A Carta aos Romanos: Capítulo IX
Nos oito primeiros capítulos da carta aos Romanos, Paulo expôs de forma enfática o evangelho de Deus, a salvação que Deus nos oferece. Com isso, qualquer um que o assumir para si atingirá uma posição maravilhosa: estou justificado diante de Deus, não preciso mais temer nenhuma condenação, tenho o privilégio de ter Deus como Pai e poder um dia viver com ele na glória. Tudo isso nada mais é do que graça imerecida, um presente de Deus para cada um que crer.
Com isso, como cristãos, temos a grande responsabilidade de também viver de acordo com o nosso conhecimento. “Porque nós somos para com Deus o bom perfume de Cristo, tanto entre os que estão sendo salvos como entre os que estão se perdendo” (2Co 2.15). Como igreja de Jesus, não somos apenas redimidos, como também encarregados de ser luz, sal e o perfume de Jesus Cristo.
“Como cristãos, temos a grande responsabilidade de também viver de acordo com o nosso conhecimento.”
O embaixador de um país precisa levar uma vida exemplar a fim de representar seu país de forma adequada e digna. Como cristãos, temos o privilégio de ser filhos de Deus, herdeiros do Eterno, embaixadores de Cristo. Com toda a honra, isto implica também uma grande responsabilidade: o que faremos com a bênção do evangelho e da redenção, o privilégio de estarmos reconciliados com Deus e de vivermos em paz com Deus, o presente de podermos ser filhos de Deus e a certeza de um maravilhoso futuro? Assim também, ser filho de Deus significa ser responsável e viver de acordo.
Errando o alvo (v. 1-5)
Paulo não tinha encerrado o oitavo capítulo com grande júbilo? Por que então agora essa tristeza? Por que essa reversão emocional?
Porque Paulo passa a pensar no seu povo, os judeus, Israel, o primeiro amor de Deus. Ao pensar em Israel, Paulo é compelido a dizer: “Sinto grande tristeza e tenho incessante dor no coração” (Rm 9.2). Sua angústia íntima é tão grande que ele até considera ser rejeitado por Deus para poder salvar seus irmãos segundo a carne: “Porque eu mesmo desejaria ser amaldiçoado, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas segundo a carne” (Rm 9.3).
Então Deus não havia destinado a Israel uma posição maravilhosa e privilegiada? “São israelitas. A eles pertence a adoção, assim como a glória, as alianças, a promulgação da Lei, o culto e as promessas. Deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne...” (Rm 9.4-5).
Paulo sente uma grande angústia no íntimo porque Israel não alcançou o alvo que Deus lhe tinha determinado. Israel havia errado seu alvo! Não havia Deus dado maravilhosos dons aos israelitas, derramando sobre eles seu primeiro amor, tendo-os abençoado e lhes prometido povo, terra e bênção? No entanto, em vez de permanecerem fiéis a Deus e serem um testemunho dele, tornaram-se orgulhosos, arrogantes e, finalmente, idólatras.
O propósito era que revelassem o poder e a glória de Deus, guardassem sua aliança e seus mandamentos, confiassem nas promessas de Deus e esperassem o seu Messias. No entanto, quando Jesus, o seu Messias, veio, eles o rejeitaram: “Toda a multidão, porém, gritava: ‘Fora com este! Solte-nos Barrabás!’ Eles, porém, gritavam mais ainda: ‘Crucifique! Crucifique-o!’” (Lc 23.18,21).
Assim também Jesus Cristo lamenta: “Jerusalém, Jerusalém! Você mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram!” (Mt 23.37).
A rejeição e condenação do Messias é a efetiva razão da tristeza de Paulo. A bênção tornou-se maldição para os israelitas e sua desobediência e falta de fé acabou por tirar deles sua missão, e até, por algum tempo, o seu direito à existência como povo. Por isso Paulo lamenta: “Sinto grande tristeza e tenho incessante dor no coração” (Rm 9.2).
A promessa de Deus permanece em vigor (v. 6-13)
Podemos ficar tranquilos – Deus não muda, e Paulo pode escrever confiante: “E não pensemos que a palavra de Deus falhou” (Rm 9.6a).
A palavra de Deus não é cancelada. “Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vocês, filhos de Jacó, não foram destruídos. Desde os dias dos seus pais, vocês se afastaram dos meus estatutos e não os guardaram...” (Ml 3.6-7).
Se, porém, Israel fracassou, quem seria então o verdadeiro Israel? Paulo encara esta pergunta: “Porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas, nem por serem descendentes de Abraão são todos filhos. Pelo contrário: ‘Por meio de Isaque será chamada a sua descendência’” (Rm 9.6b-7).
O verdadeiro Israel viria daquela semente, e esta não é ninguém outro do que Jesus Cristo. Ele é o fundamento do verdadeiro Israel.
Não esqueçamos: Isaque foi um fruto da fé. Biologicamente, ambos, Sara e também Abraão, já estavam além da idade de gerar filhos. Além disso, Sara era estéril. Assim, a semente que viria não era fruto de esforço ou força própria, mas da promessa: “Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são contados como descendência. Porque a palavra da promessa é esta: ‘Por esse tempo voltarei, e Sara terá um filho’” (Rm 9.8-9).
Humanamente, era impossível que eles ainda gerassem filhos. A descendência deveria provir da fé e por meio dela. Paulo já havia abordado esse princípio no capítulo 4: “Abraão, esperando contra a esperança, creu, para vir a ser pai de muitas nações, segundo lhe havia sido dito: ‘Assim será a sua descendência’. E, sem enfraquecer na fé, levou em conta o seu próprio corpo já amortecido, tendo ele quase cem anos, e a esterilidade do ventre de Sara. Não duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu, dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que Deus era poderoso para cumprir o que havia prometido. Assim, também isso lhe foi atribuído para justiça” (Rm 4.18-22).
Com base nisso, Paulo prossegue, escrevendo que “isto não aconteceu somente com ela [Sara], mas também com Rebeca [que também era estéril e não conseguia ter filhos], ao conceber de um só, de Isaque, nosso pai” (Rm 9.10).
Um paradigma como lição visual
Paradigmas são exemplos, padrões ou modelos. Paulo aplica algo assim para explicar uma importante relação: “E os gêmeos ainda não eram nascidos, nem tinham feito o bem ou o mal – para que o propósito de Deus quanto à eleição prevalecesse, não por obras, mas por aquele que chama – quando foi dito a Rebeca: ‘O mais velho será servo do mais moço’. Como está escrito: ‘Amei Jacó, porém desprezei Esaú’” (Rm 9.11-13).
Nos versículos aqui citados trata-se da eleição para uma determinada missão. De Jacó haveria de vir o portador da bênção; seus descendentes formariam a família humana do Redentor e Israel seria a terra em que o Messias nasceria.
A comparação (v. 14-33)
Em comparação com a bênção que Deus destinara a Jacó por sua divina decisão, a bênção destinada a Esaú parecia desprezo (cf. Gn 27.37-40). De Jacó viria o Redentor. De Jacó seria traçada a linha da bênção; não de Esaú. Quando então Deus decide, a quem caberia questionar essa decisão de Deus? É nesse sentido que Paulo também pergunta: “Que diremos, então? Que Deus é injusto? De modo nenhum!” (Rm 9.14).
“Deus não deve contas a ninguém. Quando Deus escolhe pessoas ou até povos inteiros para por meio deles realizar seu plano de salvação, quem somos nós para objetar algo?”
Deus não deve contas a ninguém. Quando Deus escolhe pessoas ou até povos inteiros para por meio deles realizar seu plano de salvação, quem somos nós para objetar algo? Por isso, Paulo diz: “Pois ele diz a Moisés: ‘Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e terei compaixão de quem eu tiver compaixão’” (Rm 9.15).
De acordo com a decisão de Deus, Israel seria o povo do Redentor, e Abraão, Isaque e Jacó a família da qual ele descenderia. Se então Deus determinar assim, o que o impedirá? “Assim, pois, isto não depende de quem quer ou de quem corre, mas de Deus, que tem misericórdia” (Rm 9.16). Com isso é Deus o que age e aquele que define a história sagrada.
A missão e a decisão do faraó
Para dar ainda mais peso às suas palavras, Paulo se reporta ao faraó: “Porque a Escritura diz a Faraó: ‘Foi para isto mesmo que eu o levantei, para mostrar em você o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra’” (Rm 9.17).
A missão de Deus para o faraó foi: “O Senhor, o Deus dos hebreus, me enviou para dizer-lhe: ‘Deixe o meu povo ir, para que me adore no deserto’...” (Êx 7.16).
A ordem dada ao faraó foi clara: “Deixe o meu povo ir...”. Nisso tudo, Deus é aquele que age, ele é a autoridade. Embora o faraó soubesse o que deveria fazer, sua reação foi: “Mas até agora você não quis ouvir” (Êx 7.16b).
O faraó rejeitou a missão de Deus e conscientemente disse várias vezes “não” às palavras de Deus. Sim, o faraó endureceu o coração, conforme lemos: “Mas ainda desta vez Faraó endureceu o coração e não deixou o povo ir” (Êx 8.32). Seis vezes aconteceu de o faraó decidir contra Deus e sua palavra. Finalmente, o próprio Deus endureceu o coração do faraó: “Porém o Senhor endureceu o coração de Faraó, e este não os ouviu...” (Êx 9.12).
Deus executa o seu plano apesar do “não” do faraó ou, na verdade, por meio dele. Deus é o Senhor da história, apesar de todas as resistências. É justamente por sua resistência que o faraó se torna o instrumento para a execução do plano de Deus: “Foi para isto mesmo que eu o levantei, para mostrar em você o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra” (Rm 9.17).
Com isso, o faraó se torna um sinal de advertência para não endurecermos o nosso coração. Deus escreve sua história sagrada com ou sem a nossa concordância: “Logo, Deus tem misericórdia de quem quer e também endurece a quem ele quer” (Rm 9.18).
Nesse contexto é inevitável que se levante a questão que Paulo aborda no versículo seguinte: “Mas você vai me dizer: ‘Por que Deus ainda se queixa? Pois quem pode resistir à sua vontade?’” (Rm 9.19). Afinal – poderíamos pensar – se Deus executa o seu plano com ou sem eu concordar, o que tenho eu então com isso? Por que eu me esforçaria? Ele fará o que quer de qualquer maneira.
Tal argumentação provém do coração daqueles que o endurecem. São os argumentos de quem rejeita a soberania de Deus. Com esses, Paulo vai a juízo e diz: “Mas quem é você, caro amigo, para discutir com Deus? Será que o objeto pode perguntar a quem o fez: ‘Por que você me fez assim?’” (Rm 9.20).
Paulo diz claramente: que ideia é essa? Quem você pensa que é? Como você pode se atrever a falar assim com Deus? Não seria hora de você mudar, cair em si e dar razão a Deus?
Israel, o vaso
“Será que o oleiro não tem direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Rm 9.21). A imagem do oleiro e do barro que Paulo adota aqui é uma ilustração que ocorre várias vezes no Antigo Testamento.
Assim, Deus lamenta sobre Israel: “Como vocês invertem as coisas! Será que o oleiro é igual ao barro? Pode a obra dizer ao seu artífice: ‘Ele não me fez’? Pode a coisa feita dizer do seu oleiro: ‘Ele não sabe nada’?” (Is 29.16).
Israel deveria ser um povo santo e enunciar a honra e a glória de Deus (cf. Êx 19.6). No entanto, ocorre o contrário, de modo que o profeta Isaías lamenta: “O Senhor disse: ‘Visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos ensinados por homens, continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste povo. Sim, farei obra maravilhosa e um prodígio, de maneira que a sabedoria dos seus sábios seja destruída, e o entendimento dos seus entendidos desaparecerá’. Ai dos que escondem profundamente o seu propósito do Senhor! Ai dos que fazem suas próprias obras às escuras, e dizem: ‘Quem nos vê? Quem sabe o que estamos fazendo?’” (Is 29.13-15).
E por Israel não atender à missão de Deus e não querer ser um vaso que honrasse a Deus, o profeta é obrigado a dizer: “Como vocês invertem as coisas! Será que o oleiro é igual ao barro? Pode a obra dizer ao seu artífice: ‘Ele não me fez’? Pode a coisa feita dizer ao seu oleiro: ‘Ele não sabe nada’?” (Is 29.16).
Essa situação se repetiu com Israel, apesar de Deus se manter fiel ao seu povo, cuidando dele, preservando-o, dirigindo-o e conduzindo-o: “Em toda a angústia deles, também ele se angustiava; e o Anjo da sua presença os salvou. Por seu amor e por sua compaixão, ele mesmo os remiu, os tomou e os conduziu todos os dias da antiguidade” (Is 63.9). Ele os conduziu ao descanso por uma via segura.
“Então o povo se lembrou dos dias antigos, lembrou-se de Moisés e disse: ‘Onde está aquele que tirou o seu povo do mar, junto com o pastor do seu rebanho? Onde está o que pôs nele o seu Espírito Santo, aquele que fez com que o seu braço glorioso estivesse à mão direita de Moisés? Onde está aquele que dividiu as águas diante deles, adquirindo para si um nome eterno? Aquele que os guiou pelos abismos, como a um cavalo pelo deserto, de modo que nunca tropeçaram? Como o gado que desce aos vales para repousar, o Espírito do Senhor lhes deu descanso’. Assim, guiaste o teu povo, para adquirires um nome glorioso” (Is 63.11-14).
“Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo. Por isso, ele se tornou inimigo deles e ele mesmo lutou contra eles” (Is 63.10). Os israelitas deveriam ter sido uma bênção, mas tornaram-se uma maldição. Deveriam ter proclamado a glória de Deus, mas o aborreceram e se tornaram seus inimigos.
Por fim, Isaías teve de dizer: “Não há ninguém que invoque o teu nome, que se disponha a apegar-se a ti. Porque escondes de nós o teu rosto e nos consomes por causa das nossas iniquidades. Mas agora, Senhor, tu és o nosso Pai. Nós somos o barro, e tu és o nosso oleiro; e todos nós somos obra das tuas mãos” (Is 64.7-8).
Como o barro não queria estar nas mãos do oleiro – Israel se decidira contra Deus e o seu plano – Deus começou a colocar esse barro de lado: “As tuas santas cidades estão desertas. Sião virou um deserto; Jerusalém está arrasada. O nosso templo santo e glorioso, em que nossos pais te louvavam, foi queimado; todas as nossas coisas preciosas se tornaram em ruínas. Diante de tais calamidades, como podes te conter, ó Senhor? Ficarias calado e nos afligirias ainda mais?” (Is 64.10-12).
Israel fora destinado a ser um vaso de honra, mas em razão do seu pecado, da sua decisão e da sua teimosia, ele acabou por se tornar um vaso desprezível e de vergonha.
A igreja como vaso
“Que diremos, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos de ira, preparados para a destruição” (Rm 9.22).
Paulo fala aqui do seu povo, de Israel, sobre o qual ele dissera: “Digo a verdade em Cristo, não minto, e a minha consciência confirma isso por meio do Espírito Santo: sinto grande tristeza e tenho incessante dor no coração” (Rm 9.1-2).
Por muito tempo Deus suportou o seu povo, admoestou-o e corrigiu-o, enviou-lhe seus mensageiros e seus profetas, e por fim seu próprio Filho.
No entanto, o vaso Israel, destinado a glorificar a Deus, tornou-se um vaso de vergonha, por meio do qual até o nome de Deus foi blasfemado: “O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês” (Rm 2.24b). Por isso, ao se tornar um vaso de vergonha, Israel foi temporariamente posto de lado: “Eis que a casa de vocês ficará deserta” (Mt 23.38).
Assim, um outro vaso assumiria temporariamente o lugar de Israel – a Igreja de Jesus – para que também neste vaso se manifestasse a misericórdia de Deus: “A fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para glória” (Rm 9.23).
Ela viria de todos os povos: “Estes vasos somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios” (Rm 9.24). Todo aquele que ouve esse chamado e atende a ele será incluído: “Chamarei de ‘meu povo’ ao que não era meu povo; e de ‘amada’ à que não era amada. E no lugar em que lhes foi dito: ‘Vocês não são o meu povo’, ali mesmo serão chamados ‘filhos do Deus vivo’” (Rm 9.25-26).
O que você fará com Jesus?
A grande questão que se apresenta é: o que você fará com Jesus? O que você fará com o evangelho, com a oferta divina de salvação?
Você pode ser filho ou filha de Deus, pertencer ao verdadeiro povo de Deus e tornar-se um amado do Eterno e um maravilhoso vaso para sua glória. Simplesmente receba pessoalmente para você a oferta divina de salvação crendo nela como uma criança. Decida-se e creia!
“A grande questão que se apresenta é: o que você fará com Jesus? O que você fará com o evangelho, com a oferta divina de salvação?”
Israel se decidiu: “Mas Isaías clama a respeito de Israel: ‘Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, de forma plena e em breve’. Como Isaías já disse: ‘Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, nós nos teríamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra’” (Rm 9.27-29).
Só quem recebe pela fé a oferta de Deus pode pertencer à família de Deus. Para isso de nada valerá um nascimento nobre, nem pertencer a algum povo ou alguma tradição familiar. Somente a decisão pessoal e a aceitação do evangelho de Deus lhe abrirá o céu.
“Só quem recebe pela fé a oferta de Deus pode pertencer à família de Deus. Para isso de nada valerá um nascimento nobre, nem pertencer a algum povo ou alguma tradição familiar.”
Assim, Paulo encerra suas considerações sobre este tema escrevendo: “Que diremos então? Que os gentios, que não buscavam a justificação, vieram a alcançá-la, a saber, a justificação que decorre da fé, e que Israel, que buscava a lei de justiça, não chegou a atingir essa lei. Por quê? Porque não a buscou pela fé, mas como que por obras. Tropeçaram na pedra de tropeço, como está escrito: ‘Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de ofensa, e aquele que nela crê não será envergonhado’” (Rm 9.30-33).
Alguém que tomou uma decisão oposta
O propósito de Deus é sempre abençoar pessoas e colocá-las em contato com sua bênção. Esaú, porém, decidiu-se conscientemente contra isso. Para poder entender suas decisões, vamos observar algumas delas em sua vida.
As trágicas decisões de Esaú
“Jacó tinha feito um ensopado, quando Esaú, exausto, veio do campo e lhe disse: ‘Por favor, me deixe comer um pouco da coisa vermelha, essa coisa vermelha aí, pois estou exausto’. (Por isso deram-lhe o nome de Edom.) Jacó respondeu: ‘Primeiro me venda o seu direito de primogenitura’. Ele respondeu: ‘Estou morrendo de fome; de que me vale o direito de primogenitura?’. Então Jacó disse: ‘Primeiro jure’. Esaú jurou e vendeu o seu direito de primogenitura a Jacó. E Jacó deu a Esaú pão e o ensopado de lentilhas; ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, Esaú desprezou o seu direito de primogenitura” (Gn 25.29-34).
Quando, naquela época, um pai de família morria e deixava quatro filhos, a herança era dividida por cinco. O primogênito recebia uma porção dupla, ou seja, dois quintos da herança. Esaú desprezou essa herança. Pouco lhe importava. Para ele, o prazer momentâneo era mais importante. Ele queria recebê-lo e aproveitá-lo já. Ele não sabia esperar, exercitar-se na paciência não fazia parte da sua lista de prioridades.
Por ocasião do falecimento do chefe da família, o primogênito assumia o papel do sacerdote familiar. Também isso Esaú não queria, não desejava assumir obrigações ou responsabilidades espirituais, porque isso significaria que ele teria de ser também um exemplo de vida, conduta e relacionamento com Deus. Isso ele recusou. Ele queria ser independente, autônomo e livre para decidir a seu modo.
O direito de primogenitura também significava transmitir a linha das promessas de Deus. Abraão, o avô da sua família, havia recebido de Deus a promessa de que, por meio dele, viria o Redentor, Jesus Cristo. Ao desprezar o direito da primogenitura, Esaú ao mesmo tempo pisoteou a promessa de Deus.
“Ao desprezar o direito da primogenitura, Esaú ao mesmo tempo pisoteou a promessa de Deus.”
Ao desprezar o direito da primogenitura, Esaú também expressou que não desejava ser portador de bênçãos para este mundo. Pouco lhe importavam palavras, planos e pensamentos de Deus. Assim, ele vende a bênção em troca de um prazer momentâneo. A Bíblia refere-se a isso assim: “... ele comeu e bebeu, levantou-se e saiu. Assim, Esaú desprezou o seu direito de primogenitura” (Gn 25.34). Infelizmente, tal atitude perpassa toda a vida de Esaú.
Haveria mais a dizer sobre Esaú, como, por exemplo, o desprezo pelo conselho dos seus pais ao casar-se logo com duas mulheres ímpias: “Quando Esaú tinha quarenta anos de idade, tomou por esposa Judite, filha de Beeri, heteu, e Basemate, filha de Elom, heteu. Essas duas se tornaram amargura de espírito para Isaque e para Rebeca” (Gn 26.34-35). Aliás, por teimosia, ele ainda piorou bem mais essa situação: “Esaú viu que Isaque havia abençoado Jacó e o havia mandado a Padã-Arã, para tomar de lá esposa para si... Sabendo também que Isaque, seu pai, não via com bons olhos as filhas de Canaã, Esaú foi à casa de Ismael e, além das mulheres que já tinha, tomou por mulher Maalate, filha de Ismael, filho de Abraão, e irmã de Nebaiote” (Gn 28.6-9).
O falso arrependimento de Esaú
Esaú nunca se arrependeu dos seus descaminhos! Embora houvesse um momento em sua vida em que parecia que daria meia-volta e se arrependeria, isso não era verdade; pelo contrário, manifestou-se toda a sua falsa postura.
“E aconteceu que, depois que Isaque abençoou Jacó e este tinha acabado de sair da presença de seu pai, chegou Esaú, seu irmão, vindo da sua caçada. Ele também fez uma comida saborosa e a levou ao seu pai. E lhe disse: ‘Levante-se, meu pai, e coma da caça de seu filho, para que o senhor me abençoe’. Então Isaque, o pai dele, perguntou: ‘Quem é você?’ Ele respondeu: ‘Sou o seu filho, o seu primogênito; sou Esaú’. Isaque estremeceu, sentindo uma violenta comoção. E disse: ‘Mas então quem foi aquele que apanhou a caça e trouxe para mim? Eu comi tudo, antes que você chegasse, e o abençoei, e ele será abençoado’. Ao ouvir tais palavras de seu pai, Esaú deu um grito cheio de amargura e disse: ‘Abençoe também a mim, meu pai!’ Mas Isaque respondeu: ‘Seu irmão veio e, com astúcia, tomou a bênção que era sua’. Esaú disse: ‘Não é com razão que ele se chama Jacó? Pois já duas vezes me enganou: tirou-me o direito de primogenitura e agora tomou a bênção que era minha’” (Gn 27.30-36).
As condições fundamentais de um arrependimento autêntico são total franqueza e veracidade. Esaú, porém, busca refúgio na mentira mesmo em seu “arrependimento”. Ele acusa seu irmão de furto, o que, porém, era pura mentira. O direito de primogenitura de Esaú não foi furtado, mas ele o vendeu voluntariamente a Jacó em troca de um prato de lentilhas. Isso não questiona o fato de Jacó ter sido “malandro” e que vivia buscando sua própria vantagem. Uma coisa, porém, ele não fez: ele não furtou de Esaú o direito de primogenitura, mas o comprou por um prato de lentilhas. Quando então Esaú quis obter a bênção mesmo assim, chorando, essas lágrimas não foram de arrependimento e conversão, mas lágrimas em busca da sua própria vantagem. Com isso, Esaú escorregou cada vez mais profundamente no brejo do pecado.
A Bíblia reporta-se no Novo Testamento a essa tragédia e diz: “E cuidem para que não haja nenhum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um prato de comida, vendeu o seu direito de primogenitura. Vocês sabem também que, posteriormente, querendo herdar a bênção, foi rejeitado, pois não achou lugar de arrependimento, embora, com lágrimas, o tivesse buscado” (Hb 12.16-17).
Esaú não encontrou mais espaço para arrependimento porque nem o queria. Pelo contrário, ele escolheu consciente e voluntariamente uma vida pecadora, egoísta e ímpia. É verdade que ele buscou a bênção material. Internamente, porém, ele nunca se converteu de coração, e assim Esaú acabou arrastando toda a sua família para o abismo. Seus descendentes revelaram as seguintes marcas negativas de caráter: ânsia de vingança (Ez 35.1-15); prazer com a desgraça alheia (Lm 4.21); implacabilidade (Ml 1.3-4); índole sanguinária (Jl 4.19); blasfêmia (Ez 35); falsa misericórdia (Am 1.11).
Conclui-se que não foi Deus quem excluiu Esaú do céu, mas ele mesmo!
O que faremos nós com a oferta de Deus?