Israel e a jornada do mar até o monte de Deus

50 dias entre o êxodo até o Sinai, o monte de Deus

Após a travessia pelo mar, os israelitas se deslocaram por três dias pelo deserto de Sur e então chegaram a Mara, cuja água era intragável por ser muito amarga (Êx 15.22-23).

Em Números 33.8, esse deserto é chamado de Etã, certamente porque começa junto a Etã (Êx 13.20).

Onde ficava Mara? É grande a evidência de que se localizasse junto aos Lagos Amargos, que significativamente têm esse nome até hoje. Eles atualmente se encontram no traçado do canal de Suez, fazendo parte dele.

Ao que parece, apesar de sua água amarga, aquele local ainda era relativamente agradável para os israelitas. A mando de Deus, Moisés lançou ali um pedaço de madeira na água amarga, que então se tornou potável por um milagre (Êx 15.23-25). Até ali ainda não se relata nada a respeito de fome. Provavelmente havia peixes suficientes no lago. Êxodo 15.25-26 também permite supor que eles tenham permanecido no local por alguns dias antes de prosseguirem, já que ali Moisés lhes passou leis e ordenanças a fim de que obedecessem aos mandamentos de Deus.

A etapa seguinte levou-os então a Elim, um local agradável com 12 fontes e 70 palmeiras (16.1). É provável que também tenham permanecido ali por vários dias. O fato de haver fontes no local permite supor que ele se encontre ao sopé dos montes da península do Sinai, onde normalmente brotam fontes no deserto.

Depois, o relato fornece um detalhe extremamente interessante em Números 33.10. Consta ali que eles prosseguiram a partir de Elim e acamparam junto ao “mar de juncos” (NAA), o que tudo indica tratar-se do mar Vermelho, onde hoje se localiza Porto Saíde, uma cidade egípcia.

Não é fácil assegurar onde se localiza exatamente o monte Sinai, o monte de Deus, também chamado de Horebe. O local tradicional, onde se encontra o Mosteiro de Santa Catarina, tem sido questionado por várias razões. No entanto, a jornada através do deserto descrita na Bíblia faz o local tradicional parecer o mais provável.

Aqui temos a prova de que o termo mar de juncos não se refere apenas a um mar específico como o mar Vermelho, como geralmente se supõe, mas provavelmente a uma das condições naturais encontradas em diversos locais junto ao mar. Conforme vimos, na Bíblia o termo mar de juncos designa por um lado as lagunas no norte do Egito, onde os israelitas atravessaram o mar, e depois também as duas extremidades norte do mar Vermelho, junto a Porto Saíde e no golfo de Aqaba e Eilat.

A jornada para o interior do Sinai

Partindo do acampamento junto ao “mar de juncos”, eles prosseguiram e atingiram, no décimo quinto dia do segundo mês, o deserto de Sim, localizado entre Elim e o Sinai (Êx 16.1; Nm 33.11), o que significa que a essa altura eles já estavam há trinta dias na jornada. Isso resulta do fato de que haviam saído do Egito no décimo quinto dia do primeiro mês e agora atingiram o deserto de Sim no décimo quinto dia do segundo mês.

Onde se localiza o deserto de Sim? Onde fica o oásis de Elim? Para isso não há indicações exatas, de modo que dependemos de conjeturas.

Em geral se supõe que o oásis de Elim ficava no local do oásis de Feiran, ou seja, num uádi ou vale estreito que conduz à região montanhosa da península do Sinai. Não está claro se foi este o caminho pelo qual os israelitas se deslocaram para o interior da península do Sinai. Seja como for, os israelitas não se queixaram de fome até atingirem o deserto de Sim.

Ali, no deserto de Sim, é que começam as reclamações contra Moisés e Arão. Como os israelitas haviam deixado definitivamente as margens do mar e das lagunas, eles não tinham mais peixes, e tudo indica que suas reservas de pão e carne haviam acabado (Êx 16.2-3).

Certamente suas reclamações eram razoáveis, porque, afinal, o que poderia haver de alimento no deserto? No entanto, Deus já tomara providências, e assim se descreve a partir do capítulo 16 como ele lhes deu pão do céu em forma do maná, e também carne por meio dos bandos de codornizes (Êx 16.13-15).

O milagre do maná e a ordenança do sábado no deserto de Sim

Há várias tentativas de explicar o milagre do maná por meio de fenômenos naturais no deserto, com frutos ou sementes de algum arbusto presente no deserto, por exemplo. Se, contudo, se tratava de um fenômeno natural, por que então ele deixaria de ocorrer a cada sétimo dia, não estando disponível no sábado?

Sem o milagre do maná, a travessia de um povo de seiscentas mil pessoas através do deserto nem teria sido possível. Deus havia previsto e planejado aquilo desde o início, assim como a passagem através do mar.

Uma coisa é certa: sem o milagre do maná, a travessia de um povo de seiscentas mil pessoas (Nm 11.21) através do deserto nem teria sido possível. Deus havia previsto e planejado aquilo desde o início, assim como a passagem através do mar.

Deus tinha mais uma outra intenção com toda aquela questão do maná. O Senhor diz em Êxodo 16.4 que pretendia testar – por meio daquilo – se eles estariam dispostos a viver segundo a sua lei. Do que se tratava?

Antes de tudo, tratava-se do sábado. Será que procederiam de acordo com as instruções do Senhor, recolhendo no sexto dia uma porção dobrada do maná? Não sairiam também no sábado para recolher? Alguns tentaram assim mesmo e não encontraram nada.

Aqui, no contexto do maná, aparece pela primeira vez na Bíblia o termo “sábado” (Êx 16.23). Aparentemente, antes daquilo eles ainda não guardavam o sábado ou nem o conheciam.

Tudo indica que naquela ocasião Deus instituiu o ciclo semanal com o sábado. Também as expressões “semana” ou “sétimo dia” para o ciclo de sete dias não aparecem na Bíblia até então (exceto, naturalmente, no relato da criação).

Por meio do maná, que faltava a cada sete dias, no sábado, o sábado tornou-se uma das mais importantes ordenanças divinas para os israelitas (Êx 16.23).

A jornada subsequente pelo deserto até o monte Sinai

Em Números 33.12-13 mencionam-se os dois acampamentos de Dofca e Alus, que não constam em Êxodo. Depois disso, acamparam em Refidim, que por sua vez é mencionado em Êxodo 17.1. Aí já estavam próximos ao monte Horebe, onde Moisés bateu na rocha (v. 6), pois ali não tinham água para beber e começaram de novo a rebelar-se contra Moisés. Deus, porém, forneceu-lhes água da rocha, na qual Moisés teve de bater com seu bastão, junto ao Horebe.

Ali também se deu o combate com os amalequitas, que Israel venceu de modo milagroso à medida que Moisés elevava suas mãos a Deus, apoiado por Arão e Hur.

No capítulo 18 relata-se então como Jetro, sogro de Moisés, vem visitá-lo, trazendo com ele Zípora, a esposa de Moisés, e seus dois filhos, Gérson e Eliézer. Aí naturalmente surge a pergunta: onde ficava a terra de Midiã? Não é fácil responder a essa pergunta, mas não pode ter sido muito longe do monte Sinai, já que Moisés havia chegado até o monte Horebe quando ainda cuidava do rebanho de Jetro.

Êxodo 19.1 informa então que os israelitas chegaram ao deserto do Sinai no terceiro mês após sua saída do Egito. Eles saíram do Egito no 15º dia do primeiro mês e chegaram ao deserto de Sim no dia 15 do segundo mês (Êx 16.1).

Até o primeiro dia do terceiro mês passaram-se então mais 15 dias. Com isso, toda a jornada do Egito ao Sinai teria durado 45 dias.

Segundo a tradição judaica, a outorga da lei se deu cinco dias depois, ou seja, no 50º dia após o êxodo do Egito, ou melhor: começou nesse dia, porque ela se estendeu por algum tempo. Isso se encaixa perfeitamente naquilo que a Bíblia relata, uma vez que já no capítulo 19 Deus começa a falar com Moisés e o povo a partir da montanha.

Os 50 dias do calendário bíblico de celebrações

Esse período de 50 dias é o intervalo entre as duas primeiras festas importantes no calendário bíblico, ou seja, a Páscoa – no 15º dia do primeiro mês – e o Shavuot – no 5º dia do terceiro mês.

Mais tarde, isso se refletiu na festa da ressurreição (Páscoa) e, com isso, também de Pentecostes, que em grego significa 50, uma vez que esses eventos ocorreram nos dias dessas festas judaicas.

Em Pentecostes, nós como cristãos nos lembramos de quando Deus enviou o Espírito Santo sobre os primeiros crentes em Jesus. Isso significaria que o período de 50 dias entre a Páscoa judaica e a festa do Shavuot possui um significado profundo e simbólico, que remete à saída de Israel do Egito e sua jornada até o monte de Deus, o Sinai, ou monte Horebe.

A outorga da lei no monte Sinai

Em geral, os Dez Mandamentos que Deus deu aos israelitas no Sinai são considerados como a lei. É certo que estes constituem a base da aliança que Deus celebrou com o povo de Israel no Sinai, mas Deus lhes deu ainda muito mais instruções e ordenanças adicionais. As instruções para a construção do tabernáculo, incluindo todo o ritual sacerdotal e sacrifical, também foram dadas por Deus ao povo de Israel junto ao Sinai. Ali também tudo foi construído e confeccionado. Tudo isso requer tempo, de modo que a permanência junto ao monte Sinai durou quase exatamente dois anos.

Conforme já vimos em Êxodo 16.1, eles chegaram ali após 45 dias, no início do terceiro mês após a saída do Egito, e no 50º dia Deus começou a falar com eles e com Moisés de cima do monte.

Tudo o que, então, ocorreu junto ao monte Sinai e tudo o que Deus apresentou a eles ali compreende 70 capítulos da Bíblia (Êx 16–Nm 9).

Em Números 10.11-13, lemos: “No vigésimo dia do segundo mês do segundo ano, a nuvem se levantou de cima do tabernáculo que guarda as tábuas da aliança. Então os israelitas partiram...”. Com isso temos uma indicação exata do tempo que os israelitas permaneceram junto ao monte Sinai.

Fredi Winkler

Fredi Winkler é guia turístico em Israel e dirige, junto com a esposa, o Hotel Beth-Shalom, em Haifa, que é vinculado à missão da Chamada.

sumário Revista Chamada Outubro 2020

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