termo ainda mais extremo: “terra do Norte”, “dos confins da terra” (Jr 6.22), e se recorrermos a Jr 25.9 como comparação, vemos que a referência é a Babel e a Nabucodonosor. Para os autores da Bíblia, Babel e as terras pertencentes a ela eram o extremo norte, o fim do mundo. O que ficava ainda mais ao norte nem se conhecia.
Os exegetas dizem então que os povos a que se refere Ezequiel 38 migraram mais tarde para o norte, formando o que hoje é a Rússia, mas não existe comprovação histórica para isso. Antes, pode-se supor que a profecia de Ezequiel se limite à região dos povos da sua época. Hoje dominam ali nações muçulmanas, principalmente a Turquia.
Podemos recorrer a Edom para uma comparação. Com surpreendente frequência, a profecia escatológica fala de Edom, como em Isaías 34.5-10 ou Isaías 63.1-6. O povo edomita não existe mais, mas sabemos exatamente onde se localizava o território de Edom.
É difícil imaginar que a Rússia, que hoje nem sequer consegue dar conta do conflito com a Ucrânia, arriscará uma campanha como aquela a que Ezequiel se refere. Vemos, porém, outros que só estão à espera de um sinal de partida para atacar Israel e o Oriente Próximo – acima de todos, o Irã. Israel tem razão em focar sua atenção nesses países. Mais difícil é dizer que papel caberá à Rússia quando esse esperado ataque a Israel se desencadear, mas, genericamente, observa-se que tudo o que a Rússia faz é visto no Ocidente de forma negativa ou no mínimo com desconfiança e suspeita.
Quando, em 2017, Putin reconheceu Jerusalém Ocidental como capital de Israel, poucos se importaram com aquilo. Mal despertou o interesse da imprensa mundial ou cristã. Hoje a Rússia está negociando com Jerusalém sobre a instalação de uma embaixada ali, e também isso pouco parece interessar a alguém mundo afora.
Quando o presidente americano Donald Trump fez o mesmo, foi grande a gritaria da mídia em todo o mundo. No entanto, não se deu atenção ao fato de que também Trump não reconhecera Jerusalém Oriental como parte da capital israelense – e os EUA continuam defendendo a solução de dois estados. Israel precisa mesmo realizar um malabarismo político para não prejudicar seu relacionamento nem com os EUA nem com a Rússia.
Confiando naquele que tudo dirige de modo a cumprir suas intenções, saúdo a todos cordialmente com Shalom, Fredi Winkler.