Os efeitos da pandemia na economia israelense

As sequelas econômicas da pandemia são percebidas no mundo inteiro. Todos se queixam – grandes grupos empresariais, empresas de porte médio, pequenos negócios, isso sem falar dos muitos novos desempregados. Como se apresenta a situação em Israel?

Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israel, apresentou-se várias vezes na televisão israelense para informar o povo sobre novas restrições e pacotes de ajuda governamentais. Repetidamente ele expôs estatísticas comparativas para mostrar que, em termos das consequências econômicas da pandemia, Israel até não está tão mal colocado na classificação mundial. No entanto, se examinarmos as manchetes das revistas israelenses de economia, levantam-se dúvidas, porque estas relatam que, em sua existência de apenas 72 anos, Israel nunca passou – nos últimos 45 anos – por um encolhimento tão drástico da economia, e nunca antes houve tanta gente procurando alimentos básicos em organizações assistenciais.

Em tais comparações, é usual lançar mão do Produto Interno Bruto (PIB) como indicador. Netanyahu também fez isso várias vezes ao ilustrar suas explicações com gráficos a fim de visualizar concretamente para os espectadores que Israel vem jogando no “meio de campo”. É verdade que, em termos de perdas no PIB e, com isso, também do crescimento econômico, Israel está numa boa posição intermediária. As comparações ilustram proporcionalidades e, além disso, podem visualizar e tornar mais compreensível algo para um público leigo no assunto. Ao mesmo tempo, porém, a menção de um parâmetro único também pode distorcer uma imagem por não revelar o cenário completo. Além disso, sempre se recomenda cuidado em comparações quanto ao ponto de partida ou a outros parâmetros de influência decisiva.

Isto se aplica a todos os segmentos, também à economia, pois, ainda que se possa registrar quase a mesma queda de PIB em Israel e na Suécia ao final do terceiro trimestre de 2020, existem diferenças essenciais. Uma delas certamente se esconde atrás da seguinte informação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de cujos membros Israel faz parte: Israel, um país considerado de alta tecnologia, está entre os membros mais pobres porque um quinto dos cidadãos do país não vence seus compromissos financeiros. Das numerosas crianças de Israel, 30% vivem em pobreza, o que também é um índice relevante da OCDE. Além disso, a economia de Israel teve de atravessar um segundo lockdown nacional parcialmente escalonado, o que agravou a crise para todos os segmentos da economia. Uma das consequências é, por exemplo, uma nova escalada da taxa de desemprego.

Em Israel, especialistas do setor não-governamental atualmente presumem que a economia do país encolherá bem mais do que cresceu nos anos precedentes não só em 2020, mas também em 2021. Em 2019, o crescimento foi de 5,7%. Além disso, o início de uma recessão difícil de frear também é sinalizado pelos pedidos de falência que, em comparação com 2019, aumentaram em 75% já antes do término do terceiro trimestre de 2020. Antes da crise de saúde, Israel registrava pouco menos de 4% de desempregados. No topo da onda na primavera, a taxa de desemprego superou os 20%. Especialistas creem que o nível se estabilizará em 15% até mesmo ao longo deste ano.

Ainda que o governo tenha melhorado as condições para o recebimento do auxílio-desemprego, bem como de providências acessórias, os atingidos recebem quantias que, em um país com custo de vida extremamente elevado, são quase ridículas. Isso já se reflete há meses no volume do consumo per capita particular, que em Israel regrediu 44,2% e de modo nenhum se refere a bens de luxo, mas principalmente a alimentos básicos. E a ajuda estatal mal consegue assegurar a sobrevivência das famílias. O que as salva é literalmente o setor privado: pessoas que vivem ativamente o lema talmúdico de que os judeus são mutuamente responsáveis por ofertar e se engajar em organizações de ajuda a carentes. Muitas empresas, desde grupos empresariais do setor alimentício até empresas de alta tecnologia, também participam. O coronavírus freia a economia por toda parte. Em Israel, porém, a desigualdade social se expandirá de forma desproporcional.

Antje Naujoks

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Janeiro 2021

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