Negação da história judaica de Jerusalém

Não há dúvida de que Israel esteja empenhado em afirmar a presença judia em Jerusalém, mas nem por isso nega a história muçulmana da cidade. São os palestinos que giram com força a roda da história para apagar o vínculo judeu com Jerusalém.

Acadêmicos de muitas disciplinas estão ocupados com questões da história porque, mesmo quando se pretende que ela se baseie exclusivamente em fatos, a abordagem metodológica exerce influência, bem como a “memória histórica variável”, como diz o professor israelense Dan Diner. Em outras palavras: toda história tem dois ou mais lados. Basta lembrar, por exemplo, relatos de testemunhas oculares de um acidente de trânsito. Todas terão observado o mesmo acidente, e mesmo assim cada uma registra algo diferente. Isto também se aplica aos acontecimentos a partir de maio de 1948 no antigo Mandato Britânico.

Iniciam-se ali dois processos históricos em paralelo. Enquanto para um dos lados a fundação do Estado de Israel é um evento feliz e empolgante, para o outro aquilo foi um acontecimento que gerou incerteza e prejuízo. Quando a historiografia passa a ser influenciada por propaganda que persegue um determinado objetivo ideológico, os fatos são arbitrariamente distorcidos, desqualificados, excluídos, negados ou totalmente falsificados, a ponto de se gerarem histórias totalmente novas. É que em tais casos não importam mais os fatos, mas o objetivo que se pretende atingir.

Em relação à Terra Santa, conhecemos um caso em que se pretendia apagar a história judaica por meio da mudança do nome daquela região geográfica. Como já relatamos anteriormente, a renomeação da Judeia para Syria Palaestina pelos romanos foi um ato autocrático de um imperador, mas chega a parecer inofensiva em comparação com a negação do vínculo judeu com a Terra Santa que acontece hoje no mundo árabe em geral e no mundo palestino em especial. Podem-se citar inúmeros exemplos nos quais os palestinos seguem o exemplo romano. Os túmulos patriarcais em Hebrom foram sumariamente transformados na Mesquita Ibrahimi, e o túmulo de Raquel, perto de Belém, passou a chamar-se Mesquita Bilal ibn Rabah, ainda que ali nunca tivesse existido uma mesquita. Se olharmos para Jerusalém e, principalmente, para o monte do Templo, fica evidente que a Autoridade Nacional Palestina trava uma guerra pelo redirecionamento da historiografia, na qual todos os meios parecem válidos.

Como o monte do Templo é reconhecido por todos como o coração do conflito, a propaganda islâmica tem tentado reescrever a história daquele santuário desde a época dos confrontos violentos em meados da década de 1930. Em 1925, o Waqf (fundo religioso islâmico mais conhecido por controlar e gerenciar os atuais edifícios islâmicos em torno do monte do Templo) ainda publicou uma espécie de guia turístico para o monte do Templo, que expunha a história do templo judeu junto com citações bíblicas relevantes. Desde então, muita coisa mudou, principalmente desde a Segunda Intifada, iniciada em 2000. A partir de então a cosmovisão palestina nega completamente a história judaica daquela área. Primeiro com Yasser Arafat afirmando que naquele local nunca teria existido nem um primeiro nem um segundo templos judeus. Hoje o Waqf, que como autoridade islâmica registra o ano corrente de 1441, troveja: “Há três mil anos e há trinta mil anos, desde a criação do mundo, já existia uma mesquita ali”. Se seguirmos essa argumentação, obviamente também o Muro das Lamentações é “parte de uma mesquita islâmica”.

A propaganda palestina não se detém mesmo diante de fontes escritas, entre as quais a Bíblia (segundo a propaganda palestina, Jesus era palestino, o que implicaria que ele não teria sido judeu) e também os rolos de manuscritos do mar Morto e as obras do historiador romano-judeu Flávio Josefo. A propaganda palestina chama tais fontes de referência simplesmente de “mitos” e de “artefatos forçados” debitáveis na conta dos ocupantes “fascistas, racistas e sionistas”. De modo semelhante, desacreditam-se achados arqueológicos coerentes com as informações bíblicas.

O grau de intensidade da propaganda palestina nessa questão pode ser conferido no site da organização não-governamental Palestinian Media Watch em inúmeras citações de autoridades palestinas, de ministros, políticos, jornalistas e eruditos. Seria o caso de pensar que aquilo é tão absurdo que o mundo só poderia sacudir a cabeça, mas ocorre o oposto. O fato de em 2016 a UNESCO ter assumido a deformação histórica dos palestinos já é um ponto a considerar. Porém, a coisa se torna bem mais preocupante quando, por exemplo, formandos finlandeses do ensino médio receberam em sua prova de história no outono do ano passado quatro mapas da Terra Santa que, tal como as questões do exame, refletem exclusivamente a cosmovisão palestina.

Antje Naujoks

Antje Naujoks dedicou sua vida para ajudar os sobreviventes do Holocausto. Já trabalhou no Memorial Yad Vashem e na Universidade Hebraica de Jerusalém.

sumário Revista Chamada Julho 2020

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