Os judeus controlam o mundo?

De acordo com muitas teorias da conspiração, os judeus estão por trás de tudo. Há alguma verdade nisso?

Dizem que o rei Luís XIV pediu a Blaise Pascal, o renomado filósofo francês, para lhe dar uma prova da existência de Deus. Aparentemente sem nenhuma hesitação, Pascal respondeu: “Ora, os judeus, sua Majestade, os judeus!”. Os cristãos concordariam. Como é que alguém pode não ver qualquer judeu hoje como prova viva da existência e da fidelidade de Deus?

Não obstante, a própria história dos hebreus testifica para a glória de Deus que ele os separou por um tempo. De acordo com a Bíblia, um “tempo dos gentios” final foi decretado. O próprio Jesus identificou esse tempo, dizendo: “Cairão pela espada e serão levados como prisioneiros para todas as nações. Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos deles se cumpram” (Lc 21.24).

Essa era certamente veio a acontecer e ainda continua até hoje. Nabucodonosor, rei da Babilônia, destruiu Jerusalém e o templo e deportou uma grande parte da população judaica para a Babilônia. Daquele momento em diante (embora alguns argumentem que o início desse período foi com a igreja), seria o tempo dos gentios. O mundo seria governado pelas nações não hebraicas.

De acordo com sir Robert Anderson, famoso autor do século XIX, que escreveu The Coming Prince [O príncipe vindouro], agora é o sexto, último e mais longo período que os hebreus e seus descendentes passariam sob a dominação dos gentios: a diáspora.[1] Anderson afirmava que os hebreus haviam sido dominados pelos gentios por cinco períodos específicos e separados antes da era atual. “Eles foram escravos do rei da Mesopotâmia durante oito anos, do rei de Moabe durante 16 anos, do rei de Canaã durante 20 anos, dos midianitas durante sete anos e finalmente dos filisteus durante 40 anos”, observou.

Contudo, a despeito do claro testemunho da Bíblia de que a era dos gentios permanece nesta época, uma das crenças mais nefastas e teimosas sobre os judeus no mundo inteiro é que eles estão conspirando para tomar o controle mundial. Como isso poderia ser possível?

O livro bíblico de Ester é profético, embora de uma forma diferente das predições feitas pelos profetas. O livro todo é uma alegoria (melhor dizendo, apresenta uma ideia) daquilo que os judeus iriam enfrentar durante a diáspora. A história acontece apenas duas gerações depois do tempo em que os judeus ganharam liberdade para restabelecer e reconstruir Jerusalém. A grande maioria (provavelmente nove décimos) escolheu ficar na Babilônia. Mais tarde, alguns se mudaram para outros lugares, inclusive para Susã. No livro de Ester, vemos os judeus prosperando nessa cidade persa sob o governo do rei Xerxes. Ester e Mordecai, os principais personagens judeus desse relato, penetram os mais altos escalões daquela sociedade. Registros extrabíblicos daquela época em Susã relatam sobre muitos judeus como mercadores, comerciantes e banqueiros prósperos.

Embora os judeus fossem de fato prósperos e tivessem grande influência durante os tempos da diáspora, eles ainda estavam sujeitados aos gentios.

No relato sobre Ester, vemos que os judeus eram vistos como reservados, mas o judaísmo não era percebido necessariamente como uma identificação religiosa, como acontece com muitos judeus hoje. (É interessante que nenhuma referência a Deus é feita em todo o livro de Ester.) Também observamos que os judeus eram propensos a ser perseguidos. Uma perspectiva importante da história é que, embora os judeus fossem de fato prósperos e tivessem grande influência durante os tempos da diáspora, eles ainda estavam sujeitados aos gentios. Xerxes, um gentio, ainda estava no comando. Assim é no mundo hoje, até nos Estados Unidos, com sua população relativamente grande de judeus.

Embora muitos judeus tenham posições influentes nos governos (por exemplo, Henry Kissinger ou Paul Wolfowitz nos EUA) e possam ter uma presença significativa nos mercados financeiros ou no cinema, este ainda permanece o tempo dos gentios. Os judeus continuam sendo um pequeno número (nem perto de 1% da população mundial). De acordo com as Escrituras, “O Senhor os espalhará entre os povos, e restarão apenas alguns de vocês no meio das nações às quais o Senhor os levará” (Dt 4.27).

Também é verdade que muitos judeus têm sido proeminentes ou têm estado à frente tanto de movimentos bons quanto de – talvez – movimentos controversos. Como os judeus eram encontrados no ápice das mudanças e das principais tendências mundiais, sejam sociais, morais ou econômicas, eles podem ser percebidos como influentes acima do número proporcional de pessoas. Mas o aspecto a ser observado é que, embora influentes, eles geralmente estão dos dois lados de qualquer debate. Pense no final dos anos 1800, antes que dois milhões de judeus deixassem a Rússia. Os judeus perfaziam uma grande porção dos dois partidos principais de oposição, o Bolchevique e o Menchevique. Vemos essa divisão dos judeus hoje na América do Norte. Os judeus exercem ativamente suas opiniões e influência nos dois lados de qualquer espectro.

Estas são algumas das razões pelas quais podemos ignorar as teorias de conspiração que afirmam o comando dos judeus. Como cristãos que creem na Bíblia, temos toda a razão para crer em outro plano de conspiração, um que a Bíblia menciona. No final, Deus, agindo em ira, fará com que os judeus finalmente reconheçam o Messias, “aquele a quem traspassaram” (Zc 12.10). Depois, sim, ele colocará os judeus como cabeça do mundo. Todavia, isso não acontecerá antes que o tempo dos gentios tenha acabado.

Trecho extraído do livro O Apocalipse Financeiro Mundial Profetizado, p. 165-167., disponível em loja.chamada.com.br

Nota

  1. Robert Anderson, The Coming Prince (Grand Rapids, MI: Kregel, 1957), p. 83.

Wilfred J. Hahn é economista e já foi o diretor executivo do Grupo de Investimentos Globais do Bank of Canada.

sumário Revista Chamada Março 2021

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