Falta um Daniel em Israel

O profeta Daniel, no quinto capítulo do seu livro, descreve o banquete do rei Belsazar. Eles beberam das taças que Nabucodonosor, o pai de Belsazar, havia roubado. Subitamente aparece uma mão escrevendo na parede à frente de Belsazar: “MENE, MENE, TEQUEL, PARSIM”. Nenhum dos sábios, magos e conselheiros do rei sabia o significado dessas palavras. Todavia, depois que o profeta Daniel foi chamado, o rei soube o significado: “Mene: Deus contou os dias do teu reinado e determinou o seu fim. Tequel: Foste pesado na balança e achado em falta. Peres: Teu reino foi dividido e entregue aos medos e persas” (v. 26-28).

Essa história tem muitas interpretações. Às vezes somos surpreendidos pelo futuro porque não prevemos a tempo o impacto de algumas coisas. Eventos nos surpreendem porque não reconhecemos os sinais na parede. Somente mais tarde é que se compreende o significado de um mene/tequel.

No dia 11 de setembro de 2001, quando os terroristas islâmicos haviam dirigido aviões contra o World Trade Center, Washington admitiu que havia visto sinais na parede. No entanto, as indicações para tal atentado terrorista não foram levadas a sério.

Há dois eventos a mencionar da história de Israel para os quais houve alertas em tempo hábil. Em 1973 foi a Guerra do Yom Kippur, quando a Síria e o Egito atacaram as fronteiras do norte e do sul de Israel no Dia Nacional de jejum e reconciliação. Após a feliz vitória, um comitê governamental de análise descobriu que um pouco antes da guerra houve exortações e indicações – os sinais na parede.

Em dezembro de 1987 ocorreu uma rebelião palestina na Faixa de Gaza, que também envolveu a Judeia e a Samaria. Israel foi surpreendido pela Intifada porque novamente desconsiderou os sinais na parede. Nos dois casos, faltou um profeta como Daniel em Israel para alertar o seu povo. Nem em 1973, nem em 1987 houve falta de indicativos.

Daniel era um dos muitos sábios da corte, mas o que o diferenciava dos demais era a sua fé no Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Daniel seguia a Torá. Daniel não participava das festividades de Belsazar. Ele não se alimentava de carne e se mantinha afastado do culto aos ídolos e da idolatria ao ouro e à prata. Foi isso que capacitou Daniel a decifrar o que eram os sinais misteriosos: um alerta de Deus. A partir da Bíblia podemos verificar que a intenção de Deus é a de dirigir as pessoas de tal maneira que elas reconheçam a sua vontade.

“Enquanto o navio navega para o Oriente, os olhos olham ansiosamente para o Ocidente”, disse o escritor turco Orhan Pamuk. O fato de que muitas vezes não somos capazes de identificar os sinais na parede é comparável a um motorista de automóvel que olha somente para o espelho retrovisor. Do mesmo modo como Belsazar, seus sábios e magos, nós também nos baseamos em nosso próprio saber. Nosso povo, como um todo, perdeu algo que já tínhamos, isto é, a capacidade de interpretar indicativos e fatos. Os animais percebem com antecedência a chegada de um terremoto, os cães reconhecem quando uma pessoa está enferma. E nós? Precisamos nos questionar se conseguimos reconhecer e interpretar a escrita na parede. Cada um de nós deveria fazer essa pergunta para si, pessoalmente, mas também como nação. Caso contrário, poderá acontecer de facilmente sermos surpreendidos.

Avshalom Kapach

Publicado com autorização de israeltoday.co.il.

Avshalom Kapach é arqueólogo e correspondente da equipe editorial da revista Israel Today.

sumário Revista Chamada Maio 2020

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