O que as mudanças climáticas têm a ver com a segurança de Israel?

Os especialistas alertam que os efeitos das mudanças climáticas atingirão Israel de forma particularmente dura, razão pela qual o país deveria preparar-se melhor. Qual é a relação das mudanças climáticas com a segurança nacional israelense?

Os primeiros relatos mais abrangentes sobre essa temática, que aliás foram registrados internacionalmente, apareceram nos últimos anos. Trata-se de perspectivas futuras bastante preocupantes que, segundo os profissionais, ameaçam Israel. Em particular, um relatório do Serviço Meteorológico de Israel expôs isso com bastante clareza: já faz alguns anos que os verões em Israel estão sendo bem mais quentes, e sua duração também tem aumentado. Também chama atenção que nem sequer à noite a temperatura cai sensivelmente. Já o inverno não está apenas cada vez mais curto, mas, em vários anos seguidos, poucas regiões israelenses registraram precipitações de acordo com a média anual. Em geral, houve bem menos chuva – em algumas áreas, de 15 a 25 por cento menos. Uma análise dos dados revelou que a temperatura média em Israel subiu 1,4ºC entre 1950 e 2017. O aumento mais maciço foi registrado nos últimos 30 anos. Sobre as perspectivas futuras, esses especialistas opinaram que a temperatura média continuará subindo tanto no verão como no inverno até 2050: nos meses de verão, provavelmente em até mais 2ºC; e nos de inverno, 1,3ºC. Os habitantes do país precisam preparar-se para mais dias por ano com temperaturas superiores ou até muito superiores a 30 graus. Uma retração progressiva das reservas de água se enfrentará em âmbito nacional.

Estes dois aspectos – temperaturas crescentes e menores precipitações – induziram pesquisadores do Instituto Nacional de Estudos de Segurança (INSS, na sigla original) a se ocupar com tais efeitos, levando em conta numerosos segmentos da vida, do que resultou em nível macro uma ameaça à segurança nacional de Israel que requer ações imediatas e, principalmente, um planejamento urgente em determinadas áreas.

Referindo-se não só às estações do ano cada vez mais quentes e com menos precipitações, mas também a consequências como grandes incêndios na natureza que ameaçam a flora e a fauna, além de repetidamente prejudicarem assentamentos humanos. Os especialistas mencionaram ainda enchentes regionais (uma vez que os solos ressequidos não absorvem mais nem pequenas precipitações), a extensão de regiões áridas e um avanço da desertificação que terá grandes consequências sobre a agricultura, chegando a alterar vastas áreas por causa de alagamentos ocasionais e erosão. Uma das mudanças mais significativas é prevista para Israel com a elevação do nível do mar. Afinal, a grande maioria da população do país concentra-se ao longo do litoral mediterrâneo.

O custo de vida dos domicílios resultante do aumento do consumo de energia crescerá continuamente. O país terá de investir muito mais na prevenção de catástrofes.

Para Israel, isso significa maior demanda de energia para a produção de água potável e produtos agrícolas. Consequentemente, o custo de vida dos domicílios resultante do aumento do consumo de energia crescerá continuamente. O país terá de investir muito mais na prevenção de catástrofes, mas não são apenas essas consequências diretas das mudanças climáticas que constituem uma ameaça para a segurança do Estado de Israel. Os especialistas do INSS levaram em conta também toda a região, porque, afinal, esses processos não atingem apenas Israel, mas também trazem consequências para outros países. Ao observar a Síria, abalada pela guerra civil, os pesquisadores constataram que, por causa de uma estiagem, já ocorreu de 2007 a 2010 uma fuga da população rural para as cidades, o que em muitos casos trouxe desemprego e mais empobrecimento. Isto, por sua vez, terá sido solo fértil para o recrutamento de milicianos por grupos radicais e terá contribuído para a fuga em massa de população com que a Europa se vem defrontando. O encadeamento de tais consequências acrescenta também a essa corrente de refugiados gente de outros países do Oriente Médio e da África.

Além disso, a elevação do nível do mar importa não só para a população israelense, mas os especialistas vislumbram possíveis cenários que poderão ocorrer em cidades egípcias do delta do Nilo, entre as quais Alexandria e Port Said. Hoje vivem ali seis milhões de egípcios, mas até 2050 a população desse país dobrará, de modo que quase doze milhões de pessoas serão atingidas.

Baseando-se em cenários diferentes, eles assumem parâmetros apenas para esses dois países que contribuem para uma situação geral que está se tornando instável. Vizinhos de Israel, bem maiores que esse pequeno país e que estão sendo agitados por violentas crises, representam uma ameaça para a segurança nacional do país. Acrescentando-se a isso ainda que Israel precisa também lutar com dificuldades próprias, a situação torna-se realmente crítica. Além disso, os especialistas citam nesse contexto que as mudanças climáticas vêm prejudicando inclusive a funcionalidade das forças de defesa de Israel. É fácil imaginar que pontes arrasadas, barragens rompidas e estradas soterradas também criem problemas para o exército. Por isso, o INSS também cita concretamente as poucas, porém violentas, precipitações, em parte de dimensões diluvianas, ocorridas no sul de Israel no inverno de 2019-2020, com consequências pesadas não apenas para as forças armadas terrestres, mas até mesmo para a força aérea israelense.

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Março 2021

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