“Keren” como símbolo da exaltação dos humildes e da humilhação dos orgulhosos por Deus
Sobre a palavra hebraica “Keren”, 5ª parte
O Messias será um rei humilde.
Até aqui examinamos as passagens bíblicas nas quais a palavra keren aparece em contextos de debilidade, mas também de redenção e libertação por Deus. Foi assim com Ana, que recebeu seu filho de modo milagroso, com Davi, que Deus libertou dos seus inimigos, e até com o Messias, que sofreu as profundezas da morte, das quais Deus o resgatou por meio da ressurreição.
Vimos também que keren aparece num contexto de sacrifício e morte, bem como de vida e perdão dos pecados: nos quatro chifres, tanto do altar do holocausto, como também do altar do incenso, o sacerdote aplicava sangue pelo perdão dos pecados. O mesmo ocorreu no sacrifício de Isaque, quanto a uma oferta substituta e sua morte – pois Abraão acabou não sacrificando seu filho Isaque, mas o carneiro que ficara enredado nos arbustos.
A conclusão bíblica é que o termo profético keren se aplica a um contexto bilateral: por um lado, debilidade, sacrifício e morte, e, por outro, força, vida e perdão dos pecados. O potencial simbólico de keren encontra seu grande cumprimento no Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, que se debilitou para que aqueles que nele cressem se fortalecessem por meio de Deus. Ele se dispôs a morrer a fim de que muitos pudessem ganhar a sua vida eterna. Ele derramou o seu sangue como oferta a Deus para o perdão dos nossos pecados.
Um outro contexto no qual encontramos a palavra keren é o da realeza. A título de exemplo, examinemos duas passagens. A primeira se encontra em 1Samuel 16: Deus ordena a Samuel que encha seu chifre com óleo e procure o belemita Jessé, por ter escolhido um dos filhos deste para ser rei de Israel. Esse rei foi Davi. No versículo 13a lemos: “Samuel pegou o chifre do azeite e ungiu Davi no meio dos seus irmãos”. O segundo exemplo está em 1Reis 1.39a, que diz: “Zadoque, o sacerdote, levou o chifre do azeite que estava no tabernáculo e ungiu Salomão”.
Davi e Salomão foram ungidos reis mediante azeite de um chifre. Quando Samuel e Zadoque derramaram o azeite sobre a cabeça deles, elevaram o chifre que continha o azeite de modo que pairasse sobre eles. Esse chifre sobre a cabeça lembra certos animais nobres e é com bastante evidência um sinal da majestade que Deus concede ao ungido – um sinal visível para todos os presentes na cerimônia da unção.
Passemos agora aos livros proféticos. Também neles encontramos keren no contexto da realeza. Ele é aplicado particularmente como símbolo de um poder ascendente ou em queda, especialmente em relação a reis estrangeiros e seus reinos. Assim, Jeremias profetiza o fim de Moabe: “O poder [chifre] de Moabe foi eliminado, e o seu braço foi quebrado, diz o Senhor” (Jr 48.25). Miqueias, por sua vez, usa a palavra keren para profetizar a vitória de Israel sobre os seus inimigos. Deus diz à filha de Sião: “... eu lhe darei chifres de ferro e... você esmagará muitos povos...” (Mq 4.13).
Nos livros dos profetas Zacarias e Daniel encontramos várias vezes a palavra keren para designar a ascensão ou a queda de reinos. Em Zacarias 1.18-19 lemos: “Levantei os olhos e vi, e eis quatro chifres. Perguntei ao anjo que falava comigo: ‘O que é isto?’ Ele me respondeu: ‘São os chifres que dispersaram Judá, Israel e Jerusalém’”. Em Daniel 7, o profeta cita várias vezes a palavra karna (“chifre” em aramaico) para designar a ascensão de um poderoso rei que dominaria outros reis na terra e cuja boca pronunciaria grandes coisas (v. 8,20,24). Mais: “Enquanto eu olhava, eis que esse chifre fazia guerra contra os santos e estava vencendo” (v. 21). Esse chifre é uma previsão do Anticristo, que tentará por todos os meios aniquilar o povo de Deus e sabotar o plano de salvação de Deus para a humanidade.
A aplicação da palavra keren em contextos de realeza indica que o Messias teria de ser um rei que viria humilde e como servo, a fim de cumprir a vontade de Deus como bênção para toda a humanidade – em forte contraste com o Anticristo em Daniel 7, também simbolizado por meio de um chifre, mas que proclamará arrogantes palavras contra Deus e que lutará contra os seus santos “até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo. E veio o tempo em que os santos possuíram o reino” (Dn 7.22).