Assíria – Irã: Uma Repetição Perigosa da História?

O atual Irã se assemelha com a antiga Assíria pelo fato de estar mais desenvolvido estrategicamente em relação a outros países e assim representa o perigo maior na região.

O Irã conclama publicamente para o extermínio do Estado judeu. Nos últimos 25 anos, esse Estado xiita tornou-se uma crescente ameaça para Israel. No entanto, não há nada novo sob o sol. Antigamente eram os assírios que ameaçavam exterminar Israel com sua mais nova tecnologia. Essa ameaça existencial contra Israel, vinda dos assírios, é descrita na Bíblia em Isaías 7, em 2Reis 16, bem como em 2Crônicas 28. Além disso, há inscrições nos obeliscos negros de Salmanaser III, os quais apresentam o drama entre Israel e a Assíria e servem de prova histórica.

O que Israel pode aprender a partir desse seu passado? Render-se? Ou antes formar uma aliança contra o Irã? O atual Irã se assemelha com a antiga Assíria pelo fato de estar mais desenvolvido estrategicamente em relação a outros países e assim representa o perigo maior na região. Nos tempos bíblicos, foi necessário formar uma aliança contra esse perigo. Seria possível realizar isso hoje entre judeus e sunitas, contra os xiitas?

Depois de Davi e Salomão, o povo se dividiu por diferenças sociopolíticas. Em seguida, houve um deslocamento no equilíbrio estratégico no Oriente Médio, porque o reino assírio na Mesopotâmia se tornou uma potência mundial. Diante das demais nações, a Assíria estava mais desenvolvida tecnologicamente e assim tornou-se uma ameaça para os países vizinhos. Até essa época (séc. IX a.C.) os carros tracionados por cavalos eram o padrão da técnica de guerra. Os assírios então descobriram uma nova cavalaria que se baseava em duas inovações. Primeiramente, desenvolveram cavalos mais fortes, que fossem capazes de carregar soldados fortemente armados. Desenvolveram também a sela e o estribo. Com isso, cavalgar ficou mais fácil e estável e melhor para manusear a espada e a lança.

O rei Salmanaser III (850 a.C.) passou a conquistar um país após o outro. Apesar de haver discórdias políticas entre eles, doze reinos formaram uma aliança contra a superpotente Assíria. A coalizão foi dirigida por Acabe, rei de Israel, Josafá, rei de Judá e Ben-Hadade, rei de Arã, e que hoje corresponde à Síria. Em 853 a.C. iniciou-se a batalha em Qarqar (noroeste da Síria). A batalha é descrita no Monolito de Curque, que foi encontrado na Turquia há 150 anos. Nele é descrito o quanto o exército assírio era poderoso e como o rei Salmanaser III foi vencedor. Todavia, na verdade a aliança dos doze reis obrigou o recuo dos soldados assírios e a expansão assíria foi freada, o que foi antes uma derrota para a Assíria. A batalha de Qarqar trouxe estabilidade para a região. A Assíria foi obrigada a repensar a estratégia. Surgiu então uma rede de mensageiros a pé e a cavalo.

Cem anos mais tarde, a Assíria novamente tornou-se uma ameaça regional sob o reinado de Tiglate-Pileser III. Os reinos vizinhos avaliaram três opções: 1) uma nova aliança e declaração de guerra; 2) rendição, ou 3) ignorar o perigo. Acaz, então rei de Judá, era jovem e inexperiente. Por isso, ele decidiu permanecer neutro e prorrogar decisões fatídicas. Porém Peca, rei de Israel, e Rezim, rei de Arã (Síria), tentaram compor uma aliança contra a Assíria, para impedir sua expansão militar, como havia acontecido há cem anos. Pelo fato de Acaz ser contrário à aliança, Peca e Rezim atacaram o reino de Judá, para derrotar o governo de Jerusalém. Eles pretendiam entronizar um descendente de Davi que concordasse com a aliança deles contra a Assíria.

"Nos tempos bíblicos, foi necessário formar uma aliança contra esse perigo. Seria possível realizar isso hoje entre judeus e sunitas, contra os xiitas?"

Nessa crise, Deus enviou o profeta Isaías até o rei Acaz: “Diga-lhe o seguinte: ‘Tenha cuidado e fique calmo. Não tenha medo nem fique desanimado por causa desses dois tocos de lenha fumegante, por causa do furor da ira de Rezim e da Síria, e do filho de Remalias. Porque a Síria, Efraim e o filho de Remalias resolveram acabar com você, dizendo: “Vamos atacar e amedrontar o reino de Judá. Vamos conquistá-lo para nós e fazer reinar no meio dele o filho de Tabeal.”’ Assim diz o Senhor Deus: ‘Isso não tem nenhuma chance de acontecer’” (Is 7.4-7).

A conspiração falhou. O rei Acaz tentou se vingar. A Bíblia relata sobre a invasão dos edomitas e dos filisteus, os quais enfraqueceram as duas nações. Ao contrário do conselho de Isaías, Acaz resolveu capitular diante da Assíria. Isaías havia advertido sobre as consequências. O resgate pago por Acaz ao rei Tiglate-Pileser III foi a prata e o ouro do tesouro do templo. Depois disso, Arã foi destruída e seus habitantes banidos. Em Damasco, o rei Acaz então encontrou-se com o conquistador assírio. Ele foi levado até a desistir de sua identidade judaica e, junto com ela, sua fé em Deus. Acaz levou um altar de Damasco para Jerusalém e o ergueu no templo. Assim, o rei Acaz praticou idolatria no santuário em Jerusalém. A idolatria e a cultura estrangeira arrastaram o reino de Judá para um abismo sociopolítico. A consequência foi o exílio sobre o qual Isaías e outros profetas haviam alertado diversas vezes. Tiglate-Pileser primeiramente invadiu o reino de Israel e baniu os seus habitantes, e poucos anos depois (722 a.C.) as dez tribos de Israel estavam perdidas. O reino do sul – Judá – ainda existiu por mais cem anos, porém bastante enfraquecido. Sua destruição aconteceu em 586 a.C.

Hoje, Israel se encontra numa situação semelhante. Busca-se desesperadamente por uma estratégia para lidar com o Irã.

Publicado com autorização de
israeltoday.co.il.

Avshalom Kapach é arqueólogo e correspondente da equipe editorial da revista Israel Today.

sumário Revista Chamada Dezembro 2021

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