Como será o paraíso?

O céu será um lugar de recompensas distribuídas pelo próprio Redentor. Ao longo dos séculos, ele registrou tudo minuciosamente, de forma precisa e completa. Ele não descansará até que tudo que foi feito a favor dele venha à luz, e então sua benignidade recompensará a benignidade dos seus. Isso se dará diante do tribunal de Cristo, também chamado de tribunal de Deus. Muitas pessoas se assustam ao ouvirem essa expressão, porque só pensam em um juiz que julgará condenados. Nesse caso, porém, seria melhor imaginarem uma tribuna em que um juiz premiador distribui prêmios aos competidores. Ali o assunto não será contravenções, mas se julgará em que medida o crente levou sua vida dedicando-a a Deus.

Os pecados do crente já foram julgados na cruz do Gólgota, onde Cristo pagou plena e definitivamente por sua culpa. Deus não requer pagamento em dobro. A questão ali não é mais a salvação, mas o serviço. Diante do trono do juiz se apreciará a vida e o serviço de cada crente. Tudo o que se faz para a glória de Deus – e que Paulo chama de ouro, prata e pedras preciosas – será recompensado. Todo o restante – madeira, feno e palha – será rejeitado como indigno.

Não é segredo qual será o critério que o juiz aplicará na distribuição das recompensas. Ele expôs tudo claramente, de modo que podemos saber de antemão como podemos sair ganhando. Eis aqui alguns pontos que ele observará.

Fidelidade será recompensada mais do que sucesso (Mt 25.21,23; 1Co 4.2). Nem sempre conseguiremos ter sucesso, mas fiéis podemos ser. Não importa a medida de um dom ou capacidade que alguém tenha, mas como o tiver aplicado (Mt 25.15-28; Lc 19.13-28). Não somos todos iguais. Felizmente, o Senhor nos julgará de acordo com o modo como aplicamos aquilo que ele nos deu. Não é o tipo de serviço que importa, mas a postura espiritual com a qual ele tenha sido executado (Cl 3.22-24).

Importa fazer tudo para o Senhor e não para os homens. Cabe lembrar que o Senhor não aprecia tentativas de negociar com ele (Mt 19.27-30). Até o desejo de fazer algo será premiado se for impossível colocar aquilo em prática (1Rs 8.18; 2Co 8.12). Davi não teve permissão de construir o templo, mas Deus o elogiou por ele ter esse desejo no coração.

O que conta não é a quantidade, mas a qualidade (Mt 10.42; Lc 21.2). A viúva que ofereceu apenas duas moedinhas é um exemplo permanente disso. Não se trata de como nós mesmos julgamos o nosso serviço, mas como o Senhor o faz (Mt 25.37-40). Haverá grandes obras de que nos orgulhamos e que, naquele dia, ele revelará como pecado, e feitos menores, que mal consideramos, ele recompensará por terem sido feitos por amor a ele.

Também não se trata de como outros enxergam, mas o que Deus enxerga e sabe (Mt 6.1-18). Se fizermos algo para impressionar o público, já recebemos a nossa recompensa – o aplauso do público. Tudo o que fizermos em favor dos seus será como se tivesse sido feito para ele mesmo (Mt 25.40). Aí se abrem imensuráveis possibilidades: alimentá-lo e vesti-lo, visitá-lo e prestar-lhe serviços, como se ele estivesse visivelmente presente.

“Nenhuma boa obra praticada para o Senhor e sua glória é insignificante – tudo será premiado.”

Nenhuma boa obra praticada para o Senhor e sua glória é insignificante – tudo será premiado (Ef 6.8). Não fará diferença se se trata de questões mundanas ou piedosas. O humilde trabalho de uma serva ou de um zelador é tão santo quanto um serviço espiritual prestado na igreja quando executado para a glória de Deus.

Conclui-se disso que o nosso padrão social não conta (Ef 6.8). Para um servo que trabalha no campo, as melhores recompensas não serão inacessíveis diante do trono do juiz. Cristãos proeminentes não levam vantagem sobre diaristas.

Finalmente, o Senhor elogia a persistência (Lc 22.28). Não basta começar bem; Deus deseja que levemos sua causa a bom termo.

Em geral, as recompensas diante do tribunal de Cristo são chamadas de coroas para os vencedores. Em contraste com as coroas de vitória e as honras deste mundo, elas são permanentes:

– A coroa da alegria por se ter fielmente conquistado almas (1Ts 2.9).

– A coroa da justiça para todos os que amam a sua vinda (2Tm 4.8).

– A coroa da vida para tentações suportadas (Tg 1.12).

– Pedro cita a coroa da glória para os pastores fiéis que pastorearam fielmente as ovelhas de Cristo (1Pe 5.4).

– Além de uma coroa especial para mártires – aqueles que permaneceram fiéis até a morte (Ap 2.10).

Os cristãos são unânimes em depositar essas coroas aos pés do Senhor Jesus, cheios de alegria e adoração, a ele que é o único digno.

Não há nem de longe como descrever em palavras a glória celeste, mas Deus nos mostrou o suficiente sobre ela para podermos cada vez mais ansiar por isso.

Não há nem de longe como descrever em palavras a glória celeste. Nenhum mortal tem como compreendê-la, mas Deus nos mostrou o suficiente sobre ela para podermos cada vez mais ansiar por isso. Spurgeon disse:

“Se você não tiver anseio pelo céu, valerá com certeza questionar se o céu lhe pertence. Se alguma vez você experimentou as alegrias dos santos tal como as experimentam os crentes na terra, você cantará de todo o coração: meu espírito sedento mal pode esperar e anseia de coração pelo alto, a gloriosa herança dos santos na luz da Jerusalém, lá em cima”.

Quando um certo homem a quem eu dera meu testemunho estava à beira da morte, com sua esposa sentada ao lado de sua cama, ele de repente se ergueu. Seus olhos se arregalaram e ele disse alegremente, espantado: “Ó, sim! Veja!”. Em seguida desabou e estava morto. Sua esposa disse mais tarde que essas foram as palavras mais belas que ele jamais pronunciou. Ele tinha vislumbrado o céu, uma experiência nada incomum para crentes moribundos.

Robert G. Lee chamou o céu de mais belo lugar que a sabedoria divina pôde configurar e o poder divino preparar.

J. Sidlow Baxter oferece uma imagem em dez partes da salvação eterna pela incontável multidão de pecadores redimidos transferidos ao céu como santos glorificados. Diante do trono: bendita certeza, vestes brancas, santidade imaculada, ramos de palmeira, vitória definitiva, servindo ao Senhor, ministério sublime, ele os protege, fim de toda fome, satisfação eterna, sem ardor do sol, alegria límpida, ele é seu Pastor, repouso em seu amor, água viva, vida permanente, toda lágrima enxugada, alegria perene e perfeita.

Robert G. Lee acertou na mosca quando escreveu: “Creio que um dia, quando atravessarmos aqueles portões de pérolas e tivermos a primeira impressão daquela beleza de tirar o fôlego em torno de nós, procuraremos por João para lhe perguntar: ‘João, por que você não nos comunicou que isto seria tão belo?’. E João responderá: ‘Tentei quando escrevi os capítulos 21 e 22 do último livro da Bíblia depois de ter recebido minha visão, mas não consegui’”.

Quando os nossos parentes e amigos crentes vão à presença do Senhor, é para nós um indescritível consolo saber que eles estão naquela terra em que não haverá mais noite e onde se alegram por estarem na presença do Senhor na glória celestial. Não desejaríamos trazê-los de volta para este deserto de pecado e preocupações. E para nós mesmos que estamos em Cristo, que esperança e expectativa! Breve, muito breve, o Salvador voltará e nos levará à casa do Pai, onde preparou muitas moradas para nós. Também nós estaremos finalmente em casa.

Mas como ficarão aqueles que não creem no Senhor Jesus? Se apenas conhecessem a glória na qual poderiam viver por toda a eternidade, não ficariam afastados! Deus, porém, não os admitirá no céu contra a vontade deles. Eles precisam arrepender-se dos seus pecados e confiar sua vida ao Senhor Jesus. Um pecador seria uma figura miserável e levaria miséria a todos se estivesse no céu.

No entanto, sua situação nesta vida não é de desespero. Assim que ele reconhecer seu pecado diante de Deus e receber o Senhor Jesus como única esperança para o céu, ele pode ter tanta certeza do céu como se já estivesse lá.

William MacDonald (1917-2007) dedicou-se ao estudo bíblico por 60 anos. Foi um prolífico autor, escrevendo mais de 80 livros sobre diversos assuntos da fé cristã.

sumário Revista Chamada Fevereiro 2023

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