Como o “antirracismo” falsifica o noticiário

O jornalista Lucian Scherrer escreve em um artigo sobre as “estranhas flores” que o antirracismo vem produzindo na mídia: “Quando manifestantes agitam bandeiras nacionalistas e gritam ‘judeus de merda!’, a mídia não costuma ter problemas em falar de ‘fanáticos, nacionalistas ou neonazistas’ hostis aos judeus. Se, porém, esses manifestantes forem migrantes muçulmanos, fala-se apenas de ‘palavras de ordem anti-israelenses’ e não se comenta quem terá ‘gritado essas palavras de ordem’. Assim, as emissoras de TV reconheceram numa ‘manifestação em Berlim “muitos participantes”’”, que alegadamente “queriam declarar que ‘condenam a violência no Oriente Médio”.[2] Na verdade, porém, teria havido agressões a jornalistas, com 93 policiais feridos e gritos de palavras de ordem como “Ataquem e destruam Tel Aviv”, “Israel infanticida” e “Chaibar, Chaibar, ja jahud, Djaij Muhammad saja’ud” [Khaybar, Khaybar, judeuzada, o exército de Maomé está de volta].

Os termos referem-se à campanha de Maomé em 628 d.C. Segundo a historiografia islâmica, o profeta teria conquistado o oásis de Khaybar (atual Arábia Saudita), de população judia. Scherrer escreve: “Por mais grotescas que sejam as tentativas da mídia de tornar inofensivos os eventos, elas não surpreendem. Afinal, iniciativas de motivação política para ocultar manifestações desagradáveis de sociedades imigrantes existem há anos”. Desde que os ativistas não sejam “brancos” ou da extrema-direita, muitas vezes se faz de conta que “não se sabe nada exato sobre eles”. Scherrer conclui que “a informação ‘quem’ parece não interessar quando estão em jogo fatores como o islã ou a migração. Por um lado, muitos jornalistas não querem de modo nenhum induzir preconceitos xenófobos ou colher aplausos do lado errado (ou seja, da direita). Outros não querem reconhecer que supostas vítimas da ‘sociedade majoritária’ podem ser tão intolerantes e violentas quanto os extremistas de direita. Por outro lado, ativistas de esquerda e oficialmente antirracistas exercem com ajuda estatal uma crescente pressão interna e externa sobre as redações e editoras. Segundo essa visão, só é desejável e de interesse público o que contribui para a imagem dos imigrantes (coletivamente) e o que poderá confirmar a tese de uma sociedade majoritária estruturalmente racista. Segundo a lógica ativista, porém, quem apontar para problemas em alguns ambientes de imigrantes precisa ser difamado, não importa a seriedade com que trabalhe”.

Nota

  1. Lucien Scherrer, “Das Gelsenkirchen-Syndrom – selbst über offenen muslimischen Judenhass sprechen manche Medien lieber verklausuliert. Das hat System, auch weil sich Redaktionen von Aktivisten einschüchtern lassen”, Neue Zürcher Zeitung, 19 mai. 2021. Disponível em: https://www.nzz.ch/feuilleton/schreibt-doch-lieber-ueber-den-klimawandel-wie-ld.1600225?reduced=true.
sumário Revista Chamada Agosto 2021

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