Apostasia: A Quinta Coluna

Qual é o significado do termo “apostasia” e o que a Bíblia fala sobre o assunto?

Em 1939, a Guerra Civil Espanhola estava chegando ao fim, e o general Mola preparava o seu ataque a Madrid. Ele tinha quatro colunas de tropas prontas para tomar a cidade, e alguém lhe perguntou qual destas seria a primeira a atacar. “A quinta”, foi sua resposta mundialmente famosa.

A linha de ataque mais importante do general Mola não era os militares fora da cidade; era os rebeldes simpatizantes dentro dela. Eles passaram despercebidos, mas já estavam se preparando para o seu avanço. O termo quinta coluna passou a significar aqueles que simpatizam com um invasor e o ajudam do lado de dentro.[1]

A quinta coluna dentro do cristianismo é a apostasia. Francamente, a palavra apostasia é feia e desagradável – e mal-entendida. No entanto, o assunto não é nada estranho para a Bíblia. Nós todos gostaríamos de falar sobre coisas positivas e deixar as negativas para os outros, mas apostasia é um assunto importante no Novo Testamento. Desde os seus primeiros dias, a igreja tem enfrentado o avanço da apostasia. Muitas das cartas do Novo Testamento foram escritas para confrontar várias formas de ensinamentos falsos dentro das igrejas. Apesar de a apostasia não ser nenhuma novidade para a igreja, nos últimos tempos o seu aumento é palpável. Como A. W. Tozer escreveu: “Os cristãos agora conversam com erudição sobre coisas que crentes simples sempre tomaram como certo. Eles estão na defensiva, tentando provar coisas que gerações anteriores nunca duvidaram”.[2] Pense em quanto mais verdadeira essa afirmação é hoje.

Duas Guerras

O mundo de hoje está testemunhando duas grandes guerras em progresso – duas guerras travadas em duas frentes. Uma frente está no Oriente, onde radicais islâmicos estão levando adiante uma guerra brutal, sangrenta e selvagem para estabelecer um califado. Eles querem levantar uma religião que domine o mundo. O espectro do islamismo radical lança a sua sombra ameaçadora ao redor do mundo. A outra frente está no
Ocidente. A guerra no Ocidente é uma guerra filosófica – uma tentativa de remover toda a influência de uma religião: o cristianismo. A guerra no Oriente é para estabelecer uma religião. A guerra no Ocidente é para erradicar uma religião.

Essas duas guerras estão estreitamente relacionadas. O papel enfraquecido do cristianismo na arena pública tem deixado o Ocidente incapaz ou pelo menos relutante em se defender contra a pura maldade na forma do Estado Islâmico e outros militantes jihadistas. Paralisia e impotência são cada vez mais as respostas do Ocidente para o mal absoluto. O secularismo e o humanismo entorpeceram a habilidade de discernir o mal, até mesmo nas suas manifestações mais descaradas, e de agir contra ele agressivamente.

A. W. Tozer: “Os cristãos agora conversam com erudição sobre coisas que crentes simples sempre tomaram como certo. Eles estão na defensiva, tentando provar coisas que gerações anteriores nunca duvidaram”.

O cristianismo tem sido eviscerado por dentro e por fora. De fora, os ateus, os secularistas e os humanistas descarregam uma implacável barragem contra a fé. E de dentro, teólogos liberais e toda a sorte de falsos mestres enfraquecem e até negam a doutrina e moralidade cristãs essenciais. Isso é apostasia, e ela está corroendo como um câncer no coração do cristianismo bíblico.

O Grande Afastamento

Antes de seguirmos adiante, vamos relembrar o significado de apostasia. Apostasia em geral é a deserção ou afastamento dos princípios de alguma comunidade religiosa. A palavra grega apostasia significa “rebelião” ou “abandono”. Apostasia cristã, em termos mais abrangentes, é a deserção ou afastamento da verdade das Escrituras.

Andy Woods descreve isso desta maneira: “A palavra apostasia é derivada de duas palavras gregas. A primeira palavra é a preposição apo, que significa ‘longe de’. A segunda palavra é o verbo histēmi, que significa ‘colocar-se’. Portanto, apostasia significa ‘colocar-se longe de’. Apostasia se refere a um afastamento de uma verdade conhecida ou previamente adotada. O assunto da apostasia tem pouco a ver com a condição do mundo perdido, o qual sempre rejeitou a verdade divina e por isso não tem nada do que se afastar. Ao contrário, a apostasia se refere à temperatura espiritual dentro da igreja de Deus”.[3]

Apóstatas são aqueles que professam fé mas se rebelam ou se afastam da mesma. Eles nunca possuíram Cristo e a vida eterna, mas simplesmente professaram fé (ver Hb 6.4-8; 10.26-31). Os apóstatas são consistentemente caracterizados por duas coisas no Novo Testamento: falsa doutrina e vida ímpia. Os apóstatas acreditam erroneamente e se comportam mal. “Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam” (Tt 1.16a). Os apóstatas são a quinta coluna dentro da igreja visível.

Alguns apóstatas negam a fé e deixam a igreja. Outros negam a fé e permanecem dentro dela. Embora ambos sejam prejudiciais, aqueles que permanecem e persistem em corroer a fundação da igreja de Jesus Cristo são os piores. Vivemos dias de uma apostasia desenfreada, crescente e invasiva. A quinta coluna está firmemente entrincheirada em quase todas as maiores denominações na atualidade e tem invadido a maioria dos seminários teológicos. Cada aspecto do cristianismo está sendo atacado continuamente. Fundamentos doutrinários estão sendo desafiados e abandonados numa velocidade vertiginosa. Estamos testemunhando um alarmante afastamento da verdade por parte de indivíduos, igrejas e até denominações inteiras. A sã doutrina está sitiada.

Os apóstatas são consistentemente caracterizados por duas coisas no Novo Testamento: falsa doutrina e vida ímpia.

A ascensão da tecnologia moderna, que ajudou na disseminação do evangelho e no alcance do ensino da sã doutrina, também deu voz a uma interminável enxurrada de ensino vindo daqueles que regularmente rebaixam a verdade das Escrituras. A blogosfera é um campo fértil para ensinos rasos, obscuros e até mesmo satânicos, que confundem muitos crentes e fornecem munição para apóstatas. Conseguir um partidário está mais fácil do que nunca.

É claro que a igreja sempre foi afligida pela apostasia, mas nada parecido com o que vemos hoje. Recentemente, por exemplo, uma professora de uma conceituada universidade cristã disse que o islamismo e o cristianismo adoram o mesmo Deus. Lógico que essa afirmação é incorreta porque o Deus do cristianismo é um Deus triúno (um Deus em três pessoas – Pai, Filho e Espírito Santo), enquanto que o islamismo nega a divindade de Cristo. O cristianismo ensina que Jesus é o único caminho que leva a Deus, portanto, se você nega isso, você não pode ir a Deus. A universidade se mobilizou e demitiu a professora que disse que Deus e Alá são iguais, o que aplaudimos, mas a afirmação dela (e o diálogo gerado) desvenda um crescente sentimento de que a doutrina bíblica clara é turva, confusa e até mesmo contraditória.

A apostasia existe desde o início da igreja, mas será que a onda de apostasia das últimas décadas pode ser mais um sinal de que a vinda do Senhor está próxima? A ascensão da apostasia é um prenúncio do fim dos tempos? Será que a igreja de hoje está no limiar daquele período de trevas profetizado para o fim das eras?

Apostasia e o Apocalipse

As cartas do apóstolo Paulo aos tessalonicenses foram escritas em sua segunda viagem missionária, durante sua estada em Corinto (ver At 18.1-11). Embora essas cartas abordem muitos tópicos importantes, sua característica marcante é um foco no futuro. Elas são frequentemente chamadas de “epístolas escatológicas”, visto que a vinda do Senhor é mencionada em todos os capítulos.

O segundo capítulo da segunda carta aos tessalonicenses é um dos grandes capítulos proféticos das Escrituras. Nenhum outro capítulo na Bíblia inteira cobre o mesmo terreno profético. Para entender esse capítulo e seu conteúdo, precisamos conhecer um pouco do pano de fundo. Algum tempo depois de Paulo ter escrito sua primeira carta aos tessalonicenses, surgiram na igreja mestres que estavam defendendo falsas doutrinas. A natureza deste falso ensino em particular era que o dia do Senhor já havia chegado e a igreja já estava na grande tribulação. A tribulação, ou dia do Senhor, é o tempo final do julgamento global que precede a segunda vinda de Cristo. Aparentemente, esse falso ensino surgiu de várias formas, sendo uma delas uma carta forjada e falsa que afirmava ser do apóstolo Paulo. Antes de endireitar esse problema, Paulo enquadra a questão:

“Irmãos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com ele, rogamos a vocês que não se deixem abalar nem alarmar tão facilmente, quer por profecia, quer por palavra, quer por carta supostamente vinda de nós, como se o dia do Senhor já tivesse chegado” (2Ts 2.1-2).

Embora possa parecer estranho para nós que os novos crentes em Tessalônica pudessem dar ouvidos ao ensinamento de que o dia do Senhor no final dos tempos já tivesse chegado, nós precisamos lembrar que eles estavam enfrentando séria perseguição (como está refletido em 2Ts 1). Sua atual perseguição os tornou suscetíveis à noção de que o dia do Senhor já havia chegado. Isso fez todo sentido à luz das suas circunstâncias. Porém, a realidade de estarem no dia do Senhor levantou uma questão importante. Paulo, em sua primeira carta a eles (1Ts), prometeu libertação do futuro tempo de tribulação por meio de sua captura ou arrebatamento ao céu (ver 1Ts 1.9-10; 4.17; 5.1-9). Se o que eles estavam ouvindo agora fosse verdade, significaria que o ensino anterior de Paulo sobre a libertação deles estava errado ou que Paulo estava correto, e eles tinham sido deixados para trás. Nenhuma dessas probabilidades era atraente e eles estavam seriamente abalados “com o impacto de um grande terremoto, e eles continuavam a sentir os perturbadores efeitos daquele relatório”.[4]

A questão que os tessalonicenses enfrentavam era se os seus sofrimentos presentes indicavam que eles já haviam entrado no período da tribulação. A resposta de Paulo para essa questão é um enfático não. Ele diz aos tessalonicenses que eles não estão no dia do Senhor. Para concluir a sua resposta, ele aponta duas coisas que deveriam acontecer antes que aquele dia viesse, que ainda não haviam acontecido: “Não deixem que ninguém os engane de modo algum. Antes daquele dia virá a apostasia e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição” (2Ts 2.3). Duas coisas precisam acontecer antes que o fim dos tempos comece: um evento precisa ocorrer (a rebelião) e uma pessoa precisa aparecer (o rebelde).

O ponto de Paulo é claro: como nenhum desses eventos tinha acontecido, o dia do Senhor não poderia ter chegado. Mas virá algum dia.

A Aproximação da Apostasia

O primeiro evento que precisa vir antes do dia do Senhor é a apostasia, ou rebelião. Paulo está dizendo que o derradeiro dia do Senhor não pode vir até que haja um afastamento generalizado da fé verdadeira. Alguns entendem o afastamento aqui como sendo uma partida física, ou o arrebatamento da igreja para o céu. Apesar de tal visão ter algum mérito, a maioria dos expositores acredita que isso se refere a um afastamento ou partida teológica.

O artigo definido aparece antes da palavra “apostasia” sinalizando que não é apenas um desvio qualquer da fé, mas um que é único e que os leitores aparentemente já conheciam. É a apostasia. Essa apostasia final implicará num afastamento generalizado, em grande escala, por parte daqueles que professam conhecer a Deus. Alguns estudiosos veem a apostasia em 2Tessalonicenses 2.3 em termos mais abrangentes, referindo-se a uma “rebelião em escala mundial contra a autoridade no final dos tempos” – isto é: uma revolta geral contra Deus.[5] Apesar do fato de que isso certamente ocorrerá, a apostasia no contexto de 2Tessalonicenses 2.1-3 parece descrever um afastamento por parte daqueles que professam conhecer a Deus.

Duas coisas precisam acontecer antes que o fim dos tempos comece: um evento precisa ocorrer (a rebelião) e uma pessoa precisa aparecer (o rebelde).

João Calvino observa: “Portanto, Paulo usa o termo rebelião ou “apostasia” significando um traiçoeiro afastamento de Deus, não da parte de uma pessoa ou de uns poucos indivíduos, mas algo tão grande que se espalharia entre um amplo círculo de pessoas. Agora, ninguém pode ser chamado de apóstata a não ser que tenha previamente professado seguir a Cristo e o evangelho. Assim, Paulo está predizendo uma rebelião generalizada na igreja visível”.[6]

Referindo-se a 2Tessalonicenses 2.3, G. K. Beale diz: “A apostasia não ocorrerá primeiramente no mundo não cristão, mas sim dentro da comunidade da aliança”.[7] A cristandade está indo em direção a um grande afastamento. Quando 2Tessalonicenses foi escrita, havia, sem dúvida, alguns erros na igreja, mas não havia uma apostasia generalizada dentro do cristianismo no sentido ordinário do termo. As igrejas ainda eram fiéis ao Senhor. Paulo está declarando que o dia do Senhor não pode vir até que haja primeiro um afastamento universal e global da fé. As Escrituras falam com frequência dessa apostasia vindoura.

No século 21, a situação é inteiramente diferente da que foi para a igreja de Tessalônica. Hoje há, certamente, uma apostasia generalizada. A triste verdade é que existem muitos que não estão pregando o verdadeiro evangelho e, além disso, estão negando as doutrinas centrais de nossa fé cristã. Muitos estão ensinando que Cristo é somente um homem, que ele não nasceu de uma virgem, que ele não viveu sem pecado, que ele não ressuscitou dos mortos, que a salvação não é por seu sacrifício expiatório, que as pessoas podem ir para o céu por outros meios além de Jesus e que ele não voltará. Eles negam que as Escrituras são a inerrante e infalível Palavra de Deus e decidem quais partes da Bíblia são importantes e quais são opcionais ou até mesmo ultrapassadas. Eles rejeitam os padrões bíblicos para uma vida santa e aceitam práticas como a atividade homossexual, inclusive entre os líderes da igreja. De certa forma, a apostasia já está aqui e está se expandindo em força e intensidade.

O segundo evento que precisa ocorrer antes da tribulação final é a revelação ou o desvendar do “homem da iniquidade”. Esse homem da iniquidade não é outro senão o Anticristo final. “Homem da iniquidade” é um dos seus muitos nomes registrados nas Escrituras. O versículo a seguir descreve a natureza ultrajante do seu pecado: “Este se opõe e se exalta acima de tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, chegando até a assentar-se no santuário de Deus, proclamando que ele mesmo é Deus” (2Ts 2.4). A ultrajante deificação própria do Anticristo será o último passo descendente na rebelião humana contra o Deus verdadeiro.

A relação entre a apostasia e o Anticristo é clara. O grande afastamento final preparará o mundo para a recepção do Anticristo final. John Stott resume bem isso: “O que ele faz é esclarecer a ordem dos eventos futuros. O dia do Senhor (2b) não pode já estar aqui, ele diz, porque aquele dia não virá antes que duas outras coisas aconteçam. Um certo evento precisa acontecer e uma certa pessoa precisa aparecer. Ele chama o evento de a rebelião (apostasia, ‘a Revolta contra Deus’ [NTLH]) e a pessoa de o homem do pecado, o rebelde. Ainda que Paulo não o chame de ‘Anticristo’, é evidentemente quem ele é. João escreve sobre a expectativa da sua vinda”.[8]

Charles Ryrie acrescenta: “É como se a infidelidade daqueles que professam ser religiosos irá preparar o caminho e possivelmente até prover a ocasião para a exibição final da revolta contra Deus na pessoa do homem do pecado. Mas o dia do Senhor não estará presente até que essa grande apostasia percorra a terra”.[9] Quando aqueles que professam conhecer a verdade se virarem completamente contra ela, eles abraçarão a mentira definitiva – adorando um homem como Deus.

De Mal a Pior

Um punhado de passagens do Novo Testamento nos dizem que a apostasia será uma das características determinantes dos últimos dias. Cada uma das seguintes passagens fornece informações importantes sobre a natureza da apostasia nos últimos dias.

1Timóteo 4.1-3. O versículo 1 afirma: “O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios”. O período em que a apostasia ocorrerá é definido como “últimos tempos”. A palavra “últimos” ou “posteriores” indica que aqueles tempos ainda estavam por vir quando Paulo escreveu essa carta. A palavra usada aqui para “tempos” é a palavra grega kairois. Ela se refere a temporadas ou períodos mais curtos de tempo. Ela está no plural para indicar que haverá mais do que um – ou seja, esses tempos de apostasia acontecerão intermitentemente através da era da igreja.[10]

2Timóteo 3.1-13. Esta passagem extensiva contém algumas das palavras finais do apóstolo Paulo – palavras de advertência. Nesses versos, Paulo cataloga dezenove características que prevalecerão durante várias temporadas no decorrer dos últimos dias da igreja. Essas condições vão piorar à medida que a era da igreja progride.

2Pedro 2.1-22; 3.3-6. Em 2Pedro 2.1-22, o apóstolo escreve uma longa denúncia contra os apóstatas que ele prevê que entrarão na igreja para enganar o povo de Deus e negar e desobedecer a verdade. Os versículos 1-2 dizem: “No passado surgiram falsos profetas no meio do povo, como também surgirão entre vocês falsos mestres. Estes introduzirão secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição. Muitos seguirão os caminhos vergonhosos desses homens e, por causa deles, será difamado o caminho da verdade”. Em 2Pedro 3.3-4, Pedro continua: “Antes de tudo saibam que, nos últimos dias, surgirão escarnecedores zombando e seguindo suas próprias paixões. Eles dirão: ‘O que houve com a promessa da sua vinda?’”. Pedro diz que os apóstatas negarão até mesmo a segunda vinda de Cristo.

Judas 1-25. Judas, um meio-irmão de Jesus, escreve toda a sua breve carta como um aviso de que os apóstatas sobre quem Pedro havia alertado poucos anos antes já tinham chegado, rastejando para dentro da igreja. Eu (Mark) sempre achei interessante que a pequena carta de Judas, que é o único livro da Bíblia devotado exclusivamente à apostasia, está logo antes do livro de Apocalipse. De muitas maneiras, Judas serve como pórtico ou antessala para o livro de Apocalipse ao revelar como a igreja visível e professa será nos dias que antecederem os eventos desdobrados em Apocalipse.

Sinal dos Tempos?

Nas Escrituras, a apostasia possui uma “orientação escatológica específica”.[11] A apostasia que vemos aumentando hoje está se encaminhando totalmente em direção ao afastamento final pleno predito em 2Tessalonicenses 2.3, que as Escrituras dizem que irromperá quando o fim dos tempos começar a se desenrolar. Muitos estão atualmente esperando que haja um grande reavivamento global à medida que o fim se aproxima. É claro que isso é possível, e nós esperamos e oramos para que isso aconteça, mas John Phillips nos dá uma útil perspectiva bíblica:

“O rio da apostasia está atualmente subindo. Os ‘tempos perigosos’ sobre os quais Paulo escreveu estão sobre nós. Em breve o rio terá suas margens transbordadas, quando todos os afluentes de ilusão e engano se unirem à corrente principal.

“Quando atingir o nível de enchente, esse rio inundará a terra na apostasia final, que é a entronização do messias do Diabo como o deus e rei deste mundo. [...] Alguns pensam que podemos esperar por um despertamento espiritual no mundo todo antes do arrebatamento da igreja, mas essa passagem em 2Tessalonicenses indica o oposto; um abandono mundial da fé pode ser esperado. Deus certamente pode enviar um reavivamento antes que ele chame a igreja para casa, mas as Escrituras não profetizam isso”.[12]

O aprofundamento da apostasia é um sinal dos tempos. Em algum grau a apostasia sempre esteve dentro da igreja, mas está chegando um período futuro distinto de escuridão moral e engano espiritual. Hoje não há dúvida de que um profundo engano e uma crescente apostasia estão sobre nós. O que vemos na igreja de hoje é no mínimo chocante. Estamos testemunhando o aumento e a intensificação da apostasia que nós devemos esperar se a volta de Cristo está próxima. Apesar do fato de que as coisas sempre podem piorar, achamos difícil acreditar que elas possam ficar muito piores do que os mal-estares teológico e moral que temos testemunhado nos últimos cinquenta anos, especialmente na última década. Parece que estamos na vanguarda da apostasia final, e, à medida que o fim se aproxima, a batalha se intensificará.

Judas serve como pórtico ou antessala para o livro de Apocalipse ao revelar como a igreja visível e professa será nos dias que antecederem os eventos desdobrados em Apocalipse.

Caso você pense que estamos exagerando ou que estamos sozinhos em nossa avaliação da apostasia como um sinal do fim dos tempos, aqui estão algumas citações de renomados e respeitados pastores e professores de profecia que compartilham esse ponto de vista.

J. Dwight Pentecost, uma autoridade notável na profecia bíblica, declara: “Abundante evidência por toda parte mostra que os homens estão se afastando da fé. Eles não apenas duvidam da Palavra; eles a rejeitam abertamente. Esse fenômeno nunca foi tão dominante como hoje. No período da história eclesiástica conhecido como Idade das Trevas, os homens eram ignorantes acerca da verdade; mas nunca houve uma época em que os homens negaram e repudiaram a verdade tão abertamente. Esse repúdio aberto, deliberado e intencional da verdade da Bíblia é descrito nas Escrituras como uma das principais características dos últimos dias da igreja na terra”.[13]

Harold John Ockenga foi uma das principais figuras do evangelicalismo norte-americano nos meados do século 20. Ele pastoreou a igreja Park Street, em Boston, e ajudou a fundar o Fuller Seminary e o Gordon-Conwell Theological Seminary. Comentando sobre a apostasia como um sinal dos tempos, ele disse: “Nesta presente grande apostasia do cristianismo neotestamentário, podemos ver um sinal que justificará a nossa crença de que a vinda de Cristo pode não estar muito longe. Sempre houve alguma medida de apostasia e por vezes tal apostasia foi grande, mas não como tem sido nos últimos cinquenta anos”.[14]

Donald Grey Barnhouse, um grande pastor presbiteriano, disse: “Fique atento para tal apostasia, disse Paulo; ela será o sinal do dia do Senhor. Bem, é possível que estejamos vendo os primeiros estágios de tal apostasia nos nossos dias. Se alguma vez houve um afastamento da verdade, é em nossos dias. [...] Mas nós só estamos vendo a ponta do iceberg”.[15]

John Horsch, escrevendo no início do século 20, disse: “A apostasia que é evidente por todo lado é um sinal inequívoco dos tempos. Ela deveria despertar a cristandade crente da sua letargia e indiferença para uma compreensão das condições como elas são. Como consequência da apostasia, a igreja se vê hoje encarando uma crise como nunca antes no decorrer da sua história”.[16]

Estes são os últimos dias de apostasia para a igreja. Ainda não estamos na grande queda final que imediatamente prenuncia a chegada do fim dos tempos, mas estamos na vanguarda.

Mark Hitchcock e Jeff Kinley

Notas

  1. George Sweeting, “Betrayal in the Church”, Moody (abr. 1992): 74.
  2. A. W. Tozer, Man: The Dwelling Place of God (Camp Hill, PA: WingSpread, 2008), p. 118.
  3. Andy Woods, “The Last Days Apostasy of the Church (Part 1)”, Bible Prophecy Blog, 19 nov. 2009. Disponível em: <goo.gl/W12XAM>.
  4. Charles R. Swindoll, Steadfast Christianity: A Study of Second Thessalonians, Bible Study Guide (Anaheim, CA: Insight for Living, 1986), p. 23.
  5. F. F. Bruce, 1 & 2 Thessalonians, World Biblical Commentary, eds. David A. Hubbard e Glenn W. Barker, vol. 45 (Waco, TX: Word Books, 1982), p. 166. Ver também Leon Morris, 1 and 2 Thessalonians, Tyndale New Testament Commentaries, ed. rev. (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1989), p. 127.
  6. João Calvino, 1 & 2 Thessalonians, Crossway Classic Commentaries, eds. Alister McGrath e J. I. Packer (Wheaton, IL: Crossway, 1999), p. 86-87.
  7. G. K. Beale, 1-2 Thessalonians, IVP New Testament Commentary Series, ed. Grant R. Osborne (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2003), p. 204. Beale providencia muitos pontos convincentes para apoiar essa visão.
  8. John R. W. Stott, The Message of 1 & 2 Thessalonians (Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1991), p. 158.
  9. Charles Ryrie, First and Second Thessalonians (Chicago: Moody, 1959), p. 103-104.
  10. Homer A. Kent, Jr., The Pastoral Epistles, ed. rev. (Chicago, Moody, 1986), p. 143.
  11. Mal Couch, ed., A Biblical Theology of the Church (Grand Rapids, MI: Kregel, 1999), p. 110.
  12. John Phillips, Exploring the Future: A Comprehensive Guide to Bible Prophecy (Grand Rapids, MI: Kregel, 2003), p. 225,269.
  13. J. Dwight Pentecost, Will Man Survive? (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1980), p. 58.
  14. Harold John Ockenga, citado em “Apostasy”, Paul Lee Tan Prophetic Minsitries. Disponível em: <www.tanbible.com/tol_ill/apostasy.htm>.
  15. Donald Grey Barnhouse, Thessalonians: An Expositional Commentary (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1977), p. 98.
  16. John Horsch, Modern Religious Liberalism (Scottdale, PA: Fundamental Truth Depot, 1921), p. 322.

Mark Hitchcock é autor, professor associado no Dallas Theological Seminary e pastor sênior na Faith Bible Church, em Edmond, Oklahoma.
Jeff Kinley é mestre em teologia e atua como escritor freelancer. Apresenta os podcasts Vintage Truth e Prophecy Pros.

sumário Revista Chamada Setembro 2020

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