Pandemia vs Teologia da Prosperidade

A crise do coronavírus deixou claro para muitos cristãos ocidentais que eles não têm garantias de uma vida confortável. Eis que surge a pergunta: a quem servimos: Deus ou Mamon? Caímos no evangelho da prosperidade ou estamos prontos para negar a nós mesmos?

A mensagem implícita da teologia da prosperidade é de que a evidência das bênçãos de Deus (até mesmo a validação da salvação) é um alto padrão de vida, como é definido pela perspectiva humanista dominante do mundo. Essa visão não se sustenta diante de qualquer confronto com as Escrituras, pois ela não é bíblica. Nenhuma menção, nem mesmo uma afirmação indireta de apoio a essa doutrina, é encontrada no Novo Testamento.

A teologia da prosperidade é um sistema de crença falso, fortemente atado ao paganismo e enganosamente revestido de formas e palavras cristãs.

Se fosse assim, deveríamos concluir que Jesus Cristo, todos os apóstolos e a maioria dos cristãos do primeiro século foram pessoas malsucedidas. Eles não haviam descoberto o evangelho da prosperidade e nunca entraram nas bênçãos. Alguém pode se perguntar por que um dos primeiros nomes dados aos cristãos do século 1 era “ebionitas”, que significa “os pobres”. A teologia da prosperidade é um sistema de crença falso, fortemente atado ao paganismo e enganosamente revestido de formas e palavras cristãs. É uma heresia que tem tido um papel sério em levar a América do Norte à sua ruína, esfriando a fé de muitos. Finalmente, ela pode revelar que, em primeiro lugar, muitos dos cristãos progressistas nunca tiveram uma conversão. Não é um evangelho; ao contrário, é uma idolatria.

Embora possamos denunciar o hedonismo das elites e os roubos fraudulentos dos líderes de Wall Street, por exemplo, uma culpa especial deve ser reservada aos falsos pastores que têm subido ao púlpito nessas últimas décadas. Eles não lotaram os púlpitos por acaso. O que não foi pregado é o desprendimento, isto é, a negação do eu (Mt 16.24), o fato de que “nenhum de nós vive apenas para si” (Rm 14.7) ou que o propósito máximo da nossa existência é a glorificação de Deus e não a satisfação de nossos estômagos e glândulas carnais.

Como resultado, países com alta renda, como Estados Unidos, Canadá e outros estão repletos de “cristãos bebês”, ainda na dieta do leite, que não conseguem digerir o “alimento sólido” da realidade e da responsabilidade. Paulo achou que tais cristãos eram desprezíveis, dizendo: “... ainda são carnais” (1Co 3.3). Lemos também: “Estão precisando de leite, e não de alimento sólido! Mas o alimento sólido é para os adultos, os quais, pelo exercício constante, tornaram-se aptos para discernir tanto o bem quanto o mal” (Hb 5.12b,14).

A maior tragédia é que muitos desses “cristãos bebês” desistirão da fé e começarão a odiar a Deus durante os tempos econômicos difíceis do presente e que estão por vir. O Deus “diferente” que lhes foi ensinado era um proverbial paizão, que distribuía enfeites de Natal, brinquedos, sucesso e aceitação todas as vezes que era telefonado. Para eles, Deus é um meio, não um fim.

Será que, para começar, algumas dessas pessoas nunca estiveram interessadas na riqueza eterna? Deixar escapar riquezas eternas por causa de um luxo temporal é uma política extrema de mau investimento. Em tempos como estes, devemos ser resolutos e não olhar para a esquerda nem para a direita, mas em direção aos nossos destinos e promessas eternos.

Quais cristãos não ficarão tentados a crer que Deus e o país os abandonaram? Em vez do “sonho americano” ou das promessas suaves do pregador, os cristãos estão passando por dificuldades e problemas decepcionantes.

Muitos cristãos estariam inclinados a se lamentar diante de Deus, como fez Jeremias: “Por que te tornaste para mim como um riacho seco, cujos mananciais falham?” (Jr 15.18b). Jeremias achava que, como ele estava andando com Deus e respondendo ao chamado dele, merecia tratamento especial. Ele reclamou a Deus, dizendo: “Jamais me sentei na companhia dos que se divertem, nunca festejei com eles. Sentei-me sozinho, porque a tua mão estava sobre mim e me encheste de indignação. Por que é permanente a minha dor, e a minha ferida é grave e incurável?” (Jr 15.17-18a).

E como Deus lhe respondeu? Ele sequer reconheceu a reclamação. Ele simplesmente disse o seguinte: “Se você se arrepender, eu o restaurarei para que possa me servir...” (Jr 15.19).

Não há dúvida de que os apóstolos do Novo Testamento acertaram essa mesma questão de maneira satisfatória. Eles estavam fazendo a vontade do Senhor e, como resultado, foram todos abençoados com ricas capas e finos alimentos, certo? De fato, foi exatamente o contrário. Onze deles não morreram de forma natural. Todos eles sofreram fisicamente por causa de sua fé. Isso era justo? Paulo disse: “Ao contrário, como servos de Deus, recomendamo-nos de todas as formas: em muita perseverança; em sofrimentos, privações e tristezas; em açoites, prisões e tumultos; em trabalhos árduos, noites sem dormir e jejuns; em pureza, conhecimento, paciência e bondade; no Espírito Santo e no amor sincero” (2Co 6.4-6).

A grande mentira ecumênica dos últimos dias, de que é possível servir a Deus e a Mamom, está bem difundida. Como isso é na verdade impossível, uma vez que “ninguém pode... servir a Deus e ao Dinheiro [grego, Mamom]” (Mt 6.24), esse é realmente um movimento no qual Mamom revestiu-se com os trajes da religião e com a aparente “piedade cristã”.

A verdadeira igreja dos últimos dias está mais para um remanescente do que para um resplandecente de riquezas. Apocalipse 3.8 diz que a igreja da “porta aberta” é fraca e sem forças, longe de ser impregnada de poder e riqueza terrenos. A esse pequeno grupo de crentes de Filadélfia foi feita a seguinte promessa: “Visto que você guardou a minha palavra de exortação à perseverança, eu também o guardarei da hora da provação que está para vir sobre todo o mundo, para pôr à prova os que habitam na terra” (Ap 3.10).

Existe um grande valor eterno a ser achado no privilégio de servir a Deus: a promessa não merecida de vida eterna e a indescritível perspectiva de estar na presença dele para todo o sempre. Entretanto, admitimos que essa não é uma interpretação do evangelho muito simpática aos “consumidores”. O pagão moderno não estará interessado. Uma pessoa assim está, pelo contrário, buscando benefícios e vantagens para o aqui e agora. Tais pessoas não possuem o conceito de riquezas externas ou de um compromisso com a inviolabilidade da verdade bíblica. Seu ponto de referência é terreno e sua estrutura do tempo é muito curta.

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Trecho extraído do livro O Apocalipse Financeiro Mundial Profetizado, p. 151-153., disponível em loja.chamada.com.br

Wilfred J. Hahn é economista e já foi o diretor executivo do Grupo de Investimentos Globais do Bank of Canada.

sumário Revista Chamada Junho 2021

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