Onde Realmente Jesus Nasceu?

Alguns historiadores e teólogos modernos acreditam que Jesus não nasceu em Belém, mas em Nazaré. Haveria fundamento para tal suposição?

Já faz alguns anos que o historiador e teólogo Max Schär publicou esta suposição em certo jornal:

Talvez o recém-nascido Jesus tenha realmente sido deitado numa manjedoura, mas não em Belém. Também os pastores e reis, tão familiares, são lendários. As escrituras mais antigas do Novo Testamento se calam sobre o nascimento e a infância de Jesus. Somente Mateus e Lucas abrem os seus evangelhos, que provavelmente foram escritos entre 80 e 90 d.C., com narrativas de infância. Essas narrativas distinguem-se literariamente do conteúdo restante dos evangelhos. Podem ser chamados de lendas. [...] De fato, Mateus e Lucas são unânimes em relatar que Jesus teria nascido ‘nos dias do rei Herodes’. Além disso, Lucas relata que o nascimento de Jesus teria ocorrido numa época em que ‘Quirino era governador da Síria’. Entretanto, conforme outras fontes, Herodes morreu no ano 4 a.C., enquanto Quirino foi governador de 6 a 9 d.C. Portanto, entre ambos há uma lacuna de pelo menos dez anos. O que vale então?

... As pesquisas são unânimes de que Jesus era oriundo de Nazaré, na Galileia. Ele era o primogênito de uma família de artesãos, tinha quatro irmãos conhecidos pelo nome e algumas irmãs cujo nome não se sabe. Onde foi que ele nasceu? Tanto o evangelho de Marcos como o de João presumem tacitamente que Jesus teria nascido em Nazaré. Essa localidade era tão insignificante que nem o Antigo Testamento nem outros escritos antigos sequer a mencionam. É exatamente por isso que se deve ter levantado a opinião de que Jesus de modo nenhum poderia ser o Messias. É compreensível, por isso, que Mateus e Lucas tenham feito Jesus nascer em Belém. Aquela era a cidade de Davi, e, segundo a promessa do profeta Miqueias, nela nasceria o Messias.

No entanto, como foi que José de Nazaré veio parar ali? Segundo Lucas, foi por ocasião de um recenseamento tributário que teria ocorrido sob o imperador Augusto e o governador sírio Quirino. Contudo, até onde agora sabemos, Augusto nunca determinou um recenseamento de todas as províncias. Por outro lado, em cerca de 9 a.C. de fato houve um levantamento tributário na Judeia, que em 6 d.C. se tornou província síria. Teria Lucas, que em sua época tinha apenas uma noção vaga dos acontecimentos nos dias de Jesus, alterado o levantamento tributário sob Quirino, ampliando-o também para um recenseamento de todo o império? É o que muitos pesquisadores supõem, porque dessa forma ele poderia fundamentar a viagem de José e Maria, sem sequer se importar com a eventual necessidade de Maria, grávida, estar presente por ocasião do registro tributário.

Os habitantes de Nazaré – estimados entre 50 e 2 000 – viviam predominantemente em [...] grutas e, certamente, tal como também em outros lugares da Palestina de então, junto com animais. Assim, não é impossível que, ao nascer, Jesus tenha sido deitado num cocho. No entanto, a vinda dos pastores pouco depois para admirar o recém-nascido como Messias prometido é mais do que improvável. Se tivessem reconhecido no bebê o Salvador divino, eles certamente também o teriam dito aos seus pais, e estes estariam preparados para a atuação futura do seu filho. O evangelho de Marcos, porém, informa que, logo depois das primeiras apresentações de Jesus, seus parentes se convenceram de que ele estava fora de si, querendo por isso levá-lo para casa à força.

Pelo mesmo motivo, dificilmente se poderá considerar histórica a visita dos magos, chamados de “reis” o mais tardar a partir do século 6. Como seus pais ainda poderiam ter duvidado de que ele teria como adulto um ministério divino a cumprir depois de aqueles grandes senhores trazerem presentes tão preciosos e terem adorado o bebê na manjedoura? A propósito, Albert Schweitzer já estranhou com oito anos de idade que aqueles homens vindos do Oriente não demonstrassem depois mais nenhum interesse no menino Jesus. Ele também se perguntava o que, afinal, os pais teriam feito com o ouro e as outras preciosidades...

O evangelho de Mateus é o primeiro livro do Novo Testamento e trata detalhadamente do nascimento de Jesus em Belém, confirmando por meio disso o cumprimento de profecias do Antigo Testamento (Mt 2.1-6). O profeta Miqueias, citado em Mateus 2.6, predisse o nascimento em Belém mais de 700 anos antes de seu cumprimento literal (Mq 5.2).

Que desespero esse de – vez após vez – tentar-se provar que Jesus não seria aquele que a Bíblia apresenta. Todavia, que motivos convincentes teríamos nós de crer mais nos historiadores modernos do que nas testemunhas oculares que redigiram a Bíblia?

Antes de tudo, temos de levar em conta que os evangelistas Mateus e João foram testemunhas oculares do que Jesus fez e ensinou. Marcos também era testemunha ocular do período, tendo depois ainda recebido informações adicionais de Pedro (cf. Mc 14.51-52; 1Pe 5.13), e o evangelista Lucas é sabidamente um historiador extremamente minucioso do período, que além disso viajou por muitos anos em companhia do apóstolo Paulo. Portanto, todos esses homens dispunham de informações de primeiríssima mão.

O evangelho de Mateus é o primeiro livro do Novo Testamento e trata detalhadamente do nascimento de Jesus em Belém, confirmando por meio disso o cumprimento de profecias do Antigo Testamento (Mt 2.1-6). O profeta Miqueias, citado em Mateus 2.6, predisse o nascimento em Belém mais de 700 anos antes de seu cumprimento literal (Mq 5.2).

O evangelho de Lucas também menciona o nascimento de Jesus em Belém. O motivo para isso foi o decreto do imperador Augusto determinando um recenseamento (Lc 2.1-7). Depois de um anjo do Senhor ter anunciado o nascimento de Jesus aos pastores nos campos de Belém, estes foram até o local para verem o recém-nascido com seus próprios olhos e mais tarde testemunharem a respeito dele: “Quando os anjos [cf. v. 13-14] os deixaram e foram para os céus, os pastores disseram uns aos outros: ‘Vamos a Belém, e vejamos isso que aconteceu, e que o Senhor nos deu a conhecer’. Então correram para lá e encontraram Maria e José e o bebê deitado na manjedoura. Depois de o verem, contaram a todos o que lhes fora dito a respeito daquele menino” (Lc 2.15-17).

Lucas é referido como um historiador extremamente preciso, de modo que não temos motivos para crer menos nas suas informações do que nas dos outros. Em seu relato, ele chega ao ponto de informar que aquele recenseamento ocorreu sob o imperador Augusto quando Quirino era governador da Síria. Com isso, Lucas correlaciona seu relato histórico com os eventos da história mundial, permitindo assim uma conferência. O grego Lucas dirigiu seus registros principalmente a leitores gregos, que certamente estavam familiarizados com a situação política daquele tempo. Se o seu relato fosse incorreto, isso teria sido percebido rapidamente.

Para remover a suposta lacuna de 10 anos a que Max Schär se refere, basta pesquisar um pouco mais. É verdade que Quirino foi governador da Síria de 6 a 9 d.C., portanto muito tempo depois do nascimento de Jesus, mas um fragmento de pedra encontrado em 1764 em Tivoli (perto de Roma) permite deduzir que Quirino foi governador da Síria e da Fenícia duas vezes. Portanto, ele já fora governador na ocasião do nascimento de Jesus, e mais uma vez nos anos de 6 a 9 d.C.

Lucas é referido como um historiador extremamente preciso, de modo que não temos motivos para crer menos nas suas informações do que nas dos outros.

A observação de que os evangelhos de Marcos e João pressupõem tacitamente que Jesus teria nascido em Nazaré é totalmente apelativa. Ocorre o oposto: eles presumem que Jesus tenha nascido em Belém e nem consideraram necessário mencionar isso mais uma vez depois que Mateus e Lucas já se ocuparam do assunto. O fato de não contestarem as declarações dos dois últimos mostra claramente sua concordância: tudo foi inspirado pelo mesmo Santo Espírito (2Pe 1.20-21).

  • Os relatos dos evangelhos testificam unanimemente que:
  • Antes do nascimento de Jesus, Maria e José viviam em Nazaré (Lc 1.26-28).
  • Atendendo ao decreto de recenseamento do imperador Augusto, eles tiveram de viajar até Belém, sua cidade natal, para serem registrados ali (Lc 2.1-5).
  • Jesus nasceu em Belém (Lc 2.6-7).
  • Depois da sua fuga para o Egito (Mt 2.14-15), José e Maria retornaram a Nazaré (Mt 2.19-23), onde Jesus foi criado (Lc 2.51; 4.16).
  • Por isso, Nazaré foi chamada de “sua cidade” (Mc 6.1; Lc 4.23; cf. tb. Jo 1.45-46).

Como Jesus nascera em Belém, mas crescera em Nazaré, já naquele tempo muitos pensavam que ele também teria nascido em Nazaré: “Ouvindo as suas palavras, alguns no meio do povo disseram: ‘Certamente este homem é o Profeta’. Outros disseram: ‘Ele é o Cristo’. Ainda outros perguntaram: ‘Como pode o Cristo vir da Galileia? A Escritura não diz que o Cristo virá da descendência de Davi, da cidade de Belém, onde viveu Davi?’ Assim o povo ficou dividido por causa de Jesus” (Jo 7.40-43). O fato de João mencionar essa discussão em torno de Jesus aponta justamente para a verdade de Jesus ter nascido em Belém, mas crescido em Nazaré. Não devemos ignorar que os adversários de Jesus empreenderam de tudo e procuraram qualquer argumento, por mais tênue que fosse, para rejeitá-lo e negá-lo. Se tivessem procurado sinceramente a verdade, rapidamente teriam descoberto que Jesus de fato nascera em Belém. Mas aquilo simplesmente não deveria ser verdade porque teria deposto a favor dele como Messias – e o mesmo ocorre hoje.

Já por ocasião do anúncio do nascimento de Jesus, o anjo Gabriel disse a Maria que ela daria à luz o Messias (Lc 1.31-33). O cântico de louvor de Maria mostra depois que ela certamente também reconheceu isso (Lc 1.46-56). Do mesmo modo, José, o esposo de Maria, foi instruído a respeito da messianidade de Jesus (Mt 1.20-23). Mesmo assim, porém, ambos estavam restritos à sua condição humana e oscilavam para cá e para lá (Lc 2.49-51). Os próprios familiares de Jesus não o compreendiam, e inicialmente os seus próprios irmãos o rejeitavam (Jo 7.5). Mais tarde, porém, após a ressurreição, isso mudou (At 1.14).

Por que um anjo do Senhor anunciou o nascimento do Messias justamente aos pastores nos campos de Belém e por que estes se apressaram a ir à manjedoura para verem Jesus? Há uma mensagem bem apropriada por trás disso. No Salmo 23, Davi diz a respeito de Deus: “O Senhor é o meu Pastor...” (Yahweh Roi). E, por meio de Ezequiel, o próprio Deus diz: “Porque assim diz o Soberano, o Senhor: Eu mesmo buscarei as minhas ovelhas e delas cuidarei. Assim como o pastor busca as ovelhas dispersas quando está cuidando do rebanho...” (Ez 34.11-12). Mais tarde, Jesus disse de si mesmo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” (Jo 10.11; cf. tb. v. 14). Deus tornou-se homem! Assim, o verdadeiro pastor de Israel veio para a terra a fim de satisfazer as carências de todos os homens, para buscar e salvar o que estava perdido. Não foi apropriado, então, anunciar essa mensagem também aos pastores? O pastor diz aos pastores que o Senhor veio ao pasto do seu povo.

“Porque assim diz o Soberano, o Senhor: Eu mesmo buscarei as minhas ovelhas e delas cuidarei. Assim como o pastor busca as ovelhas dispersas quando está cuidando do rebanho...”

A questão do que os pais de Jesus fizeram com o ouro que os magos trouxeram como presente é fácil de responder. Sabemos que, ao apresentar Jesus no templo, José e Maria ofereceram duas rolas (ou duas pombas novas) (Lc 2.22-24), o que os identificava como gente pobre que não tinha recursos para apresentar uma oferta maior (Lv 12.8). O que seria mais óbvio, então, do que o Pai celestial utilizar a visita dos magos com suas dádivas para suprir os recursos para a fuga ao Egito? Com o ouro e as outras preciosidades, eles puderam financiar sua fuga para o Egito e viver algum tempo ali, para depois retornarem a Israel.

É lamentável que justamente um teólogo se recuse a crer nos relatos bíblicos. Não é de admirar, então, que muitos abandonem a fé cristã e se voltem para outras religiões!

Nós, porém, queremos seguir a proposta do apóstolo Paulo: “Confesso-te, porém, que... Creio em tudo o que concorda com a Lei e no que está escrito nos Profetas” (At 24.14). Neste sentido, desejamos a todos os leitores um período natalino cheio de esperança, segundo Lucas 1.47: “E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”.

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Dezembro 2020

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