Ódio a cristãos

Na primavera de 2023, a emissora de TV alemã ARTE, financiada pelo Estado, irradiou sob o título “Evangélicos – ao poder com Deus” um documentário tríplice sobre cristãos evangélicos. Infelizmente, porém, a emissora perdeu a chance de informar de modo objetivo sobre a fé e a vida de um grupo cristão. Como matérias cristãs são cada vez menos conhecidas, elas frequentemente são ignoradas ou registradas apenas por meio de clichês e preconceitos. Com isso, cada vez mais os cristãos e posições cristãs tornam-se genericamente suspeitos. Embora em muitas questões éticas os evangélicos e católicos assumam posições muito semelhantes, numa referência ao Brasil o documentário se esforça em projetar posições profundamente opostas. O crescimento das igrejas evangélicas seria um problema social para esse grande país sul-americano. Essa afirmativa é então fundamentada unicamente no fato de que cristãos convictos preferem eleger um partido político que promete defender os seus valores éticos. É extremamente problemático acusar cristãos apenas em função de uma visão de mundo de tendência predominantemente esquerdista porque, afinal, eles não votam politicamente contra suas convicções éticas. Assim, por exemplo, também as tensões sociais em torno da legalização do aborto são debitadas unilateralmente aos cristãos evangélicos, embora estes apenas defendam uma noção de direito válida há séculos. Não são apenas os cristãos evangélicos que enxergam um problema na contínua expansão do aborto ou da relativização de relações conjugais fiéis. Trata-se de valores que há séculos são defendidos também pelas igrejas católica, ortodoxa, armênia, copta e aramaica. Por outro lado, quase nada se menciona, por exemplo, sobre o amplo engajamento social de cristãos evangélicos, sobre seu trabalho pedagógico diferenciado ou sua assistência espiritual prática, que auxiliam milhões de pessoas. Se tais argumentações fossem aplicadas a outros grupos sociais, apareceria com justiça uma fundamentada suspeita de divulgação de uma teoria conspiratória. A vida diária real dos cristãos evangélicos quase não se ocupa de política e muito menos com a eliminação da democracia. Enquanto isso, porém, eles são requisitados com frequência cada vez maior como bodes expiatórios políticos. Pode-se quase ter a impressão de uma incitação dirigida ao ódio contra grupos religiosos.

factum-magazin.ch

sumário Revista Chamada Setembro 2023

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