O milagre da fundação do Estado de Israel

Passados 75 anos desde a fundação do seu Estado, muitos veem como normal a existência de Israel. No entanto, se olharmos para a história, isso é tudo, menos óbvio. Não é nada menos que um milagre de Deus profetizado na Bíblia.

“Quem não crê em milagres, não é realista”, disse David Ben Gurion, o primeiro premiê de Israel. Ele disse mais uma coisa marcante em seu discurso por ocasião da fundação do Estado em 14 de maio de 1948: “Ficamos dois mil anos esperando por esta hora – e agora aconteceu. Quando o tempo se cumpre, nada pode resistir a Deus”. Embora os judeus tivessem acabado de escapar do Holocausto, embora não lhes fosse facilitada a imigração para a terra dos seus pais e apesar de nessa terra eles serem combatidos por uma supremacia de nações inimigas, o milagre ocorreu: o Estado de Israel nasceu em 14 de maio de 1948. Mas para quê?

Como e por que ocorreu a primeira recondução de judeus ao Estado de Israel

Quando Israel se encontrava no exílio babilônico, o Senhor limitou de antemão a 70 anos o domínio da Babilônia. “Assim diz o Senhor: ‘Logo que se cumprirem para a Babilônia setenta anos, atentarei para vocês e cumprirei a promessa que fiz a vocês, trazendo-os de volta a este lugar’” (Jr 29.10). Antes de tudo, porém, vejamos algumas cifras: em 614 a.C., os babilônios conquistam Assur, a capital da Assíria. Em 612 a.C., os babilônios tomam a metrópole Nínive. Em 609 a.C., os babilônios vencem Harã e o rei assírio. Com isso, acaba-se o império assírio, e a Babilônia torna-se uma potência mundial sem limites. Em 538/539 a.C., porém, os persas subjugam os babilônios e tornam-se potência mundial em lugar deles. O resultado de 609 menos 70 é 539.

Por esse tempo, o rei persa Ciro permitiu aos judeus o retorno à sua pátria e a reconstrução do templo. Naquela ocasião, Deus disse a respeito de Ciro: “Assim diz o Senhor ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela não direita, para submeter as nações diante dele, para desarmar os reis, e para abrir diante dele os portões, que não se fecharão: Por amor do meu servo Jacó e de Israel, meu escolhido, eu o chamei pelo seu nome e lhe dei um título de honra, mesmo que você não me conheça” (Is 45.1,4). Deus exaltou um soberano pagão. Fez dele um instrumento seu, concedeu-lhe o poderio mundial por amor a Israel e por sua divina fidelidade. Mas já nesse ponto não se tratava apenas de Israel, mas principalmente do maior dos judeus, o Messias que viria. Isso responde ao “para quê” do primeiro retorno e a restauração do Estado de Israel.

Deus move potências e potentados mundiais até o imperador Augusto. Faz ruir uma potência mundial e põe outra no lugar dela. Move o coração de um homem que nem conhecia Deus. Todo um povo pôde retornar pouco a pouco. Jerusalém, o templo e o muro foram reconstruídos e os judeus voltaram a repovoar a terra. Tudo isso era parte da resolução e do plano de salvação de Deus a fim de que o Salvador pudesse vir ao mundo: “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).

Depois da rejeição do Messias por Israel, ocorreu o cerco romano. O templo foi destruído em 70 d.C., no mesmo dia do ano em que ocorreu a destruição do primeiro templo pelos babilônicos em 586 a.C. (9 de Av [Tish beAv]). Conforme Jesus profetizara, a cidade foi arrasada de modo a não ficar pedra sobre pedra, o que ocorreu sob o imperador romano Adriano depois da rebelião de Barcoquebas em 135 d.C. – outra vez no mesmo dia do ano.

1. Destruição em 9 de Av de 568 a.C. pela Babilônia;

2. Destruição em 9 de Av de 70 d.C. por Roma (Tito);

3. Destruição em 9 de Av de 135 d.C. por Roma (Adriano).

Na ocasião, os judeus foram deportados para todos os cantos do Império Romano. A maior tragédia, porém, foi o Holocausto durante o Terceiro Reich. Jesus profetizara: “Jerusalém, Jerusalém! Você mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Pois eu lhes afirmo que desde agora, não me verão mais, até que venham a dizer: ‘Bendito o que vem em nome do Senhor!’” (Mt 23.37-39). A palavrinha “até” representa uma poderosa indicação profética. Ela indica que a dispersão não seria definitiva e que chegaria o dia em que Israel voltaria a dar boas-vindas ao seu Messias.

Desde 1948 existe um Estado judeu independente. Os judeus estão retornando de todos os continentes e se encontram novamente em sua pátria. Mas para quê? Para que o Messias, que já esteve lá uma vez, possa voltar e levar tudo a termo.

Como e por que ocorreu o segundo retorno dos judeus e se formou o Estado de Israel

Vamos direto ao ponto: para o retorno de Jesus em glória e para o estabelecimento do seu reino messiânico. Isso ocorre de modo muito similar ao da primeira vez. Os paralelos chamam atenção.

O Onipotente voltou a lançar mão de potências e potentados mundiais para os seus propósitos. Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha se aliou aos turcos otomanos, que haviam ocupado Israel desde 1517, contra os ingleses e o resto do mundo. Os ingleses eram ou se tornaram uma potência mundial (a Grã-Bretanha), e mais tarde (em 1920) receberam o mandato da Liga das Nações sobre a Palestina. Os ingleses ganharam a guerra contra a Alemanha e libertaram a Palestina do domínio turco de mais de 400 anos. Isso soa como um paralelo entre a Babilônia e a Pérsia. Finalmente acabaram ganhando a guerra graças ao judeu inglês dr. Chaim Weizmann. Ele era químico e descobriu um método de produção artificial de acetona, necessária na produção de explosivos. Essa descoberta foi decisiva para a vitória da Inglaterra na guerra.

É claro que com isso Weizmann ganhou grande influência, graças à qual ele obteve a famosa Declaração Balfour: a promessa da Grã-Bretanha de prover aos judeus uma pátria na Palestina. Arthur Balfour, o ministro das relações exteriores britânico, declarou em uma carta a Lord Lionel Walter de Rothschild: “O governo de Sua Majestade considera com benevolência o estabelecimento de um lar nacional para o povo judeu na Palestina e envidará seus melhores esforços para facilitar a realização desse objetivo...”. Comparemos isso com as declarações do rei pesa Ciro: “Assim diz Ciro, rei da Pérsia: ‘O Senhor, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra e me encarregou de lhe edificar um templo em Jerusalém, que fica em Judá. Aquele dentre vocês que for do seu povo, que o seu Deus esteja com ele e que suba para Jerusalém, que fica em Judá, e edifique a casa do Senhor, Deus de Israel; ele é o Deus que está em Jerusalém’” (Ed 1.2-3).

O futuro ainda traria muitos transtornos. Irrompeu a Segunda Guerra Mundial e houve a matança de mais de seis milhões de judeus na Europa pelos nazistas. Aqui temos mais paralelos interessantes.

Assim como na ocasião do primeiro retorno, Deus novamente lançou mão dos gentios a favor do seu povo. Assim como Deus usou Ciro no passado, mais tarde ele usou Balfour e a realeza britânica. Depois que os persas sob Ciro concederam aos judeus a liberdade de retornarem à sua terra, alguns aceitaram a oferta e voltaram, mas não foram todos (42 360, cf. Ed 2.64). Sobre aqueles que ficaram, abateu-se mais tarde a perseguição sob Hamã relatada no livro de Ester.

Depois da promessa da Grã-Bretanha de um lar para os judeus, muitos retornaram, mas não foram todos. Sobre estes abateu-se a perseguição sob Hitler. E assim como o próprio Hamã morreu na forca que ele erigira para Mardoqueu, Hitler sucumbiu do modo como ele começou a extinguir os judeus: por fuzilamento, cianeto e fogo. E assim como os dez filhos de Hamã foram executados, dez colaboradores próximos de Hitler foram condenados à morte no processo de Nuremberg.

Em 16 de outubro de 1946, dez dos principais responsáveis nazistas foram enforcados. Um destes era Julius Streicher, editor do periódico agitador antissemita Der Stürmer e principal propagandista de um grosseiro antissemitismo. Por causa do seu conhecimento das festas judaicas, ele percebeu instantes antes da execução que havia agora exatamente dez condenados à forca (como no livro de Ester). Segundos antes da sua execução, ele ainda exclamou: “Festa do Purim de 1946!”.

Embora os persas assegurassem sob Ciro a pátria aos judeus, foram mais tarde os persas sob Artaxerxes que inibiram a obra em Israel (Ed 1). “Depois que a cópia da carta do rei Artaxerxes foi lida diante de Reum, de Sinsai, o escrivão, e dos seus companheiros, eles foram depressa a Jerusalém, aos judeus e, de mão armada, os forçaram a parar a obra. Assim, a obra da Casa de Deus, em Jerusalém, foi interrompida; e isso até o segundo ano do reinado de Dario, rei da Pérsia” (Ed 4.23-24). Isso é comparável aos eventos do século XX. Depois de a Grã-Bretanha ter assegurado aos judeus a sua terra, mais tarde (em 1947) foram os britânicos que dificultaram o retorno dos judeus, impedindo-os à força. Vale lembrar o exemplo do Exodus, um navio que pretendia levar judeus da Europa para Israel. Primeiro os britânicos promoveram um bloqueio marinho, em seguida o navio foi invadido e depois levado para Haifa, onde os judeus foram presos e reenviados de volta para a Alemanha.

Por ocasião do primeiro retorno dos judeus, um “trabalho jornalístico” foi o que possibilitou aos judeus continuarem com o trabalho em Jerusalém sob o rei persa Dario. Os profetas Ageu e Zacarias animaram os judeus, e assim Deus chegou a utilizar até uma carta dos inimigos para permitir a continuação do trabalho em Jerusalém (cf. Ed 5–6). A virada de página ocorreu quando Dario leu a carta e, diante dela, decidiu-se contra os inimigos e a favor de Israel.

“O profeta Ageu e o profeta Zacarias, filho de Ido, profetizaram aos judeus que estavam em Judá e em Jerusalém, em nome do Deus de Israel, que estava sobre eles. Então Zorobabel, filho de Sealtiel, e Jesua, filho de Jozadaque, começaram a reconstruir a Casa de Deus, em Jerusalém. Os referidos profetas de Deus estavam com eles e os ajudavam. Nesse tempo, Tatenai, governador da região deste lado do Eufrates, e Setar-Bozenai e os seus companheiros vieram até eles e assim lhes perguntaram: ‘Quem deu ordem para vocês reconstruírem este templo e restaurarem esta muralha?’ Porém os olhos de Deus estavam sobre os anciãos dos judeus, de maneira que não foram obrigados a parar, até que o assunto chegasse a Dario, e viesse resposta por carta sobre isso” (Ed 5.1-3,5). A carta é então submetida ao rei Dario. Ele então, requereu pesquisas nos arquivos e encontrou o decreto do rei Ciro (cf. 6.2). “Em Ecbatana, a fortaleza que está na província da Média, se achou um rolo, e nele estava escrito um memorial que dizia assim: ‘O rei Ciro, no primeiro ano do seu reinado, baixou o seguinte decreto: Com respeito à Casa de Deus, em Jerusalém, ela deve ser reconstruída...’” (Ed 6.2-3). Com base nisso, Dario autorizou a reconstrução de Jerusalém.

Quando os ingleses, que inicialmente foram a favor do Estado de Israel e depois inibiram os judeus de edificá-lo, interditaram o navio Exodus, o trabalho de jornalistas seculares foi o que obrigou a Inglaterra a se render. Também naquele tempo havia um encorajador. A bordo do navio estava o reverendo americano John Stanley Grauel, que os ingleses não puderam prender porque era cidadão americano. No entanto, impuseram-lhe prisão domiciliar em um hotel em Haifa. Mas foi bem nesse hotel que havia jornalistas ocidentais hospedados. Instruídos pelo reverendo Grauel, eles começaram a agir em favor de uma mudança de clima dento do UNSCOP (um comitê especial da assembleia extraordinária das Nações Unidas). Com isso, a comissão se dispôs a apoiar o Estado judeu. Essas circunstâncias fizeram com que a Declaração Balfour fosse aplicada. Em 29 de novembro de 1947, o plano de partilha da Palestina foi aprovado pela Assembleia Geral da ONU na forma da resolução 181 (II).

Nos eventos do primeiro retorno dos judeus destacaram-se (entre outros) três protagonistas: Esdras, Neemias e, mais tarde, Ester – dois homens e uma mulher. No segundo retorno foram (entre outros): Ben Gurion (1º premiê), Chaim Weizmann (1º presidente) e, anos depois, Golda Meir (também premiê); portanto, também aqui dois homens e uma mulher.

Por que o Estado judeu é necessário

O Estado judeu não é casual, não é produto de algum capricho das nações. O Estado judeu é a obra de Deus que, de forma invisível, exerce o controle e usa as nações para a sua causa. O retorno do Senhor requer esse Estado, porque é só assim que a profecia bíblica pode ser cumprida plenamente. A atual existência de Israel corresponde a um penhor pelo retorno de Jesus, que é real e se aproxima sem que nada possa detê-lo.

Apocalipse anuncia o cumprimento final da história de Deus com Israel quando novamente trata do reino vindouro. Este se concretiza na terra judia (cf. Mt 24.14; Ap 11.15; 12.10; 19.6). Apocalipse trata de Jerusalém (cf. Ap 11.8; 20.9) e também de Sião (cf. Ap 14.1). Tematiza-se a Arca da Aliança (Ap 11.19). O povo judeu volta a ocupar o centro (cf. Ap 7; 11; 12; os 144 mil, as duas testemunhas, a mulher). A terra (Estado) é citada profeticamente (cf. Ap 13.1,11). Apocalipse menciona um templo, e deixa claro que Israel desempenha um grande papel escatológico.

Na ascensão de Jesus, os anjos disseram que em seu retorno tudo seria tal como era quando ele deixou Israel (At 1.11). Naquela ocasião havia um Estado, o monte das Oliveiras, um povo judeu, a capital Jerusalém, um judaísmo religioso, um judaísmo crente em Jesus etc.

Hoje Deus vem reedificando fisicamente o tabernáculo de Davi em ruínas para fazer o mesmo também espiritualmente, após o arrebatamento da igreja. “‘Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi. Vou reparar as suas brechas e levantá-lo das suas ruínas. Vou restaurá-lo, para que volte a ser como era nos dias da antiguidade. Mudarei a sorte do meu povo de Israel. Eles reedificarão as cidades destruídas e nelas habitarão. Plantarão vinhas e beberão o seu vinho; farão pomares e comerão dos seus frutos. Eu os plantarei na sua terra, e, dessa terra que lhes dei, nunca mais serão arrancados’, diz o Senhor, seu Deus” (Am 9.11,14-15). Essa declaração só pode referir-se aos tempos finais, porque na primeira vinda de Jesus Israel ainda foi mais uma vez arrancado.

Esse fato esclarece uma afirmativa durante o concílio dos apóstolos que teve lugar depois da ascensão de Jesus: “Com isso concordam as palavras dos profetas, como está escrito: ‘Depois disso, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; reedificarei as suas ruínas e o restaurarei’” (At 15.15-16). É raro se reconstruir uma casa degradada. Normalmente ela é demolida totalmente, para então se construir uma nova no lugar. Nos casos, porém, em que uma casa degradada é restaurada, esta muitas vezes tem valor histórico. Deseja-se destacar a história, conectar-se com ela e torná-la digna de atenção. É isso o que Deus fará com Israel. As duas passagens citadas acima estão entre as indicações neotestamentárias mais enfáticas sobre o futuro de Israel no reino messiânico.

Tiago era meio-irmão de Jesus, líder da igreja em Jerusalém e uma reconhecida autoridade (cf. Gl 1.19; 2.9). Concordando com Pedro, ele declara que os gentios são agora integrados oficialmente na igreja composta de judeus. Antes de Deus retomar o fio da meada com Israel como nação, ele “primeiro” ajuntou dentre os gentios um povo para o seu nome: a igreja. Tiago cita isso como motivo para Israel não ser mais preponderante como nação, mas que precisa retroceder. Para isso, Tiago lança mão de uma declaração do profeta Amós, que cita no versículo 16. Só “depois disso”, ou seja, depois do encerramento da era da igreja, o Senhor Jesus Cristo retornará em glória para dedicar-se novamente a Israel e reconstruir o tabernáculo caído de Davi (cf. v. 16). Comprova-se assim que a história de Israel não foi cancelada, mas apenas adiada.

Depois desses eventos, a população remanescente buscará o Senhor (cf. v. 17), tanto os judeus como também os gentios. Trata-se aqui de pessoas que se converterem durante a tribulação, após a era da igreja. Depois que Israel estiver restaurado no reino messiânico, os israelitas agora crentes alcançarão também as nações restantes.

Sequência:

1. Israel debaixo da lei;

2. Convocação dos gentios para formação da igreja;

3. Encerramento da era da igreja: Jesus retorna para arrebatar sua igreja;

4. Retorno de Jesus para restaurar Israel;

5. Alcance das outras nações no reino messiânico.

Deus conhece suas obras desde a eternidade. Tudo provém do plano de salvação do Senhor e está sujeito à maravilhosa resolução do Onipotente. Não há como exagerar na gratidão e no louvor por estarmos incluídos nesse maravilhoso plano como membros da igreja. Por esse motivo também não estamos sujeitos à aliança da Lei do Sinai que Deus celebrou com Israel (cf. v. 19-20). Fomos chamados para uma lei superior e mais perfeita – a lei de Cristo.

Por trás da história do milagre do Estado de Israel, a mão de Deus fica claramente visível. Alguém disse uma vez quanto à atuação de Deus com Israel: “A esperança de uma nação também pode ser a âncora para a alma do indivíduo. Todos precisam de uma perspectiva para o futuro”.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Agosto 2023

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