O dilema do papa católico Francisco

Os católicos conservadores encontram-se diante de um dilema: eles consideram que a postura do papa Francisco se mostra cada vez mais liberal e temem o dia em que o papa, com sua autoridade, possa publicar um documento qualquer que claramente propague falsas doutrinas (p. ex.: a legitimação teológica do casamento homossexual). O jornalista católico Ross Douthat e o cardeal Raymond Burke comentaram sobre esse possível cenário.

O problema: de acordo com o entendimento inspirativo romano, nenhum papa pode transformar falsas doutrinas em dogmas. Isso é impossível. Dito com outras palavras: quando o papa confirma oficialmente como dogma algo que os conservadores consideram como uma falsa doutrina, então estes automaticamente são considerados falsos doutrinadores, pois, no catolicismo, tudo o que é contrário ao conceito de ensino procedente da cadeira papal é considerado como falsa doutrina. Até hoje os católicos conservadores acreditavam que o Espírito Santo preservava a cadeira de Pedro diante das falsas doutrinas. É verdade que, individualmente, os papas podem errar, mas, de acordo com a concepção católico-romana, no momento em que eles falam ex cathedra (lit. “a partir da cadeira”) e propagam um posicionamento de fé como doutrina oficial da igreja, isso teria sido dito pelo Espírito Santo. O último a fazê-lo foi o papa Pio XII, em 1950, quando declarou como dogma a chegada corporal da virgem Maria no céu. Para a maioria dos católicos isso não causou problema algum, pois essa doutrina já fazia parte anteriormente de sua base de fé (mesmo que não fosse dogma). Os conservadores, a exemplo do cardeal Burke, temem o real perigo de que a qualquer momento o papa Francisco possa declarar como dogma algo que não considerem como parte de sua base de fé. Isso, por sua vez, significaria que os católicos conservadores poderão tornar-se algo que eles jamais gostariam de ser (e de fato nem podem ser no catolicismo): protestantes.

sumário Revista Chamada Fevereiro 2020

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