Inveja traz sofrimento

Se Jacó amou tanto Raquel a ponto de servir durante dois períodos de sete anos por ela, o que há de errado? Quando Raquel faleceu durante o nascimento de Benjamim, o que há de injusto no fato de Jacó ter caído num luto profundo? O que há de errado no fato de Jacó ter amado José de forma tão íntima, assim com fez com Raquel? Não se consegue justificar o amor.

No entanto, o amor também tem um lado obscuro – a inveja dos outros –, pois, quando Jacó deu um manto colorido para José (como teria dado também para sua Raquel), a inveja tomou conta dos irmãos de José. Iniciou-se, então, um período de provações para José, o qual, porém, ao final lhe trouxe vitórias e salvação para seus irmãos. Todavia, quem não é invejado também não merece ser invejado. Tudo teve início com o grande e profundo amor entre Jacó e Raquel (cf. Gn 29–35).

O amor também é o fundamento da eleição de Israel por Deus: “Pois vocês são um povo santo para o Senhor, o seu Deus. O Senhor, o seu Deus, os escolheu dentre todos os povos da face da terra para ser o seu povo, o seu tesouro pessoal. O Senhor não se afeiçoou a vocês nem os escolheu por serem mais numerosos do que os outros povos, pois vocês eram o menor de todos os povos. Mas foi porque o Senhor os amou e por causa do juramento que fez aos seus antepassados” (Dt 7.6-8).

Onde há luz também há sombras; quem é amado não precisa esperar muito tempo pelos invejosos. Essa também é a razão pela qual os judeus foram odiados durante todas as épocas, pois a inveja e o ódio andam juntas. Assim, o antijudaísmo religioso, o antissemitismo racista e o antissionismo político também não são nada além de inveja pelo fato de Deus ter eleito Israel por amor.

Por qual razão impérios como o Egito, a Babilônia, Roma e a Alemanha nazista, além da Liga Árabe, teriam inveja do minúsculo Israel, se em seu subconsciente não houvesse o conhecimento de que Israel é o povo amado de Deus? Assim como a ferrugem faz ao ferro, assim a inveja corrói a alma, pois é impossível satisfazer os invejosos – nem mesmo com uma solução de dois Estados.

Em Jeremias 33.24-26, o Senhor diz: “‘Você reparou que essas pessoas estão dizendo que o Senhor rejeitou os dois reinos [Israel e Judá] que tinha escolhido? Por isso desprezam o meu povo e não mais o consideram como nação’. Assim diz o Senhor: ‘Se a minha aliança com o dia e com a noite não mais vigorasse, se eu não tivesse estabelecido as leis fixas do céu e da terra, então eu rejeitaria os descendentes de Jacó e do meu servo Davi e não escolheria um dos seus descendentes para que governasse os descendentes de Abraão, de Isaque e de Jacó. Mas eu restaurarei a sorte deles e lhes manifestarei a minha compaixão’”.

Em muitas igrejas ainda prolifera a teologia da substituição, a qual afirma que a igreja assumiu o lugar de Israel, pois, desde os tempos de Cristo, Deus teria rejeitado os judeus. Não, a igreja de Jesus não deve substituir, mas complementar Israel. Também nesse caso a inveja é o fator principal. Uma vez que a difamação é a filha da inveja, não é de admirar que os judeus são constantemente difamados, pois assistir como outros são amados provoca a maldade.

O fato de que Deus até assegurou seu amor por Israel mediante juramento infeliz e frequentemente também não é assimilado pelos próprios judeus messiânicos. Dessa forma a teologia da substituição também se infiltra entre eles. Seu argumento: “Vejam como vivem os judeus!”. Verdade. No entanto, em Ezequiel 36.22, o Senhor diz que, mesmo que Israel o tenha desonrado, ele apoiará e não rejeitará a nação por causa do seu nome e por seu amor – o que, por sua vez, produz inveja.

Ludwig Schneider (1941-2018) foi o fundador da agência de notícias Israel Today. Ele trabalhou como jornalista, sendo correspondente de guerra. Dedicou seus anos finais com a área da teologia.

sumário Revista Chamada Agosto 2021

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