Declínio na espera do retorno de Cristo

Uma entrevista com alguns dos maiores especialistas em profecia bíblica do mundo atualmente, conduzida por Johannes Vogel durante uma conferência nos EUA, a respeito do declínio na esperança do retorno de Cristo (“Maranata”).

O que sente ao ouvir a palavra “Maranata”?

Donald Perkins: Quando ouço a palavra “Maranata”, sou lembrado de que meu Senhor voltará. Isso me conscientiza da necessidade de dirigir o olhar para a sua volta.

Dr. Thomas Ice: Trata-se de uma palavra aramaica que a igreja primitiva usava como saudação. É dito que entre os antigos cristãos havia um costume em que um deles desenhava com o pé a metade do peixe simbólico no chão, ao passo que a outra pessoa completava o símbolo, e então eles falavam “Maranata”. Isso mostra a expectativa dos primeiros cristãos de que Cristo poderia voltar a qualquer momento. Assim, trata-se de uma saudação, por isso também Paulo a acrescentou ao final de sua mensagem aos coríntios. Considera-se que nos primeiros cem anos a igreja primitiva mantinha viva essa emocionante expectativa. Portanto, se alguém já fica cansado após 40 anos, está na hora de novamente focar no “Maranata” e no fato de que se trata de um desejo, uma nostalgia, com o qual os cristãos outrora saudavam uns aos outros.

Dr. Ed Hindson: Eu sinto uma alegria antecipada pela volta de Cristo, assim como era a dos primeiros cristãos. Essa palavra era utilizada pelos primeiros cristãos para expressar a alegria que sentiam pela possibilidade de que Jesus Cristo poderia voltar a qualquer momento. Com “Maranata”, eles se incentivavam mutuamente a viver sua vida dignamente diante dessa expectativa.

Você acredita que a postura interior dos cristãos diante da palavra e do estilo de vida “Maranata” se alterou?

Dr. Andrew Woods: Absolutamente. Até pelo fato de que a igreja ensina que o reino de Deus já é edificado aqui na terra. Com essa convicção, você começa a enxergar este mundo como o seu lar e, assim, é destruída a ideia de que Jesus poderá voltar a qualquer momento para nos resgatar dele.

Dr. Ed Hindson: Infelizmente, eu receio que muitos cristãos atualmente nem sabem que a palavra “Maranata” consta no Novo Testamento. Por esse motivo eles também não compreendem o significado da expressão. Disso naturalmente resulta o chamado esse “cansaço” que atinge todo o campo da profecia bíblica.

Dr. Mark Hitchcock: Sim. Eu vejo que hoje a maioria das pessoas na igreja está adormecida, assim como Jesus antecipou em Mateus 25. Elas nem lembram das profecias. Quando eu era mais jovem, isto é, nas décadas de 60 e 70, falava-se bastante sobre profecias nas igrejas.

Dr. Randall Price: A ideia da volta de Jesus, a qualquer momento, é uma verdade que hoje, nas igrejas, escorre entre os dedos. Os crentes fazem muitos planos, mas eles não incluem o arrebatamento neles, nem o fato de que, algum dia, estarão juntos com o seu Senhor, que os levará para si. Nós não raciocinamos nessa dimensão.

Em sua igreja, a palavra “Maranata” tem um papel relevante?

Dr. Andrew Woods: Na minha igreja a palavra “Maranata” tem um papel importante porque eu falo constantemente sobre a iminente volta de Cristo. Eu aproveito todas as oportunidades para lembrar a nós, crentes, que o mundo não é o nosso lar. Naturalmente isso não garante que a igreja também viva nessa expectativa. Isso eu não posso garantir, mas é possível.

Donald Perkins: Em nossa igreja, “Maranata” nos incentiva a evangelizar. Nos conscientizamos de que resta pouco tempo e que o nosso Senhor vem logo.

Dr. Ed Hindson: Em meu trabalho pessoal, “Maranata” desempenha um papel muito importante, pois estou plenamente convicto de que a Bíblia ensina o pré-tribulacionismo, ou seja, a volta de Jesus a qualquer momento e ainda antes da época da tribulação. Diante dessa verdade, a maneira como eu vivo é muito importante, pois não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Assim, deixamos para Deus decidir a hora, mas vivemos sabendo que Jesus pode voltar a qualquer momento.

“Se você ensina sobre a Bíblia, não escapará do assunto.”

Dr. Mark Hitchcock: Eu escrevi uma série de livros sobre profecia e falo muito sobre o tema. Assim, as pessoas na minha igreja conhecem essa temática. Eu não falo sempre sobre profecia porque a igreja necessita de uma alimentação equilibrada das verdades bíblicas. No entanto, assim que acontecem eventos significativos no mundo, falamos sobre isso. Certa vez eu também fiz uma série de palestras sobre o arrebatamento. Isso simplesmente faz parte de uma nutrição equilibrada. Além disso, ensinamos também sobre todos os livros da Bíblia e, assim, nos deparamos automaticamente com esse tema, pois a volta de Cristo é mencionada mais de 300 vezes no Novo Testamento. Se você ensina sobre a Bíblia, não escapará do assunto.

Dr. Thomas Ice: Há 35 anos eu acrescento a palavra “Maranata” após o meu nome nos e-mails e cartas que escrevo, pois tenho a esperança de que Cristo poderá voltar a qualquer momento.

Em sua opinião, o que causa esse “cansaço” pela esperança do retorno do Senhor?

Dr. Andrew Woods: Eu penso que esse cansaço ocorre quando as pessoas começam a marcar prazos com base na Bíblia, abandonando completamente o contexto bíblico e começando especulações sobre a volta de Cristo – o que não tem mais nada a ver com a Bíblia. Chegam então as datas marcadas e nada acontece, e as pessoas ficam decepcionadas, resignadas, entediadas ou desdenhosas. “Ah, eu já ouvi falar muitas vezes sobre isso!”

“Se não houver ensino sobre a volta do Senhor, também não haverá a espera por ele.”

Donald Perkins: Esse cansaço surge por meio das muitas pessoas que não conhecem a Palavra de Deus. As Escrituras, porém, dizem que a fé vem pelo ouvir e o ouvir vem pela Palavra. Assim, se não houver ensino sobre a volta do Senhor, também não haverá a espera por ele. Por isso hoje temos uma geração que na verdade não sabe nada sobre o fim dos tempos. Esse lapso de conhecimento é o motivo de tal cansaço.

Dr. Ed Hindson: Eu acho que existem vários motivos: 1) vivemos na época do bem-estar material. As pessoas não têm pressa pela volta de Jesus. A vida aqui na terra é boa demais. Assim, não estamos focados no céu, mas na terra; e 2) acho que isso é uma reação diante dos últimos 50 anos de extrema “especulação profética”. Por exemplo, as pessoas marcam datas, estão convictas que um determinado líder político é o Anticristo ou acreditam que as luas de sangue sejam o sinal. Elas ouvem isso e aquilo, mas nada acontece, o que as cansa, fazendo-as reagir e decidir: “Essas coisas não me interessam mais”. Isso sufoca a verdadeira alegria antecipada pela volta do Senhor.

Como podemos renovar a nossa própria atitude de expectativa pelo retorno de Cristo?

Dr. Andrew Woods: Eu renovo minha atitude ao ler minha Bíblia, especialmente as cartas de Paulo no Novo Testamento. Dou atenção às passagens em que somos exortados a dirigir nossa esperança para a volta iminente de Cristo, que é a nossa bendita esperança. Ao lermos essas passagens, a verdadeira perspectiva retornará.

Donald Perkins: Eu diria: volte-se para a Palavra. A maneira como podemos renovar nossa atitude de expectativa é compreendida pelo que a Bíblia diz. Outra maneira é observar todos os acontecimentos atuais no mundo ao nosso redor. Quando você observa esses acontecimentos diante das Escrituras, isso lhe incentiva a crer em Deus e no fato de que ele voltará. Para mim, pessoalmente, é útil observar como a Palavra de Deus se cumpre. Isso me enche da certeza de que em breve ele voltará.

“Deveríamos desejar ver aquele que amamos e que morreu por nós.”

Dr. Mark Hitchcock: Eu acho que é importante, além do estudo bíblico, reunir-se com cristãos que igualmente estão esperançosos pela volta de Jesus. Isso novamente nos incentiva a termos esperança. O grande alvo, no entanto, é nos tornarmos mais parecidos com Jesus. O objetivo final, ao término de nossa vida, é ver Jesus. Como crentes, deveríamos desejar ver aquele que amamos e que morreu por nós. Essa deveria ser a nossa motivação final quando tratamos de expectativa.


Andy Woods é doutor em teologia pelo Dallas Theological Seminary e presidente do Chafer Seminary.

Donald Perkins é um evangelista e já ensinou em muitos seminários e centros de treinamento bíblicos. Por ser um palestrante respeitado, é convidado para muitas conferências, seminários e igrejas para falar sobre profecia bíblica.

Ed Hindson ensinou mais de 150 mil alunos nos últimos 40 anos. Doutor pelo Westminster Theological Seminary, lecionou em diversas universidades, como Oxford University e Harvard Divinity School.

Mark Hitchcock é autor, professor associado no Dallas Theological Seminary e pastor sênior na Faith Bible Church, em Edmond, Oklahoma.

Randall Price é professor de estudos bíblicos e judaicos na Liberty University. Trabalhou na Universidade Hebraica de Jerusalém durante sua pós-graduação e atua como arqueólogo em Israel há 25 anos.

Thomas Ice é Ph.D. pelo Tyndale Theological Seminary. Autor de aproximadamente 30 livros, também é um renomado conferencista.

sumário Revista Chamada Junho 2021

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