"Black Lives Matter": Uma análise Bíblica

Uma análise pelo pastor afro-americano e professor Voddie T. Baucham, Jr.

Pastor e professor Voddie T. Baucham, Jr.Pastor afro-americano e professor Voddie T. Baucham, Jr.

A organização Black Lives Matter [Vidas negras importam] foi criada em 2013 por Patrisse Cullors, Alicia Garza e Opal Tometi, três organizadoras radicais negras treinadas, que há muito tempo já faziam parte do movimento de libertação negra mais amplo. A BLM foi estabelecida como resposta à absolvição de George Zimmerman, o homem “branco” (na verdade, ele é apenas parcialmente branco e majoritariamente afro-peruano) que matou o adolescente negro Trayvon Martin, da Flórida, em 2012. O júri concluiu que Zimmerman agiu em legítima defesa. Esses fatos não fizeram diferença para a BLM. E, no próximo ano, a organização realmente deslanchou com outro protesto após a morte de Michael Brown.

“Foi uma resposta gutural para estarmos com nosso povo, nossa família – apoiando as comunidades corajosas de Ferguson e St. Louis, enquanto elas estavam sendo brutalizadas pela aplicação da lei, criticadas pela mídia, atingidas com gás lacrimogênio e spray de pimenta, noite após noite. Darnell Moore e Patrisse Cullors organizaram uma passeata nacional durante o feriado do Dia do Trabalho naquele ano. Nós a chamamos de Black Lives Matters Ride.

A narrativa popular envolvendo a morte de Brown naquela época era baseada em mentiras agora já desacreditadas.

Protestos após a morte de Michael Brow em 2014Protestos após a morte de Michael Brow em 2014.

A BLM argumenta que esses eventos justificam “uma intervenção ideológica e política em um mundo onde vidas negras são sistematicamente e intencionalmente marcadas para a morte”. Isso, é claro, é obviamente falso, e dizê-lo é dar falso testemunho. Mesmo quando a mentira é repetida por cristãos como Latasha Morrison.

“Mesmo hoje em dia”, escreve Morrison, “os poderes governamentais continuam a tirar a vida de crianças negras e marrons, bem como de homens e mulheres, muitas vezes sem repercussão.” Ela diz isso em um livro em que menciona Michael Brown três vezes; Ferguson e Missouri, oito vezes; e faz referências diretas e favoráveis ao movimento BLM.

Mas dar falso testemunho pode ser a coisa menos problemática a respeito da BLM.

Black Lives Matter é uma organização abertamente pagã e marxista-leninista

Em um vídeo que agora se tornou viral, Cullors se define e também define suas cofundadoras como “marxistas treinadas”. Isso não é uma hipérbole. Cullors é a protegida de Eric Mann, “ex-agitador da organização terrorista doméstica Weather Underground”.[1] Com ele, ela passou vários anos absorvendo a ideologia marxista-leninista que contribui significativamente para a sua cosmovisão. As origens e o ethos marxistas revolucionários da organização são antitéticos à mensagem do cristianismo.

As fundadoras também foram muito abertas a respeito do fato de que praticam feitiçaria. Em uma chamada de vídeo de junho de 2020, Cullors e a dra. Melina Abdullah, fundadora da filial de Los Angeles da BLM, discutiram como canalizar espíritos para alcançar seus objetivos usando o culto Ifá dos iorubás, que envolve a adoração dos ancestrais.

“Na minha tradição, você oferece coisas que o seu ente querido que faleceu iria querer, como mel ou tabaco, coisas assim”, disse Cullors. “É muito importante estar em um relacionamento direto com nosso povo que morreu, não apenas para nós, mas também para eles, a fim de que saibam que nos lembramos deles. Eu acredito que muitos deles trabalham através de nós.”

Abdullah detalhou como ela “ri muito” com “Wakiesha” – o espírito de uma mulher negra encontrada morta em uma cela de prisão em Los Angeles, em 2016.

Black Lives Matter é uma organização abertamente feminista e pró-LGBTQIA+

Todas as três fundadoras da BLM são lésbicas que se incomodaram com o fato de que “os movimentos de libertação negra neste país criaram espaço e liderança em sua maior parte para homens negros, heterossexuais e cisgêneros, deixando as mulheres – que muitas vezes são queer[2] ou transgêneros –, ou fora do movimento, ou ocupando uma posição secundária, para levar o trabalho adiante com pouco ou nenhum reconhecimento”. Elas “reconheceram a necessidade de centralizar a liderança das mulheres”, particularmente queer e transgêneros. “Entre os mentores do nosso movimento”, diz Cullors, “estiveram pessoas queer e trans, cujo trabalho foi apagado e substituído por uma narrativa incontestável de liderança masculina.”

Banner da BLM com a bandeira LGBT do lado de fora de uma igreja em Lexington, Massachusetts.Banner da BLM com a bandeira LGBT do lado de fora de uma igreja em Lexington, Massachusetts.

Esse comprometimento com a causa LGBTQIA+ como o principal ímpeto por trás da BLM era evidente na página “O que acreditamos” de seu site. Eu digo “era” porque desde então a página foi deletada ­– uma manobra que eu antecipei, por isso fiz uma cópia antes que desaparecesse. (Ela também foi arquivada, então a evidência ainda está aí.[3]) Agi assim porque sabia que isso seria problemático para a BLM – e para a igreja (ou pelo menos deveria ser). Aqui estão alguns trechos da página:

“Nós somos autorreflexivos e fazemos o trabalho necessário para desmantelar o privilégio dos cisgêneros e levantar o povo negro trans, especialmente mulheres negras trans que continuam a ser impactadas desproporcionalmente pela violência contra transgêneros. [...] Nós adotamos uma rede de afirmação queer. Quando nos reunimos, o fazemos com a intenção de nos libertarmos das garras do pensamento heteronormativo, ou antes, da crença de que todos no mundo são heterossexuais (a não ser que ele/ela revele o contrário)” (ênfase acrescentada).

Caso você esteja se perguntando, o cristianismo bíblico não apenas seria um exemplo de “pensamento heteronormativo”, mas a sua própria fonte.

Black Lives Matter é abertamente misândrica e antifamília

No verdadeiro estilo da justiça social crítica, a BLM está em guerra com todos os aspectos da “hegemonia”. No entanto, sua animosidade é particularmente forte quando se trata da família e do homem bíblico:

“Construímos um espaço que afirma mulheres negras e está livre de sexismo, misoginia e ambientes de centralização do homem.

“Nós fazemos com que nossos espaços sejam familiares e permitam que os progenitores participem plenamente com seus filhos. Nós desmantelamos a prática patriarcal que exige que as mães trabalhem ‘turnos duplos’ a fim de que possam ser mães no privado, mesmo quando participam do trabalho da justiça pública.

“Nós rompemos com o requisito de estrutura familiar nuclear prescrito pelo Ocidente, ao apoiarmos uns aos outros como famílias estendidas e ‘vilas’ que cuidam coletivamente umas das outras, especialmente das crianças, a fim de que mães, progenitores e crianças estejam confortáveis.”

Embora o problema óbvio com essa parte da declaração da BLM é que os seus membros estejam comprometidos a “rompe[r] com o requisito de estrutura familiar nuclear prescrito pelo Ocidente”, algumas outras coisas são dignas de nota. Primeiramente, perceba que a palavra “pai” não aparece em lugar algum das declarações da BLM a respeito da família. “Mulheres”, “crianças” e “progenitores”, mas nenhuma menção a pais.

Da esquerda para direita: Alicia Garza, Opal Tometi e Patrisse Cullors.Da esquerda para direita: Alicia Garza, Opal Tometi e Patrisse Cullors.

Da mesma forma, a declaração condena a “centralização do homem”. Caso você não esteja familiarizado com o termo “centralização”, ele se refere à prática de tornar algo um padrão, e é comum no linguajar antirracista e de críticos sociais. Robin DiAngelo, por exemplo, se refere a um “ambiente inautêntico, centrado na normatividade branca, e, assim, hostil”. Em outro lugar, ela condena a “centralização de pessoas brancas e da voz branca”. Ibram X. Kendi também se refere frequentemente a “não centralizar os brancos”. Latasha Morrison faz referência a estar “centrada na branquitude”. Eu não estou sugerindo que todas as pessoas que usam “centralização” são guerreiros sociais. O termo se tornou parte do linguajar comum. No entanto, ele tem um significado claro no mundo da teoria crítica racial.

Finalmente, note a referência a “vilas”. Isso é uma alusão à visão comunitária e matriarcal da família, reminiscente do ensino marxista antigo.

Precisamos levar cativo todo pensamento

“... levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo. E estaremos prontos para punir todo ato de desobediência, uma vez estando completa a obediência de vocês.” (2Co 10.5-6).

Racismo existe. Injustiça existe. Não importa quantas vezes eu diga essas coisas, eu ainda serei acusado de fazer vista grossa – não porque eu neguei a sua existência, mas porque eu nego a visão da teoria crítica racial de que eles são “normais” e estão na base de todas as coisas.

Mas há outra maneira de enxergar as coisas. “A história dos EUA não é nem puramente má e racista, nem perfeita”, escreve Thomas Sowell. “A correlação não é causação, disparidade não é necessariamente discriminação. Problemas complexos necessitam de soluções complexas. [...] Tornar o racismo a força motriz por trás da escravidão é tornar um fator historicamente recente a causa de uma instituição que se originou milhares de anos atrás.”

A visão de mundo da campanha por justiça social deriva de pressuposições sobre hegemonia, então interpreta tudo à luz disso. Portanto, lidar com essa campanha exige que os pensamentos sejam levados cativos.

Novamente, o movimento Black Lives Matter serve como um exemplo útil de como isso se parece.

Precisamos confrontar a mentira e apegarmo-nos à verdade

Black Lives Matter é um cavalo de Troia. O movimento tem um nome que os cristãos consideram atraente, porque amamos a Deus e o nosso próximo e temos o desejo de que a justiça seja feita. E, para alguns, isso passou a ter o significado de abraçar a falsa narrativa do “terror patrocinado pelo Estado contra corpos negros e marrons”. Precisamos amar nosso Deus, seu evangelho e nossos irmãos e irmãs o suficiente para desafiar essa falsa narrativa. Contudo, ao fazermos isso, precisamos ir mais fundo.

Precisamos ouvir com discernimento

Há uma razão pela qual as pessoas gravitam em direção à falsa narrativa do “terror patrocinado pelo Estado”. Para alguns, se trata de suas próprias experiências pessoais negativas. Para outros, é o bombardeio constante de repetições da falsa narrativa por parte da mídia. Para uns poucos, a atração está centrada no poder desordenado que eles subitamente ganham à medida que o mundo busca “ouvir e ‘centralizar’ a sua voz”. Para muitos cristãos brancos, é a oportunidade para ameniza a sua culpa. Em todos esses casos, precisamos ouvir nossas irmãs e irmãos e demonstrar compaixão. Todavia, precisamos também lembrar de nosso compromisso primário e dizer-lhes a verdade. Precisamos levar esses pensamentos cativos.

Precisamos corrigi-los

Os fatos a respeito da Black Lives Matter não deixam dúvidas. A organização é marxista, revolucionária, feminista, misândrica, pró-LGBTQIA+, pró-aborto e antifamília, com raízes no ocultismo. É inaceitável para nós, cristãos, participarmos, celebrarmos, nos identificarmos ou promovermos essa organização. E isso inclui sermos atormentados ou pressionados para usarmos a frase “vidas negras importam”.

Quando digo isso, as pessoas sempre perguntam: “Então você está dizendo que vidas negras não importam?”. Permita-me responder.

“Não precisamos de uma hashtag para que as vidas negras tenham significado e importância.”

Em primeiro lugar, eu rejeito a premissa da questão; ela presume que vidas negras não importavam até 2013, quando Cullors, Garza e Tometi criaram o título. Até esse momento, as pessoas negras podiam ser mortas como cachorros na rua e ninguém se importava. Isso é absurdo! Nós não vivemos no sul de Jim Crow.[4] A era de linchamentos públicos já passou faz tempo. Não precisamos de uma hashtag para que as vidas negras tenham significado e importância.

Segundo, eu sou cristão. Eu acredito que todas as pessoas são feitas à imagem de Deus. Portanto, eu certamente acredito que as vidas das pessoas importam, qualquer que seja a quantidade de melanina em sua pele. A ideia de que usar a frase ou hashtag “Black Lives Matter” é agora um teste decisivo para saber se alguém é um aliado antirracista é absurda. Eu também não preciso ver uma hashtag na rede social de qualquer das minhas irmãs ou irmãos para saber que eles ficaram horrorizados com a morte de George Floyd. Eu não fico sentado pensando se os cristãos brancos se importam quando pessoas negras são mortas a tiros nas ruas. Eu acredito que eles pertencem a Cristo e amam a humanidade, até que demonstrem o contrário.

Isso não irá consertar as falhas. Nada irá. Essas divisões são tanto reais quanto necessárias. Como eu disse no início, o objetivo aqui é estar no lado correto da divisa quando a catástrofe vier. Nesse meio tempo, devemos amar. Eu não quero dizer que devemos aceitar a versão falha, castrada e antibíblica de amor do mundo – a versão que vê qualquer desentendimento ou confrontação como inerentemente desprovida de amor. Não, nós precisamos amar uns aos outros com um amor persistente, bíblico e semelhante ao de Cristo.

Black Lives Matter
“A Black Lives Matter é uma organização marxista, revolucionária, feminista, misândrica, pró-LGBTQIA+, pró-aborto e anti família, com raízes no ocultismo. É inaceitável para nós, cristãos, participarmos, celebrarmos, nos identificarmos ou promovermos essa organização.”

Querido leitor, eu sei que isso é difícil. Eu não gosto de perder amigos, ser xingado ou removido de plataformas mais do que você. No entanto, você e eu precisamos amar a verdade mais do que amamos nossos amigos, nossa reputação ou nossas plataformas. Eu não estou sugerindo que saiamos e sejamos rudes, desagradáveis ou desrespeitosos. Eu espero não ter feito isso nestas páginas. Ao invés disso, eu espero ter atentado às palavras do apóstolo e encorajado você a fazer o mesmo:

“Quem há de maltratá-los, se vocês forem zelosos na prática do bem? Todavia, mesmo que venham a sofrer porque praticam a justiça, vocês serão felizes. ‘Não temam aquilo que eles temem, não fiquem amedrontados.’ Antes, santifiquem Cristo como Senhor em seu coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer pessoa que pedir a razão da esperança que há em vocês. Contudo, façam isso com mansidão e respeito, conservando boa consciência, de forma que os que falam maldosamente contra o bom procedimento de vocês, porque estão em Cristo, fiquem envergonhados de suas calúnias. É melhor sofrer por fazer o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal” (1Pe 3.13-17).

É claro, isso se aplica apenas se a justiça pela qual sofremos é “a justiça de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1), a justiça “que vem mediante a fé em Cristo” (Fp 3.9). A falsa religião, o falso sacerdócio e o falso cânone do antirracismo não podem conceder essa justiça.

Ironicamente, o antirracismo também é impotente contra o racismo. É Cristo, e somente Cristo, que “de ambos fez um e destruiu a barreira, o muro de inimizade” (Ef 2.14). Isso não significa que cristãos brancos e negros não possam ofender ou pecar uns contra os outros. Também não significa que o pecado do racismo não se erguerá na cultura mais ampla, ou até mesmo na igreja. O que isso significa é que nós temos a resposta.

Notas

  1. Yaron Steinbuch, “Black Lives Matter co-founder describes herself as ‘trained Marxist’”, New York Post, 25 jun. 2020. Disponível em: https://nypost.com/2020/06/25/blm-co-founder-describes-herself-as-trained-marxist/.
  2. Queer é uma palavra usada para referir-se a indivíduos que não se enxergam como heterossexuais ou que não se definem pelas normas sociais de gênero. Em sua origem, significa algo como “esquisito” ou “estranho”. (N.T.)
  3. “What We Believe”, Black Lives Matter, s.d. Disponível p. ex. em: https://web.archive.org/web/20200729104228/https://blacklivesmatter.com/what-we-believe/. Acesso em: 28 jun. 2021.
  4. As “leis de Jim Crow” foram leis impostas em algumas partes do sul dos Estados Unidos, entre 1877 e 1964, que determinavam a segregação racial. (N.T.)

 

Publicado com autorização de Salem Books,
Washington, D.C., www.SalemBooks.com.
Extraído do livro Fault Lines, p. 217-225.

Voddie T. Baucham, Jr. é doutor em ministério pelo Southeastern Baptist Theological Seminary e serve atualmente como deão de teologia na African Christian University, em Lusaca, capital da Zâmbia.

sumário Revista Chamada Agosto 2021

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