Deus tem planos maiores

“Seu comprimento é maior que a terra e a sua largura é maior que o mar” (Jó 11.9). Qual é o significado disso para a nossa vida e para o futuro deste mundo?

Em um cartão que recebi lia-se o seguinte: “Deus é maior que tudo. Seu amor é maior que o nosso medo. Sua ajuda é maior que a nossa angústia. Sua esperança é maior que o nosso desespero. Sua misericórdia é maior que o nosso fracasso. Seu poder é maior que o nosso desamparo. Seu consolo é maior que os nossos ferimentos. Sua fidelidade é maior que as nossas faltas”.

É o que encontramos em Hebreus 2.5-9: “Não foi a anjos que ele sujeitou o mundo que há de vir, a respeito do qual estamos falando, mas alguém em certo lugar testemunhou, dizendo: ‘Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e de honra; tudo sujeitaste debaixo dos seus pés.’ Ao lhe sujeitar todas as coisas, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Agora, porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. Vemos, todavia, aquele que por pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e de glória por ter sofrido a morte, para que, pela graça de Deus, em favor de todos, experimentasse a morte”.

Em primeiro lugar, Deus tem um plano maior: “Não foi a anjos que ele sujeitou o mundo que há de vir, a respeito do qual estamos falando” (Hb 2.5).

O “mundo que há de vir” (oikoumene), a que o autor da carta aos Hebreus se refere, significa o futuro reino messiânico. Ele se refere à terra habitada e à toda a humanidade (At 17.31). Este mundo e o seu futuro não está submetido aos anjos, por mais poderosos que sejam (eles estão atribuídos a outros domínios); o futuro domínio terrestre será submetido ao homem, que está destinado a reinar aí. Isso ainda não é o caso atualmente, mas a profecia bíblica aponta claramente para essa meta.

Deus tem um propósito maravilhoso, que ele não perdeu de vista. Ele também ocupa um espaço nada desprezível em sua Palavra, mas está firmemente ancorado nela. Por isso nós também jamais deveríamos perder essa meta de vista. Só na carta aos Hebreus encontramos pelo menos seis referências ao retorno de Jesus e ao seu reino vindouro:

“E ainda, quando Deus introduz o Primogênito no mundo, diz: ‘Todos os anjos de Deus o adorem’” (1.6; Ap 19.6);

“Não foi a anjos que ele sujeitou o mundo que há de vir, a respeito do qual estamos falando” (2.5);

“Assim, ainda resta um descanso sabático para o povo de Deus” (4.9);

“Assim também Cristo foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam” (9.28);

“Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia” (10.25);

“Pois em breve, muito em breve ‘Aquele que vem virá e não demorará’” (10.37).

O plano maior de Deus é o domínio do Messias na terra (Ap 12.10), e nesse plano Deus incluiu o homem – esse é o seu destino.

Em segundo lugar, o homem tem um chamado maior: “Mas alguém em certo lugar testemunhou, dizendo: ‘Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos e o coroaste de glória e de honra; tudo sujeitaste debaixo dos seus pés’. Ao lhe sujeitar todas as coisas, nada deixou que não lhe estivesse sujeito. Agora, porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas” (Hb 2.6-8).

O próprio Adão já fora incumbido de reinar sobre a terra: “Então disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão’ Deus os abençoou e lhes disse: ‘Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra! Dominem sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem pela terra’. Depois que formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, o Senhor Deus os trouxe ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome” (Gn 1.26,28; 2,19).

A citação identificada na carta aos Hebreus como “em certo lugar” é do Salmo 8: “Pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coraste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste” (v. 4-6).

“Depois que formou da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, o Senhor Deus os trouxe ao homem para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a cada ser vivo, esse seria o seu nome.”

Embora, de acordo com a estrutura da criação, o homem seja inferior aos anjos, Deus o encarregou do domínio sobre a terra. Foi para isso que ele criou o homem.

Pois bem, o que é o homem, para que Deus sequer se lembre dele? O que é o homem, para que o Todo-poderoso lhe dê atenção, se preocupe com ele, cuide dele, o mantenha e sustente? Que é o homem, acima do qual estão mesmo os menores dos anjos? Deus, porém, não se limita a lembrar-se dele, mas também o coroou de glória e honra, e lhe submeteu toda a criação, e sem exceção. No entanto, em função da queda no pecado, o homem perdeu por enquanto esse direito, entregando-o a Satanás. Hoje, o mundo habitado é dominado por este e seus anjos demoníacos. O propósito de Deus não se cumpriu com Adão. Por isso, a carta aos Hebreus prossegue dizendo: “Agora, porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas” (v. 8b).

O que vemos agora? Caos, pecado, demonismo, abominações de todo tipo, desafeto, tirania e ditadura, injustiça, poluição ambiental e do “mundo interior” (a alma), desgoverno e exploração, escravização, servidão, vícios e amarras.

O que ainda não vemos agora? O domínio do homem sobre o orbe futuro. Deus, porém, não seria Deus se não completasse a obra que iniciou. Ele não permite que tudo continue como está até que destruamos a nós mesmos, porque ele tem um objetivo maior – e é aqui que Jesus ingressa no processo.

Em terceiro lugar, Jesus realiza algo maior: aquilo que Deus não consumou com o primeiro Adão, agora é consumado por Jesus Cristo. É o que, aliás, expressa seu brado antes de morrer: “Está consumado!”.

À frase segundo a qual “agora, porém, ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas” segue-se que “vemos, todavia, aquele que por um pouco foi feito menor do que os anjos, Jesus, coroado de honra e de glória por ter sofrido a morte, para que, pela graça de Deus, em favor de todos, experimentasse a morte” (Hb 2.9).

Aquilo que Deus não consumou com o primeiro Adão, agora é consumado por Jesus Cristo. É o que, aliás, expressa seu brado antes de morrer: “Está consumado!”.

Aqui o Senhor, que em Hebreus 1 é declarado Deus e que é superior a todos os anjos, é citado com seu nome humano Jesus. O Filho de Deus encarnado foi rebaixado abaixo dos anjos como autêntico homem, assim como todos os homens. Anjos não podem morrer, mas ele morreu. E agora, por meio da sua obra e nele mesmo, o homem volta a ser exaltado a fim de assumir sua posição no reino messiânico vindouro. Em Jesus, o Filho do homem, Deus atinge sua meta com o ser humano.

O Filho de Deus tornou-se Filho do homem, tornado inferior aos anjos; ele sofreu e morreu na cruz e agora foi coroado de glória e honra. Ele reconquistou tudo aquilo que o primeiro Adão perdeu. O primeiro Adão foi vencido pelo Diabo, mas o segundo Adão venceu o Diabo (Hb 2.14).

Nesse Jesus, o homem que no passado caiu será novamente coroado de glória e honra quando ele retornar e estabelecer o reino messiânico, e tudo lhe será sujeitado (Ap 20.4). Sua esperança é maior que o nosso desespero. Temos bons motivos para não fixar nosso olhar no mundo, mas em Jesus.

Norbert Lieth

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Setembro 2020

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