“Keren” como parte dos altares

Sobre a palavra hebraica “keren” - 3ª parte

O Messias oferecerá um sacrifício de sangue e, como Sumo-Sacerdote, entrará no Santo dos Santos.

Nos primeiros artigos, nos deparamos com o termo keren no contexto do sacrifício e do sofrimento, mas também da força e redenção para aqueles que invocam a Deus. Na história de Abraão e Isaque, Deus manda Abraão sacrificar seu filho Isaque. Abraão obedece e, no último momento, Isaque é poupado e um carneiro é sacrificado em seu lugar.

Também vimos o livro de Samuel (1 e 2Samuel vistos como uma unidade). No início do livro (1Sm 2), encontramos a oração de Ana, a mãe de Samuel, e no fim do livro (2Sm 22) encontramos o cântico de gratidão de Davi. Ana e Davi clamaram a Deus quando as ondas estavam para quebrar sobre eles, e Deus os ouviu e lhes deu vitória sobre seus inimigos. Ana ora: “A minha força [keren] está exaltada no Senhor”, e Davi se expressa da mesma forma. Suas palavras profetizam que, na vida do Ungido de Deus – hebraico: o Messias – Deus exaltará sua força. O Messias será exaltado desde o nível mais baixo, do reino dos mortos, como aconteceu em sua ressurreição, e triunfará sobre seus inimigos.

A palavra keren também aparece mais de uma vez em Êxodo e Levítico, como designação dos quatro cantos do altar do holocausto (Êx 27.2), que se encontrava em frente à tenda do encontro (tabernáculo). O altar para queimar incenso também tinha quatro chifres em seus cantos (Êx 30.2-3). O altar para queimar incenso se encontrava dentro do tabernáculo, diante do véu que separava o Santo dos Santos, onde estava a arca da aliança, do resto do santuário, e “uma vez por ano” – de acordo com a instrução de Deus – “Arão fará expiação sobre os chifres do altar com o sangue da oferta pelo pecado; uma vez por ano, fará expiação sobre ele, de geração em geração” (Êx 30.10). Essa “uma vez por ano” era o grande Dia da Expiação (hebraico, yom kippur) – o dia em que o sumo-sacerdote entrava no Santo dos Santos (Lv 16.18).

“Encontramos a palavra keren em Êxodo e Levítico, em três tipos de situações: no grande Dia da Expiação, na consagração sacerdotal e no sacrifício pelo pecado.”

Também era necessário aspergir sangue sobre os quatro chifres do altar quando um dos descendentes de Arão fosse consagrado ao sacerdócio (Êx 29.10-12). Levítico 8.15 narra a consagração de Arão e seus filhos: “Moisés matou o novilho, pegou um pouco do sangue, pôs isso, com o dedo, sobre os chifres do altar ao redor e purificou o altar. Depois, derramou o resto do sangue na base do altar e o consagrou, para fazer expiação por ele” (Lv 8.15).

De acordo com Levítico 4, quando alguém transgredisse qualquer um dos mandamentos de Deus, era necessário que sangue fosse aspergido sobre os quatro chifres de um dos altares. Caso o próprio sacerdote fosse o pecador e houvesse, assim, trazido culpa sobre todo o povo, ele tinha que matar um boi na entrada do tabernáculo e logo passar um pouco do sangue sobre os chifres do altar para queimar incenso, que se encontrava dentro do tabernáculo (v. 7). O mesmo se aplicava caso toda a congregação dos israelitas houvesse pecado (v. 18). Caso um governante houvesse pecado contra um dos mandamentos, não era um boi, mas um bode que deveria ser morto diante do tabernáculo, e o sacerdote deveria passar um pouco do sangue sobre os chifres, não do altar para queimar incenso, dentro do tabernáculo, mas do altar do holocausto que ficava em frente ao tabernáculo (v. 25). O mesmo valia para o caso de alguém dentre o povo ter pecado, com a diferença de que, neste caso, não era um bode, mas uma cabra ou ovelha que deveria ser sacrificada (v. 27-35).

Assim, encontramos a palavra keren em Êxodo e Levítico, em três tipos de situações: no grande Dia da Expiação, na consagração sacerdotal e no sacrifício pelo pecado. Todas as três situações lançam uma luz profética sobre a pessoa do Messias, que veio ao mundo para, como sacerdote, oferecer a Deus um sacrifício puro para o perdão dos pecados de seu povo. A conexão de keren com o Dia da Expiação demonstra que o Messias teria que passar pelo véu, que separava a presença de Deus dos homens, e levar o sangue de um sacrifício puro para dentro do Santo dos Santos, assim como o sumo-sacerdote fazia nesse grande dia. “E não pelo sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, [Cristo] entrou no Santuário, uma vez por todas, e obteve uma eterna redenção” (Hb 9.12).

Gabriele Monacis faz parte da equipe do Hebrew for the Nations, organização que ensina o hebraico bíblico. Vive com sua esposa e filhos em Israel.

sumário Revista Chamada Novembro 2022

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