Apocalipse 15 e o futuro de Israel

Em Apocalipse 15, João vê um panorama do início dos últimos julgamentos nos tempos finais. Acompanha isso a restauração e redenção do povo de Israel.

Assim como o esportista se prepara para a arrancada e o soldado, para o ataque; assim como os marinheiros içam as velas para zarpar, os sete anjos se prepararão nos tempos finais para os últimos julgamentos de Deus: “Vi no céu outro sinal, grande e maravilhoso: sete anjos com as sete últimas pragas, pois com elas se completa a ira de Deus” (Ap 15.1). Junto com isso, o apóstolo João descreve sua visão apocalíptica: “Vi algo semelhante a um mar de vidro misturado com fogo, e, em pé, junto ao mar, os que tinham vencido a besta, a sua imagem e o número do seu nome. Eles seguravam harpas que lhes haviam sido dadas por Deus” (Ap 15.2).

O cenário lembra vários “mares” citados na Bíblia. Primeiramente a grande bacia para lavagens diante do templo, que também foi chamada de mar: “Depois, Hirão fundiu um grande tanque redondo, que chamaram de Mar. O tanque media 4,5 metros de uma borda à outra, 2,25 metros de profundidade e 13,5 metros de circunferência” (1Rs 7.23, NVT). Depois ele nos lembra do mar Vermelho, que Israel atravessou para chegar à liberdade. Depois de terem passado por ele, os israelitas entoaram um cântico junto com Moisés (cf. Ap 15.3-4). Conhecemos também o mar das nações: “Tu que acalmas o bramido dos mares, o bramido das suas ondas, e o tumulto das nações” (Sl 65.7). Além disso, sabemos que o futuro dominador mundial anticristão sairá do mar dos povos (Ap 13.1), em contraste com o Anticristo, que vem da terra (Ap 13.11), Eretz Yisrael.

Apocalipse 4.6 fala do mar de vidro: “E diante do trono havia algo parecido com um mar de vidro, claro como cristal. No centro, ao redor do trono, havia quatro seres viventes cobertos de olhos, tanto na frente como atrás”. Esse mar bem poderia representar o mar dos povos que se encontra diante do trono de Deus, visto do ângulo do Onipresente. Ou seja: tudo está na presença de Deus, tudo é alcançado por sua visão, o mundo inteiro está manifesto diante dele, ele penetra e enxerga tudo. A glória de Deus reina sobre todo o globo terrestre. Nenhum ser é invisível para ele.

Esse mar está impregnado de fogo, o que aponta para os julgamentos. Os redimidos estão junto ao mar – não estão mais dentro dele. Foram redimidos pelo sangue do Cordeiro. Na grande tribulação passaram pelo fogo do sofrimento (batismo de fogo) e os rios da água do Anticristo e dos povos jorraram sobre eles. Mas o fogo não pôde queimá-los nem a água, afogá-los (Is 43.2). Agora os vencedores não estão mais sobre o mar, mas foram libertados e triunfantemente olham de cima para ele.

“E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro: ‘Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações. Quem não te temerá, ó Senhor? Quem não glorificará o teu nome? Pois tu somente és santo. Todas as nações virão à tua presença e te adorarão, pois os teus atos de justiça se tornaram manifestos’” (Ap 15.3-4).

Assim como Israel entoou um cântico com Moisés depois de ter atravessado o mar dos Juncos (Êx 15.1), a cena se repete. Os egípcios foram condenados no mar, Israel foi libertado pelo sangue do Cordeiro e atravessa o mar. Aqui ocorre algo semelhante. O mundo é condenado, mas os vencedores são salvos pelo sangue do Cordeiro, passando pela tribulação.

O Apocalipse é a prova de que Deus ainda reservou para os judeus um papel central em seu plano de redenção do mundo. Em Apocalipse “fecha-se o círculo”. O primeiro cântico que encontramos na Bíblia é o de Moisés e dos israelitas em Êxodo 15. Além disso, Deuteronômio 32 nos apresenta mais um cântico de Moisés, que apresentou ao povo junto com Josué (31.30; 32.44). E agora o primeiro e o último cânticos da Bíblia são mencionados juntos em Apocalipse. Isso aponta para o seguinte: o cântico de Moisés correlaciona-se com o cântico do Cordeiro e mantém seu significado. Ele começa com Israel e termina com Israel, e seu foco é o Cordeiro. Deus nos mostra por intermédio disso como tudo combina e de nada se abre mão. O chamado profético de Moisés consistia em apontar para Jesus. Não se pode imaginar Moisés sem Jesus.

Vemos nos dois cânticos que o Antigo e o Novo Testamentos formam uma unidade. O cântico de Moisés em Deuteronômio 32 oferece uma visão abrangente da história de Israel. Os versículos precedentes – Deuteronômio 31.29-30 – mostram que ele se refere ao fim dos tempos. O cântico em Deuteronômio 32 divide-se como segue: os versículos 1-6 descrevem a grandeza e a fidelidade de Deus; os versículos 7-14 tratam da história primitiva de Israel; os versículos 15-19, do período dos profetas; nos versículos 20-21, Deus se retrai do seu povo; nos versículos 22-33, Deus dispersa o seu povo e o expõe à perseguição; nos versículos 34-36, o fim se aproxima – tanto o dia da compaixão de Deus como o da vingança e da retribuição; nos versículos 37-42, há os julgamentos nos tempos de Apocalipse; e, no versículo 43, a bênção definitiva e a redenção para Israel.

Assim como o esportista se prepara para a arrancada, os sete anjos se prepararão nos tempos finais para os últimos julgamentos de Deus.

“Depois disso olhei e vi que se abriu nos céus o santuário, o tabernáculo da aliança. Saíram do santuário os sete anjos com as sete pragas. Eles estavam vestidos de linho puro e resplandecente e tinham cinturões de ouro ao redor do peito. E um dos quatro seres viventes deu aos sete anjos sete taças de ouro cheias da ira de Deus, que vive para todo o sempre. O santuário ficou cheio da fumaça da glória de Deus e do seu poder, e ninguém podia entrar no santuário enquanto não se completassem as sete pragas dos sete anjos” (Ap 15.5-8).

O templo celestial que se abre é o original, a suprema habitação de Deus. O templo terreno e o tabernáculo eram representações dele. Os anjos envergam trajes sacerdotais e executam um ministério santo, justo e sacerdotal. Eles estão a serviço do Rei. As taças de ouro dos sete mensageiros correspondem aos recipientes usados na tenda para espargir o sangue (Êx 27.3). Isso demonstra que os julgamentos são todos justos e pertencem à santidade de Deus.

A nuvem de fumaça e a proibição de alguém entrar no templo lembram os tempos de Jeremias: “Tu te escondeste atrás de uma nuvem para que nenhuma oração chegasse a ti” (Lm 3.44). Chegou o tempo da ira final de Deus, no qual ele se oculta em sua inacessível santidade e completa o juízo. Deus se retrai e, justamente assim, se revela. Talvez isso também sugira que Deus não tem prazer no julgamento, mas precisa executá-lo em consideração à sua justiça, porque antes disso se lê em Lamentações: “Porque não é do seu agrado trazer aflição e tristeza aos filhos dos homens” (Lm 3.33). Sim, ele se retrai, está isolado e ninguém pode aproximar-se dele. Não seria este também um quadro de tristeza?

É digno de nota o que o povo de Israel reconhecerá nos últimos tempos segundo Apocalipse 15 e Deuteronômio 32. A que maravilhosa confissão de Deus e do Cordeiro ele terá sido conduzido através da tribulação! Por milênios, o povo judeu resistiu, não quis reconhecer, negou, escarneceu, identificou Jesus com Belzebu, amaldiçoou, perseguiu ele e seus seguidores, ignorou Isaías 53 em suas leituras das Escrituras... e agora eis aí essa confissão diante do Cordeiro.

Isso lembra pessoas que por muito tempo não quiseram saber de Jesus e que mais tarde o louvaram acima de tudo. Repetidamente ocorre que pessoas antes resistentes se convertem e se tornam confessoras.

Norbert Lieth

Norbert Lieth é autor e conferencista internacional. Faz parte da liderança da Chamada na Suíça.

sumário Revista Chamada Agosto 2020

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