Por que Deus nunca se divorciará de Israel

Sempre que há uma crise ou conflito no Oriente Médio, parece que menos cristãos continuam confiando de que Deus permanece fiel às suas promessas a Israel. O que a Bíblia diz?

Deus nunca se divorciará de Israel! Defender essa verdade torna-se imperativo exatamente porque alguns afirmam que Deus se divorciou do Israel do Antigo Testamento e se casou com a igreja do Novo Testamento. Obviamente, essa visão é uma forma de teologia da substituição. Aqueles que têm essa visão frequentemente selecionam somente passagens bíblicas como Jeremias 3.8 e Efésios 5.25-27 como textos de prova. No entanto, essa visão não é apenas falsa. Muito pior é o que ela implica sobre o próprio Deus; em última análise, ela pode nos levar a questionar se Deus é mesmo confiável.

Então, por que os cristãos devem rejeitar a visão de que Deus se divorciou de Israel? Porque essa visão é inconsistente com o caráter divino. Deus odeia o divórcio (Ml 2.16). Além disso, Paulo diz sobre Deus em Filipenses 1.6: “Estou convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus”. Deveríamos acreditar que este mesmo Deus não completaria o bom trabalho que começou com sua nação Israel?

Deus Não Quebra Promessas

Lembre-se, foi Deus quem chamou Abraão e estabeleceu uma aliança irrevogável com ele (Gn 12.1-9; 15.9-21; 17; 22.15-19). Foi Deus quem impediu que esse pacto se tornasse condicionado à fidelidade de Abraão (Gn 15.12,17-18), e foi Deus quem jurou por seu próprio nome que essas promessas pactuais relacionadas à nação, à terra e à bênção seriam válidas para sempre (Gn 12.1-3; 22.15-19). Foi com base no juramento irreversível e confirmatório de Deus a Abraão que ele apareceu a Moisés e libertou Israel do Egito (Êx 2.24-25), deu a Israel a terra de Canaã (Js 21.43), fez aliança com Davi (2Sm 7.10; cf. Gn 22.17), trouxe o eterno Filho de Deus da descendência de Davi para salvar e governar Israel (Lc 1.54-55,72-75) e um dia restaurará a terra para Israel sob o governo do Messias (Ez 47.13-14; cf. Mt 24.30-31; At 1.6-7).

Todos esses atos de Deus são baseados em uma promessa irrevogável a Abraão. No entanto, a teologia da substituição espera que acreditemos que o mesmo Deus que completará a boa obra que começou em nós, de repente decidiu quebrar um juramento que fez e confirmou com seu próprio nome. Isso é um disparate. Deus não mente, não quebra promessas e não muda (Nm 23.19). Na verdade, é o caráter sólido de Deus, sua imutabilidade, que faz com que ele assegure a Israel: “De fato, eu, o Senhor, não mudo. Por isso vocês, descendentes de Jacó, não foram destruídos” (Ml 3.6).

As Profecias Confirmam a Fidelidade de Deus

Em seu ministério terreno, o Senhor Jesus frequentemente recorria a Moisés e aos profetas para confirmar sua divindade e o fato de ser o Messias (p. ex., Lc 24.27). Então, por que devemos acreditar que Deus não se divorciou de Israel? Porque Moisés e os profetas concordam. Moisés registra na lei (Torá) a promessa de Deus a Israel de que ele nunca quebraria seu pacto com eles, mesmo durante a punição divina de dispersão mundial! Levítico 26.44 mostra que, apesar de todas as punições de Israel pela desobediência, Deus diz: “Apesar disso, quando estiverem na terra do inimigo, não os desprezarei, nem os rejeitarei, para destruí-los totalmente, quebrando a minha aliança com eles, pois eu sou o Senhor, o Deus deles”. Essa é apenas uma das várias passagens da lei.

Os profetas concordaram? Sim! O Senhor diz duas vezes a Israel através de Jeremias: “Destruirei completamente todas as nações entre as quais eu o dispersei; mas a você não destruirei completamente” (Jr 30.11b; 46.28). Amós registra o mesmo: “‘... não destruirei totalmente a descendência de Jacó’, declara o Senhor” (Am 9.8). Ele acrescenta: “‘Plantarei Israel em sua própria terra, para nunca mais ser desarraigado da terra que lhe dei’, diz o Senhor, o seu Deus” (Am 9.15). Isaías diz: “O Senhor terá compaixão de Jacó; tornará a escolher Israel e os estabelecerá em sua própria terra” (Is 14.1a). Zacarias prevê um dia em que “muitos povos e nações poderosas virão buscar o Senhor dos Exércitos em Jerusalém e suplicar o seu favor” (Zc 8.22, ênfase acrescentada). Ele acrescenta: “Naqueles dias, dez homens de todas as línguas e nações agarrarão firmemente a barra das vestes de um judeu e dirão: ‘Nós vamos com você porque ouvimos dizer que Deus está com o seu povo’” (Zc 8.23). De fato, os profetas concordam; mal arranhamos a superfície.

O Novo Testamento Confirma o Antigo

O Novo Testamento contradiz o Antigo nesse ponto? Claro que não! Tiago, o meio-irmão de Jesus, leu Amós 9 e entendeu que, depois de Deus ter tomado um povo para si mesmo dentre os gentios, “a tenda caída de Davi” seria reconstruída (At 15.15-18). A profecia que Tiago cita é sobre a restauração permanente de Israel! Paulo também antecipou esta pergunta: “Pergunto, pois: Acaso Deus rejeitou o seu povo? De maneira nenhuma! Eu mesmo sou israelita, descendente de Abraão, da tribo de Benjamim” (Rm 11.1). Ele chega ao ponto de dizer que, mesmo em sua rejeição ao Messias judeu, Deus não abandonou Israel, pois escreve: “Quanto ao evangelho, eles são inimigos por causa de vocês; mas, quanto à eleição, são amados por causa dos patriarcas, pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis” (Rm 11.28-29).

Isso significa que um israelita pode reconciliar-se individualmente com Deus sem o Messias? Não. A rejeição de Jesus é a rejeição de Deus, o que tem sido a questão central para Israel e para a humanidade desde sempre (Is 43.11,22; 53.3,11). Paulo está simplesmente reiterando que o chamado da nação de Israel por Deus é irrevogável. Finalmente, pouco antes de sua ascensão ao céu, o próprio Senhor teve a oportunidade perfeita para mudar de posição sobre Israel em Atos 1.6, quando seus discípulos lhe perguntaram: “Senhor, é neste tempo que vais restaurar o reino a Israel?”. Longe de negar o reino de Israel, ele simplesmente não lhes disse quando isso aconteceria. Ele afirmou: “Não compete a vocês saber os tempos ou as datas que o Pai estabeleceu pela sua própria autoridade” (At 1.7).

Mas, e o chamado texto de prova de Jeremias 3.8 mencionado no início?

Um Retorno a Longo Prazo

Neste versículo, o Senhor disse: “... dei à infiel Israel uma certidão de divórcio e a mandei embora, por causa de todos os seus adultérios”.

Em primeiro lugar, é extremamente importante notar que Deus está falando figuradamente para ilustrar a relação tumultuada entre ele e seu povo. Em outras palavras, Israel é o povo escolhido literal e permanentemente, mas Deus usa linguagem figurada para descrever a relação momentânea. Evite apegar-se à linguagem figurada com muita intensidade, para que você não tenha problemas ao considerar outras passagens. O fato é que não podemos ler toda a passagem de Jeremias 3 com literalidade absoluta, ou encontraremos sérios problemas teológicos quando considerarmos toda a Escritura. Uma interpretação literal, gramatical e histórica das Escrituras reconhece que a Bíblia usa tipos, símbolos e figuras de linguagem que apontam todos para a verdade literal.

Em segundo lugar, o restante da passagem refuta a teologia da substituição. Em Jeremias 3, Deus está dizendo que Judá (o reino do Sul) é a irmã de Israel (o reino do Norte), e que Judá deveria ter observado a invasão de Israel pelos assírios e se arrependido. O destaque do capítulo é que, apesar da infidelidade, do retrocesso, dos exílios (figuradamente o divórcio) e do tempo que Israel leva para se arrepender, Deus ainda diz “volte para mim” de várias maneiras ao longo de todo o trecho (Jr 3.12,14,22; 4.1). Isso demonstra a fidelidade, a misericórdia e a graça de Deus!

Embora ainda estejamos esperando o retorno de Israel a Deus, é garantido que isso acontecerá porque Deus disse que sim. A questão de Israel desde sempre tem sido a volta para Deus com o coração limpo e circuncidado (Lv 26.40-41; Dt 10.16; 29.4) – o que também é o problema dos gentios.

Uma Mudança do Coração

Como é voltar-se para Deus com um coração circuncidado? Significa arrependimento em relação ao Deus vivo e verdadeiro, e não a uma falsa ideia dele. Arrependimento em amor e em humilde reconhecimento de que nosso pecado requer expiação de sangue (Lv 17.11).

Tragicamente, Israel acreditava que seu novo zelo pela lei, com mandamentos adicionais feitos pelo homem, o manteria na terra durante o tempo de Jesus. No entanto, se as tradições seguidas por Israel fossem agradáveis a Deus, o reino do Messias teria vindo e a dispersão não teria acontecido há dois mil anos. A punição da dispersão através de Roma aconteceu porque Israel ainda não tinha um coração circuncidado, rejeitando o Messias que tornava possível o novo coração. Isaías previu a razão da dispersão de Israel por Roma ao escrever: “Esse povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam é feita só de regras ensinadas por homens” (Is 29.13).

Cumprir mandamentos e simplesmente ser descendente de Abraão, ou mesmo chamar-se de cristão, não salvará ninguém. Deve haver um coração submisso a Deus. Uma criança pode fazer o que seu pai pede e continuar tendo ressentimentos interiores em relação aos pais. Jeremias diagnosticou todo o problema do coração da humanidade quando disse: “O coração é mais enganoso que qualquer outra coisa e sua doença é incurável” (Jr 17.9a). Todos precisam de seu coração purificado para estar em ordem com Deus, e as Escrituras dizem que a transformação do coração é algo que só Deus pode fazer, tanto para o Israel nacional quanto para os indivíduos, sejam judeus ou gentios (Dt 30.6; Ez 36.26-27; Jo 3.6-8).

Quando Moisés levou Israel à Terra Prometida, ele disse que Deus não lhes tinha dado o coração para conhecê-lo (Dt 29.4). O resultado foi a falha na fidelidade e uma futura dispersão global (Lv 20.22; Dt 28.58-67). Mas a Bíblia diz que o Israel nacional receberá este coração “kosher” (puro) após a dispersão, acompanhado da aceitação do Messias. Como prevê a Escritura: “E derramarei sobre a família de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de ação de graças e de súplicas. Olharão para mim, aquele a quem traspassaram, e chorarão por ele como quem chora a perda de um filho único e se lamentarão amargamente por ele como quem lamenta a perda do filho mais velho” (Zc 12.10, ênfase acrescentada). Se Oseias nos ensina alguma coisa, é que Deus está esperando para rasgar essa certidão simbólica de divórcio! Oseias 2.19-20 diz: “Eu me casarei com você para sempre; eu me casarei com você com justiça e retidão, com amor e compaixão. Eu me casarei com você com fidelidade, e você reconhecerá o Senhor”.

Enquanto Levítico 26.33 prevê a Diáspora, o mesmo capítulo diz: “Mas, se confessarem os seus pecados e os pecados dos seus antepassados, sua infidelidade e oposição a mim, que me levaram a opor-me a eles e a enviá-los para a terra dos seus inimigos; se o seu coração obstinado se humilhar, e eles aceitarem o castigo do seu pecado, eu me lembrarei da minha aliança com Jacó, da minha aliança com Isaque e da minha aliança com Abraão, e também me lembrarei da terra” (Lv 26.40-42, ênfase acrescentada). As mesmas promessas de uma restauração permanente de Israel, pós-Diáspora, são encontradas em Deuteronômio 30.1-10, Ezequiel 36-37 e nas palavras do próprio Senhor Jesus em Mateus 24.30-31 e Lucas 21.20-28.

Uma Oferta Para Todos

A boa notícia é que judeus e gentios não têm que esperar pelo arrependimento de Israel para receber um coração circuncidado (Rm 1.16). “Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração...” (Sl 95.7-8). Isaías 59.2 diz: “Mas as suas maldades separaram vocês do seu Deus; os seus pecados esconderam de vocês o rosto dele, e por isso ele não os ouvirá”. Boas ações não salvam, pois “todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo” (Is 64.6). Portanto, “revistam-se do Senhor Jesus Cristo e não fiquem premeditando como satisfazer os desejos da carne” (Rm 13.14). “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado [Jesus], para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2Co 5.21).

Escrito por Cameron Joyner. Publicado com autorização.
Copyright, The Friends of Israel Gospel Ministry, 2021.

Cameron Joyner e sua esposa, Amber, representam o ministério The Friends of Israel como representantes às igrejas em Atlanta, EUA.

sumário Revista Chamada Setembro 2021

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